sexta-feira, 1 de novembro de 2013

TRATADO DO PURGATÓRIO – 3ª parte.

11 - PENA DO PECADO:
Da luta entre o amor de Deus e o impedimento do pecado surge a pena do purgatório.
Vejo tanta conformidade entre Deus e a alma que, quando Deus a vê naquela pureza em que a criou, a atrai de certo modo para Si com tão ardente amor que bastaria isto para aniquilá-la, ainda que seja imortal, e a transforma tanto em Si, seu Deus, que a alma vê que não é outra coisa senão Deus, O qual continuamente a vai atraindo e inflamando, sem abandoná-la jamais, até tê-la conduzida a esta realidade que saiu de suas mãos, quer dizer, naquela pureza e nitidez em que foi criada.
Quando a alma, por visão interior, se vê assim atraída por Deus com tão amoroso fogo, então, pelo calor do ardente amor do seu doce senhor e Deus que sente transbordar em sua mente, se derrete totalmente. Vendo na luz a ação de Deus que nunca cessa de atraí-la e conduzi-la com muitos cuidados e contínua assistência à plenitude de sua perfeição - o que Ele faz isto só por puro amor - e ao ver que ela, por ter o impedimento do pecado, não pode seguir esta atração exercida por Deus, ou seja, este olhar unitivo que Deus lhe ofereceu para atraí-la a Si; ao ver-se também impedida de ver a luz divina e ao acrescentar o impulso da alma que quisera ser livre de impedimento, para seguir aquele olhar unitivo de Deus: digo que a visão dessas coisas é que produz nas almas a pena que sofrem no purgatório. Não quero dizer que as almas apreciem seus sofrimentos - que são muito grandes - mas que consideram mais a oposição de se encontrarem contra a vontade de Deus, ao qual vêm claramente inflamado de extremo e puro amor para com elas.
Esse amor, com seu olhar unitivo atrai as almas tão forte e continuamente, como se não tivesse outra coisa a fazer senão isso. Portanto, a alma, ao ver isto, se encontrasse outro purgatório mais terrível a fim de arrancar de si mais depressa tão grande impedimento, logo se lançaria nele, pelo ímpeto daquele amor de conformidade entre Deus e ela.

12 - OURO NO CRISOL  - Purificação das almas como ouro no crisol
Vejo também que procedem daquele divino amor para com a alma, certos raios e relâmpagos tão abrasadores, penetrantes e fortes que parecem tentar aniquilar não só o corpo mas também a alma se fosse possível. Esses raios realizam duas operações: A primeira, a de purificar; a segunda, a de aniquilar. Olhe o ouro. Quanto mais é fundido, tanto melhor se torna; e poder-se-ia fundir tanto até aniquilar nele toda a imperfeição. O fogo produz este efeito nas coisas da terra; porém, a alma não pode aniquilar-se em Deus, mas em si mesma.
Quanto mais a purificas, tanto mais a aniquilas em si mesma e, ao final, estará purificada em Deus. O ouro quando purificado até 24 quilates, não se consome, por mais fogo que você queira por nele, porque não se pode consumir senão sua imperfeição. Assim, também o fogo divino age com a alma. Deus a mantém no fogo até que se consuma toda imperfeição e a conduz à plenitude da perfeição (naturalmente segundo grau de cada alma).
E quando a alma se tiver purificado, fica toda em Deus sem coisa alguma em si que seja sua. Seu ser é Deus. Quando Deus conduziu a Si a alma purificada deste modo, então ela permanece impassível, porque nada lhe resta para consumir e, ainda que, assim purificada se mantivesse no fogo, esse não lhe causaria mal algum; antes lhe seria um fogo de divino amor, como de vida eterna, sem nenhuma contrariedade.

13 - ALEGRIA E DOR
Saiba que tudo o que o homem julgar em si mesmo como perfeição, diante de Deus é imperfeito.
Tudo o que o homem faz e que tem a aparência de perfeição, igualmente como o vê, o sente, entende ou recorda, sem reconhecer a sua origem divina, com tudo isso ele se contamina e se mancha.
Para que as operações sejam perfeitas, é necessário que se operem em nós, sem nós, como agentes principais e que a ação de Deus se faça por Deus, sem que o homem seja o primeiro agente.
Essas operações Deus as realiza através da última ação do puro e limpo amor e fá-lo por si só, sem nenhum mérito nosso.
Essas ações penetram e inflamam tanto a alma quanto o corpo: parece consumir-se, como se estivesse dentro de um grande fogo e não ficará sossegado até a morte.
É verdade que o amor de Deus, o qual transborda nas almas, conforme eu vejo, transmite-lhes uma alegria tão grande que não se pode sequer dizer. Porém, essa alegria das almas do Purgatório não lhes tira nem um pouco da pena.
O que lhes causa sofrimento é o amor que tarda. E causa-lhes um sofrimento tanto maior, quanto maior é a perfeição de amor de que Deus as faz capazes.
Em síntese: as almas do purgatório experimentam uma alegria imensa e um sofrimento muito grande. Uma coisa não impede a outra.

14 - MERECIMENTO
As almas não podem merecer.
Se as almas do purgatório pudessem purificar-se por contrição, num só instante, pagariam toda a sua dívida, porque viria sobre elas um inflamado ímpeto de contrição. Isto aconteceria por causa daquela clara luz que têm da importância do impedimento que não as deixa unir-se a seu fim e amor, Deus.
Do pagamento que têm de fazer, não se perdoará nem a mínima falta, porque assim foi estabelecido pela divina justiça. Isto no que se refere a Deus. No que se refere às almas, estas já não têm escolha própria e não podem ver outra coisa senão o que Deus quer, nem poderiam querer outra coisa já que está determinado desta maneira. Se no mundo alguém oferece esmolas para que diminua o tempo de sua pena, as almas não podem considerá-las, porque vêm tudo sob a justíssima balança da vontade divina, deixando Deus agir em tudo o que deve ser pago de acordo com sua infinita vontade.
Se as almas pudessem ver estas esmolas à margem da divina vontade, cometeriam um ato de propriedade que as afastaria da divina vontade, o que seria para elas como um inferno. Por isso, estão arraigadas a tudo o Deus lhes dá, tanto de alegria e gozo como de sofrimento e jamais podem voltar-se para si mesmas. Estão tão unidas e transformadas na vontade de Deus que se contentam em tudo com sua disposição santíssima.

15. PURIFICAÇÃO
As almas querem a sua perfeita purificação
Se uma alma se apresenta à visão de Deus conservando ainda algo não purificado, ser-lhe-ia feita uma grande injúria e para ela seria maior sofrimento que 10 purgatórios. Aquela pura bondade e suma justiça não poderiam suportá-la e, (caso contrário) seria inconveniente da parte de Deus.
Se aquela alma visse que, contudo, não satisfez plenamente a Deus, ainda que lhe faltasse tão só um abrir e fechar de olhos para se purificar, consideraria isso tão intolerável que, para arrancar de si aquela pouca escória, lançar-se-ia mais rapidamente em mil infernos, se pudesse, em vez de estar diante da Divina presença, não inteiramente purificada.

16. EXORTAÇÕES
Aquela alma bendita (Catarina), vendo na luz divina, todas as coisas aqui narradas, exclamou:  Dá-me vontade de lançar um grito tão forte que assuste todos os homens da terra e dizer-lhes:
- Ó miseráveis, porque vos deixais deslumbrar tanto por este mundo, ante uma tão grande e importante necessidade em que vos encontrareis a hora da morte e não tomais providência alguma?
Todos vós estais abrigados sob a esperança da misericórdia de Deus, que proclamais imensa, porém, não vos dais conta de que tão grande bondade se levantará contra vós no julgamento, por haverdes agido contra a vontade de um Senhor tão bom! Sua bondade deveria obrigar-vos a cumprir totalmente sua vontade e não a incentivar vossa esperança de fazer o mal impunemente.
Sua Justiça não pode frustrar-se e é necessário que, de algum modo, se satisfaça plenamente. Não vos confieis dizendo: ?Eu me confessarei e ganharei a indulgência plenária; então me purificarei de todos os meus pecados e, assim, poderei salvar-me. Pensai que a confissão e a contrição, necessárias para ganhar a indulgência plenária, são coisas tão difíceis de alcançar que, se o soubésseis, estremeceríeis de grande medo e estaríeis mais seguros de não alcançá-la que de tê-la conseguido?

17. SOFRIMENTO ESPONTÂNEO E ALEGRE
Vejo aquelas almas que estão no purgatório com duas atividades: A primeira é que sofrem alegremente aquelas penas e, ao considerar que o mereciam, e ao conhecer quanto Deus é importante, parece-lhes que Deus lhes fez grande misericórdia. Se sua bondade não amenizasse a justiça com a misericórdia, satisfazendo-o com o precioso sangue de Jesus Cristo, um só pecado mereceria mil infernos eternos. Por isso padecem aquela pena tão alegremente que não lhes tirariam uma só partícula, por parecer-lhes que justamente a merecem e que está bem ordenada.
A outra atividade é aquela que experimentam ao ver a disposição de Deus que, com amor e misericórdia, opera nas almas. Estas duas atividades, Deus as imprime naquelas mentes num só instante; e como estão em graça, entendem-nas e compreendem-nas segundo a sua capacidade. Isto lhes dá grande alegria que nunca lhes faltará, mas que irá crescendo à medida que se aproximam de Deus. As almas não veem tudo isso em si mesmas, nem por si mesmas, mas em Deus. Suas intenções e suas preferências dirigem-se, amplamente e sem comparação, muito mais para Deus que para as penas que padecem.
A visão de Deus, por pouca que seja, excede a toda pena e todo o gozo que o homem possa compreender. Porém, este excesso não lhes tira nem si quer o mínimo de gozo ou de pena.
Finalmente e, por conclusão, entendemos que Deus faz o homem perder tudo o que é seu e que o purgatório purifica.

FIM

LEIA, ABAIXO A LECTIO DIVINA DO DIA DE FINADOS.

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