Primeira
Leitura (Est 5,1-2;7,2-3): Ester revestiu-se com vestes de rainha e foi colocar-se no vestíbulo
interno do palácio real, frente à residência do rei. O rei estava sentado no
trono real, na sala do trono, frente à entrada. Ao ver a rainha Ester
parada no vestíbulo, olhou para ela com agrado e estendeu-lhe o cetro de ouro
que tinha na mão, e Ester aproximou-se para tocar a ponta do cetro. Então, o rei
lhe disse: “O que me pedes, Ester; o que queres que eu faça? Ainda que me
pedisses a metade do meu reino, ela te seria concedida”. Ester respondeu-lhe: “Se ganhei as tuas
boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida — eis o
meu pedido! — e a vida do meu povo — eis o meu desejo!”
Salmo
responsorial
R. Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: que o
Rei se encante com vossa beleza!
— Escutai, minha filha, olhai,
ouvi isto: “Esquecei vosso povo e a casa paterna! Que o Rei se encante com
vossa beleza! Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!
— O povo de Tiro vos traz seus
presentes, os grandes do povo vos pedem favores. Majestosa, a princesa real vem
chegando, vestida de ricos brocados de ouro.
— Em vestes vistosas ao Rei se
dirige e as virgens amigas lhe formam cortejo; entre cantos de festa e com
grande alegria, ingressam, então, no palácio real”.
Segunda
Leitura (Ap 12,1.5.13a.15-16a): Apareceu no céu um grande sinal: uma
mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa
de doze estrelas. E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas
as nações com cetro de ferro. Mas o filho foi levado para junto de Deus e do
seu trono. Quando viu que tinha sido expulso para a terra, o dragão começou a
perseguir a mulher que tinha dado à luz o menino. A serpente, então, vomitou
como um rio de água atrás da mulher, a fim de a submergir. A terra, porém, veio
em socorro da mulher.
Aleluia! Disse a mãe de Jesus
aos serventes: “fazei tudo o que Ele disser!” Aleluia!
Evangelho
(Jo 2,1-11): Naquele tempo, houve um casamento em Caná da Galileia. A
mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos tinham sido
convidados para o casamento. Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe
disse: “Eles não têm mais vinho”. Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes
isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos que estavam
servindo: “Fazei o que ele vos disser!”. Estavam seis talhas de pedra colocadas
aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam
mais ou menos cem litros. Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as
talhas de água!”. Encheram-nas até a boca. Jesus disse: “Agora tirai e levai ao
mestre-sala!”. E eles levaram. O mestre-sala experimentou a água, que se tinha
transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo
sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. O mestre-sala chamou então o
noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os
convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o
vinho bom até agora!” Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em
Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
“Sua mãe disse aos que estavam
servindo: ‘Fazei o que Ele vos disser’.” (Jo 2,5)
Do site da Ordem do Carmo em
Portugal.
* O Evangelho desta Solenidade
coloca à nossa consideração as bodas de Caná, acontecidas na Galileia.
Tanto naquele tempo como agora, as festas são apreciadas por todos, quer seja
um casamento, um batizado, um aniversário, a festa do santo padroeiro ou da
padroeira da igreja, fim de ano... festas e mais festas... Há algumas festas
que ficam gravadas na nossa memória e que com o passar do tempo adquirem um
significado cada vez mais profundo, assim como há outras que caem no mais
profundo esquecimento porque perderam o seu significado. A festa das bodas de
Caná, tal como é descrita no Evangelho de São João (Jo 2, 1-12), ficou gravada
na memória do povo cristão e para alguns revela um sentido profundo.
* Para entender esta
descoberta progressiva do significado das bodas de Caná, devemos recordar que o
Evangelho de João é diferente dos outros Evangelhos. João narra os factos
da vida de Jesus de tal modo que os leitores sejam conduzidos a descobrir neles
uma dimensão mais profunda que somente a fé pode perceber. João faz, ao mesmo
tempo, uma fotografia e um “Raio-X”. Durante a leitura, é bom prestar muita
atenção aos pormenores do texto, sobretudo a duas coisas: 1) – as atitudes e
comportamentos das pessoas e 2) – a falta e abundância que aparecem na festa
das bodas de Caná.
* Quando dizemos “fotografia”,
indicamos os factos em si, tal como aparecem diante dos nossos olhos.
Quando dizemos “Raio-X”, referimo-nos à dimensão mais profunda, invisível aos
olhos, que se encontra nos factos que só a fé nos faz perceber e no-la revela.
* É no modo de descrever os
factos que João faz os “Raios-X” às palavras e aos gestos de Jesus.
Mediante estes pormenores e alusões, o evangelista põe em relevo a dimensão
simbólica e, fazendo assim, ajuda-nos a penetrar mais profundamente no mistério
da pessoa e da mensagem de Jesus. Nas bodas de Caná, na Galileia, opera-se a
transformação da água das purificações dos judeus em vinho para a festa das
bodas. Vejamos de perto os pormenores com que João descreve a festa de modo que
possamos compreender o significado mais profundo deste belo e tão conhecido
episódio.
* João 2, 1-2: Festa das
bodas. Jesus está convidado. No Antigo Testamento a festa das bodas era
símbolo do amor de Deus para com o seu povo. Era o que todos esperavam no
futuro (Os 2, 21-22; Is 62, 4-5). E é precisamente numa festa de bodas, junto a
uma família e a uma comunidade, que Jesus realiza o seu “primeiro sinal” (Jo 2,
11). A Mãe de Jesus encontra-se também na festa. Jesus e os seus discípulos
foram convidados. Ou seja, a Mãe de Jesus fazia parte da festa. Simboliza o
Antigo Testamento. Também Jesus está presente mas com veste de convidado. Ele não
faz parte do Antigo Testamento. Com os seus discípulos ele é o Novo Testamento
que está a chegar. A Mãe de Jesus ajudará a passar do Antigo para o Novo
Testamento.
* João 2, 3-5: Jesus e sua Mãe
perante a falta de vinho. A Mãe de Jesus reconhece os limites do Antigo
Testamento e toma a iniciativa para que se manifeste o Novo Testamento.
Aproxima-se de Jesus e diz-lhe: “Não têm vinho”. Aqui aparece tanto a foto como
o “Raio-X”. A foto representa a Mãe de Jesus como pessoa atenta aos problemas
dos outros de tal modo que se dá conta que a falta de vinho arruinaria a festa.
E não só constata o problema mas toma a iniciativa para o resolver. O Raio-X
revela a dimensão mais profunda da relação entre o Antigo Testamento (a Mãe de
Jesus) e o Novo Testamento (Jesus). A frase “não têm vinho!”, procede do Antigo
Testamento e desperta em Jesus a ação que fará nascer o Novo. Jesus diz:
“Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo?”. Ou seja, qual é o nexo entre o
Antigo e o Novo Testamento? “Ainda não chegou a minha hora”. Maria não entende
a resposta como uma negação visto que diz aos serventes: “Fazei tudo o que ele
vos disser”. Atuando deste modo, Jesus ensina como se passa do Antigo para o
Novo Testamento. A hora de Jesus, em que se fará a passagem do Antigo para o
Novo Testamento, é a sua paixão, morte e ressurreição. A mudança de água em
vinho é a indicação antecipada do Novo, que nascerá a partir da morte e da
ressurreição de Jesus.
* Pelos fins do século
primeiro discutia-se entre os primeiros cristãos acerca da validade do Antigo
Testamento. Alguns já não queriam saber nada do Antigo Testamento. Na
reunião dos Apóstolos em Jerusalém, São Tiago defendeu a continuidade do uso do
Antigo Testamento (At 15, 13-21). Na verdade, nos princípios do século segundo,
Marcião rejeitou o Antigo Testamento e ficou somente pelos livros do Novo
Testamento. Alguns sustentavam, inclusivamente, que depois da vinda do Espírito
Santo não se devia recordar mais Jesus de Nazaré, mas falar unicamente de Jesus
Ressuscitado. Em nome do Espírito Santo diziam: “Anátema seja Jesus” (1Cor 12,
3).
* João 2, 6: As vasilhas da
purificação estão vazias. Trata-se de um pequeno detalhe mas muito
significativo. As vasilhas costumavam estar sempre cheias, sobretudo durante
uma festa. Aqui estão vazias! Por que? A observância da lei da pureza,
simbolizada pelas seis vasilhas, esgotou todas as suas possibilidades. A antiga
lei conseguiu já preparar as pessoas para poder estar em união de graça e de
justificação diante de Deus. As vasilhas, a antiga aliança, estão vazias. Já
não podem gerar uma vida nova.
* João 2, 7-8: Jesus e os
serventes. A recomendação da Mãe de Jesus aos serventes é a última grande
ordem do Antigo Testamento: “Fazei tudo o que ele vos disser!”. O Antigo
Testamento olha já para Jesus. De agora em diante as palavras e os gestos de
Jesus marcarão a vida. Jesus chama os serventes e ordena-lhes que encham as
seis vasilhas. No total, mais de seiscentos litros! De imediato manda levar ao
chefe de mesa. Esta iniciativa de Jesus acontece sem que os donos da festa
intervenham. Nem Jesus, nem a Mãe, nem os serventes eram os donos, obviamente.
Nenhum deles pediu autorização aos donos. A renovação passa pelas pessoas que
não pertencem ao centro do poder.
* João 2, 9-10: Descoberta do
sinal por parte do dono da casa. O chefe de mesa prova a água transformada
em vinho e diz ao esposo: “Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois
de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho
até agora!”. O chefe de mesa, o Antigo Testamento, reconhece publicamente que o
Novo é melhor! Onde antes estava a água para os ritos de purificação dos
judeus, agora há vinho em abundância para a festa. Era muito vinho! Mais de
seiscentos litros, e a festa estava quase no fim. Qual é o sentido desta abundância?
Que se faz com o vinho que sobra? Estamos a bebê-lo hoje!
* João 2, 11-12: Comentário do
evangelista. Este é o primeiro sinal. No quarto Evangelho, o primeiro sinal
acontece para ajudar na reconstrução da família, da comunidade, para sanar as
relações de base entre as pessoas. Seguir-se-ão outros sinais. João não utiliza
a palavra milagre, mas a palavra sinal. A palavra sinal indica que as ações de
Jesus em favor das pessoas têm um valor profundo, que só se descobre com o
“Raio-X” da fé. A pequena comunidade que se formou à volta de Jesus naquela
semana, vendo o sinal, estava já capacitada para perceber o significado mais
profundo e “acreditou n'Ele”.
* Bodas muito esperadas. No
Evangelho de João, o começo da vida pública de Jesus acontece numa festa de
bodas, momento de muita alegria e de muita esperança. Por isso mesmo, as bodas
de Caná têm um significado simbólico muito forte. Na Bíblia, o matrimónio é a
imagem utilizada para significar a realização da perfeita união entre Deus e o
seu povo. Estas bodas entre Deus e o seu povo eram esperadas desde há muito
tempo, mais de oitocentos anos!
* Foi o profeta Oseias (por
volta do ano 750 antes de Cristo) que, pela primeira vez, representou a
esperança destas bodas quando narra a parábola da infidelidade do povo perante
as propostas de Yahvé. A monarquia de Israel abandonou Yahvé e a sua
misericórdia, conduzindo o povo para o culto de falsos deuses. Mas o profeta,
seguro do amor de Deus, diz que o povo será de novo conduzido ao deserto para
escutar da parte de Deus a seguinte promessa: “Far-te-ei minha esposa para
sempre, far-te-ei minha esposa na justiça e no direito, na benevolência e no
amor, e desposar-te-ei na fidelidade e tu reconhecerás o Senhor” (Os 2, 21-22).
Estes esponsais entre Deus e o povo indica que o ideal do êxodo será alcançado
(Os 2, 4-25). Depois de quase cento e cinquenta anos, o profeta Jeremias volta
a tomar as palavras de Oseias para denunciar a monarquia de Judá. E diz que
Judá terá o mesmo destino de Israel por causa da sua infidelidade (Jer 2, 2-5;
3, 11-13). Mas também Jeremias olha para a esperança de uns desposórios
perfeitos com a seguinte novidade: será a mulher que seduzirá o marido (Jer 31,
22). E apesar da crise geral causada pelo desterro na Babilónia, o povo não
perde a esperança de que um dia este desposório realizar-se-á. Yahvé terá
compaixão da sua esposa abandonada (Is 54, 1-8). Com o regresso dos
desterrados, a “Abandonada” voltará a ser a esposa acolhida com muita alegria
(Is 62, 4-5).
* Olhando para a Novidade que
chega, também João Baptista olha para Jesus, o Esposo esperado (Jo 3, 29).
No ensinamento e nos diálogos com as pessoas, Jesus retoma a parábola de
Oseias, o sonho das bodas perfeitas. Ele apresenta-se como o Esposo esperado
(Mc 2, 19). No diálogo com a samaritana, apresenta-se como o verdadeiro Esposo,
o sétimo (Jo 4, 16-17). As comunidades cristãs aceitaram Jesus como o Esposo
esperado (2Cor 11, 2; Ef 5, 25-31). As bodas de Caná querem demonstrar que
Jesus é o verdadeiro Esposo que chega para as tão esperadas bodas, portanto, um
vinho gostoso e abundante. Estas bodas definitivas estão descritas com belas
imagens no livro do Apocalipse (Ap 19, 7-8; 21, 1; 22, 5).
* A Mãe de Jesus no Evangelho
de João. Ainda que não seja chamada com o nome de Maria, a Mãe de Jesus
aparece duas vezes no Evangelho de João: no princípio, nas bodas de Caná (Jo 2,
1-5) e, no final, aos pés da Cruz (Jo 19, 25-27). Nos dois casos representa o
Antigo Testamento que espera a chegada do Novo, e nos dois casos, contribuiu
para a chegada do Novo. Maria é o laço entre o que havia antes e o que virá
depois. Em Caná, a Mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, é aquela que se
dá conta dos limites do Antigo Testamento e dá os passos para que possa
aparecer o Novo. Aos pés da Cruz, está junto ao “discípulo amado”. O discípulo
amado é a comunidade que cresce à volta de Jesus, é o filho que nasce do Antigo
Testamento. À petição de Jesus, o filho, o Novo Testamento, recebe a Mãe, o
Antigo Testamento, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos. Na verdade, o
Novo não se entende sem o Antigo. O Novo não terá base, fundamento. E o Antigo
sem o Novo seria incompleto: uma árvore sem frutos.
* Os sete dias da nova criação.
O texto começa: “Ao terceiro dia” (Jo 2, 1). No capítulo anterior, João
repetiu já por três vezes a expressão “No dia seguinte” (Jo 1, 29.35.43).
Fazendo os cálculos, isto apresenta o seguinte esquema: o testemunho de João
Baptista acerca de Jesus (Jo 1, 29) acontece no primeiro dia. “No dia seguinte”
(Jo 1, 29), ou seja, o segundo dia, acontece o baptismo de Jesus (Jo 1, 29-34).
No terceiro dia ocorre o chamamento dos discípulos e de Pedro (Jo 1, 35-42). No
quarto dia, Jesus chama Filipe e Natanael (Jo 1, 43-51). Finalmente, “três dias
depois”, isto é, no sétimo dia, ou seja em pleno sábado, acontece o primeiro
sinal das bodas de Caná (Jo 2, 1). Ao longo do Evangelho de João Jesus
realizará sete sinais.
* João utiliza o esquema da
semana para apresentar o começo da atividade de Jesus. O Antigo Testamento
serve-se do mesmo esquema para apresentar a criação. Nos primeiros seis dias
Deus criou todas as coisas chamando-as pelo seu nome. No sétimo dia descansou e
não trabalhou mais (Gen 1, 1-2, 4). Igualmente Jesus nos seis primeiros dias de
atividade chama as pessoas e cria a comunidade, a nova humanidade. No sétimo
dia, ou seja, no sábado, Jesus não repousa, mas realiza o seu primeiro sinal.
Ao longo dos capítulos seguintes, de 2 a 19 inclusive, realizará seis sinais,
sempre ao sábado (Jo 5, 16; 9, 14). Na manhã da ressurreição, quando Maria
Madalena vai ao sepulcro, diz-se: “No primeiro dia da semana” (Jo 20, 1): é o
primeiro dia da nova criação, depois daquele sábado prolongado em que Jesus faz
os sete sinais.
* Acusado de trabalhar ao
sábado, Jesus responde: “Meu Pai sempre trabalha, e também eu trabalho” (Jo 5,
17). Através da atividade de Jesus entre Caná e a Cruz, o Pai completa o
que falta na velha criação, de modo que possa aparecer a nova criação na
ressurreição de Jesus.
Meditação
Jesus veio revelar-nos Deus como
um Pai bondoso e terno, que fica feliz quando pode amar os seus filhos. É esse
o “vinho” que Jesus veio trazer para alegrar a “aliança”: o “vinho” do amor de
Deus, que produz alegria e que nos leva à festa do encontro com o Pai e com os
irmãos. A nossa “religião” é isto mesmo – o encontro com o Jesus que nos dá o
vinho do amor?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO