domingo, 28 de julho de 2013

A ORAÇÃO

Era uma vez um amigo, que tinha um amigo, que por sua vez tinha outro amigo… E esta bem podia ser a história de três amigos, à volta de três pães, numa noite, de surpresas e incômodos! Mas é uma parábola, sobre a oração! Nela Jesus vinca muito mais a certeza de ser atendido pelo amigo, do que a insistência de quem pede. Jesus quer falar-nos de Deus, de seu Pai, e de como Ele se porta e comporta conosco, quando batemos à porta trancada! À luz da parábola, permitam-me dez sugestões na ementa, antes de pedirem o que querem sobre a mesa. São dez provocações, para uma verdadeira arte de rezar e de pedir.

1. Não tenhas medo, nem vergonha de pedir ou de suplicar, na tua oração. Afinal Tu és um ser incompleto, uma criatura frágil, que clama, chama e reclama a atenção amorosa de alguém. Estás tu bem consciente de quem sem Deus, nada podes alcançar! Pedir é colocares-te na posição correta, diante de Deus! Afinal todo «o homem é um pobre, que tudo precisa pedir a Deus» (Santo Cura d’Ars)!

2. Não rezarás nem pedirás seja o que for a Deus, com o medo infantil de um estranho que se dirige a outro Ser ainda mais estranho. Atreve-te a pedir a Deus, como um «pobre amigo» a um «rico amigo», com quem tens toda a intimidade e confiança! «A Oração é afinal um tratado de amizade, com Aquele que sabemos que nos ama»! (Santa Teresa de Ávila)!

3. Não rezarás nem pedirás, como um escravo ou ceguinho, medroso do seu senhor, que permanece um eterno desconhecido. Pedirás, humilde e confiante, como um filho a um Pai, que conhece as tuas necessidades, antes de as confessares, mesmo se não reconhece algumas das tuas necessidades artificiais.

4. Não rezes, apresentando a Deus, com petulância, os teus pedidos, como se tivesses de instruir a sua ignorância, explicando-lhe, com detalhes, tudo quando, quanto, como e o que deve fazer! “Quanto menos palavras, mais perfeita é a oração” (Lutero)!

5. Não cairás na tentação, que te leva a crer que Deus está às tuas ordens, ao teu serviço, e à tua disposição, pronto a atender a todos os teus humanos caprichos! Se rezas, é para pedir a Deus, não o que tu queres, mas o que Deus quer, e assim conformares os teus desejos à vontade de Deus. A oração é assim uma oficina do desejo! Pedirás “não o que te irrompe o coração, mas o que rompe o coração de Deus”! (Margaret Gibb).

6. Não reduzirás a tua oração e os teus pedidos a Deus, a momentos aflitivos de urgência ou de emergência, mas acordarás tu para Deus, que te está presente no quotidiano da tua vida, sempre e em toda a parte! Não rezes, portanto, para «acordares» ou «recordares a Deus» alguma coisa. Reza para te acordares e te despertares, tu que dormes, e assim a luz de Cristo, brilhará na noite da tua indigência” (cf. Ef. 5,14)!

7. Não desconfiarás nunca do interesse de Deus por ti. Deus quer escutar-te e não deseja senão escutar-te. Não tentes forçá-lo a ouvir-te, quando Ele o faz sem cessar. Não queiras tê-lo à mão. Ele leva-te e eleva-te sempre mais além de Ti. A Oração é como um raio laser, que concentra a mente e dilata a alma! Se Deus te demora a responder, é para que, entretanto, a tua alma se dilate, para receberes tudo o que ele tem para te dar, em tempo oportuno.

8. Não digas nunca que Deus não te ouve, que não atende o teu pedido. “O que se passa é que Ele te lança o desafio, de viveres agora a vida, de modo diferente”. (J. Chittister). No seu silêncio, Deus dir-te-á: «continua o caminho, as dificuldades são as mesmas. Mas agora irás enfrentá-las, com a minha força».

9. Não peças nada a Deus, que tu próprio possas, responsavelmente, alcançar. Não peças nada a Deus, que tu próprio devas dar. Não lhe peças senão o essencial pão de cada dia, o perdão dos pecados e auxílio na luta. Ou melhor, de Deus, espera apenas Deus! Deseja a Deus, sobre todas as coisas, mais do que todas as coisas, que lhe pedes! Olha que “se vertem mais lágrimas, pelas preces atendidas, do que pelas preces não correspondidas” (Santa Teresa de Ávila).

10. Não julgues saber com clareza o que pedir, na oração! Pede, em primeiro lugar, o Espírito Santo, o dom de Deus, essa pessoal e divina prenda, que ultrapassa todas as coisas boas, que possas pedir ou imaginar. Ele vem em auxílio da tua fraqueza (cf. Rom.8,26). Reza em ti e intercederá por ti, para pedires o que mais convém: a glória do nome de Deus, a vinda do seu reino, a começar dentro de ti e a irradiar a partir de ti, à tua volta!

E eu dir-te-ia, para terminar, pensando ainda na parábola dos três amigos: vale mais ter a Deus como companheiro de viagem, do que um desconto no bilhete! Quem a Deus tem, nada lhe falta! Nestes dias, faz da tua oração «a chave da manhã e o ferrolho da noite» (Gandi)! Mantém-te desperto, que «a oração é realmente uma história de amigos inoportunos» (cf. A. Maillot)!

LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA DA SEGUNDA-FEIRA DA XVII SEMANA DO TEMPO COMUM.

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