quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR E DA PURIFICAÇÃO DE NOSSA SENHORA 

S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja.
1º sermão para a Purificação

«De repente entrará no seu templo o Senhor que procurais» (Ml 3,1)
           Hoje a Virgem Mãe introduz o Senhor do Templo no Templo do Senhor. José também conduz ao Senhor esse filho que não é o seu, mas o Filho bem amado no qual Deus pôs toda a Sua complacência (Mt 3,17). Simeão, o justo, reconhece aquele por quem esperava; Ana, a viúva, louva-o. Uma primeira procissão foi celebrada nesse dia por estas quatro personagens, uma procissão que, a seguir, ia ser celebrada em júbilo, pelo universo inteiro... Não vos espanteis por esta procissão ser tão pequena, pois que bem pequeno é também aquele que o templo recebe. Mas neste local, não há pecadores: todos são justos, todos são santos, todos são perfeitos.
Só a esses salvarás, Senhor? O teu corpo vai crescer, a tua ternura, também ela, crescerá...
Vejo agora uma segunda procissão na qual multidões precedem o Senhor, na qual multidões o seguem; já não é a Virgem que o leva, mas um jumentinho. Ele não menospreza, portanto, ninguém..., se ao menos não lhes faltarem essas vestes dos apóstolos (Mt 21,7): a sua doutrina, os seus costumes, e a caridade que cobre uma quantidade de pecados (1Pd 4,8). Mas irei mais longe e direi que, também a nós, nos reservou um lugar nessa procissão... David, rei e profeta, rejubilou ao ver esse dia. «Ele viu-o e encheu-se de alegria» (Jo 8, 56); Senão teria ele cantado «Recebemos, ó Deus, a tua misericórdia no teu templo» (Sl 47, 8) David recebeu essa misericórdia do Senhor, Simeão recebeu-a, e nós também a recebemos, como todos aqueles que são predestinados à vida, pois que« Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre» (He 13, 8)...
Abracemos, portanto, essa misericórdia que recebemos no meio do templo, e como a bem-aventuradaAna, não nos afastemos dela. Pois «o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós» diz o apóstolo Paulo (1Co 3,17). Está perto de vós essa misericórdia; «está perto de vós a palavra de Deus, na vossa boca e no vosso coração» (Rom 10, 8). De fato, Cristo não habita em vossos corações pela fé? (Ef 3, 17) Eis o Seu templo, eis o Seu trono... Sim, é no coração que recebemos a misericórdia, é no coração que habita Cristo, é no coração que Ele murmura palavras de paz ao seu povo, aos seus santos, a todos aqueles que entram no seu coração.

RENOVAÇÃO DOS VOTOS

Eu .... renovo meus votos de obediência, castidade e pobreza a Deus, à Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, e ao reverendíssimo Padre Fernando Milan, Prior Geral da Ordem dos Irmãos da mesma Bem-Aventurada Virgem Maria e seus sucessores, segundo a Regra e as Constituições da Ordem Terceira do Carmo.

 EVANGELHO – Lucas 2,22-40
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogênito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor.
Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele.
O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito.
Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo». O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia.
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; - e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações».
Havia também uma profetiza, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzella e viúva até aos oitenta e quatro. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações. Estando presente na mesma ocasião, começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.
Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o Menino crescia e tornava-Se robusto, enchendo-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele.
 
Lectio Divina:
1.  Leitura e compreensão do texto: Leva-nos a perguntar sobre o conhecimento autêntico do seu conteúdo: Que diz o texto bíblico em si? Que diz a Palavra?
2. Meditação: Sentido do texto hoje para mim: Que me diz, que nos diz hoje o Senhor através deste texto bíblico? Deixo que o texto ilumine a minha vida, a vida da comunidade ou da minha família, a vida da Igreja neste momento.
3. Oração: Orar o texto supõe outra pergunta: Que digo eu ao Senhor como resposta à sua Palavra? O coração abre-se ao louvor de Deus, à gratidão, implora e pede a sua ajuda, abre-se à conversão e ao perdão.
4. Contemplação, compromisso: O coração centra-se em Deus. Com o seu mesmo olhar contemplo e julgo a minha própria vida e a realidade e pergunto: Quem és, Senhor? Que queres que eu faça?
   
MENSAGEM

Comentários aos textos bíblicos preparados pelo P. Joaquim Garrido para a Festa da Apresentação do Senhor
A cena da apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém apresenta uma catequese bem amadurecida e bem refletida, que procura dizer quem é Jesus e qual a sua missão no mundo.
Antes de mais, o autor sublinha repetidamente a fidelidade da família de Jesus à Lei do Senhor (v. 22. 23. 24), como se quisesse deixar claro que Jesus, desde o início da sua caminhada entre os homens, viveu na escrupulosa fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. Desde o início da sua existência terrena, Ele entregou a sua vida nas mãos do Pai, numa adesão absoluta ao plano do Pai. A missão de Jesus no mundo passa por aí – pelo cumprimento rigoroso da vontade e do projeto do Pai.
Portanto, Jesus foi apresentado no Templo. Aí, duas personagens O acolhem: Simeão e Ana. Eles representam esse Israel fiel que espera ansiosamente a sua libertação e a restauração do reinado de Deus sobre o seu Povo.
De Simeão diz-se que era um homem “justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel” (v. 25). As palavras e os gestos de Simeão são particularmente sugestivos… Simeão toma Jesus nos braços e apresenta-O ao mundo, definindo-O como “a salvação” que Deus quer oferecer “a todos os povos”, “luz para se revelar às nações e glória de Israel” (v 28-32). Jesus é, assim, reconhecido pelo Israel fiel como esse Messias libertador e salvador, a quem Deus enviou – não só ao seu povo, mas a todos os povos da terra. Aqui desponta um tema muito querido a Lucas: o da universalidade da salvação de Deus… Deus não tem já um Povo eleito, mas a sua salvação é para todos os povos, independentemente da sua raça, da sua cultura, das suas fronteiras, dos seus esquemas religiosos. As palavras que Simeão dirige a Maria (“este menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; e uma espada trespassará a tua alma” – v 34-35) aludem, provavelmente, à divisão que a proposta de Jesus provocará em Israel e ao resultado dessa divisão – o drama da cruz.
Ana é também uma figura do Israel pobre e sofredor (“viúva”), que se manteve fiel a Jahwéh (não se voltou a casar, após a morte do marido – v 37), que espera a salvação de Deus. Depois de reconhecer em Jesus a salvação anunciada por Deus, ela “falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (v 38). A palavra utilizada por Lucas para falar de libertação é a palavra grega “lustrosis” (“resgate”), utilizada no Êxodo para falar da libertação da escravidão do Egito (cf. Ex 13,13-15; 34,20; Nm 18,15-16). Jesus é, assim, apresentado por Lucas como o Messias libertador, que vai conduzir o seu Povo do domínio da escravidão para o domínio da liberdade. A apresentação no Templo de um primogênito celebrava precisamente a libertação do Egipto e a passagem da escravidão para a liberdade (cf. Ex 13, 11-16).
O texto termina com uma referência ao resto da infância de Jesus e ao crescimento do menino em “sabedoria” e “graça”. Trata-se de atributos que lhe vêm do Pai e que atestam, portanto, a sua divindade (v 40).
Em conclusão: Jesus é o Deus que vem ao encontro dos homens com uma missão que lhe foi confiada pelo Pai. O objetivo de Jesus é cumprir integralmente o projeto do Pai… E esse projeto passa por levar os homens da escravidão para a liberdade e em apresentar a proposta de salvação de Deus a todos os povos da terra, mesmo àqueles que não pertencem tradicionalmente à comunidade do Povo de Deus.
ATUALIZAÇÃO
A Festa da “Apresentação do Senhor” coincide com a celebração do Dia do Consagrado. Ao olhar para o mistério da consagração aqui expresso, os consagrados são convidados a revisitar os fundamentos da sua consagração, vivida no seguimento de Jesus, por amor do Reino.
Poderíamos dizer que se celebra hoje em toda a Igreja um singular “ofertório”, no qual os homens e as mulheres consagradas renovam espiritualmente o dom de si. Agindo desta forma, ajudam as comunidades eclesiais a crescer na dimensão oblativa que as constitui intimamente, as edifica e as estimula a testemunhar Jesus pelos caminhos do mundo.
A “apresentação do Senhor” no Templo de Jerusalém revela que, desde o início da sua caminhada entre os homens, Jesus escolheu um caminho de total fidelidade aos mandamentos e aos projetos do Pai. Ao oferecer-Se a Deus em oblação, ao ser “consagrado” ao Pai, Jesus manifesta a sua disponibilidade para cumprir fiel e incondicionalmente o plano salvador do Pai até às últimas consequências, até ao dom total da própria vida em favor dos homens.
O “ecce venio” de Jesus é o modelo da doação e da entrega de todos os consagrados, chamados a seguir Jesus mais de perto, numa oblação total a Deus e ao Reino. A vocação de consagrados concretiza-se na entrega de toda a existência nas mãos do Pai, na fidelidade absoluta à sua vontade e aos seus planos. Que valor e que importância tem na sua vida o projeto de Deus? Procuram identificar a vontade de Deus e com ela conformar a sua vida, em total doação e entrega, ou deixam que sejam os seus projetos e esquemas pessoais a ditar as suas opções e as coordenadas da sua vida?
Jesus é-nos apresentado, neste texto, como “a salvação colocada ao alcance de todos os povos”, a “luz para se revelar às nações e a glória de Israel”, o Messias com uma proposta de libertação para todos os homens.
Que eco é que esta “apresentação” de Jesus tem no coração dos consagrados? Jesus é, de fato, a luz que ilumina as suas vidas e que os conduz pelos caminhos do mundo? Ele é o caminho certo e inquestionável para a salvação, para a vida verdadeira e plena? É nele que colocam a sua ânsia de libertação e de vida nova? Este Jesus aqui apresentado tem real impacto na sua vida, nas suas opções, nos passos que dão no seu caminho de consagração, ou é apenas uma figura decorativa de um certo Cristianismo de fachada?
Simeão e Ana são, na cena evangélica que nos é proposta, figuras do Israel fiel, que foi preparado desde sempre para reconhecer e para acolher o Messias de Deus. Na verdade, quando Jesus aparece, eles estão suficientemente despertos para reconhecer naquele bebê o Messias libertador que todos esperavam e apresentam-no formalmente ao mundo.
Hoje, os consagrados – discípulos que acolheram Jesus como a sua luz e que aceitaram segui-lo – têm a responsabilidade de apresentá-lo ao mundo e de torná-lo uma proposta questionadora, libertadora, iluminadora, salvadora, para os homens nossos irmãos. É isso que acontece? Através do seu anúncio – feito com palavras, com gestos, com atitudes, com a fidelidade aos votos religiosos – Jesus é apresentado ao mundo e questiona os homens seus irmãos? Se tantos homens ignoram a “luz” libertadora que Jesus veio acender ou não se sentem interpelados pelo projecto de Jesus, a culpa não será, um pouco, de um certo imobilismo e instalação, de algum “cinzentismo” na vivência da fé, da forma pouco entusiasta é testemunhada na Vida Consagrada?
A Vida Consagrada é chamada a refletir de maneira particular a luz de Cristo. Olhando as pessoas consagradas, que procuram viver ao estilo das Bem-aventuranças, os homens do nosso tempo têm de ver o “fermento” de esperança para a humanidade, o “sal” que dá sabor ao mundo, uma “luz” que se acende na escuridão do mundo e que indica caminhos de verdade e de liberdade, a “porta” entreaberta para o Reino de Deus e para os “novos céus e a nova terra” que Deus quer apresentar à humanidade.
É preciso que os consagrados sejam luz e conforto para cada pessoa, velas acesas que ardem com o próprio amor de Cristo, luz que ilumina as sombras do mundo e que profeticamente anuncia a aurora de uma nova realidade. É isso que acontece? O seu testemunho interpela positivamente os homens e mulheres que todos os dias com eles se cruzam nos caminhos do mundo e aponta-lhes a realidade do Reino?
Os desafios de Deus, os seus planos, revelam-se, de forma privilegiada, na Palavra de Deus… Que importância é que a Palavra de Deus assume na vida dos consagrados e das nossas comunidades religiosas? Procuram viver na escuta da Palavra, numa progressiva sensibilidade à Palavra de Deus, a fim de discernir os desafios de Deus? Encontram tempo, individualmente e a nível comunitário, para se reunirem à volta da Palavra de Deus, para partilhar a Palavra de Deus, para se deixarem questionar pela Palavra de Deus?
Pobreza, castidade e obediência são as características distintivas do homem redimido, interiormente resgatado da escravidão do egoísmo. Livres para amar, livres para servir: assim são os homens e as mulheres que renunciam a si mesmos pelo Reino dos Céus. Seguindo Cristo, crucificado e ressuscitado, os consagrados vivem esta liberdade como solidariedade, assumindo os pesos espirituais e materiais dos seus irmãos. Os votos são assumidos pelos consagrados como elemento desta entrega total nas mãos de Deus – a exemplo de Cristo – para o serviço do Reino e da humanidade, ou são vistos como uma carga insuportável que os limita e os torna infelizes?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO