terça-feira, 8 de abril de 2014

O valor do sofrimento – Beato Tito Brandsma

Este texto é tirado de um prefácio que Tito Brandsma escreveu para o livro de um amigo.

Jesus sofreu. Sim, o mesmo Jesus, nosso Deus, que se fez homem por nossa salvação. Ele sofreu, foi crucificado, morreu e foi sepultado.

Na véspera de sua paixão, rogou ao seu Pai celestial para que todos fossem um com Ele. Chamou a si mesmo Cabeça do Corpo Místico, do qual nós somos seus membros. Ele é a videira, nós os sarmentos. Ele próprio colou-se no lagar e ali foi espremido. Deu-nos o vinho para que, bebendo-o, possamos viver sua mesma vida, e participemos de seu sofrimento.

Foi Ele que nos disse: “quem quiser me seguir – ou seja, cumprir minha vontade – carregue sua cruz e me siga”; “quem me seguir terá a luz da vida”; “eu sou a vida”;  “dei-vos o exemplo para o que fiz também o façais”.

E não compreendendo os discípulos que o caminho indicado era o da paixão, explicou-lhes dizendo: “Não era necessário que o Messias padecesse isso para poder entrar em sua glória (…) Então os seus corações arderam”. A palavra de Deus converteu-se  para eles em fogo. E descendo sobre eles o Espírito Santo, ficaram contentes por sofrerem o desprezo e a perseguição, porque tornavam-se semelhantes Àquele que os havia precedido no caminho do sofrimento.

Os discípulos compreendiam que Ele não quisera apartar-se  do caminho que os profetas tinham vaticinado.  Desde o presépio até à cruz, não soube de outra coisa, senão de sofrimento, pobreza e desprezo. Consagrou toda a sua vida a ensinar ao povo que Deus vê o sofrimento, a pobreza e o desprezo humano de modo muito diferente de como vê a néscia sabedoria humana.

A dor é consequência do pecado, e só mediante a cruz se recupera a união com Deus e a glória perdida. A dor é, por isso mesmo, o caminho do céu. Na cruz está a salvação, na cruz está a vitória. Assim dispôs Deus, que quis, ademais, tomar sobre si o sofrimento para alcançar com ele a glória da redenção. Por isso, como diz São Paulo, “os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória que há de ser revelada em nós”, quando passar o tempo do padecer e formos, já, partícipes da mesa glória.

Maria, que conservava todas as palavras de Deus no seu coração, soube compreender o grande valor do sofrimento. Enquanto os discípulos fugiam, ela saiu ao caminho do Calvário, ao encontro do Salvador, e permaneceu ao pé da cruz, participando no seu opróbrio e nos seus últimos sofrimentos. E o colocou no sepulcro, na firme esperança de sua ressurreição.

Oxalá nossos corações fossem tão ardentes e generosos como o seu, e se abrissem totalmente aos sentimentos do Sagrado Coração de Jesus! Ele disse: ardentemente desejei comer esta Páscoa convosco, antes de padecer. Nosso desejo é o mesmo dele? Não nos queixamos demais quando ele prolonga o cálice da paixão?

É tão difícil nos resignarmos ante o sofrimento que, alegrar-se com ele, parece algo heroico. Consideramos quase impossível o desejar a cruz e o sofrimento. Para o mundo é uma loucura desejar sofrimento e desprezo, como desejava São João da Cruz.

Às vezes, com nossas prudentes cautelas, pensamos de modo semelhante ao mundo. Onde está a oblação que cada manhã fazemos de nós mesmos, quando nos unimos para a Oblação, oferecida com a Igreja, daquele com o qual estamos unidos num único corpo?

Jesus chorou uma vez sobre Jerusalém: oxalá tu pudesses conhecer hoje o dom de Deus! Oxalá pudéssemos também conhecer hoje o grande valor que Deus pôs em nossos sofrimentos.

ORAÇÃO ESCRITA POR FREI TITO BRANDSMA
(na passagem de 12 para 13 de fevereiro de 1942, na prisão de Scheveningen)

Ao vos contemplar, meu Jesus,
compreendo que vós me amais,
como um amigo querido,
e sinto que vos amo também.
O vosso amor, bem o sei,
pede cruz e coragem;
mas o sofrimento é o único
caminho para vossa glória.
Se novas dores me afligem,
as considero como suave dom,
porque me assemelham a vós,
porque me unem a vós, Senhor.
Deixem-me só, neste frio;
não preciso de ninguém;
a solidão não me mete medo,
porque estais perto de mim.
Ficai comigo, bom Jesus,
não me abandoneis!
A vossa presença divina
torna tudo belo e fácil.


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