sábado, 6 de setembro de 2014

XXIII domingo do Tempo Comum

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Textos: Jr 33, 7-9; Rm 13, 8-10; Mt 18, 15-20

A correção fraterna, não como fiscal ou espião, mas como irmão que ama, pois somente quem ama tem o direito de corrigir.

Mt 18, 15-20 - Disse Jesus a seus discípulos: “Se seu irmão pecar contra você, vá à procura dele e chame-lhe a atenção em particular. Se ele atender, você conquistou seu irmão. Mas, se ele não atender, leve uma ou duas pessoas para que, sob a palavra de duas ou três testemunhas, seja resolvida a questão. Se ele não quiser atendê-las, diga-o à comunidade. E, se não quiser atender nem mesmo à comunidade, considere-o como pagão e um publicano. Em verdade eu lhes digo: tudo o que vocês ligarem na terra será ligado no céu; e tudo o que desligarem na terra será desligado no céu. Digo-lhes mais ainda: se dois de vocês na terra pedirem juntos qualquer coisa que seja, esta lhe será concedida por meu Pai que está nos céus. Porque, onde dois ou três estão reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles”.

Hoje Deus nos convida à correção fraterna. Somos vigias e sentinelas (primeira leitura) que devemos avisar se aproxima algum perigo para a nossa salvação e para a salvação dos nossos irmãos, pois Deus nos pedirá contas do nosso irmão. Cristo no discurso comunitário apresentado por Mateus nos dá as pautas para esta correção: primeiro em particular; depois com a ajuda de outro irmão como testemunha para o corrigido se dê conta de que a coisa é seria e importante; e se o corrigido não faz nenhum caso, deve-se dizer à comunidade eclesial para dizer-lhe que esse irmão não quer pertencer à comunidade. Esta correção fraterna tem que estar motivada pelo amor (segunda leitura), síntese de toda a lei, e com humildade.

Em primeiro lugar, a correção fraterna parece uma das constantes da pedagogia de Deus já no Antigo Testamento. Quantas vezes Moises teve que corrigir, em nome de Deus, esse povo de cabeça dura, e os mesmos profetas! Deus “bate” para aprendermos (cf. Jr 2, 30; 5,3; Ez 6, 9), ou para purificar-nos (cf. Is 1, 24), ou para expiar as nossas culpas (cf. Mi 7, 9). Feliz o homem que Deus corrige! (cf. Jó 5, 17). Deus a quem ama, repreende (cf. Dt 8, 5; Prov 3, 11). O mesmo Deus pede para corrigir o próximo (cf. Lv 19, 17).

Em segundo lugar, Jesus exercitou a correção fraterna com os seus apóstolos, com os chefes religiosos e políticos do seu tempo, e com a turba. Jesus corrige os seus discípulos, os seus horizontes raquíticos, humanos, ambiciosos. Jesus corrige a hipocrisia dos chefes religiosos, e por querer manipular a Deus. Jesus corrige os excessos, as injustiças e os abusos e a corrupção dos chefes políticos e lhes diz que a autoridade é serviço e não domínio. Jesus corrige a inconstância da turba, os seus caprichos, os seus interesses egoístas; muitos seguem Jesus para arrancar Dele curas e pão, sem as devidas disposições de fé e confiança Nele. Jesus corrige porque ama e porque quer a salvação de todos.

Finalmente, também nós deveríamos colocar em prática esta correção fraterna. Amar o próximo não é sempre sinônimo de calar ou deixar que siga pelos maus caminhos, se em consciência estamos convencidos de que é este o caso. Amar o irmão não somente é acolhê-lo ou ajudá-lo na sua necessidade ou aguentar as suas faltas; também, às vezes, é saber dizer para ele uma palavra de admoestação e correção não para que fique pior em nenhum dos seus caminhos. O que corre o perigo de se extraviar, ou já se extraviou, não se pode deixar sozinho. Se o teu irmão peca, não deixes de amá-lo: ajuda-o. Correção fraterna, primeiro na nossa família, corrigindo o esposo ou a esposa, os filhos, os pontos objetivos que têm que superar. Depois, entre os nossos amigos, se nos consta que caminham por maus caminhos. Mais tarde, nos nossos trabalhos, se virmos que existe corrupção, malversação de fundos ou enganos. O bispo ou o pároco devem exercer a sua guia pastoral na diocese ou na paróquia, respectivamente. E logicamente também nos nossos grupos e comunidades eclesiais e paroquiais, para que não nos corroam a inveja, a murmuração e as ambições. “Quando alguém incorra em alguma falta, vós, os espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão e cuida-te, porque tu também podes ser tentado”  (Gal 6, 1).

Para refletir: 
1. Abramos hoje as sete cartas do anjo às sete igrejas do Apocalipse, nas que com os louvores e ânimos, misturam-se também palavras bem expressivas de correção e acusação da parte de Deus.
2. Na regra de São Bento se diz: “O abade se preocupará com toda solicitude dos irmãos culpados, porque não necessitam de médico os sãos, mas os enfermos. Portanto, como um médico perspicaz, recorrerá a todos os meios; como quem aplica cataplasmas, isto é, enviando-lhe monges anciãos e prudentes, que como às escondidas consolem o irmão vacilante e o movam a uma humilde satisfação, animando-o para que a excessiva tristeza não seja motivo de naufrágio para ele, mas como diz também o apóstolo, que a caridade se intensifique e rezem todos por ele” (n. 27).

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org


Comentário: Prof. Dr. Mons. Lluís CLAVELL (Roma, Italia)


Hoje, o Evangelho propõe-nos que consideremos algumas recomendações de Jesus aos seus discípulos de então e de sempre. Na comunidade dos primeiros cristãos também havia faltas e comportamentos contrários à vontade de Deus.

O versículo final oferece-nos a chave para resolver os problemas que se apresentam na Igreja ao longo da história: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles» (Mt, 18,20). Jesus está presente em todos os períodos da vida da sua Igreja, seu “Corpo místico” animado pela ação incessante do Espírito Santo. Somos sempre irmãos, quer a comunidade seja grande, quer seja pequena.

«Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, tu e ele a sós! Se ele te ouvir, terás ganho o teu irmão» (Mt, 18,15). Que bonita e leal é a relação de fraternidade que Jesus nos ensina! Perante uma falta contra mim, ou contra outro, hei de pedir ao Senhor a sua graça para perdoar, para compreender e, finalmente, para tratar de corrigir o meu irmão.

Hoje não é tão fácil como quando a Igreja era menos numerosa. Mas, se pensamos as coisas em diálogo com o nosso Pai Deus, Ele nos iluminará para encontrar o tempo, o lugar e as palavras oportunas para cumprir o nosso dever de ajudar. É importante purificar o nosso coração. São Paulo anima-nos a corrigir o próximo com retidão de intenção: «Irmãos, no caso de alguém ser surpreendido numa falta, vós que sois espirituais, corrigi esse tal, em espírito de mansidão, mas não descuides de ti mesmo, para não seres surpreendido, tu também, pela tentação» (Gal 6,1).

O afeto profundo e a humildade nos levarão a procurar a suavidade. «Fazei-o com mãos maternais, com a infinita delicadeza das nossas mães, quando nos curavam as feridas, grandes ou pequenas, provocadas pelas nossas brincadeiras e pelas nossas quedas da infância» (São Josemaria). Assim nos corrige a Mãe de Jesus e nossa Mãe com inspirações para amar mais a Deus e aos irmãos.

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