domingo, 14 de julho de 2013

Segunda-feira da 15ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Mt 10,34--11,1): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «Não penseis que vim trazer paz à terra! Não vim trazer paz, mas sim, a espada. De fato, eu vim pôr oposição entre o filho e seu pai, a filha e sua mãe, a nora e sua sogra; e os inimigos serão os próprios familiares. Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. Quem vos recebe, é a mim que está recebendo; e quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou. Quem receber um profeta por ele ser profeta, terá uma recompensa de profeta. Quem receber um justo por ele ser justo, terá uma recompensa de justo. E quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequenos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não ficará sem receber sua recompensa».  Quando Jesus terminou estas instruções aos doze discípulos, partiu dali, a fim de ensinar e proclamar a Boa Nova nas cidades da região.

Comentário: Rev. D. Valentí ALONSO i Roig (Barcelona, Espanha)

E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim

Hoje, Jesus nos oferece uma importante mistura de recomendações; é como um desses banquetes modernos onde os pratos são pequenas porções para saborear. Trata-se de conselhos profundos e de difícil digestão, destinados a seus discípulos na formação e preparação missionária (cf. Mt 11,1). Para gostar deles devemos contemplar o texto em partes diferentes.

Jesus começa dando a conhecer o efeito do seu ensino. Não obstante os efeitos positivos, evidentes na atuação do Senhor, o Evangelho evoca as contrariedades e contratempos da predicação: «e os inimigos serão os próprios familiares» (Mt 10,36). Isso é o contraditório de viver na fé, temos a possibilidade de enfrentarmos, até mesmo com os que estão mais perto de nós, quando não compreendemos quem é Jesus, o Senhor, e não o percebemos como o Mestre da comunhão.

Em um segundo momento Jesus nos pede para ocupar o lugar mais alto na escala do amor: «Quem ama pai ou mãe mais do que a mim...» (Mt 10,37), «e quem ama filho ou filha mais do que a mim...» (Mt 10,37). Desse jeito, propõe deixarmos acompanhar por Ele como presença de Deus, já que «quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou» (Mt 10,40). O resultado de morar acompanhados pelo Senhor, acolhido em nossa morada, é gozar da recompensa dos profetas e justos, porque temos recebido um profeta e um justo.

A recomendação do Mestre acaba valorizando as pequenas demonstrações de ajuda e proteção às pessoas que moram acompanhadas pelo Senhor, os seus discípulos, que somos todos os cristãos. «Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequenos, por ser meu discípulo...» (Mt 10,42). A partir deste conselho, nasce uma responsabilidade: em relação ao próximo, sejamos conscientes de que as pessoas que moram com o Senhor, quem quer que sejam, devem ser tratadas como Ele mesmo. São João Crisóstomo diz: «Se o amor estivesse espalhado por todas as partes, nasceria dele uma quantidade infinita de bens».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

A V Conferência dos bispos da América Latina, realizada em Aparecida do Norte, Brasil, elaborou um documento muito importante sobre o tema: “Discípulos e Missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”. O Sermão da Missão do capítulo 10 do Evangelho de São Mateus, que estamos meditando nestes dias, oferece muitas luzes para poder realizar a missão de discípulos e missionários de Jesus Cristo. O evangelho de hoje traz a parte final deste Sermão da Missão

* Mateus 10,34-36: Não vim trazer a paz, mas sim a espada
Jesus sempre fala em paz (Mt 5,9; Mc 9,50; Lc 1,79; 10,5; 19,38; 24,36; Jo 14,27; 16,33; 20,21.26). Então, como entender a frase do evangelho de hoje que parece dizer o contrário: "Não pensem que eu vim trazer paz à terra; eu não vim trazer a paz, e sim a espada”?  Esta afirmação não significa que Jesus estivesse a favor da divisão e da espada. Não! Jesus não quer a espada (Jo 18,11) nem a divisão. Ele quer é a união de todos na verdade (cf. Jo 17,17-23). Naquele tempo, porém, o anúncio da verdade de que ele, Jesus de Nazaré, era o Messias tornou-se motivo de muita divisão entre os judeus. Dentro da mesma família ou comunidade, uns eram a favor e outros radicalmente contra. Neste sentido a Boa Nova de Jesus era realmente uma fonte de divisão, um “sinal de contradição” (Lc 2,34) ou, como dizia Jesus, ela trazia a espada. Assim se entende a outra advertência: “Eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares”. Era o que estava acontecendo, de fato, nas famílias e nas comunidades: muita divisão, muita discussão, como conseqüência do anúncio da Boa Nova entre os judeus daquela época, uns aceitando, outros negando. Até hoje é assim. Muitas vezes, lá onde a Igreja se renova, o apelo da Boa Nova se torna um “sinal de contradição” e de divisão. Pessoas que durante anos viveram acomodadas na rotina da sua vida cristã, já não querem ser incomodadas pelas “inovações” do Vaticano II. Incomodadas pelas mudanças, elas usam toda a sua inteligência para encontrar argumentos em defesa de suas opiniões e para condenar as mudanças como contrárias ao que elas pensam ser a verdadeira fé. 

* Mateus 10,37: Quem ama seu pai e sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim
Lucas traz esta mesma frase mas muito mais exigente. Ele diz literalmente: "Se alguém vem a mim, e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs, e até mesmo sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). Como combinar esta afirmação de Jesus com aquela outra em que ele manda observar o quarto mandamento: amar e honrar pai e mãe? (Mc 7,10-12; Mt 19,19).  Duas observações: (1) O critério básico em que Jesus sempre insiste é este: a Boa Nova de Deus deve ser o valor supremo da nossa vida. Não pode haver um valor mais alto na vida. (2) A situação econômica social na época de Jesus era tal que as famílias eram obrigadas a se fechar sobre si mesmas. Já não tinham condições de manter as obrigações da convivência comunitária como, por exemplo, a partilha, a hospitalidade, a comunhão de mesa e a acolhida aos excluídos. Este fechamento individualista, causado pela conjuntura nacional e internacional, provocava as seguintes distorções:
(1) Impossibilitava a vida em comunidade.
(2) Estreitava o mandamento “honrar pai e mãe” exclusivamente para a pequena família nuclear e não mais para a grande família da comunidade.
(3) Impedia a manifestação plena da Boa Nova de Deus, pois se Deus é Pai/Mãe, nós somos irmãos e irmãs uns dos outros.
E esta verdade deve encontrar sua expressão na vida em comunidade. Uma comunidade viva e fraterna é o espelho do rosto de Deus. Conivência humana sem comunidade é espelho rachado que desfigura o rosto de Deus. Neste contexto, o pedido de Jesus para “odiar pai e mãe” significava que os discípulos e as discípulas deviam superar o fechamento individualista da pequena família sobre si mesma e alargá-la para a dimensão da comunidade. Jesus mesmo praticou o que ensinou para os outros. Sua família queria chamá-lo de volta e fechar-se sobre si mesma. Quando lhe deram o aviso: “Olha, tua mãe e teus irmãos estão aí fora e te procuram”, ele respondeu: “Quem é minha mãe e meus irmãos?. E olhando para as pessoas ao redor ele disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,32-35). Alargou a família! Aliás, este era e continua sendo até hoje o único caminho para a pequena família poder preservar e transmitir os valores em que acredita.

* Mateus 10,38-39: As exigências da missão dos discípulos
Nestes dois versículos Jesus dá dois conselhos importantes e exigentes: 
(1) Tomar a cruz atrás de Jesus: Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Para perceber todo o alcance deste primeiro conselho convém ter presente o testemunho de São Paulo: “Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6,14). Carregar a cruz implica, até hoje, na ruptura radical com o sistema iníquo vigente no mundo. 
(2) Ter a coragem de doar a vida: Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. Só se sente realizado na vida quem for capaz de doar-se inteiramente pelos outros. Perde a vida quem quer conservá-la só para si. Este segundo conselho é a confirmação da mais profunda experiência humana: a fonte da vida está na doação da vida. É dando que se recebe. Se o grão de trigo não morrer.… (Jo 12,24).

* Mateus 10,40: A identificação do discípulo com Jesus e com o próprio Deus
Esta experiência tão humana da doação e da entrega recebe aqui um clarão, um aprofundamento: “Quem recebe a vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”. É na doação total de si que o discípulo se identifica com Jesus; que se realiza o encontro dele com Deus, e que Deus se deixa encontrar por quem o procura.

* Mateus 10,41-42: A recompensa de profeta, de justo e de discípulo
Para encerrar o Sermão da Missão segue uma frase sobre a recompensa: Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo.  Quem der ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa. Nesta frase existe uma seqüência muito significativa: o profeta é reconhecido pela sua missão como enviado de Deus. O justo é reconhecido pelo seu comportamento, pela sua maneira perfeita de observar a lei de Deus. O discípulo é reconhecido por nenhuma qualidade ou missão especial, mas simplesmente pela sua condição social de gente pequena. O Reino não é feito de coisas grandes. É como um prédio muito grande que se constrói com tijolos pequenos. Quem despreza o tijolo nunca vai ter o prédio. Até um copo de água serve de tijolo na construção do Reino.

* Mateus 11,1: O final do Sermão da Missão
Fim do Sermão da Missão. Quando Jesus terminou de dar essas instruções aos seus doze discípulos, partiu daí, a fim de ensinar e pregar nas cidades deles Agora Jesus parte para praticar o que ensinou. É o que veremos nos próximos dias meditando os capítulos 11 e 12 do evangelho de Mateus.

Para um confronto pessoal
1) Perder a vida para poder ganhá-la. Você já teve alguma experiência de sentir-se recompensado/a por um ato de doação ou de entrega gratuita de si aos outros?
2) Quem recebe a vocês, recebe a mim, e quem recebe a mim, recebe aquele que me enviou. Pare e pense no que Jesus diz aqui: ele e o próprio Deus se identificam com você.

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