quarta-feira, 12 de novembro de 2025

14 de novembro

 Todos os Santos Carmelitas
 
Os Santos do Carmelo constituem uma grande multidão de irmãos que consagraram a sua vida a Deus, seguindo os ensinamentos do seu Filho e imitando a sua vida, e se entregaram ao serviço da Virgem Maria na oração, na abnegação evangélica, no amor aos irmãos, a ponto de alguns terem derramado o seu sangue. Eremitas do monte Carmelo, mendicantes da Idade Média, mestres e pregadores, missionários e mártires, religiosas que enriqueceram o povo de Deus com a misteriosa fecundidade da sua vida contemplativa, apostólica e docente, leigos que na sua vida souberam encarnar o espírito da Ordem: esta é a grande família carmelita que, enquanto peregrina, se dedicou à prática assídua da oração e que, tendo terminado a sua prova no estádio deste mundo, e tendo-nos deixado o seu exemplo, agora celebra a liturgia celeste. Unidos a esta grande família, e na esperança de nos virmos associar a ela, celebramos e antegozamos, por meio desta festa, as alegrias eternas dos santos que Deus conduziu ao seu monte para introduzi-los na sua Casa de Oração. O exemplo e a intercessão destas almas de oração é para nós um estímulo a vivermos a nossa vocação carmelita em obséquio de Jesus Cristo e na imitação da nossa Mãe e Rainha, Flor do Carmelo, Padroeira e Esperança de todos os carmelitas. Esta festa, já mencionada por Inocêncio VIII em 16 de julho de 1492, estendeu-se à Ordem em 1672.
 
SOMOS DESCENDENTES DE SANTOS
"Por AMOR de Nosso Senhor lhes peço: lembrem-se quão depressa tudo se acaba, e da mercê que Nosso Senhor nos fez trazendo-nos a esta Ordem e das grandes penas que terá quem nela introduzir algum relaxamento. Mas que ponham sempre os olhos na Casta de onde vimos, naqueles Santos Profetas. Quantos SANTOS temos no Céu que trouxeram este hábito! Tenhamos a santa presunção, com a ajuda de DEUS, de ser como Eles. Pouco durará a batalha e o fim será eterno." (Das obras de Sta. Teresa de Jesus, virgem e doutora da Igreja)
 
 
INVITATÓRIO
R. Ao Senhor Jesus, Filho de Maria, e fonte de toda santidade, vinde adoremos
 
LAUDES
Hino
Salve, falange florida do Carmelo,
nosso modelo, nossa glória, nossa alegria,
porque de Elias perpetuaste o zelo,
e a oração silenciosa de Maria.
 
Com um total desprendimento e pobreza
a alma virgem conservaste para o Amor:
fielmente o serviste com presteza,
amando a Igreja, povo eleito do Senhor.
 
Da solidão saindo, já bem transformados
em mártires fortes e testemunhas da paz,
embora ocultos nesses claustros sagrados,
fizestes no mundo o que o fermento faz.
 
Dai-nos a mão para também nos elevarmos
à contemplação daquele que é nosso encanto,
e convosco pra sempre glorificarmos
o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
 
Ant.1 Os vossos fiéis, Senhor, procuraram-vos na oração e viram o vosso poder e a vossa glória.
 
Salmos e cântico do domingo da I Semana.
 
Ant. 2 Santos e Santas do Senhor, bendizei para sempre o Senhor.
 
Ant. 3 Nem os olhos viram nem os ouvidos ouviram o que Deus tem preparado para aqueles que o amam!
 
Leitura breve - Sr 44,1-2.3b-4  
Vamos fazer o elogio dos homens gloriosos, nossos antepassados através das gerações! O Senhor concedeu-lhes a glória e com eles desde sempre repartiu a grandeza. Homens de grande virtude e dotados de prudência. Pelas suas predições adquiriram a grande dignidade de profetas. Com o poder da sua sabedoria deram ao povo instruções muito santas.
 
Responsório breve
R. Vi a grande multidão dos Santos * revestidos de branco.
R. Vi a grande.
V. Estes são os santos, os amigos de Deus. R. * Revestidos
Glória ao Pai. R. Vi a grande.
 
Cântico evangélico - cf. Hb 12,1
Ant. Rodeados de uma nuvem tão grande de testemunhas, corramos com persistência de encontro ao combate, que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da nossa fé.
 
Preces
Demos graças a Deus Pai, que nos concede a alegria de celebrarmos a festa dos Santos Carmelitas, nossos irmãos e irmãs; com os sentimentos da Virgem Maria, Flor do Carmelo, digamos:
 
R. As nossas almas vos glorifiquem, Senhor!
 
Vós, que conduzistes o vosso povo ao deserto, para estabelecerdes com ele uma aliança de amor,
- renovai em Cristo a nossa Aliança convosco. R.
 
Vós, que nos escolhestes como irmãos de Maria, para recebermos e guardarmos a vossa Palavra, animados pelo espírito da nossa Mãe,
- fazei que, servindo a Jesus e ao seu Evangelho, sejamos no mundo a sua imagem. R.
 
Vós, que nos convidastes para uma vida de intimidade convosco,
-fazei que, como Elias, nosso pai, vivamos sempre na vossa presença e nos abrasemos de um zelo ardente na vossa presença e pela vossa Glória. R.
 
Vós que suscitastes na Igreja a nossa Família do Carmelo, para que viva santamente para vós e aspire a mística união convosco pela oração e contemplação,
- fazei que, a exemplo dos nossos Santos, procuremos sempre a vossa face e possamos indicar a todos os irmãos o caminho da divina intimidade convosco. R.
 
Vós, que concedestes aos nossos Santos tal zelo apostólico e amor divino que os levaram a oferecer a sua vida pelos irmãos,
- fazei que, levando em nosso corpo a morte de Cristo, colaboremos generosamente na obra da Redenção com a doação da nossa vida aos irmãos. R.
 
(intenções livres)
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor, nosso Deus e nosso Pai, nós vos pedimos que sempre nos assistam com a sua proteção a Virgem Maria, nossa Mãe, e todos os Santos e Santas do Carmelo, para que, seguindo fielmente os seus exemplos, sirvamos à vossa Igreja com a oração e com obras dignas de Vós. Por N.S.J.C.
 
VÉSPERAS
Hino
Oh! Admirável visão!
A fé nos faz contemplar
uma imensa multidão,
que ninguém pode contar.
 
Donde vêm e quem são
os que em triunfo nos céus,
com belas palmas na mão,
cantam a glória de Deus?
 
Estes são os que vieram
da grande tribulação:
do Cordeiro receberam
a graça da Salvação.
 
Não mais choro nem dor:
tudo é alegria e luz;
às fontes vivas do amor
o próprio Deus os conduz.
 
Tributemos ao Senhor
com a Corte Celestial
honra, poder e louvor:
"Glória ao Deus Imortal!"
 
Ant. 1 "Em casa do meu Pai há muitas moradas!" - diz o Senhor.
 
Salmos e Cântico da Solenidade de Todos os Santos
 
Ant. 2 Já não vos chamo servos, mas amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi do meu Pai.
 
Ant. 3 Depois ouvi como que a voz de uma multidão, que dizia no Céu: “Aleluia! Ao nosso Deus a salvação, a honra, a glória e o poder! ”
 
Leitura breve - Rm 8,28-30
Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus, pois aqueles que Deus contemplou com o seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, para que este seja o Primogênito numa multidão de irmãos. E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou justos, também os glorificou.
 
Responsório breve
R. Eis a verdadeira fraternidade: * nenhuma dificuldade a destruirá.
R. Eis a verdadeira.
V. Seguindo a Cristo, chegaram ao Reino dos Céus.
* Nenhuma dificuldade. Glória ao Pai.
R. Eis a verdadeira.
 
Cântico evangélico
Ant.1 Vós, que tudo deixastes e me seguistes, cem vezes mais recebereis e, no mundo futuro, herdareis a vida eterna.
ou
Ant.2 Gloriosos companheiros de arma, através da vida religiosa alcançastes a felicidade dos Anjos: agora lembrai-vos de nós e socorrei-nos, para que nos alegremos com a vossa proteção e juntos nos gloriemos com a nossa vitória.
 
Preces
Invoquemos o Senhor Jesus, Nosso Redentor, e confiados na ajuda da Virgem Maria, nossa Mãe, e na intercessão dos nossos irmãos, os Santos Carmelitas, peçamos:
 
R. Santificai-nos na verdade, Senhor!
 
Vós, que chamastes muitos fiéis ao Carmelo para vos seguirem mais de perto pelos caminhos do amor,
- fazei que caminhemos na verdade por meio da prática da virtude do amor. R.
 
Vós, que concedestes aos nossos Santos a força da perseverança no amor fraterno,
- conservai as nossas comunidades na vossa Paz e fazei que tenhamos um só coração e uma só alma. R.
 
Vós, que chamastes os nossos Santos ao serviço e imitação da Virgem Maria,
- fazei que, sob a proteção da vossa e nossa Mãe, caminhemos numa vida nova e permaneçamos fiéis até o fim. R.
 
Vós, que suscitastes na Igreja a família do Carmelo, para cultivar a ciência da íntima união convosco por meio da oração,
- ensinai-nos a partilhar com os nossos irmãos os tesouros da contemplação. R.
 (intenções livres)
 
Vós, que sois a coroa eterna e a alegria perene de nossos Santos.
- pela intercessão de Nossa Senhora do Carmo, Mãe e Protetora dos que morreram, concedei aos irmãos e irmãs falecidos da nossa Família Carmelitana a alegria da vossa presença no Sábado eterno dos Céus. R.
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor, nosso Deus e nosso Pai, nós vos pedimos que sempre nos assistam com a sua proteção a Virgem Maria, nossa Mãe, e todos os Santos e Santas do Carmelo, para que, seguindo fielmente os seus exemplos, sirvamos à vossa Igreja com a oração e com obras dignas de Vós. Por N.S.J.C.

 

14 DE NOVEMBRO – TODOS OS SANTOS DE NOSSA ORDEM

1ª Leitura (Sab 13,1-9):
Todos os homens que vivem na ignorância de Deus são verdadeiramente insensatos, porque, pelos bens visíveis, não foram capazes de conhecer Aquele que é, nem reconheceram o Artífice, pela consideração das suas obras. Mas foi o fogo, o vento, o ar ligeiro, o ciclo dos astros, a água impetuosa ou os luzeiros do céu que eles tomaram como deuses e senhores do mundo. Se, fascinados pela beleza das coisas, as tomaram por deuses, reconheçam quanto é mais excelente o seu Senhor, pois foi o Autor da beleza que as criou. Se o que os impressionou foi a sua força e energia, compreendam quanto é mais poderoso Aquele que as fez. Porque a grandeza e a beleza das criaturas, conduzem, por analogia, à contemplação do seu Autor. Contudo, esses homens incorrem apenas em ligeira censura, porque talvez se extraviem, buscando a Deus e desejando encontrá-lo: ocupados na investigação das suas obras, deixam-se seduzir pelas aparências, pois são belas as coisas que veem. Mas nem esses têm desculpa: se conseguiram obter tanta ciência que podem examinar o mundo, como não encontraram mais depressa o Senhor do mundo?
 
Salmo Responsorial: 18
R. Os céus proclamam a glória de Deus.
 
Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite.
 
Não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia até aos confins do mundo.
 
Aleluia. Erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 17,26-37): «Como aconteceu nos dias de Noé, assim também acontecerá nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebiam, homens e mulheres casavam-se, até ao dia em que Noé entrou na arca. Então chegou o dilúvio e fez morrer todos. Acontecerá como nos dias de Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, Deus fez chover fogo e enxofre do céu e fez morrer todos. O mesmo acontecerá no dia em que se manifestar o Filho do Homem. Naquele dia, quem estiver no terraço não entre para apanhar objeto algum em sua casa. E quem estiver no campo não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Ló! Quem procurar salvar a vida, vai perdê-la; e quem a perder, vai salvá-la. Eu vos digo: naquela noite, dois estarão na mesma cama; um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão juntas; uma será tomada e a outra será deixada». Os discípulos perguntaram: «Senhor, onde acontecerá isto?». Ele respondeu: «Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres».
 
«Comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam»
 
Fr. Austin NORRIS (Mumbai, Índia)
 
Hoje, no texto do Evangelho está marcados o final dos tempos e a incerteza da vida, não tanto para atemorizar-nos, quanto para estarmos bem precavidos e atentos, preparados para o encontro com nosso Criador. A dimensão do sacrifício presente no Evangelho se manifesta em seu Senhor e Salvador Jesus-cristo liderando-nos com seu exemplo, em vista de estar sempre preparados para buscar e cumprir a Vontade de Deus. A vigilância constante e a preparação são o selo do discípulo vibrante. Não podemos ser semelhantes às pessoas que «comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam, construíam» (Lc 17,28). Nós, discípulos, devemos estar preparados e vigilantes, não fosse que terminássemos por ser arrastados para um letargo espiritual escravo da obsessão —transmitida de uma geração à seguinte— pelo progresso na vida presente, pensando que —depois de tudo— Jesus não voltará.
 
O secularismo tem criado profundas raízes em nossa sociedade. A investida da inovação e a rápida disponibilidade de coisas e serviços pessoais nos faz sentir autossuficientes e nos despoja da presença de Deus em nossas vidas. Só quando uma tragédia nos machuca despertamos de nosso sonho para ver a Deus no meio de nosso “vale de lágrimas”... Inclusive deviéramos estar agradecidos por esses momentos trágicos, porque certamente servem para robustecer nossa fé.
 
Em tempos recentes, os ataques contra os cristãos em diversas partes do mundo, incluindo meu próprio país —a Índia— sacudiu nossa fé. Mas o Papa Francisco disse: «No entanto, os cristãos estão desesperançados porque, em última instância, Jesus faz uma promessa que é garantia de vitória: ‘Quem perca sua vida, a conservará’ (Lc 17,33)». Esta é uma verdade na qual podemos confiar… Ele, poderoso testemunha de nossos irmãos e irmãs, que dão sua vida pela fé e por Cristo não será em vão.
 
Así, nós lutamos por avançar na viagem de outras vidas na sincera esperança de encontrar ao nosso Deus «o Dia em que o Filho do homem se manifeste» (Lc 17,30).
 
«Quem procurar salvar a vida, vai perdê-la; e quem a perder, vai salvá-la»
 
Rev. D. Enric PRAT i Jordana (Sort, Lleida, Espanha)
 
Hoje, no contexto predominante de uma cultura materialista, muitos agem como nos tempos de Noé: «Comiam, bebiam, homens e mulheres casavam-se»(Lc 17,27);acontecerá como nos dias de Ló: Comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam» (Lc 17,28). Com uma visão tão míope, a aspiração suprema de muitos reduz-se a sua própria vida física temporal e, em consequência, todo seu esforço orienta-se a conservar essa vida, a protegê-la e enriquecê-la.
 
No fragmento do Evangelho que estamos comentando, Jesus quer sair ao passo dessa concepção fragmentária da vida que mutila ao ser humano e o leva à frustação. E o faz mediante uma sentença séria e contundente, capaz de remover as consciências e de obrigar a fazer perguntas fundamentais: «Quem procurar salvar a vida, vai perdê-la; e quem a perder, vai salvá-la». (Lc 17,33). Meditando sobre este ensino de Jesus Cristo, diz São Agostinho: «Que dizer, então? Pereceram todos os que fazem essas coisas, isto é, quem se casa, plantam videiras e edificam? Não eles, senão quem presumem dessas coisas, quem antepõem essas coisas a Deus, quem estão dispostos a ofender a Deus ao instante por essas coisas».
 
De fato, quem perde a vida por conservá-la senão aquele que viveu exclusivamente na carne, sem deixar aflorar o espírito; ou ainda mais, aquele que vive ensimesmado, ignorando por completo aos demais? Porque é evidente que a vida na carne se perde necessariamente e, que a vida no espírito, se não se compartilha, debilita-se
 
Toda a vida, por ela mesma, tende naturalmente ao crescimento, à exuberância, à frutificação e a reprodução. Pelo contrário, se é sequestrada e encerrada no intento de apodera-se afanosa e exclusivamente, murcha-se, esteriliza-se e morre. Por esse motivo, todos os santos, tomando como modelo a Jesus, que viveu intensamente para Deus e para os homens, deram generosamente sua vida de multiformes maneiras ao serviço de Deus e de seus semelhantes.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Mais do que o pecado em si, o que irrita e ofende a Deus é que os pecadores não sintam nenhuma dor pelos seus pecados» (São João Crisóstomo)
 
«A pretensão de que a humanidade possa fazer justiça sem Deus é presunçosa e intrinsecamente falsa. Se as maiores crueldades derivaram desta premissa, não é por acaso» (Bento XVI)
 
«(…) A caridade constitui o maior mandamento social. Ela respeita o outro e os seus direitos, exige a prática da justiça, de que só ela nos torna capazes e inspira-nos uma vida de entrega: ‘Quem procurar preservar a vida, há-de perdê-la; quem a perder, há de salvá-la’ (Lc 17, 33)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1889)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje continua a reflexão sobre a chegada do fim dos tempos e traz palavras de Jesus sobre como preparar-se para a chegada do Reino.
Era um assunto quente que, naquele tempo, provocava muita discussão. Quem determina a hora da chegada do fim é Deus. Mas o tempo de Deus (kairós) não se mede pelo tempo do nosso relógio (chronos). Para Deus, um dia pode ser igual a mil anos, e mil anos igual a um dia (Sl 90,4; 2Pd 3,8). O tempo de Deus corre invisível dentro do nosso tempo, mas independente de nós e do nosso tempo. Nós não podemos interferir no tempo, mas devemos estar preparados para o momento em que a hora de Deus se fizer presente dentro do nosso tempo. Pode ser hoje, pode ser daqui a mil anos. O que dá segurança, não é saber a hora do fim do mundo, mas sim a certeza da presença da Palavra de Jesus presente na vida. O mundo passará, mas a palavra dele jamais passará (cf Is 40,7-8).
 
* Lucas 17,26-29: Como nos dias de Noé e de Ló. A vida corre normalmente: comer, beber, casar, comprar, vender, plantar, colher. A rotina pode envolver-nos de tal modo que já não conseguimos pensar em outra coisa, em mais nada. E o consumismo do sistema neoliberal contribui para aumentar em muitos de nós esta total desatenção à dimensão mais profunda da vida. Deixamos o cupim entrar na viga da fé que sustenta o telhado da nossa vida. Quando tempestade derrubar a casa, muitos dão a culpa ao carpinteiro: “Mau serviço!” Na realidade, a causa da queda foi a nossa desatenção prolongada. A alusão à destruição de Sodoma como figura do que vai acontecer no fim dos tempos, é uma alusão à destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70 dC (cf Mc 13,14).
 
* Lucas 17,30-32: Assim será nos dias do Filho do Homem. “O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado”. Difícil para nós imaginar o sofrimento e o trauma que a destruição de Jerusalém causou nas comunidades, tanto dos judeus como dos cristãos. Para ajudá-las a entender e a enfrentar o sofrimento, Jesus usa comparações tiradas da vida: “Nesse dia, quem estiver no terraço, não desça para apanhar os bens que estão em casa, e quem estiver nos campos não volte para trás”. A destruição virá com tal rapidez que não vale a pena descer para casa para buscar alguma coisa dentro da casa (Mc 13,15-16). “Lembrem-se da mulher de Ló” (cf. Gn 19,26), isto é, não olhem para trás, não percam tempo, tomem a decisão e vão em frente: é questão de vida  ou de morte.
 
* Lucas 17,33: Perder a vidas para ganhá-la. “Quem procura ganhar a sua vida, vai perdê-la; e quem a perde, vai conservá-la”. Só se sente realizada na vida a pessoa que for capaz de doar-se inteiramente pelos outros. Perde a vida quem quer conservá-la só para si. Este conselho de Jesus é a confirmação da mais profunda experiência humana: a fonte da vida está na doação da vida. É dando que se recebe. “Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto”  (Jo 12,24). Importante é a motivação que o Evangelho de Marcos acrescenta: “Por causa de mim e por causa do Evangelho” (Mc 8,35). Dizendo que ninguém é capaz de conservar sua vida com seu próprio esforço, Jesus evoca o salmo onde se diz que ninguém é capaz de pagar o preço do resgate da vida: “O homem não pode comprar seu próprio resgate, nem pagar a Deus o preço de si mesmo. É tão caro o resgate da vida, que nunca bastará para ele viver perpetuamente, sem nunca ver a cova”.  (Sl 49,8-10).
 
* Lucas 17,34-36: Vigilância. “Eu digo a vocês: nessa noite, dois estarão numa cama. Um será tomado, e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas. Uma será tomada, e a outra deixada. Dois homens estarão no campo. Um será levado, e o outro será deixado". Evoca a parábola das dez moças. Cinco eram prudentes e cinco eram bobas (Mt 25,1-11). O que importa é estar preparado. As palavras “Um será tomado, e o outro será deixado” evocam as palavras de Paulo aos Tessalonicenses (1Tes 4,13-17), quando diz que, na vinda do Filho do homem, seremos arrebatados ao céu junto com Jesus. Estas palavras “deixados para trás” forneceram o título para um terrível e perigoso romance da extrema direita fundamentalista dos Estados Unidos: “Lefted behind!” Este romance não nada tem a ver com o sentido real das palavras de Jesus:
 
* Lucas 17,37: Onde e quando? “Os discípulos perguntaram: "Senhor, onde acontecerá isso?" Jesus respondeu: "Onde estiver o corpo, aí se reunirão os urubus". Resposta enigmática. Alguns acham que Jesus evoca a profecia de Ezequiel, retomada no Apocalipse, na qual o profeta se refere à batalha vitoriosa final contra os poderes do mal. As aves de rapina ou os urubus serão convidadas para comer a carne dos cadáveres (Ez 39,4.17-20; Ap 19,17-18). Outros acham que se trata do vale de Josafá, onde será realizado o juízo final conforme a profecia de Joel (Joel 4,2.12). Outros ainda acham que se trata simplesmente de um provérbio popular que significava mais ou menos o mesmo que diz o nosso provérbio: “Onde tem fumaça, tem fogo!”
 
Para um confronto pessoal
1) Sou dos tempos de Noé  e de Ló?
2) Romance da extrema direita. Como me situa diante desta manipulação política da fé em Jesus?
 

terça-feira, 11 de novembro de 2025

13 de novembro

 Beata Maria Teresa de Jesus Scrilli
Virgem de nossa Ordem e Fundadora da Congregação das Irmãs de N. Sra do Monte Carmelo

Maria Scrilli nasceu no dia 15 de maio de 1825 em Montevarchi, na Toscana. Aos 21 anos ingressou no mosteiro de Santa Maria dos Anjos, em Florença, mas não prospera em seu propósito. Da experiência carmelitana adquire base para toda sua espiritualidade futura. Do Carmelo de Florença sai com uma decisão: será contemplativa, porém “contemplativa em ação”. Seu amor ao sofrimento e o desejo de reparar as ofensas que se faziam ao Senhor, eram sustentados pela contínua meditação sobre a Paixão de Cristo. Maria Scrilli consciente que a falta de cultura e a ignorância degrada especialmente a mulher, começou em sua própria casa de Montevarchi a ensinar um grupo de meninas que encontra pela rua. Logo se juntaram a ela outras companheiras. Às suas filhas, pediu para fazerem, além dos três votos habituais de castidade, obediência e pobreza, um quarto voto, ou seja, o de "apresentar-se para a utilidade do próximo por meio da instrução moral cristã e civil a dar ao sexo feminino". Em 1854 nasceu o Pio Instituto das Irmãzinhas Pobres do Coração de Maria, aprovado pelo Bispo de Fiésole. Morreu no dia 14 de novembro de 1889. Foi beatificada em 8 de outubro de 2006.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Deus eterno e todo-poderoso que nos destes um modelo de santidade e de caridade na Beata Maria Teresa Scrilli, totalmente entregue à oração e ao cuidado dos jovens e dos pobres, concedei-nos por sua intercessão trabalhar por vós neste mundo, para descansar convosco no Céu.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo

Quinta-feira da 32ª semana do Tempo Comum

Beata M Teresa de Jesus Scrilli, Virgem de nossa Ordem e Fundadora da Congregação das Irmãs de N. Sra do Monte Carmelo

Sto Estanislau Kostka, religioso

S. Diego de Alcalá, religioso


1ª Leitura (Sab 7,22—8,1):
Na Sabedoria há um espírito inteligente, santo, único, multiforme, subtil, veloz, perspicaz, sem mancha; um espírito lúcido, inalterável, amigo do bem; penetrante, irreprimível, benfazejo, amigo dos homens; firme, seguro, sereno; ele tudo pode, tudo abrange e penetra todos os espíritos, os mais inteligentes, mais puros e mais subtis. A Sabedoria é mais ágil que todo o movimento, atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza. Ela é um sopro do poder de Deus, emanação pura da glória do Omnipotente; por isso nenhuma impureza a pode atingir. Ela é o esplendor da luz eterna, espelho puríssimo da atividade de Deus, imagem da sua bondade. Sendo única, ela tudo pode e, imutável em si mesma, tudo renova. Ela comunica-se de geração em geração pelas almas santas e forma os amigos de Deus e os profetas, pois Deus só ama quem habita com a Sabedoria. Ela é mais formosa do que o sol e supera todas as constelações. Comparada com a luz, aparece mais excelente, porque à luz sucede a noite, mas a maldade nada pode contra a Sabedoria. Estende o seu vigor dum extremo ao outro da terra e tudo governa com harmonia.
 
Salmo Responsorial: 118
R. A vossa palavra, Senhor, permanece para sempre.
 
Senhor, a vossa palavra permanece para sempre imutável como os céus.
 
A vossa fidelidade mantém-se de geração em geração, como a terra que formastes e permanece.
 
Pela vossa vontade perduram as coisas até este dia, porque todas elas Vos estão sujeitas.
 
A manifestação das vossas palavras ilumina e dá inteligência aos simples.
 
Fazei brilhar a vossa face sobre o vosso servo e dai-me a conhecer os vossos decretos.
 
Viva a minha alma para Vos louvar e os vossos juízos venham em meu auxílio.
 
Aleluia. Eu sou a videira, vós sois os ramos, diz o Senhor: se alguém permanece em Mim e Eu nele, dá muito fruto. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 17,20-25): Naquele tempo, os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Ele respondeu: «O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui, ou: Está ali, pois o Reino de Deus está no meio de vós». E ele disse aos discípulos: «Dias virão em que desejareis ver um só dia do Filho do Homem e não podereis ver. Dirão: Ele está aqui ou: Ele está ali. Não deveis ir, nem correr atrás. Pois como o relâmpago de repente brilha de um lado do céu até o outro, assim também será o Filho do Homem, no seu dia. Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração»
 
«O Reino de Deus está no meio de vós»
 
Frei Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, os fariseus perguntam a Jesus uma coisa que interessou sempre como uma mistura de interesse, curiosidade, medo...: Quando virá o Reino de Deus? Quando será o dia definitivo, o fim do mundo, o retorno de Cristo para julgar aos vivos e aos mortos no juízo final?
 
Jesus disse que isso é imprevisível. O único que sabemos é que virá subitamente, sem avisar: «como o relâmpago»(Lc 17,24), um acontecimento repentino e ao mesmo tempo, cheio de luz e de glória. Enquanto às circunstâncias, a segunda chegada de Jesus permanece no mistério. Mas Jesus dá-nos uma pista autêntica e segura: desde agora, «o Reino de Deus está no meio de vós» (Lc 17,21). Ou: «dentro de nós».
 
O grande sucesso do último dia será um fato universal, mas também acontece no pequeno microcosmo de cada coração. É aí onde se tem que buscar o Reino. É no nosso interior onde está o Céu, onde temos de encontrar a Jesus.
 
Este Reino, que começará imprevisivelmente fora, pode começar já agora dentro de nós. O último dia configura-se já agora no interior de cada um. Se queremos entrar no Reino no dia final, temos de fazer entrar agora o Reino dentro de nós. Se queremos que Jesus naquele momento definitivo seja nosso juiz misericordioso, temos que fazer que Ele desde agora seja nosso amigo e hospede interior.
 
São Bernardo, no sermão de Advento, fala de três vindas de Jesus. A primeira vinda, quando se fez homem; a última, quando virá como juiz. Há uma vinda intermédia, que é a que tem lugar agora no coração de cada um de nós. É aí donde se fazem presentes, em relação pessoal e de experiência, a primeira e a última vinda. A sentencia que pronunciará Jesus no dia do Juízo, será a que agora ressoe no nosso coração. Aquilo que ainda não chegou, agora já é uma realidade.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando o dia já declinava para o pôr-do-sol, o Senhor entregou, na cruz, a alma que depois havia de recuperar, porque não a perdeu contra a sua vontade. Também estivemos representados ai!» (Santo Agostinho)
 
«Também o sofrimento, a cruz quotidiana da vida —a cruz do trabalho, da família, de fazer bem as coisas— esta pequena cruz quotidiana faz parte do Reino de Deus» (Francisco)
 
«Na Eucaristia (…) os pedidos que fazemos ao nosso Pai, diferentemente das orações da Antiga Aliança, apoiam-se no mistério da salvação já realizada, duma vez para sempre, em Cristo crucificado e ressuscitado» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.771)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz uma discussão entre Jesus e os fariseus sobre o momento da vinda do Reino.
Os evangelhos de hoje e dos próximos dias tratam da chegada do fim dos tempos.
 
* Lucas 17,20-21: O Reino no meio de nós. “Os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: "O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui ou: está ali, porque o Reino de Deus está no meio de vocês". Os fariseus achavam que o Reino só poderia vir depois que povo tivesse chegado à perfeita observância da Lei de Deus. Para eles, a vinda do Reino seria a recompensa de Deus pelo bom comportamento do povo, e o messias viria de maneira bem solene como um rei, recebido pelo seu povo. Jesus diz o contrário. A chegada do Reino não pode ser observada como se observa a chegada dos reis da terra. Para Jesus, o Reino de Deus já chegou! Já está no meio de nós, independente do nosso esforço ou mérito. Jesus tem outro modo de ver as coisas. Tem outro olhar para ler a vida. Ele prefere o samaritano que vive na gratidão aos nove que acham que merecem o bem que recebem de Deus (Lc 17,17-19).
 
* Lucas 17,22-24: Sinais para reconhecer a vinda do Filho do Homem.
"Chegarão dias em que vocês desejarão ver um só dia do Filho do Homem, e não poderão ver. Dirão a vocês: 'Ele está ali' ou: 'Ele está aqui'. Não saiam para procurá-lo. Pois como o relâmpago brilha de um lado a outro do céu, assim também será o Filho do Homem”. Nesta afirmação de Jesus existem elementos que vem da visão apocalíptica da história, muito comum nos séculos antes e depois de Jesus. A visão apocalíptica da história tem a seguinte característica. Em épocas de grande perseguição e de opressão, os pobres têm a impressão de que Deus perdeu o controle da história. Eles se sentem perdidos, sem horizonte e sem esperança de libertação. Nestes momentos de aparente ausência de Deus, a profecia assume a forma de apocalipse. Os apocalípticos, procuram iluminar a situação desesperadora com a luz da fé para ajudar o povo a não perder a esperança e para continuar com coragem na caminhada. Para mostrar que Deus não perdeu o controle da história, eles descrevem as várias etapas da realização do projeto de Deus através da história. Iniciado num determinado momento significativo no passado, este projeto de Deus avança, etapa após etapa, através da situação presente vivida pelos pobres, até à vitória final no fim da história. Deste modo, os apocalípticos situam o momento presente como uma etapa já prevista dentro do conjunto mais amplo do projeto de Deus. Geralmente, a última etapa antes da chegada do fim costuma ser apresentada como um momento de sofrimento e de crise, do qual muitos tentam se aproveitar para iludir o povo dizendo: “Ele está ali' ou: 'Ele está aqui'. Não saiam para procurá-lo. Pois como o relâmpago brilha de um lado a outro do céu, assim também será o Filho do Homem”. Tendo olhar de fé que Jesus comunica, os pobres vão poder perceber que o reino já está no meio deles (Lc 17,21), como relâmpago, sem sombra de dúvida. A vinda do Reino traz consigo sua própria evidência e não depende dos palpites e prognósticos dos outros.
 
* Lucas 17,25: Pela Cruz até à Glória. “Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração”. Sempre a mesma advertência: a Cruz, escândalo para judeus e loucura para os gregos, mas para nós expressão da sabedoria e do poder de Deus (1Cor 1,18.23). O caminho para a Glória passa pela cruz. A vida de Jesus é o nosso cânon, é a norma canônica para todos nós.
 
Para um confronto pessoal
1) Jesus diz: “O reino está no meio de vós!” Você já encontrou algum sinal da presença do Reino em sua vida, na vida do seu povo ou na vida da sua comunidade?
2) A cruz na vida. O sofrimento. Como você vê o sofrimento, o que faz com ele?