sexta-feira, 25 de abril de 2014

DESAFIOS DA REALIDADE DE HOJE PARA A FAMÍLIA CARMELITANA

Frei Carlos Mesters, O. Carm.

No Monte Carmelo, bem perto da fonte do profeta Elias sai do chão um tronco de árvore, velho e ressequido. Parece que já nasce cansado, pois não se rege em pé e se curva quase até o chão, estendendo-se, seco e sem folhas, por mais de um metro. Bem no fim, de repente, saem brotos verdes, dezenas, em todas as direções. É a imagem perfeita da Família Carmelitana. Como que de repente, nos últimos dois séculos, ela renasce nos vários cantos do mundo e da Igreja. Somos desafiados a fazer renascer o carisma. Chamados a recriar, não a repetir!

Os três pólos que geram os desafios para nós
Estamos sempre entre três pólos que geram os desafios para nós:
(1) De um lado, estão a realidade de hoje e as necessidades do povo.
(2) Do outro lado, está o nosso carisma, nossa origem, a tradição mística do Carmelo; estão os nossos santos e santas, nossas fundadoras e fundadores.
(3) Entre os dois, estamos nós como Família Carmelitana.

Os três, em nome de Deus, nos desafiam e fazem apelo à nossa consciência, cada um a seu modo. O Carisma nos oferece a forma concreta de como nós, carmelitas, devemos viver a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. A Realidade, o povo, os pobres, no meio do qual vivemos e ao qual servimos, denunciam qualquer forma de riqueza acumulada que é causa de privação para os outros, inclusive a riqueza acumulada da tradição religiosa. A Família Carmelitana é a forma concreta com que o carisma procura responder às exigências da realidade. Muitas vezes, porém, nossa forma de vida está desatualizada e exige maior fidelidade tanto ao carisma como às exigências da realidade de hoje.
Vejamos, sucessivamente, os desafios que nos vêm de cada um destes três pólos: do carisma, da realidade dos pobres e da situação concreta da nossa Família.

1. DESAFIOS QUE NOS VEM DA NOSSA ORIGEM, DO CARISMA
Nosso carisma é aquilo que, vindo do passado, desde a Regra dada por Santo Alberto, nos define e nos dá identidade. É a forma sob a qual a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe se apresenta a nós. Desta nossa origem não podemos abrir mão, sob pena de perdermos nossa identidade e nossa razão de ser. Não há carmelita que não seja sensível aos apelos que lhe vêm do seu passado, dos seus santos e santas, de suas fundadoras e fundadores. É como uma saudade que se coloca lá na nossa frente, como um ideal a ser alcançado, um grande e permanente desafio que se apresenta a nós sob muitas formas:

1. Viver e inculturar o Carisma do Carmelo em cada continente e cultura.
O nosso maior desafio será sempre o mesmo, até o fim da nossa vida: viver o ideal do Carmelo, para que penetre em nós; ideal que, sempre de novo, deve ser relido e inculturado em cada época, cada cultura, cada situação. Não podemos impor o modelo europeu para os países da Ásia, nem o modelo da América latina para os países da África. Neste ponto pecamos e continuamos pecando. Europa não é superior aos outros países, e os outros povos não podem criar complexo de inferioridade. Muitas vezes, exportamos um modelo de carisma e não o recriamos na cultura do povo a que servimos. Como fariam nossos fundadores e fundadoras se tivessem de recriar hoje o nosso carisma?

2. Recuperar a magia original do Carisma para que fale à juventude:
No seu livro “Como Pedras Vivas” frei Emanuel Boaga mostra que os primeiros irmãos nossos, depois que vieram do Monte Carmelo para Europa em 1238, em menos de 70 anos, de 1238 até o fim daquele século, fundaram em torno de 160 mosteiros em quase todos os países da Europa. Só este fato tão simples que a história registra, mostra uma coisa muito importante. Eles souberam apresentar o evangelho como um forte apelo para a juventude da época. Este é um desafio para nós hoje: recuperar a magia e o frescor do Carisma, para que fale à juventude de hoje. A juventude de hoje está cansada do sistema consumista e busca experiências novas. Muitos as buscam nas drogas. Será que o Carmelo pode ser uma resposta para eles? Penso que sim, e muito!

3. Nossa origem mendicante como forma de vida
Um aspecto da nossa origem é a mendicância. Nascemos como alternativa de Vida Religiosa numa época de transformação social, nos séculos XII e XIII. Os Mendicantes surgiram como resposta aos apelos da realidade: servir aos “menores”, os pobres da época. No mundo de hoje, a maior produção é a exclusão e a pobreza. Somos desafiados a despertar dentro de nós a origem mendicante como resposta aos problemas de hoje, e isto em três níveis: 
(1) entre as nossas próprias Congregações, sem que isto nos desvie do nosso carisma; 
(2) em parceria com os outros mendicantes que, como nós, surgiram na mesma época; 
(3) no processo de formação, para que esta nossa origem comum ocupe um lugar privilegiado nas várias etapas da formação inicial e na formação permanente?

4. Origem leiga da nossa família
Na origem, nossos primeiros confrades eram leigos na sua maioria. Alguns nem sabiam ler. Pouco a pouco, por força das circunstâncias e para poder servir melhor aos “menores”, o ramo masculino tornou-se uma ordem “clericalis”. As religiosas já não são vistas como leigas. Sem definição clara, elas estão entre o clero e os leigos. Hoje, porém, em muitos lugares, a vivência do carisma começa a ser partilhada e vivida com e pelos leigos e leigas. Esta re-descoberta de que o carisma não é propriedade das Congregações, mas sim da Igreja como um todo, não é fruto de uma concessão benévola da parte do clero, mas é um sopro do Espírito, um Sinal dos Tempos. Estamos sendo desafiados a fazer com que a vivência do carisma deixe de ser algo do clero e se torne propriedade da Família inteira. O desafio é criar um ambiente de participação que permita a partilha das experiências, em pé de igualdade, entre frades, monjas, irmãs, leigos e leigas, e que crie também estruturas jurídicas para esta participação, pois novas formas de vida carmelitana já estão surgindo em várias partes do mundo, para as quais anda não há lugar concreto dentro do direito normal que rege a nossa vida. Por exemplo, a fraternidade carmelitana leiga de Belo Horizonte; o mosteiro Monte Carmelo composto de ex-drogados; os Pequenos Carmelos da Delegação Geral de Colômbia; as comunidades na Holanda e em Cartagena, onde convivem frades e irmãs e leigas; os múltiplos encontros da Família Carmelitana em toda parte, etc.

5. A Origem própria de cada Congregação ligada à Família Carmelitana
Cada Congregação Carmelitana tem a sua origem própria, tem o seu carisma e, por isso mesmo, tem a sua maneira de viver o carisma comum a todos nós. É um grande desafio fazer
(1) com que cada Congregação aprofunde e explicite para si e para todos nós o seu jeito próprio de viver o carisma carmelitano
(2) criar mecanismos para partilhar entre nós nossa vivência e, assim, enriquecer-nos mutuamente para aprofundar o carisma comum e melhorar nosso serviço ao povo de Deus e aumentar, assim, o louvor devido a Deus.
(3) Algumas Congregações ou mosteiros estão no fim. Humanamente falando, na atual forma em que estão organizadas, não têm futuro. Mas o seu carisma faz parte da vida da Igreja e deve continuar. Somos desafiados a fazer renascer o carisma para além da morte da instituição. É uma forma de crer na ressurreição.

2. DESAFIOS QUE NOS VEM DA SITUAÇÃO DE HOJE NO MUNDO
Nunca na história da humanidade houve tantas mudanças em tantos setores e níveis diferentes em tão curto espaço de tempo como agora neste nosso tempo. Elas estão mudando os esquemas do nosso pensamento e o modo de viver a vida, a fé, os costumes ancestrais, o contato entre as pessoas, entre os povos, entre os continentes, entre as religiões. Mudanças que se expressam nos fenômenos da secularização, da pos-modernidade, do pentecostalismo, do interesse tão marcante pelo religioso, nas formas múltiplas do fundamentalismo, na massificação crescente. Diante disto, duas grandes tendências se enfrentam tanto na Igreja como na humanidade como um todo: os que querem renovar e os que querem restaurar. Esta realidade de hoje traz consigo desafios imensos que exprimem apelos de Deus para nós e afetam nossa maneira de viver o carisma.

1. O sistema neoliberal e o silêncio profético que a Regra recomenda
O sistema neoliberal que hoje é hegemônico no mundo está gerando uma pobreza crescente em toda parte. Nós não temos o controle das forças econômicas que geram esta situação anti-evangélica de injustiça e de exploração, mas como seguidores e seguidoras de Jesus não podemos ficar impassíveis diante do que está acontecendo no mundo. Pois, a partir da sua experiência de Deus, Jesus disse que veio anunciar a Boa Nova aos pobres. Na realidade, muitos cristãos, dominados e enganados pelo barulho da propaganda do sistema, perderam a visão crítica das coisas. Já não sabem quem é “O Deus da nossa contemplação”. Como carmelitas, não podemos ser ingênuos diante desta situação de injustiça. A Regra nos ensina que a justiça deve ser cultivada pelo silêncio. A prática do silêncio ajuda a combater a injustiça. De que maneira? Devemos fazer silenciar dentro de nós o barulho da propaganda. Este silêncio exige disciplina e controle, estudo e análise da realidade, para que possamos perceber os mecanismos escondidos que geram esta situação de injustiça. Nossas comunidades devem ou deveriam ser lugares, onde silencia a voz do sistema opressor e onde aparece uma alternativa de convivência humana, uma amostra e uma prova de que “um outro mundo é possível”. Quantos carmelitas estavam no Fórum Social Mundial? Na guerra do Iraque, em torno de 70% do povo americano era a favor de Bush, apesar de o Papa e o mundo inteiro gritar: “A guerra é satanás!” Como explicar? Quando as pessoas são dominadas pelos meios de comunicação fica mais difícil formar consciência crítica. Como fazer com que nós religiosos possamos ter consciência crítica e não sermos dominados pelos meios de comunicação?

2. O pluralismo religioso e o conceito tradicional da Missão
Muitos de nós entramos na Vida Religiosa para ser missionários e levar a Boa Nova para outros povos. Muitas Congregações nasceram como o mesmo objetivo. Hoje, uma nova experiência de Deus, do mundo, da humanidade e da cultura está mudando o conceito de missão e o jeito de anunciar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. O contato com outras religiões e culturas e o estudo da história das missões mostram que, no passado, muitas vezes, fomos mais colonizadores do que missionários. Descobrimos que Deus está presente também nas outras religiões e povos. O anúncio da Boa Nova de Deus trazida por Jesus não pode ser um proselitismo que quer ganhar almas para Deus nem um anúncio autoritário que ameaça com condenação eterna, mas deverá ser marcado pelo respeito às convicções do outro, pelo diálogo de quem quer aprender do outro, pela defesa da vida humana e luta pela Justiça e Paz, pelo entusiasmo do testemunho de coerência de vida de acordo com a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe, e pela atitude de amor gratuito que deseja compartir com os irmãos e as irmãs o bem maior da presença de Deus que ele ou ela mesma experimentou na vida . Nosso modo de pensar e de sentir já está mudando, mas a estrutura da nossa vida ainda continua antiga. O vento já mudou, mas o navio ainda não. O canal é muito estreito, e o navio é largo e pesado.

3. O avanço das ciências e a imagem que temos de Deus
A imagem que temos de Deus depende muito da educação que recebemos e da visão do mundo dentro do qual fomos criados. Diante do progresso das ciências, tanto no micro (a descoberta do segredo do átomo) como no macro (a descoberta da origem do universo), a imagem que tínhamos de Deus já não corresponde mais. Dois fenômenos, aparentemente opostos entre si, revelam a mudança que está em andamento. De um lado, o processo generalizado de secularização nos países ditos cristãos é um atestado de que a imagem de Deus que revelamos já não corresponde ao que a humanidade deseja e precisa. De outro lado, existem o crescimento dos movimentos pentecostais e o fundamentalismo religioso em todas as religiões: fundamentalismo cristão, evangélico, muçulmano, judeu, hindu, e até secularizado. Esta tendência fundamentalista se manifesta no fortalecimento do autoritarismo e dos movimentos conservadores, que buscam o fundamento da certeza nas observâncias. Sem certeza não se vive. Mas que certeza nós, carmelitas, buscamos? A certeza baseada nas nossas observâncias, no que nós fazemos por Deus, ou a certeza mais evangélica de gratuidade e de entrega que se baseia no que Deus faz por? Será que, como o profeta Elias, temos a coragem de andar pelo deserto, quarenta dias ou quarenta anos, até re-descobrir o novo rosto de Deus que responde ao desejo da humanidade de hoje?

4. O movimento feminista e as congregações religiosas femininas
Uma revolução está em andamento contra o patriarcalismo que dominou durante milênios e que teve e tem muita influência tanto na Bíblia como na organização da Igreja. Qual a função das religiosas, mulheres consagradas, nesta revolução tão importante? Podemos ignora-la? Já é triste de constatar que tanto esta como tantas outras revoluções nasceram fora da Igreja e, muitas vezes, combatidas por ela! O movimento feminista critica a visão patriarcal de Deus que se infiltrou em setores da vida eclesiástica e que leva as pessoas a não se sentir mais em casa dentro da Igreja oficial e até dentro da Bíblia, onde transparece esta mesma visão patriarcal.

5. Ecumenismo e defesa da vida
A preocupação ecológica com a preservação da vida leva a uma atitude ecumênica que já não consegue interessar-se tanto pelas diferenças doutrinais e rituais, mas busca unir pessoas de diferentes credos e religiões em defesa da vida que Deus criou. A preocupação holística, para além das divisões e preocupações confessionais e doutrinais, busca situar a vida como um todo no conjunto da harmonia da natureza e do universo. Também aqui, o movimento ecológico e profundamente ecumênico em defesa da vida no planeta nasceu fora da Igreja. E nós carmelitas? Até hoje, o santo mais ecumênico é Elias. O santo que mais lutou em defesa da vida e da saúde do povo é Eliseu!

3.DESAFIOS QUE NOS VEM DE NÓS MESMOS COMO FAMÍLIA HOJE
Carmelitas, somos muitos! Milhares, no mundo inteiro, irmãos e irmãs das várias Ordens e Congregações, das Ordens Terceiras, dos movimentos e associações carmelitanas. Somos aquilo que fazemos: família, trabalho profissional, missões, paróquias, colégios, orfanatos, pastorais, administração, etc. Esta é a nossa realidade concreta e atual, o peso de cada dia, cheio de ambivalências. Também dela chegam até nós os apelos de Deus, os desafios. É a fidelidade que devemos às nossas famílias e comunidades, aos nossos confrades e irmãs, à igreja e ao povo que nos foi confiado. É esta realidade ambivalente que mais pesa na tomada das decisões, pois, muitas vezes, esta realidade nos faz entrar em conflito com as exigências do nosso carisma e da opção pelos pobres. Daqui nascem vários e dolorosos desafios:

1. Itinerância mendicante e a passagem do primeiro mundo para o terceiro mundo
Dois fatos que nos questionam e desafiam:
(1) Atualmente, no ramo masculino, a maior parte dos membros ainda vive no primeiro mundo. Mas a previsão é que dentro de menos de dez anos, a maioria estará nos países do assim chamado terceiro mundo: Ásia, África e América Latina. Como nos preparamos para esta mudança inevitável, por exemplo, no nível da cultura, da construção das casas, na escolha dos lugares, na preparação de formadoras, na escolha dos assuntos para os nossos encontros, na tomada das decisões, etc.  
(2) Temos um convento numa cidade do Brasil. Quando foi escolhido o lugar, nos anos 40, aquilo era uma favela. Hoje é bairro rico de classe média alta. Uma casa não se abandona com facilidade. O que fazer quando, devido às circunstâncias históricas acabamos envolvidos em situações que certamente não queríamos anteriormente? As novas situações em que nos encontramos exigem mudança. Muitas vezes, nosso modo de viver perdeu a capacidade de itinerância que é uma característica dos mendicantes. Congregações fundadas para ensinar a juventude pobre, vivem fechadas e imobilizadas em colégios de ricos.

2. Tendência restauradora na Igreja, vida no meio dos pobres e imagem de Deus
Apesar da abertura do último sínodo, o vento restaurador cresce na Igreja. A Igreja institucional é cada vez mais clerical e disciplinar. Isto é fonte de muitas tensões no interior das Congregações e das pessoas. É muito frequente o conflito entre a visão de igreja que anima as comunidades inseridas no meio dos pobres e a que orienta a pastoral das Dioceses. Em nível local, isto se concretiza no conflito com o vigário que não concorda com as religiosas inseridas e as marginaliza. Nas periferias das grandes cidades, a vida do povo está sendo massacrada, o número dos excluídos aumenta cada vez mais, a violência já acontece entre os próprios pobres. Pobre explorando o pobre! Parece a ausência total do Reino! Viver no meio deste mundo tão violento e desumano é muito exigente. É o que muitas religiosas sentem e vivem. Eles dizem: “Como viver consagrada a um Deus que permite tal coisa. É possível?” É urgente que se tome consciência dos limites e da deficiência da imagem que temos de Deus. A tentação restauradora é grande! É mais cômodo buscar a certeza nas nossas observâncias, isto é, naquilo que nós fazemos por Deus, do que naquilo que Deus faz por nós. Só uma nova experiência autêntica de Deus, como a do profeta Elias, poderá ajudar a superar esta crise. Eficiência e gratuidade. A eficiência das observâncias marca a vida do sistema da vida moderna. A gratuidade é uma característica do amor. Como combinamos no concreto estes dois valores tão importantes na vida? Como aparecem na nossa vida comunitária? Como viver a gratuidade do amor num mundo marcado pela eficiência?

3. A necessidade de um processo da formação permanente e estilo de vida
Antigamente, havia uma estrutura de vida dentro da qual as pessoas cresciam e que as ajudava na formação da sua consciência e no fortalecimento das suas convicções. Hoje, tudo mudou. O amadureci­mento psicológico tornou-se mais lento e mais problemático. As pessoas necessitam de mais tempo e necessitam de estruturas comunitárias adequadas, sobretudo nas casas de formação. A dispersão e a desintegração são grandes. Existe uma perda de valores. Como fazer para refazer a pessoa, para que ela tenha uma experiência real de Deus e seja um sinal de Deus. Qual a formação que damos? Formamos em função de que e para que? Quais as opções pastorais que marcam nossa vida? Qual a visão de Igreja que nos anima e que marca o estilo da nossa vida: a restauradora ou a renovadora? Qual o estilo de vida religiosa que apresentamos aos que nos procuram na inserção? Qual o estilo de vida religiosa inserida que poderia oferecer aos jovens, ao mesmo tempo, uma resposta à sua busca pessoal interior e uma resposta à sua preocupação social, ao seu desejo de contribuir para a reconstrução da convivência humana? Como criar um caminho de inserção gradual que leve em conta estes problemas?

4. A vivência dos votos e o questionamento que vem dos pobres.
Hoje, a vida religiosa está sendo questionada. Pois muitos pobres, que não são religiosos, vivem melhor o evangelho do que muitos de nós que professamos a Vida Evangélica. Qual a relevância da nossa vida religiosa inserida para a vida dos pobres com que convivemos? O que representamos para eles? O que eles esperam de nós? O que eles veem em nós? Como viver a radicalidade do Evangelho num mundo em que parece não haver lugar para tal radicalidade? A impotência da Vida Religiosa inserida, sentida diante da situação de opressão e de exploração em que se encontra o povo. Uma pergunta que se ouve: “O que fazer como religioso e como religiosa diante do número crescente dos pobres que enchem as ruas das cidades, sem esperança nenhuma de que possa ocorrer uma mudança sócio-política e econômica? Depois de vinte anos ou mais de inserção no meio dos pobres, nada mudou e, em vez de melhorar, a situação piorou. A previsão é de que o número dos pobres irá aumentando sempre mais”. Qual é mesmo o objetivo da nossa Vida Religiosa?


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