LECTIO DIVINA – I SEMANA DO TEMPO COMUM

Pe David Teixeira, sdb

     Jesus é o Messias esperado. Em Marcos, o Batismo de Jesus inaugura a sua vida pública. João anuncia a presença de alguém maior, mais forte, proveniente de Deus, portador do Espírito Santo, capaz de renovar a vida de quantos hão de ver a luz de Deus. João fala da presença entre nós do “Filho muito amado” de Deus, a quem todos devemos escutar. Num tempo como o nosso, feito de mil coisas, mil distâncias, mil destinos, percebemos como é tempo de escutar a Deus que está no meio de nós.

Evangelho segundo S. Marcos (1, 7-11)

     João pregava assim: «Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias. Eu vos batizei em água, mas Ele há de batizar-vos no Espírito Santo.» Por aqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no Jordão. Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado.»

Segunda-feira

Palavra - “Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu…”

Como profeta que era, João Batista pregava à multidão, naquela altura, a iminência do reino de Deus, com a vinda do Messias, o Ungido e Enviado. É sobre este que João diz: “vai chegar outro que é mais forte do que eu”.

Meditação:

O fato de, pelo meu batismo, ser profeta não significa que seja imbatível. Confio neste Jesus Messias que é mais forte ou teimo em fiar-me das minhas forças, capacidades e auto-suficiência? Basta-me realmente a graça e a força de Deus (cf.2 Cor 12,9)? Sou capaz de reconhecer a minha fraqueza, impotência e debilidade?

Oração Salmo 28,7-9

O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração e Ele socorreu-me; por isso, hei de louvá-lo de todo o coração. O Senhor é a força do seu povo, a fortaleza que salva o seu ungido. Salva o teu povo, Senhor, abençoa a tua herança, apascenta-o e guia-o para sempre.

Ação

Estando ainda a respirar ares do novo ano, aproveito para ‘examinar-me’ e, fazendo uma lista, reconhecer e aceitar as minhas fraquezas para, mais livre e confiadamente, me dedicar à construção do Reino de Deus.

Terça-feira

Palavra – “… diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias”.

Continuando a apresentação deste Messias que vai chegar, João acrescenta que ele, pecador, se sente indigno perante este Messias que é o único Santo. João sente-se tão indigno até ao ponto de não merecer desatar-lhe as correias das sandálias.

Meditação:

João Baptista é todo um exemplo de humildade. Sendo profeta, não cai na tentação do orgulho, antes reconhece o seu pecado e a sua indignidade perante Deus. Esta indignidade é fruto daquele dom do Espírito: o temor de Deus. Já alguma vez, humildemente, me senti indigno perante a grandeza e santidade de Deus?

Oração

Por causa desta tua Palavra, Senhor, quase que me sinto indigno de falar contigo. Se agora me atrevo a fazê-lo é, sem dúvida, confiado na tua graça. Concede-me sempre este sentimento de indignidade, amparo-o sempre com a tua graça, e concede-me ter sempre um coração agradecido.

Ação

Procuro ‘lugares’ onde deixar-me surpreender com a grandeza e santidade de Deus e reconhecer a minha pequenez e indignidade: nas maravilhas da criação, na leitura da Palavra, na Eucaristia, diante do Santíssimo, nos gestos de paz, justiça e compaixão, nos meus êxitos, etc.

Quarta-feira

Palavra – “Eu batizei-vos em água, mas Ele há de batizar-vos no Espírito Santo”.

Como forma de preparar a multidão para a proximidade do Reino de Deus, João praticava um batismo de conversão e perdão dos pecados, simbolizado na imersão na água no rio Jordão. Continuando a apresentação do Messias, João diz que o Messias, o Santo, batizará no fogo do Espírito Santo.

Meditação:

Com Jesus, o Messias, o batismo que recebemos não é apenas para o perdão dos pecados, mas aquele que, libertando-nos das forças do mal, permite que o Espírito atue em nós e nos leve a colaborar com Deus no bem e na luta contra o mal. O que tenho feito com o meu batismo? Tento procurado apenas a minha santidade ou também a dos outros?

Oração

Dá-me palavras e gestos construtivos para denunciar o mal. Dá-me o dom de curar feridas com a minha presença empática. Dá-me capacidade para realizar e alertar os outros pelos pequenos milagres do dia-a-dia. Pelo teu Espírito, concede-me, Senhor, colaborar contigo no teu Reino!

Ação

Vou-me aplicar hoje e permitir que o Espírito dê os seus frutos em mim. E que frutos são esses? São Paulo (Gl 5,22-23) recorda-me que são: o amor, a alegria, a paz, a paciência, a generosidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, o domínio próprio.

Quinta-feira

Palavra – “Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no Jordão”.

Deixar-se batizar por João podia ser algo normalíssimo se não estivéssemos a falar de Jesus e de um batismo de conversão e perdão de pecados. Jesus, o imaculado, não precisava deste batismo e, muito menos, de se preparar para a chegada do Reino de Deus, mas fá-lo por conseqüência da assunção da nossa condição humana e pecadora.

Meditação:

Jesus que sendo Deus aceitou todas as conseqüências da nossa condição humana, ensina-me a integrar positivamente a minha condição de ser finito e pecador. Em vez de investir energias tentando ser deus e perfeito/a, Ele convida-me a investir na reconciliação comigo mesmo/a.

Oração

Nem sempre me aceito como sou e, por causa disto, freqüentemente também não sou capaz de aceitar os outros. Pelas vezes que me ofendi a mim mesmo e ofendi os outros, peço perdão a mim, aos outros e a Ti, Senhor. Faz-me, por favor, menos orgulhoso e ambicioso e mais humilde e em paz comigo mesmo e com os outros.

Ação

Procuro três características minhas que considero defeitos e analiso as possíveis vantagens de cada um desses defeitos. Assim, talvez, aprenda a conviver melhor com a minha condição humana e pecadora.

Sexta-feira

Palavra – “Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. E do céu veio uma voz... “

No batismo de Jesus não só ele se solidariza conosco, como também os restantes da Santíssima Trindade, o Pai e o Espírito, se solidarizam com ele. O Espírito Santo desce sobre Jesus e o Pai faz ouvir a sua voz. O batismo torna-se assim um acontecimento da Santíssima Trindade.

Meditação:

Por ser batizado/a, sou habitado/a pela Santíssima Trindade. Isto significa que o Pai e o Filho e o Espírito Santo estão dentro de mim. Com Eles posso lançar-me confiadamente na aventura do dia-a-dia. Estou disposto a arriscar e a deixar que Eles se manifestem através de mim?

Oração simples à Santíssima Trindade

Pai e Filho e Espírito Santo, Santíssima Trindade acompanhai-me toda a vida,

dai-me sempre guarida, tende de mim piedade.

Pai Eterno, ajudai-me.

Verbo de Deus, abençoai-me.

Espírito Santo, alcançai-me proteção, honra e virtude.

Nunca a soberba me ataque e sempre busque o bem, com a Santíssima Trindade para sempre. Amen.

Ação

No corre-corre do dia-a-dia, nem sempre me lembro que dentro de mim, comigo, mora a Santíssima Trindade. Hoje, mais consciente, vou deixar-me acompanhar e sentir-me acompanhado por esta presença misteriosa e divina.

Sábado

Palavra – “Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado”.

Neste batismo em que Jesus mostra a sua solidariedade para com a nossa humanidade, a Santíssima Trindade intervém para nos dar a conhecer a divindade de Jesus. De uma maneira mais evidente, o Pai recorda-nos que Jesus é o seu Filho muito amado.

Meditação:

Também Deus, no meu batismo, me disse que eu era seu/sua filho/a muito/a amado/a. Mas ao fazê-lo naquele dia, disse-o para sempre. Diariamente, Deus diz-me que sou seu/sua filho/a muito/a amado/a. Que vozes calam esta voz que grita em mim esta minha condição de filho/a e de amado/a?

Oração:

(A minha oração de hoje é de agradecimento: sem palavras capazes de exprimi-lo, durante algum tempo, coloco-me diante de Deus como seu/sua filho/a amado/a.)

Ação:

Ao longo do dia, rezo incessantemente, como se de um mantra se tratasse, estas palavras: “Eu sou filho/a muito amado/a de Deus”.