sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sábado V do Tempo Comum

S. Cláudio la Colombière
Evangelho (Mc 8,1-10): Naqueles dias, novamente se juntou uma grande multidão e não tinham o que comer. Jesus, então, chamou os discípulos e disse: «Sinto compaixão desta multidão! Já faz três dias que estão comigo e não têm o que comer. Se eu os mandar embora sem comer, vão desfalecer pelo caminho; e alguns vieram de longe». Os discípulos responderam: «De onde conseguir, aqui em lugar deserto, pão para saciar tanta gente?». Ele perguntou-lhes: «Quantos pães tendes?»Eles responderam:«Sete». Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois, pegou os sete pães, deu graças, partiu-os e deu aos discípulos para que os distribuíssem. E distribuíram à multidão. Tinham também alguns peixinhos. Jesus os abençoou e mandou distribuí-los. Comeram e ficaram saciados, e ainda recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram. Eram umas quatro mil. Então ele os despediu. Logo em seguida, Jesus entrou no barco com seus discípulos e foi para a região de Dalmanuta.

Comentário: Rev. D. Carles ELÍAS i Cao (Barcelona, Espanha)

Não têm o que comer

Hoje, tempo de inclemência e ansiedade, também Jesus nos chama para dizer-nos o que sente «Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer» (Mc 8,2). Hoje, com a paz em crise, pode abundar o medo, a apatia, o recurso à banalidade e à evasão: «Não têm o que comer».

A quem chama o Senhor? Diz o texto: «Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinham o que comer. Jesus chamou os discípulos e disse:» (Mc 8,1), quer dizer, me chama a mim, para não os despedir em jejum, para dar-lhes algo. Jesus se compadeceu —esta vez em terra de pagãos porque também têm fome.

Ah!, e nós —refugiados em nosso pequeno mundo— dizemos que nada podemos fazer. «Os discípulos disseram: «Onde alguém poderia saciar essa gente de pão, aqui no deserto?» Como poderá alguém saciar de pão estes aqui no deserto?» (Mc 8,4). De onde tiraremos uma palavra de esperança certa e firme, sabendo que o Senhor estará conosco cada dia até o fim dos tempos? Como dizer aos crentes e aos incrédulos que a violência e a morte não são soluções?

Hoje, o Senhor nos pergunta, simplesmente, quantos pães temos. Os que sejam eles necessitam. O texto diz «sete», símbolo para pagãos, como doze era símbolo para o povo judeu. O Senhor quer chegar a todos —por isso a Igreja quer ser reconhecida a si mesma desde sua catolicidade— e pede tua ajuda. Dá tua oração: é um pão! Da tua Eucaristia vivida: é outro pão! Dá tua decisão pela reconciliação com os teus, com os que te ofenderam: é outro pão! Dá tua reconciliação sacramental com a Igreja: é outro pão! Dá teu pequeno sacrifício, teu jejum, tua solidariedade: é outro pão! Dá teu amor a sua Palavra, que te dá consolo e forças: é outro pão! Dá, finalmente, o que Ele te peça, mesmo que creias que só é um pouco de pão.

Como nos diz são Gregório de Nisa, «aquele que compartilha seu pão com os pobres se constitui em parte daquele que, por nós, quis ser pobre. “Pobre foi o Senhor, não temas a pobreza».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* O texto do evangelho de hoje traz a segunda multiplicação dos pães. O fio que costura os vários episódios desta parte do evangelho de Marcos é o alimento, o pão. Depois do banquetede morte (Mc 6,17-29), vem o banquete da vida (Mc 6,30-44). Durante a travessia do lago, os discípulos têm medo, porque não entenderam nada do pão multiplicado no deserto (Mc 6,51-52). Em seguida, Jesus declara puros todos os alimentos (Mc 7,1-23). Na conversa de Jesus com a mulher Cananeia, os pagãos vão comer das migalhas que caem da mesa dos filhos (Mc 7,24-30). E aqui no evangelho de hoje, Marcos relata a segunda multiplicação do pão (Mc 8,1-10).

* Marcos 8,1-3: A situação do povo e a reação de Jesus
A multidão, que se juntou ao redor de Jesus no deserto, estava sem comida. Jesus chama os discípulos e coloca o problema: Tenho dó desse povo. Estão três dias comigo e não têm o que comer. Não posso mandá-los de volta para casa, porque alguns deles vieram de longe e poderiam desfalecer pelo caminho! Nesta preocupação de Jesus transparecem duas coisas muito importantes: 
1) O povo esqueceu casa e comida e foi atrás de Jesus no deserto! Sinal de que Jesus deve ter sido uma simpatia ambulante, a ponto de o povo andar atrás dele no deserto e ficar com ele durante três dias! 
2) Jesus não manda resolver o problema. Ele apenas manifesta a sua preocupação aos discípulos. Parece um problema sem solução.

* Marcos 8,4: A reação dos discípulos: o primeiro mal-entendido
Os discípulos pensam logo numa solução, segundo a qual alguém deve arrumar pão para o povo. Não lhes passa pela cabeça que a solução possa vir do próprio povo. Eles dizem: “Como poderia alguém, aqui no deserto, saciar com pão a tanta gente?” Com outras palavras, eles pensam numa solução tradicional. Alguém deve juntar dinheiro, comprar pão e distribuir ao povo. Eles mesmos percebem que, naquele deserto, esta solução não é viável, mas não vêem outra possibilidade para resolver o problema. Ou seja: se Jesus insiste em não mandar o povo de volta para casa, não haverá solução para a fome do povo!

* Marcos 8,5-7: A solução encontrada por Jesus
Primeiro, ele pergunta quantos pães eles têm: “Sete!” Em seguida, manda o povo sentar-se. Depois, tomou os sete pães, deu graças, partiu-os e deu aos seus discípulos para que os distribuíssem. E fez o mesmo com os peixes. Como na primeira multiplicação (Mc 6,41), a maneira de Marcos descrever a atitude de Jesus lembra a Eucaristia. A mensagem é esta: a participação na Eucaristia deve levar-nos à doação e à partilha do pão com os que não têm pão

* Marcos 8,8-10: O resultado
Todos comeram, ficaram saciados e ainda sobrou! Solução inesperada, nascida de dentro do próprio povo, a partir do pouco que eles mesmos tinham trazido. Na primeira multiplicação, sobraram doze cestos. Aqui, sete. Na primeira, foi para cinco mil pessoas. Aqui, para quatro mil. Na primeira, havia cinco pães e dois peixes. Aqui, sete pães e alguns peixes.

* O perigo da ideologia dominante
Os discípulos pensavam de um jeito, Jesus pensa de outro jeito. No modo de pensar dos discípulos transparece a ideologia dominante, o modo comum de pensar das pessoas. Jesus pensa diferente. Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus e de viver na comunidade que ela já é santa e renovada. No meio dos discípulos, cada vez de novo, a mentalidade antiga levantava a cabeça, pois o “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), isto é, a ideologia dominante, tinha raízes profundas na vida daquele povo. A conversão que Jesus pede vai longe e fundo. Ele quer atingir a raiz e erradicar os vários tipos de “fermento”:

+ o “fermento” da comunidade fechada sobre si mesma sem abertura. Jesus responde: “Quem não é contra é a favor!" (Mc 9,39-40). Para Jesus, o que importa não é se a pessoa faz ou não faz parte da comunidade, mas sim se ela faz ou não o bem que a comunidade deve realizar.

+ o “fermento” do grupo que se considera superior aos outros. Jesus responde "Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55).

+ o “fermento” da mentalidade de classe e de competição, que caracterizava a sociedade do Império Romano e que já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas começando. Jesus responde: "O primeiro seja o último" (Mc 9, 35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o próprio testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45; Mt 20,28; Jo 13,1-16).

+ o “fermento” da mentalidade da cultura da época que marginalizava os pequenos, as crianças. Jesus responde:”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele coloca criança como professora de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança, não pode entrar nele” (Lc 18,17).

Como no tempo de Jesus, também hoje, a mentalidade neoliberal renasce e reaparece na vida das comunidades e das famílias. A leitura orante do Evangelho, feita em comunidade, pode ajudar-nos a mudar de vida e de visão e a continuar na conversão e na fidelidade ao projeto de Jesus.

Para um confronto pessoal
1. Mal-entendidos podem ocorrer sempre, com amigos e com inimigos. Qual o mal-entendido entre Jesus e os discípulos por ocasião da multiplicação dos pães? Como Jesus enfrenta todos estes mal-entendidos? Você já teve algum mal-entendido em casa, com os vizinhos ou na comunidade? Como foi que você reagiu? A sua comunidade já enfrentou algum mal-entendido ou conflito com as autoridades do município ou da igreja? Como foi?
2. Qual o fermento que hoje impede a realização do evangelho e que deve ser eliminado?

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