sexta-feira, 14 de março de 2014

Festa do Senhor Bom Jesus dos Passos

A CRUZ EM SANTA TERESA DE JESUS

Frei Tomas Álvares, OCD.

Senhor Bom Jesus dos Passos
Patrono do nosso Sodalício
Nos escritos de Teresa, como na tradição espiritual cristã, a cruz é realidade e símbolo.

Realidade histórica: a cruz na qual Jesus morreu (“morte de cruz”- Fl 2,8).

Realidade objetiva materializada nas cruzes que recordam aquela e ao mesmo tempo a simbolizam: a cruz como sinal do cristão.

Por sua vez, prolongamento e símbolo retrospectivo da cruz de Cristo são os sofrimentos que selam e acrisolam a vida do crente, enquanto aceitos em mística simbiose com o crucificado.

As duas coisas, realidade e símbolo, foram celebradas por Teresa em seus poemas. Seguiremos esse esquema na seguinte exposição.

1. A cruz na base da experiência mística de Teresa

Na liturgia anual carmelita do tempo da Santa, eram revestidas de um caráter especial a celebração da Sexta-Feira Santa e a festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro). A primeira, porque a liturgia carmelita seguia rito jerosolimitano (Rito do Santo Sepulcro ou da Paixão: cf. MHCT,3, doc. 295), e porque a própria Teresa vivia com especial intensidade o final da Semana Santa (Cf. R 15). A festa da Exaltação da Santa Cruz, porque nela começava para a comunidade carmelita a preparação penitencial para a Páscoa do Senhor. Quando ela fomentar o novo estilo festivo de vida em seus Carmelos, festejará com alegria e poemas celebrativos da cruz a chegada dessa festa.

Porém, já antes, a Cruz do Senhor havia entrado na vida de Teresa não só porque em seu tempo ocupava um lugar de destaque nos altares, nas casas ou nas estradas (como o Cruzeiro dos “Quatro Postes”, à saída de Ávila, por onde ela empreenderia, quando criança, a fuga para a terra dos mouros (V. 1,4); mas porque, de fato, impregnava o mais profundo da religiosidade popular e, no caso de Teresa, a piedade familiar. Uma das recordações da presença da cruz de Jesus na sua vida é a devoção de seu pai, dom Alonso: em sua última enfermidade, “algumas vezes era tão intensa (a dor das costas), que o afligia muito. Disse-lhe que, visto ser tão devoto de quando o Senhor levava a cruz às costas, pensasse que Sua Majestade lhe queria dar a sentir alguma coisa do que Ele tinha” (V 7,16). Ideia que reaparece mais tarde, com toda força na pedagogia da Santa.

Em nível muito mais profundo, o mistério da cruz de Jesus penetra a experiência mística de Teresa. No começo de sua experiência, foi determinante o drama provocado pelos teólogos assessores, maus conselheiros, que a obrigaram a rechaçar as visões cristológicas  desprezando-as: “Mandaram-me, visto não me ser possível resistir, que me benzesse quando visse alguma visão, e fizesse figas…” (V 29,5). Quando a repugnância dela chega ao cúmulo, Teresa opta por substituir as figas pela cruz. “Dava-me grandíssima pena ter de fazer figas (…) e, para não me andar tanto a benzer, tomava uma cruz na mão..” (Ibidem 6).  É o momento em que lhe sobrevém o inesperado: “Uma vez, tendo eu a cruz na mão, que a trazia num rosário, pegou nela o Senhor com a Sua e quando ma tornou a dar tinha quatro pedras grandes, muito mais preciosas que diamantes, e isto sem comparação, pois quase não se pode comparar o visível com o sobrenatural; (…) Tinha as cinco chagas de muito linda feitura. Disse-me o Senhor que assim a veria de aí em diante, e assim foi que não via a madeira de que era feita, senão estas pedras; mas isto a ninguém acontecia senão a mim (V 29,7 – Comenta o primeiro biógrafo de Teresa padre Ribera: “Assim aconteceu a Santa Catarina de Sena, como contam frei Raimundo e São Antonino, que o Senhor colocou em seu dedo um anel de ouro e pérolas, que permaneceu nele, visto só por ela e por mais ninguém”: Vida de la M. T., 1,c. 13, p.86; cf Glanes, p.19). Místico rito esponsal com o crucificado, que culminará anos  mais tarde com a entrega do cravo do crucificado, “em sinal que serás minha esposa” (R 35).

A esse mesmo contexto de experiências místicas pertence a reação de Teresa frente aos medos de diabolismo,  que lhe inculcaram os teólogos em termos grotescos: “…sendo eu serva deste Senhor e Rei, que mal me podem eles fazer a mim? Porque não hei de ter fortaleza para bater-me com todo o inferno? Tomava uma cruz na mão e parecia-me verdadeiramente dar-me Deus ânimo (…) e não temeria lutar com eles a braços, parecia-me que facilmente, com aquela cruz, os venceria a todos” ( V 25,19).

Na realidade, a experiência da cruz introduzia Teresa na experiência do crucificado ( V 29, 4; 33,14; 38,14), de suas chagas (R 15; V 35,2; 36,1; 39,1), de sua Paixão e sofrimentos (R 26,1; 36,1), de sua humanidade (V 22). Daí seu ensinamento: “ponde os olhos no Crucificado, e tudo se vos fará pouco” (M 7,4,8; C 2,1).

2. A Cruz do Crucificado

No tempo da santa era normal e inevitável a formação à oração e meditação, tendo como fundamento a Paixão de Jesus. Não parece que ela tenha conhecido a prática da Via Crucis, que adquirirá sua forma definitiva no século seguinte. Apesar disso, para Teresa o mistério de Jesus carregando a cruz, caído sob o peso da cruz, pendurado na cruz, morto na cruz… constituiu parte de seu próprio caminho espiritual e passou a ser o conteúdo principal de seu itinerário de oração. Os momentos mais recordados por ela são ao mesmo tempo históricos e simbólicos: ajuda-lo a levar a cruz com o Cirineu (V 27,13), não deixá-lo cair sob o peso da cruz (V 11,10; C 26,5); estar ao pé da cruz como São João ( C 25,5), ou como a Virgem (CAD 3,11); ceder ao assombro ante o silêncio de Jesus que cravado não se queixa nem sequer à sua mãe, a Virgem Maria: “pois com esta mesma razão se queixaria à sua Mãe (…): e sempre nos consola mais queixar-nos aos que sabemos que sentem os nossos sofrimentos e nos amam mais”. (CAD 3,11) .E por fim a morte de Jesus na cruz: “Olhai o que custou ao nosso Esposo o amor que nos teve: para nos livrar da morte, a padeceu tão penosa como a morte na Cruz” (M 5,3,12).

Em sua glosa ao Cântico dos Cânticos, Teresa recolherá a tradicional identificação da cruz de Jesus com a macieira do epitalâmio bíblico: “Eu entendo  que a macieira é a árvore da cruz, porque está escrito  noutra passagem dos Cânticos: sob a macieira eu te despertei. E isso é, para uma alma rodeada de cruzes de sofrimentos e perseguições, um grande remédio para não ficar muito amiúde entregue ao prazer da contemplação” (CAD 7,8). “Como baixa seus ramos essa divina macieira para que, algumas vezes, a alma colha seus frutos, considerando suas grandezas e a multiplicidade de suas misericórdias, e veja e saboreie o fruto que Jesus Cristo, Nosso Senhor, tirou da sua Paixão, regando essa árvore com seu sangue precioso, com tão admirável amor”. (CAD 5,5)

É provável que esse simbolismo “macieira-cruz” Teresa o tenha recebido do primeiro magistério oral de Frei João da Cruz, que,  ao comentar no Cântico Espiritual a passagem dos Cânticos, escreverá: “Debaixo da macieira, entendendo pela macieira a árvore da cruz onde o Filho de Deus redimiu e… se desposou com a natureza humana, e consequentemente com cada alma” (CA 28,2: com pequenos matizes variantes em CB 23,3).

Já nos primeiros anos de sua experiência mística, quando arrancaram de Teresa, por decreto, seus livros espirituais, o Senhor lhe havia prometido: “Não tenha medo, eu te darei livro vivo”. E o livro vivo foi para ela o Crucificado: “Quem pode ver o Senhor coberto de chagas e aflito por perseguições sem que as  abrace e ame e deseje?” (V 26,5). Livro vivo é uma versão original do bíblico “livro da vida” (Ap 3,5; 20,15…). Outras passagens bíblicas das quais se alimenta a piedade de Teresa são: a palavra de Jesus “toma tua cruz e segue-me” (V 15,13); ou o texto de São Paulo: não gloriar-se senão na cruz (carta 279), ou a experiência da qual diz São Paulo. ‘que está crucificado para o mundo’…” (V 20,11).

Porém, Teresa leu e meditou inúmeras vezes a Paixão de Jesus: desde os anos em que “era tão duro meu coração que, se lesse toda a Paixão, não chorava uma lágrima; isto causava-me pena” (V 3,1), até os anos de sua conversão em que “se começava a chorar pela Paixão, não sabia acabar” (M 4,1,6).

3. O sinal da Cruz

Teresa também é humilde testemunha da religiosidade popular no afeto e veneração da cruz e das cruzes que materializavam  – mas que agora – a cruz histórica de Jesus. É fácil documentar em seus escritos várias dessas práticas populares, adotadas sem exageros por uma mística como ela:

Teresa leva sempre em seu rosário uma cruz, que utiliza, como vimos, em seus pseudos exorcismos antidiabólicos (V 29,7). Está convencida, como a gente simples de seu tempo, do poder da cruz contra as insídias do demônio (V 25,10; 31, 4.10…).

Teresa é amiga de persignar-se (fazer o sinal da cruz sobre si mesma). Recorda que o fazia desde criança antes de dormir (V 9,4). Aconselha fazê-lo ao começar a oração (C 26,1). Persignar-se é, para ela, gesto de invocação ou de simples assombro (V 37,9). Porém, tanto para ela quanto para a religiosidade popular, o ato de benzer-se era um reconhecimento do poder salvador da cruz de Jesus. “Todos os males desterra”; sob seu amparo “o mais fraco será mais forte”, cantará ela em seus poemas.

Na primeira visita ao convento de Duruelo, “portalzinho de Belém”, segundo ela, lhe encanta a pobre e desnuda cruz que adornava “a ermidazinha”: “nunca vou esquecer de uma cruzinha de madeira que estava perto da água benta. Tinha pregada uma representação de Cristo em papel. Ela me parecia produzir mais devoção do que se fosse uma peça bem lavrada” (F 14,7). Também ela faria colocar uma cruz de madeira, desnuda de todo ornamento, em cada cela de seus carmelos.

Ainda que não tenha viajado a Caravaca, venerou e levou consigo uma pequena cópia da famosa “Cruz de Caravaca”. Fez chegar outra cópia da mesma à sua amiga Dona Luisa de la Cerda (Carta 158,6).

Teresa também compartilhou da simples devoção popular em sua última viagem de fundadora, ao chegar a Burgos. Em toda Castela era famoso o Santo Cristo de Burgos. Já ao planejar a viagem de Palência à capital de Castela, tinha incluído em sua agenda a visita ao crucifixo desse lugar (Carta 430,3). E ao chegar a cidade, ainda que estivesse encharcada de água e com frio, foi “primeiramente ver o Santo Crucifixo, para encomendar-lhe a empresa” da fundação (F 31,18).

4. Como levar a cruz de Cristo na própria vida

Além de realidade e mistério, a cruz é para Teresa uma lição de vida. “Na cruz está a vida”, é o primeiro verso de um dos seus poemas. Lição plena, de alcance universal, de ascese e de mística.

No plano ascético, é fundamental a aceitação das cruzes que não podem faltar na vida. Jesus também as aceitou. Ela inculca isso aos principiantes nos capítulos dedicados ao primeiro grau de oração (V 11-13). Porém a instrução vale para todo o caminho: “…primeiros, medianos e últimos (=principiantes, aproveitados e perfeitos), todos levem suas cruzes embora diferentes. Por este caminho, por onde foi Cristo, hão de ir os que O seguem” (V 11,5). Condição indispensável para que o principiante se coloque a caminho é a determinada determinação de levar com Ele a cruz e segui-lO “até à morte de cruz, determinado a ajudar a levá-la e a não deixá-lO só com ela. Quem vir em si esta determinação, de modo algum deve temer! (V 11,12). Insistirá: “importa começarem as almas a terem oração indo se desapegando de todo o gênero de contentamentos e entrarem nela, determinadas única e somente a ajudarem Cristo a levar a cruz, como bons cavaleiros que, sem soldo algum, querem servir a seu Rei…”(V 15,11). Isso é cofirmado às jovens leitoras do Caminho  ao fazê-las confrontarem-se com a cruz de Jesus, de modo que “a que não quiser carregar a cruz, a não ser aquela que muito se fundamente em razões, não sei para que está no mosteiro” ( C 13,1; cf. 10,11).

É revelador o episódio acontecido no final de sua vida (maio de 1582). No Carmelo de Soria havia ingressado uma jovem da alta nobreza navarra, após levar a cabo um gesto realmente heroico. No noviciado surpreende-a um período de secura e de novas provas familiares. A noviça comunica tudo à Santa. E esta lhe responde: “Não se aflija com isto. É necessário ajudar Cristo a carregar a cruz. Não tenha pressa em receber regalos, como costumam fazer os soldados civis, que querem receber logo o soldo. Sirva gratuitamente como fazem os grandes ao rei” (Carta 446,4). A dita pessoa era Leonor de Ayanz e Beamonte.

O lema fundamental da ascese teresiana é: determinada determinação em ajudar Cristo a carregar sua cruz, abraçando as que surgem na própria vida. “Ajudar Cristo a levar a cruz” é célula germinal da mística da cruz, presente simultaneamente na experiência e no magistério da Santa. Já ao propor essa instrução ao principiante, lhe adverte que será válida para todo o caminho espiritual: “Ajude-O a levar a cruz e pense que toda a vida nela viveu . Não queira aqui seu reino (…) ; e assim determine-se – embora esta aridez lhe dure toda a vida – a não deixar Cristo cair sob o peso da cruz” (V 11,10).

Porém tanto ela como seus leitores terão que penetrar no profundo mistério da cruz, cume do processo de abaixamento do Verbo Encarnado e consumação de sua obra redentora. Morte por amor e dor. Dor e amor que se compenetram; porém, de sorte que o amor seja a medida da capacidade da dor: não só na Paixão de Jesus mas na capacidade de compartilhar sua cruz por parte de seus seguidores: “São estes os Seus dons (os de Deus) neste mundo. Dá conforme ao amor que nos tem: aos que mais ama, dá mais destes dons; àqueles que menos ama, dá menos, e conforme ao ânimo que vê em cada um e o amor que têm à Sua Majestade. A quem O amar muito, verá que pode padecer muito por Ele; ao que O amar pouco, pouco. Tenho para mim que a medida de se poder levar cruz grande ou pequena, é a do amor” (C 32,7; cf. M 4,2,9).

A partir dessa experiência do mistério da cruz, na dor por amor, sobrevieram a Teresa duas grandes surpresas. A primeira, que o crucificado pudesse dar-lhe sofrimentos: dar-lhos, como próprio, para que os apresentasse ao Pai. A segunda, que nela surgisse e crescesse até ao extremo do possível o “desejo de padecer” por e com Cristo. Basta documentar um e outro aspecto:

O primeiro fato Teresa o refere em um de seus apontamentos íntimos, Relação 51. Ela escuta esta palavra interior: “… o que Eu tenho é teu, e assim te dou todos os sofrimentos e dores que passei; com isso, podes pedir a Meu Pai como se fossem coisas próprias tuas. (…) Desde então olho de modo muito diferente o que o Senhor padeceu – como coisa própria – , o que me dá grande alívio.” Quando, dois anos mais tarde, ela vai redatar o Castelo Interior recordará esse acontecimento místico na altura das sextas moradas, emoldurando-o na experiência da própria pobreza: “estava muito aflita neste ponto diante de um crucifixo, considerando que nunca tinha tido nada que dar a Deus… Disse-lhe o mesmo Crucificado consolando-a, que Ele lhe dava todas as dores e trabalhos que tinha passado em Sua Paixão, que os tivesse por próprios para os oferecer a Seu Pai” (M 6,5,6) .

A segunda surpresa foi o irreprimível desejo de padecer – algo talvez mais surpreendente e paradoxal para nós que para o místico. Para este – e para Teresa – o normal no caminho de “ajuda ao Senhor com a cruz”, é que surja o desejo de compartilhá-la com Ele e por Ele, na alternância crescente de amor e dor. Teresa o documentará pela última vez no final do Castelo Interior ao descrever a situação de quem chegou à última morada: Ela vive já “com um grande desejo de padecer, mas não de modo a inquietá-la, como costumava…” (M 7,3,4). Muito em contraste com a conclusão do relato da Vida, onde uma de suas orações culminantes era: “Senhor, ou morrer ou padecer: não vos peço outra coisa” (V 40,20)

Nesse processo de imersão no mistério da cruz, os dois últimos significados serão: a necessidade absoluta de configurar-se ao Servo de Javé ( M 7,4,8); e a segurança do valor e dignidade acrescentados aos mínimos atos humanos pela incorporação à cruz de Jesus (M 7,4,15, já na conclusão do livro). “Sabeis o que é ser espiritual deveras? É fazer-se escravos de Deus, para que, marcados com o Seu selo que é a cruz, possa vendê-los por escravos de todo o mundo, como Ele próprio foi; e não lhes faz nenhum agravo nem pequena mercê” (M 7,4,8).

5. Poemas à cruz de Jesus

No exíguo florilégio de poemas teresianos que chegaram até nós, há ao menos três dedicados à cruz de Jesus, ambos literalmente primorosos e de profundo conteúdo espiritual e teológico. Além deles, a cruz está presente em vários outros poemas a Santa.

Provavelmente, os três primeiros (18,19 e 29) foram compostos por ela para celebrar a festa da Exaltação da Santa da Cruz nas recreações que aconteciam em preparação ao subsequente tempo de jejum, que começava nessa data. Poemas festivos, portanto, porém de intensa vibração poética e com clara referência autobiográfica.

O poema primeiro (n. 18) começa com o estribilho: “Cruz, descanso saboroso de minha vida, sede bem vinda” . A imagem central, cruz-bandeira, com a qual celebra o “triunfo” de Jesus é eco prolongado do hino litúrgico: “Vexilla Regis prodeunt fulget crucis mysterium”. Os versos da santa retêm o tom desse hino marcial, porém com matizes intimistas, que permitem a autora dialogar com a cruz: “Foste vós a liberdade de nosso grande cativeiro”.

O segundo poema (n. 9) é talvez o mais original dos poemas teresianos. “Canto de cisne” da autora, segundo seu editor crítico Angel C. Vega. Quase todas as suas estrofes são inspiradas no Cântico dos Cânticos. Começam com a expressão: “na cruz está a vida”; segue cada uma das estrofes inspiradas em um motivo bíblico: “na cruz está o Senhor do céu e da terra” (primeira estrofe);  a cruz é “a palma preciosa” dos Cânticos (segunda); ela é “a oliveira preciosa” (terceira), também do Cântico dos Cânticos, que segue inspirando a estrofe quarta: a cruz é “a árvore preciosa e desejada”. Há um eco do Apocalipse ou do Gênesis na seguinte: a cruz é “a árvore da vida”. E por fim, a última estrofe contém um eco do pensamento paulino: “Na cruz está a glória e a honra”… Toda uma série de motivos bíblicos poeticamente encadeados.

O terceiro poema é um canto de vitória ao triunfo da cruz à maneira de hino triunfal místico. Grito de guerra e paz. A parte inicial fala de militância, bandeiras, paz e terra. A bandeira é a cruz. Capitão forte é o crucificado. Militantes são as destinatárias do poema: carmelitas e a autora. “Não haja entre nós covarde! Aventuremos a vida”.  O triunfo da cruz é a morte do crucificado, que “se oferece para morrer na cruz para dar-nos a todos a luz”. As duas primeiras estrofes cantam a gesta da cruz. As outras duas são o grito do chamado a seguir o crucificado: “Sigamos estas bandeiras pois Cristo vai  à dianteira”.

A santa introduziu o tema da cruz em vários outros poemas: números 20,22,26,30 e 31. Porém dedicou todo o poema 21 ao apóstolo André, que morreu enamorado da cruz de Jesus. A última estrofe põe na boca do apóstolo um imitação do hino litúrgico: “Salve crux pretiosa“. Assim diz:

“Ó cruz! madeiro precioso,
De sublime majestade,
pois jazendo na humildade,
tomaste a Deus por esposo!
Sem merecer tanto gozo,
venho a ti, cheio de amor

Ao ver-te, ó cruz, do Senhor!”

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