sábado, 23 de março de 2013

Domingo de Ramos

As orações do Mês de São José estão na pasta de Orações e Informações.


No Domingo de Ramos a Igreja convida os cristãos a meditar a Paixão do Senhor. Este ano, somos guiados pelo evangelista São Lucas que na sua narração demonstra nutrir uma grande veneração e admiração pelo seu Senhor. Tal veneração manifesta-se no fato de que o evangelista evita descrever os detalhes cruéis ou humilhantes da Paixão: ele não usa o termo "flagelar", não fala da "coroação de espinhos". Ao mesmo tempo Lucas revela uma grande admiração por Jesus, que é o modelo do justo sofredor, d'Aquele que com tanta docilidade à vontade de Deus aceita todos os sofrimentos e ajuda outras pessoas a converterem-se e a encontrar a união com Deus. Uma divisão do texto por partes pode facilitar a nossa reflexão: Lc 22, 7-38: Última Ceia; Lc 22, 39-46: a oração de Jesus no jardim das oliveiras; Lc 22, 47-71: prisão e processo hebraico; Lc 23, 1-25: o processo civil diante de Pilatos e Herodes; Lc 23, 26-49: condenação, crucificação a morte; Lc 23, 50-56: os acontecimentos sucessivos à morte. Procure viver intensamente esta Semana Santa.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 22, 14-23, 56) (trata-se de um texto muito longo que aqui não iremos publicar)

Chave de leitura

Contexto litúrgico
   A antiga tradição de proclamar o Evangelho da Paixão e Morte de Jesus no Domingo anterior à Páscoa remonta à época em que as celebrações da Semana Santa estavam reduzidas ao mínimo. A finalidade de tal leitura era a de levar os ouvintes à contemplação do mistério da Morte que prepara a Ressurreição do Senhor, condição pela qual o crente entrou na “vida nova” em Cristo. O hábito de fazer esta longa leitura entre vários leitores serve, não somente para tornar menos monótona a proclamação ou para facilitar uma escuta atenta, mas também para fazer com que a participação dos ouvintes seja mais emotiva, como se se quisesse transmitir a sensação de que também eles estão presentes e são atores do que se está a narrar.
   As duas leituras que antecedem o Evangelho deste Domingo, contribuem para oferecer uma perspectiva interpretativa do texto: o Servo de Yahvé é Jesus, o Cristo, Pessoa divina que através de uma morte ignominiosa que padece, chega à glória de Deus Pai e comunica a sua própria vida aos homens que o escutam e o acolhem.

Atualização:
   Celebrar a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.
   Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias. Significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.

Meditação:
Jesus sentou-Se à mesa com os seus Apóstolos e disse-lhes: «Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de padecer; (...) tomou o pão e, dando graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: «Isto é o meu corpo entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». No fim da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue, derramado por vós».
   Depois da oração de ação de graças (em grego: eucaristia), Jesus realiza um conjunto de gestos simbólicos substituindo os elementos da antiga páscoa (judaica) pelo seu próprio "corpo" e o seu "sangue". A narração da instituição da Eucaristia tem um claro caráter sacrifical: Jesus não oferece coisas, mas oferece-se a si mesmo.
   Toda a narração da Paixão é iluminada por este primeiro episódio. O desejo intenso de Jesus indica a particularidade desta (última) ceia. Ele está plenamente consciente de que se aproxima o momento culminante da sua existência. Com os seus gestos e as suas palavras Jesus transformou aquelas circunstâncias trágicas e injustas no dom de si e na fundação da nova aliança. Dom e Aliança que se renova cada vez em que se celebra a Eucaristia. Talvez seja um bom momento para refletir: com que "desejo" vivo a Eucaristia? Que sentido tem Jesus eucaristia na minha vida? Que significado teve esta entrega de Jesus “fazei isto em memória de mim”?

Então saiu e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras e os discípulos acompanharam-n’O. Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para não entrardes em tentação». Depois se afastou deles cerca de um tiro de pedra e, pondo-Se de joelhos, começou a orar, dizendo: «Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice. “Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua». Então lhe apareceu um Anjo, vindo do Céu, para confortá-lo. Entrando em angústia, orava mais instantemente e o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra.
   Neste episódio emerge com força a natureza humana de Jesus: experimenta medo e o seu corpo, atravessado pela angústia, chega mesmo a suar sangue. Na narração da agonia de Jesus, Lucas insiste sobre a necessidade de orar. O próprio Jesus mostra aos discípulos como se reza "para não entrar em tentação".
   "Não se faça a minha vontade, mas a tua". Jesus transforma a sua vontade humana e identifica-a com a de Deus. É este o grande acontecimento do Monte das Oliveiras, o percurso que deveria realizar-se fundamentalmente em cada uma das nossas orações: transformar, deixar que a graça transforme a nossa vontade egoísta e a abra para se conformar com a vontade divina. Nos momentos difíceis, sabemos pedir ajuda a Deus, com humildade e fé, para encontrar no seu amor de Pai a força para enfrentar os nossos maiores medos?                                                                                        

Ainda Ele estava a falar, quando apareceu uma multidão de gente. (...) Apoderaram-se então de Jesus, levaram-n’O e introduziram-n’O em casa do sumo sacerdote. (...) Ao romper do dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas. (...) Disseram todos: «Tu és então o Filho de Deus?» Jesus respondeu-lhes: «Vós mesmos dizeis que Eu sou». Então exclamaram: «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca».
   Com as primeiras horas do dia inicia o processo judaico, que na realidade se trata mais de uma espécie de "inquisição" que se concluiu remetendo o caso à corte suprema romana, a única que podei fazer executar as condenações à morte. O Sinédrio centra-se na procura de provas em base às quais poder condenar Jesus. A questão de fundo era se Jesus era o Messias (em grego Cristo)…
   Jesus respondendo afirmativamente à pergunta: "Tu és então o Filho de Deus?", mostra-se plenamente consciente da própria dignidade divina. Desta forma Jesus "assinou" a própria condenação à morte: é um blasfemo que profana o Nome e a realidade de Javé, porque se declara explicitamente "Filho". O seu sofrimento, a sua morte e ressurreição são o testemunho mais eloquente acerca do Pai e do seu desígnio de salvação sobre a humanidade.

Levantaram-se todos e levaram Jesus a Pilatos. Começaram a acusá-lo, dizendo: «Encontramos este homem a sublevar o nosso povo, a impedir que se pagasse o tributo a César e dizendo ser o Messias-Rei». Pilatos perguntou-Lhe: «Tu és o Rei dos judeus?» Jesus respondeu-lhe: «Tu o dizes».
Pilatos disse aos príncipes dos sacerdotes e à multidão: «Não encontro nada de culpável neste homem».
   Entramos agora no processo romano. Os chefes dos judeus, que já determinaram que Jesus deve morrer, entregam Jesus ao governador Pilatos e reformulam a sua acusação sobre o pretexto político: Jesus é apresentado como um amotinador do povo e usurpador do título real de Israel.
   Pilatos compreendeu desde o início que o tipo de acusação apresentada foi preparada com arte para não lhe deixar outra alternativa: reconhece a inocência de Jesus, mas por motivos de conveniência não quer colocar-se em oposição aos acusadores. Tendo entrado no tribunal como "condenado" Jesus sai agora como "inocente" e encaminha-se para a morte como o "justo (injustamente) perseguido".

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem». (...) E Jesus exclamou com voz forte: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». Dito isto, expirou.
   Estas, segundo S. Lucas, são as últimas palavras de Jesus: palavras de perdão, de amor, de aliança; palavras com as quais resplandece mais uma vez o seu espírito filial. "Pai": as últimas palavras de Jesus recordam a sua primeira frase, pronunciada no templo de Jerusalém aos doze anos: "Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?". (Lc 2, 49).
   Jesus é todo aqui, na sua relação com o Pai. Entregando-se ao Pai, anuncia a sua misericórdia e reconduz a casa cada "filho pródigo", que encontra no "bom ladrão" a realização plena. O seu é um arrependimento que não nasce de motivos humanos, de simpatia por Jesus; o "bom ladrão" converte-se porque, com os olhos da fé, descobre quem é verdadeiramente aquele Jesus que está crucificado ao seu lado.

Havia um homem chamado José, da cidade de Arimateia, que era pessoa reta e justa e esperava o reino de Deus. Era membro do Sinédrio, mas não tinha concordado com a decisão e o proceder dos outros. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. E depois de tê-lo descido da cruz, envolveu-o num lençol e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado. Era o dia da Preparação e começavam a aparecer as luzes do sábado.
   José de Arimatéia aparece nos quatro Evangelhos, que o mencionam no contexto da Paixão e da morte de Cristo. Homem rico e membro ilustre do Sinédrio, não tinha concordado com o Sinédrio na condenação de Jesus. Agora, nos momentos cruéis da crucificação não teme expor-se e pede a Pilatos o corpo de Jesus.
   A ação de José de Arimatéia é tanto mais significativa se pensarmos que estava para começar o sábado. Ele devia escolher entre ficar puro e celebrar a páscoa judaica, ou sepultar Jesus e ao contaminar-se no contacto com um cadáver, prescindir de participar no banquete pascal. Ele como o "bom samaritano" não hesitou: escolheu o Crucificado.

Para ajudar na meditação e na oração
1- Depois desta longa leitura, que sensação prevalece em mim: descanso pelo fim da fadiga, admiração por Jesus, dor pela sua dor, alegria pela salvação obtida, ou outra coisa?
2- Volto a ler o texto, colocando a atenção no modo como agiram os diferentes “poderosos”: sacerdotes, escribas, fariseus, Pilatos, Herodes. O que penso deles? No lugar deles como pensaria, atuaria, falaria e decidiria?
3- Leio novamente o relato da Paixão. Desta vez presto atenção ao modo como atuaram os “pequenos”: no lugar deles como teria pensado, atuado e falado?
4- Finalmente, faço a revisão ao meu modo de atuar na vida diária. A que personagens, principais ou secundárias, me identifico? A quem desejaria assemelhar-me?

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