sábado, 12 de julho de 2014

XV Domingo do Tempo Comum

«…dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um …»

Parábola do semeador, da boa semente e da boa terra. Se o semeador é Cristo e a semente a Sua Palavra, cada um de nós é terra que acolhe o empenho, esforço e entrega do semeador que prepara a melhor semente para que a terra seja capaz de a acolher, e, com tempo, bem irrigada, chegar a dar bons frutos. Não bastam, por isso, um semeador e semente de qualidade. É preciso disponibilidade do terreno, mesmo que seja bom, para acolher a boa semente. Porque em boa terra, a má semente gera fortes e robustas ervas e plantas daninhas. Porque a terra para ser boa tem de ser liberta das pedras, dos espinhos e regada com o Amor capaz de transformar, capaz de dar fruto, capaz de fazer a diferença. Compreender todas estas dimensões de Deus em nós, da importância da sua Palavra e da importância da nossa disponibilidade, faz toda a diferença para que, em tempo oportuno, o que Deus em nós semeia chegue a dar muito fruto. Porque, tal como a chuva não chega ao céu sem ter cumprido o seu ciclo, também a Palavra do Senhor, em terreno favorável, não regressa a Deus sem a experiência do louvor, da glória e da contemplação. Deixa-te semear com a semente da Palavra, fazendo da tua terra, campo fértil do Amor de Deus! Dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um!

Pe. David Teixeira, SDB

Evangelho São Mateus (13, 1-23) - Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, ouça». Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Porque lhes falas em parábolas? ». Jesus respondeu: «Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver. Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure’. Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Escutai, então, o que significa a parábola do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta por um».

Reuniu-se à sua volta tão grande multidão (…) Disse muitas coisas em parábolas (…)

Jesus era realmente uma pessoa que cativava os outros. Só assim se explica o facto de se reunir à sua volta uma grande (!) multidão. A esta multidão, Jesus dirige algumas palavras em forma de parábolas. Forma esta que era a mais próxima e acessível às pessoas para falar de algo tão inacessível como Deus e as suas coisas.
Imagino-me fazendo parte dessa grande multidão. Porque estou ali com Jesus Cristo? Porque me deixei arrastar pelos outros? Porque ele me cativa? Ele dirige-me palavras em que me fala de Deus. Sou capaz de as escutar? Mais ainda, sou capaz de as pôr em prática?

Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho (…). Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra (…). Outras caíram entre espinhos (…). Outras caíram em boa terra e deram fruto (…).

Esta parábola narra a experiência de qualquer judeu acostumado a semear. O acento de Jesus vai para o que acontece à semente quando não cai só na terra boa, mas também em diversos terrenos mais adversos. É este terreno que condiciona o destino da semente.
Há muitas coisas que Deus e os outros semeiam em mim. Que destino é que lhes dou? Sou consciente de que esse destino depende da terra onde cai tudo aquilo que é semeado? Como trabalho a minha terra, de modo que esteja livre de pedras e espinhos e seja, portanto, arável e possa dar frutos? Ou sou preguiçoso/a e ingrato/a?

Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não.

Jesus recorda aos seus discípulos que, por conviver com ele, só eles é que conseguem entender os mistérios do reino dos Céus, ou seja, as coisas de Deus. Sem ele, nenhuma destas coisas seria compreensível porque contradizem o modo consensual de pensar e agir dos judeus no seu tempo. 
Também eu, como aqueles judeus, nem sempre consigo compreender muitas das coisas de Deus, porque Deus será sempre para mim um mistério. Em que é que Deus continua a ser um mistério para mim? Mas, de vez em quando, onde é que procuro encontrar luz para essas coisas de Deus? É em Jesus e no seu Espírito ou é noutros sítios?

É por isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver. Porque o coração deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos (…) ’.

São estranhas estas palavras de Jesus e a citação que faz do profeta Isaías como argumento para falar à multidão em parábolas. Ele apenas pretende confirmar que, tal como já acontecia com os antigos profetas, os judeus eram incapazes de ver, ouvir e entender as coisas de Deus, porque eram duros de coração para acolher a novidade de Deus.
Há certamente novidades de Deus que também eu não consigo a entender. Talvez ainda não consiga entender o sentido do fracasso e da cruz, o amor ao inimigo, a Igreja, o suposto silêncio de Deus perante o mal, as bem-aventuranças, o eu ser próximo dos outros... O que quero e posso fazer para suavizar a dureza do meu coração, dos meus ouvidos e dos meus olhos?  

Sta Teresa de Jesus dos Andes, Virgem
Quanto a vós, felizes os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram.

Jesus recorda aos seus discípulos que eles são felizes por verem e ouvirem o que muitos outros desejariam ter visto e ouvido. No entanto, mais importante do que ver e ouvir é acreditar naquilo que veem e ouvem. E mais importante ainda é o próprio Jesus que se faz próximo até ao ponto de poderem vê-lo e escutá-lo.   
Acredito que Jesus Cristo continua a fazer-se próximo, permitindo-me que seja capaz de o ver e ouvir? Dou-me conta de todo este privilégio? Como é que posso ir ao seu encontro, vê-lo e escutá-lo no meu dia-a-dia? Sou verdadeiramente feliz por poder vê-lo e escutá-lo? Sou agradecido? Ou sinto que a sua presença e as suas palavras são um fardo?

Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende (…) ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, sucumbe logo. (…) ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. (…) ouve a palavra e a compreende.

Jesus não diz quem é o semeador, mas diz que a semente é a palavra do reino e que o terreno é o homem que ouve a palavra. E, uma vez mais, o acento é posto no homem-terreno onde cai essa semente. A palavra é semeada, mas é do homem que vai depender que ela ganhe ou não raízes e dê ou não fruto.
A palavra do reino é-me dirigida e, qual semente, espera encontrar em mim um bom terreno para, depois, dar fruto. Como é a minha recepção a esta palavra? Limito-me a ouvi-la, às vezes nem isso, ou procuro também compreendê-la, enraizá-la em mim e cuidar dela para que possa dar o seu fruto, de tal modo que tanto a palavra como a minha vida possam ter um sentido? 

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