sábado, 20 de outubro de 2012

Lectio Divina para a XXIX Semana do Tempo Comum



Peregrinação 2012 ao Santuário de Nossa Senhora Divina Pastora
TEMA: “Feliz aquela que acreditou” (Lc 1,45)
230 anos da chegada da devoção em terras sergipanas e no Brasil

Imagem de N.Sra Divina Pastora do Santuário

 “Quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo.”
 Jesus tinha acabado de anunciar a sua morte (10,32-34), mas como em tantas outras vezes, os discípulos revelam ainda incompreensão. Enquanto Jesus pensa em dar a vida ‘pela redenção de todos’, os seus discípulos têm a pretensão de obter privilégios com a sua companhia. Neste contexto, em mais uma catequese aos seus discípulos, a caminho de Jerusalém, propõe-lhes uma regra fundamental da nossa vida cristã: o amor e o serviço ao próximo. Esta deve ser a preocupação e ocupação fundamental dos seus seguidores: quem quiser ser o primeiro no reino de Jesus, no céu, deve entregar-se, na terra, ao serviço desinteressado, sincero, do próximo. A perfeição do amor consiste em ‘ser do outro’, como Deus. O próprio Senhor está no meio de nós como aquele que serve. Esta é a mais bela definição de Deus. Quem ama dá a vida: faz viver o outro, sendo como Deus, dador de vida.

Sérgio Paulo Pinto

EVANGELHO (Mc 10, 34-45) - Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Mestre, nós queremos que nos faças o que Te vamos pedir». Jesus respondeu-lhes: «Que quereis que vos faça?». Eles responderam: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda». Disse-lhes Jesus: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber e receber o baptismo com que Eu vou ser baptizado?». Eles responderam-Lhe: «Podemos». Então Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu vou beber e sereis baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado. Mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem está reservado». Os outros dez, ouvindo isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós: Quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos; porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos».

 SEGUNDA-FEIRA

PALAVRA - Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e Lhe perguntou: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?»

MEDITAÇÃO
Jesus dirige-se com os seus discípulos para Jerusalém, onde ‘dará a vida pela redenção de todos’ (10,45). Neste caminho, eles vão recebendo de Jesus uma catequese, as suas últimas palavras, as instruções mais íntimas, que devem reger a sua vida como seguidores de Cristo. É estranho, portanto, o tom da petição de Tiago e João, próprio de quem ainda não compreendeu o que significa seguir Jesus: “Nós queremos que nos faças o que te vamos pedir”. Jesus tinha acabado de anunciar que iria ser entregue (10,33-34); por isso estes dois irmãos quiseram assegurar o seu futuro enquanto era tempo. Tanto tempo com Jesus e tanta incompreensão. Pensaram que, como talvez nós, pelo facto de O seguir lhes dava o direito de exigir os seus favores. É o tom normal das nossas orações: queremos, exigimos, que Deus faça aquilo que Lhe pedimos. Ainda bem que Ele cumpre as suas promessas de amor, não os nossos desejos de egoísmo.

ORAÇÃO
A expressão da minha vida cristã é um caminho, todos os dias, para a Jerusalém Celeste, contigo, Senhor. Tinhas acabado de me dizer que ias ser entregue e eu enchi-me de temor; por isso Te exigi: ‘quero que faças o que Te vou pedir’. Quis assegurar o meu futuro, esquecendo-me dos meus companheiros de viagem, dos Teus seguidores. Perdoa o meu desejo egoísta, Senhor, que me afasta de Ti e dos irmãos. Perdoa a minha incompreensão, que ofusca a minha entrega sem reservas. Perdoa-me, Senhor, porque hoje só pensei em mim… exactamente o contrário que ouvi e vi de Ti, a caminho de Jerusalém.

AÇÃO
Quantas vezes a nossa oração é feita de modo egoísta. No Pai Nosso, Jesus ensinou-nos a que se ‘faça a vontade do Pai’. Ao longo do dia, em viagem, em momentos de pausa…, vamos repetindo a oração do Pai Nosso, pedindo a Deus que se faça em nós a Sua vontade, que o seu Reino esteja em nós.

TERÇA-FEIRA

PALAVRA -  Jesus respondeu-lhes: «Que quereis que vos faça?». Eles responderam: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda».

MEDITAÇÃO
Às vezes nem sequer ousamos revelar as nossas intenções pouco dignas que se escondem atrás das nossas boas acções. É bom desejar estar perto do Senhor no seu Reino. O problema é que Tiago e João, como muitos de nós, ignoram que o “seu Reino” se realizará na cruz. Nela será entronizado como rei, mas com outros dois seus irmãos, um à direita e outro à esquerda (15,27). O percurso que fazem com Jesus, para Jerusalém, não é acompanhado, ainda, pela maturidade espiritual como apóstolos. Pelo facto de estarem próximos de Jesus só pensam nos benefícios, relegando os outros para segundo plano, Que discípulos imaturos ainda somos! Ainda não percebemos que não se pode estar mais próximo do Senhor se continuamos, nas pequenas e grandes coisas, a relegar os irmãos para segundo plano. Estará mais perto de Jesus aquele que melhor servir os outros, dando a vida, sem outras exigências.

ORAÇÃO
Senhor, ‘que quero que me faças?’. Quero, Senhor, que me concedas o perdão para as minhas ambições desmedidas, que me tornam cego para os irmãos, que silenciam a Tua vontade, que me lançam numa fome insaciável pelas vãs glórias humanas, que se escondem por detrás das minhas melhores acções e me levam para longe, bem longe de Ti, Senhor, e dos que me deste. Quero, Senhor, que realizes em mim e por mim a Tua vontade. Quero, Senhor, um coração disposto a viver e a dar a vida por amor, como o Teu, sem reservas, sem exigências, sem condições. Quero, Senhor, que me transformes em Teu discípulo, a tempo inteiro, conduzindo tantos irmãos a sentarem-se contigo na glória do Teu Reino.

AÇÃO
Perdemos tanto tempo a querer provar que somos melhores que os outros e, por isso, reivindicamos um estatuto superior. No dia de hoje, vamos ‘promover’ os que nos rodeiam: dar ênfase aos seus aspectos positivos, falar bem deles, não abordá-los superiormente, elogiá-los em público, etc.

QUARTA-FEIRA

PALAVRA - Disse-lhes Jesus: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber e receber o baptismo com que Eu vou ser baptizado?». Eles responderam-Lhe: «Podemos».

MEDITAÇÃO
Quantas vezes, como Tiago e João, não sabemos o que pedimos. Se quisermos estar com Jesus no seu reino, no céu, teremos que ocupar os nossos dias, na terra, a partilhar vida até à morte com os outros, todos os dias. O que será decisivo para entrar no seu reino será viver e morrer como Ele, dando a vida, servindo, pelos outros. Quantas vezes não sabemos o que pedimos. Pensamos que pelo facto de irmos à missa aos domingos, rezarmos de vez em quando, sobretudo quando estamos aflitos, tentarmos ser bonzinhos, nos coloca em melhores condições para alcançar um estatuto privilegiado diante de Deus e um lugar no reino de Jesus. Só a entrega da vida aos outros, como Jesus, por amor, sem exigências, nos dará a oportunidade de nos sentarmos com Ele no seu reino, pois Ele é um rei que ama e serve os irmãos e dá a vida por eles. Então, sim, ‘poderemos’.

ORAÇÃO
Perdão, Senhor, porque não sabemos o que Te pedimos. Certamente torna-se decepcionante para Ti, que entregaste efectivamente a Tua vida, que Te empenhaste arduamente na formação de crentes sólidos, maduros, escutar as nossas ‘orações’ tão vazias. Toda a vida contigo, Senhor, e ainda não compreendi o significado da minha vida cristã. Como aceitar os ‘cálices’, as dificuldades que a minha vida cristã me coloca, se eu até vou à missa, se estou contigo? Como receber o ‘teu baptismo’, aceitar a vontade do Pai, aceitar as contrariedades, se eu me confesso cristão, se eu procuro ser bom? Ajuda-me, Senhor, a saber pedir e rezar, a aceitar o Teu cálice, a aceitar o Teu baptismo, a aceitar a vontade do Pai em mim.

AÇÃO
Ser discípulo não significa não ter problemas ou esperar só benefícios. Deveríamos perguntarmo-nos o que andamos a pedir a Deus: pedimos ânsia de triunfos e desejos de medrar na vida? Temos medo que se realize a Sua vontade em nós? Não pedimos pelos outros, pois não queremos que tenham tanto sucesso como nós? Coloquemos nas mãos de Deus a nossa vida.

QUINTA-FEIRA

PALAVRA -  Então Jesus disse-lhes:  «Bebereis o cálice que Eu vou beber e sereis baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado. Mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem está reservado».

MEDITAÇÃO
Ainda que desconheçam que cálice os espera, irão bebê-lo, recebendo o seu próprio baptismo (v. 39). É consolador a promessa de Jesus: aceita o seu desejo de estar com Ele e como Ele, ainda que ignorem o que isso significa. No entanto, Deus Pai não assegura a vida eterna a quem não esteja disposto a dar a sua própria vida. Neste sentido, as nossas orações deveriam ser mais cuidadosas. Fazemos e repetimos continuamente a Deus um elenco infindável de favores… sem sabermos que deveremos dar a nossa vida. Se Deus não ouve quanto pedimos insistentemente, se se atrasa em responder-nos, não será porque queremos exigir d’Ele favores egoístas e já não nos importa a sua vontade?

ORAÇÃO
Concede-me, Senhor, a fortaleza na fé para aceitar o ‘cálice’ que o Teu seguimento pressupõe, sem desesperar. Ajuda-me, Senhor, a aceitar a minha cruz e a transformá-la em doação de amor incondicional para aqueles que me dás, todos os dias, como aprendi de Ti. Concede-me, Senhor, fortaleza e convicção no meu testemunho cristão, para aceitar e viver o meu baptismo, como Teu filho, empenhado na entrega aos irmãos. Ajuda-me, Senhor, a aceitar a Tua vontade, o projecto do Pai em mim, para que possa levar tantos outros a ter parte contigo no Teu reino de glória.

AÇÃO
‘Beber o cálice’ é doloroso, mas torna-nos semelhantes a Deus, que se entrega por amor. E se hoje vencêssemos o nosso orgulho, o nosso egoísmo, e tentássemos ajustar algum aspecto importante da nossa vida à vontade do Pai?

SEXTA-FEIRA

PALAVRA - Os outros dez, ouvindo isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João.

MEDITAÇÃO
Se os outros 10 apóstolos já tivessem chegado à maturidade como cristãos, a sua indignação teria sido nobre. De facto, como fazer um pedido destes a Jesus se Ele está prestes a dar a vida e os apóstolos dispostos como Ele e com Ele, pelos outros? Mas não. A sua indignação é egoísta e interessada. Também eles tinham guardadas no coração as mesmas pretensões e ambições: conseguir de Jesus melhores regalias, melhores posições, mesmo que isso significasse relegar os demais para segundo plano. Que estratégia tão pouco divina para quem conviveu tanto tempo com o Filho de Deus. O problema é que nós continuamos a cair, todos os dias, na mesma ambição: estar acima dos outros, ter melhores benefícios, mesmo que isso implique perder o melhor posto no reino de Jesus.

ORAÇÃO
É tão fácil ‘brigar’ com os outros, Senhor, apontar-lhes o dedo, para esconder as mesmas pretensões pouco nobres que guardamos no coração. É tão fácil criticar, tão fácil julgar, tão fácil abanar a cabeça, tão fácil empurrar quando os outros tropeçam. Senhor, dai-me braços fortes para amparar as quedas dos meus irmãos; dai-me um coração sincero para ajudar os outros de modo desinteressado. “Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz… Fazei que eu procure mais consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe. É perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna” (S. Francisco de Assis), no Teu reino de glória.

AÇÃO
“Apanham-se mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre” (S. Francisco de Sales). Porquê, então, indignarmo-nos uns com os outros? Que as nossas relações sejam marcadas pela doçura, pelo respeito, pelo ‘amor ao próximo como a nós mesmos’.

SÁBADO

PALAVRA -  Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós: Quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos; porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos».

MEDITAÇÃO
Um dia no mar da Galileia Jesus chamou os apóstolos para os tornar pescadores de homens (1,19-20); hoje voltou a chamá-los… para servir os outros. O poder dos grandes não é serviço e libertação, mas domínio e escravidão. O seu modelo de glória é bem contrário ao de Deus. ‘Não deve ser assim’ entre os seguidores de Jesus. É o desejo firme de Jesus para aqueles que com Ele desejam subir a Jerusalém. O verdadeiro poder que optimiza as potencialidades do homem e o transforma semelhante a Deus, é o amor, que serve a todos e não oprime ninguém. Servir-se dos outros é próprio do homem ‘falhado’. O primeiro será aquele que se faz último por amor. A perfeição do amor consiste em ‘ser do outro’, como Deus. A glória não é servir-se do outro, mas servi-lo; não é possuí-lo, mas pertencer-lhe por amor. A liberdade é ser no amor ‘escravos’ uns dos outros (Gal 5,13). O próprio Senhor está no meio de nós como aquele que serve. Esta é a mais bela definição de Deus. Quem ama dá a vida: faz viver o outro, sendo como Deus, dador de vida.

ORAÇÃO
Olhando para Ti, Senhor, toda a Tua vida, as Tuas acções e palavras estão marcadas pelo serviço aos outros e pelo amor. A cruz é o Teu trono, o serviço o estandarte do Teu reino, o amor ao próximo a Tua melhor ‘arma’. Com um rei assim, porque escolhemos outros, Senhor, que nos oprimem e se servem de nós? Pelo contrário, Tu estás no meio de nós como aquele que serve… que esperar melhor de um Deus? Faz da minha vida cristã, Senhor, uma doação incondicional aos meus irmãos; ajuda-nos a basear a nossa prática cristã na lei do amor e do serviço, como aprendemos de Ti. Então, Senhor, chegaremos à maturidade cristã, pois amando daremos a vida, faremos outros viver, sendo como Tu, dadores de vida.

AÇÃO
É belo ser cristão. É belo ser de Cristo. Só o seremos verdadeiramente se adoptarmos, nas nossas relações, uma atitude de serviço, incondicional, sincero. “Quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos”. Já sabemos o segredo; por que esperamos?

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