segunda-feira, 13 de outubro de 2025

15 de outubro: Santa Teresa de Jesus, virgem e doutora da Igreja

1ª Leitura (Rom 2,1-11):
Não tens desculpa, quem quer que sejas, tu que julgas os outros. Ao julgares os outros, condenas-te a ti próprio, pois tu, que te fazes juiz, cometes as mesmas ações. Ora nós sabemos que o juízo de Deus se exerce conforme a verdade contra aqueles que praticam essas ações. E tu, que fazes as mesmas coisas que condenas nos outros, pensas que te furtarás ao juízo de Deus? Ou desprezas as riquezas da sua bondade, paciência e magnanimidade, não reconhecendo que a bondade de Deus te convida à conversão? Pela tua obstinação e pelo teu coração impenitente, estás a acumular contra ti um tesouro de ira para o dia da ira, em que se revelará o justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo as suas obras: a vida eterna para aqueles que, perseverando na prática das boas obras, procuram a glória, a honra e a imortalidade; a ira e a indignação para aqueles que, pela sua rebeldia, rejeitam a verdade e obedecem à injustiça. Tribulação e angústia para todo o homem que pratica o mal: primeiro para o judeu, mas também para o não judeu; glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem: primeiro para o judeu, mas também para o não judeu. Porque Deus não faz acepção de pessoas.
 
Salmo Responsorial: 61
R. Só em Deus descansa, ó minha alma.
 
Só em Deus descansa a minha alma, d’Ele me vem a salvação. Ele é meu refúgio e salvação, minha fortaleza: jamais serei abalado.
 
Minha alma, só em Deus descansa: d’Ele vem a minha esperança. Ele é meu refúgio e salvação, minha fortaleza: jamais serei abalado.
 
Povo de Deus, em todo o tempo ponde n’Ele a vossa confiança, desafogai em sua presença os vossos corações. Deus é o nosso refúgio.
 
Aleluia. As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 11,42-46): Naquele tempo, o Senhor disse: «Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Isto é que deveríeis praticar, sem negligenciar aquilo. Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro assento nas sinagogas e de serdes cumprimentados nas praças. Ai de vós, porque sois como túmulos que não se veem, sobre os quais as pessoas andam sem saber». Um doutor da Lei tomou a palavra e disse: «Mestre, falando assim, insultas também a nós!». Jesus respondeu: «Ai de vós igualmente, doutores da Lei, porque carregais as pessoas com fardos insuportáveis, e vós mesmos, nem com um só dedo, não tocais nesses fardos!».
 
«Isto é que deveríeis praticar, sem negligenciar aquilo»
 
Rev. D. Joaquim FONT i Gassol (Igualada, Barcelona, Espanha)
 
Hoje o Divino Mestre dá-nos algumas lições: entre elas, fala-nos dos dízimos e também da coerência que devem ter os educadores (pais, mestres e todo cristão apóstolo). No Evangelho segundo São Lucas da Missa de hoje, o ensino aparece de maneira mais sintética, mas nas passagens paralelas de Mateus (23,1ss.) é bastante extenso e concreto. Todo o pensamento do Senhor conclui em que a alma de nossa atividade deve de ser a justiça, a caridade, a misericórdia e a fidelidade (cf. Lc 11,42).
 
Os dízimos no Antigo Testamento e nossa atual colaboração com a Igreja, segundo as leis e os costumes, vão na mesma linha. Mas dando o valor da lei obrigatória às pequenas coisas—como o faziam os Mestres da Lei— é exagerado e fadigoso: «Ai de vós igualmente, doutores da Lei, porque carregais as pessoas com fardos insuportáveis, e vós mesmos, nem com um só dedo, não tocais nesses fardos!» (Lc 11,46).
 
É verdade que as pessoas que afinam têm delicadezas de generosidade. Tivemos vivências recentes de pessoas que da colheita trazem para a Igreja —para o culto e para os pobres— 10% (o dízimo); outros que reservam a primeira flor (as primícias), o melhor fruto do seu horto; ou também oferecem a mesma quantia que gastaram na viagem de lazer ou de férias; outros trazem o produto preferido do seu trabalho, tudo isso com o mesmo fim. Adivinha-se aí assimilado, o espírito do Santo Evangelho. O amor é engenhoso; das coisas pequenas obtém alegrias e méritos perante Deus.
 
O bom pastor passa na frente do rebanho. Os bons pais são modelo: o exemplo arrasta. Os bons educadores esforçam-se em viver as virtudes que ensinam. Isso é a coerência. Não só com um dedo, senão com a mão toda: Vida de Sacrário, devoção à Virgem, pequenos serviços no lar, difundir bom humor cristão... «As almas grandes dão-se conta das pequenas coisas» (São Josemaria).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Fazei tudo por Amor. Portanto, não há pequenas obras: tudo é grande. A perseverança nas pequenas coisas, por Amor, é heroísmo» (São Josemaria)
 
«Muitos podem conhecer a ciência, mesmo a teologia. Mas se eles não fizerem essa teologia de joelhos, ou seja, humildemente, como os pequenos, não compreenderão nada» (Francisco)
 
«Jesus (...) muitas vezes argumentou, no quadro da interpretação rabínica da Lei (366). Mas, ao mesmo tempo, Jesus tinha forçosamente de Se confrontar com os doutores da Lei porque não Se contentava com propor a sua interpretação a par das deles: ‘ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas’ (Mt 7, 28-29)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 581)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* No Evangelho de hoje continua o relacionamento conflituoso entre Jesus e as autoridades religiosas da época.
Hoje, na igreja acontece o mesmo conflito. Numa determinada diocese, o bispo convocou os pobres a participar ativamente. Eles atenderam ao pedido e em grande número começaram a participar. Surgiu um grave conflito. Os ricos diziam que foram excluídos e alguns sacerdotes começaram a dizer: “O bispo só faz política e esquece o evangelho!”
 
* Lucas 11,42: Ai de vocês, que deixam de lado a justiça e o amor. “Ai de vocês, fariseus, porque vocês pagam o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixam de lado a justiça e o amor de Deus. Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”.  Esta crítica de Jesus contra os líderes religiosos daquela época pode ser repetida contra muitos líderes religiosos dos séculos seguintes, até hoje. Muitas vezes, em nome de Deus, insistimos em detalhes e esquecemos a justiça e o amor. Por exemplo, o jansenismo tornou árida a vivência da fé, insistindo em observâncias e penitências que desviaram o povo do caminho do amor. A irmã carmelita Santa Teresa de Lisieux foi criada nesse ambiente jansenista que marcava a França no fim do século XIX. Foi a partir de uma dolorosa experiência pessoal, que ela soube recuperar a gratuidade do amor de Deus como a força que deve animar por dentro a observância das normas. Pois, sem a experiência do amor, as observâncias fazem de Deus um ídolo.
 
A observação final de Jesus dizia: “Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”. Esta advertência  faz lembrar uma outra observação de Jesus que serve de comentário: "Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. Eu garanto a vocês: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem sequer uma letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça. Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino do Céu. Com efeito, eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu" (Mt 5,17-20)
 
*  Lucas 11,43: Ai de vocês, que gostam dos lugares de honra. “Ai de vocês, fariseus, porque gostam do lugar de honra nas sinagogas, e de serem cumprimentados em praças públicas”.  Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento hipócrita de alguns fariseus. Estes tinham gosto em circular pelas praças com longas túnicas, receber as saudações do povo, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes (cf. Mt 6,5; 23,5-7). Marcos acrescenta que eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de dinheiro! Pessoas assim vão receber um julgamento mais severo (Mc 12,38-40). Hoje acontece o mesmo na nossa igreja.
 
*  Lucas 11,44: Ai de vocês, túmulos escondidos. “Ai de vocês, porque são como túmulos que não se veem, e os homens pisam sobre eles sem saber". Lucas modificou a comparação. Em Mateus se diz: “Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23,27-28).  A imagem de “sepulcros caiados” fala por si e não precisa de comentário. Por meio dela, Jesus condena os que mantêm uma aparência fictícia de pessoa correta, mas cujo interior é a negação total daquilo que querem fazer aparecer para fora. Lucas fala em sepulcros escondidos: “Ai de vocês, porque são como túmulos que não se veem, e os homens pisam sobre eles sem saber". Quem pisa ou toca num sepulcro torna-se impuro, mesmo quando o sepulcro existe escondido debaixo do chão. A imagem é muito forte: por fora, o fariseu de sempre parece justo e bom, mas esse aspecto é um engano, pois dentro dele existe um sepulcro escondido que, sem o povo se dar conta, espalha um veneno que mata, comunica uma mentalidade que afasta de Deus, sugere uma compreensão errada da Boa Nova do Reino. Uma ideologia que faz do Deus vivo um ídolo morto!
 
* Lucas 11,45-46: Crítica do doutor da lei e a resposta de Jesus. “Um especialista em leis tomou a palavra, e disse: "Mestre, falando assim insultas também a nós!"  Na resposta Jesus não voltou atrás mas deixou bem claro que a mesma crítica valia também para os escribas: "Ai de vocês também, especialistas em leis! Porque vocês impõem sobre os homens cargas insuportáveis, e vocês mesmos não tocam essas cargas nem com um só dedo”. No Sermão da Montanha, Jesus expressou a mesma crítica que serve de comentário: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vocês devem fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,2-4). 
 
Para um confronto pessoal
1) A hipocrisia mantém uma aparência enganadora. Até onde atua em mim a hipocrisia? Até onde a hipocrisia atua na nossa igreja?
2) Jesus criticava os escribas que insistiam na observância disciplinar das coisas miúdas da lei como dízimo da hortelã, da arruda e de todas as ervas, e esqueciam de insistir no objetivo da lei que é a prática da justiça e do amor. Vale para mim esta crítica?

domingo, 12 de outubro de 2025

15 de outubro

Santa Teresa de Jesus
Virgem de Nossa Ordem e Doutora da Igreja
Patrona da Ordem Terceira do Carmo
 

Nasceu em Ávila (Espanha) no ano 1515. Tendo entrado na Ordem das Carmelitas, fez grandes progressos no caminho da perfeição e teve revelações místicas. Ao empreender a reforma da Ordem teve de sofrer muitas tribulações, mas tudo suportou com coragem invencível. A doutrina profunda que escreveu nos seus livros é fruto das suas experiências místicas. Morreu em Alba de Tormes (Salamanca) no ano 1582.
 
INVITATÓRIO
R. Ao Senhor, Fonte da Sabedoria, vinde adoremos!
 
LAUDES
Hino
Deixando teus pais, Teresa,
quiseste aos mouros pregar,
trazê-los todos ao Cristo,
ou teu sangue derramar.
Pena porém mais suave
o Esposo a ti reservou:
tombares de amor ferida,
ao dardo que te enviou.
Acende, pois, nossas almas,
na chama do eterno amor:
jamais vejamos do inferno
o fogo devorador.
Louvamos contigo ao Filho,
que ao trino Deus nos conduz;
ele é o Jesus de Teresa,
Tu, Teresa de Jesus!
 
Ant 1. A minha alma tem sede de vós e por vós suspira, ó meu Deus.
 
Salmos e cântico do domingo da I Semana
 
Ant 2. Todas as criaturas vos agradeçam, Senhor, e os vossos santos com louvores vos bendigam.
 
Ant. 3. As vossas misericórdias, Senhor, eternamente cantarei na assembleia dos vossos santos.
 
Leitura Breve - 2Cor 4,5-7
Não nos pregamos a nós mesmos, pregamos a Jesus Cristo, o Senhor. Quanto a nós, apresentamo-nos a vós como vossos servos por causa de Jesus. Pois o Deus que disse: "Das trevas brilhe a luz!", foi ele quem reluziu em nossos corações, para que brilhe em todo o seu esplendor o conhecimento da sua glória, que se reflete no rosto de Cristo. Ora trazemos este tesouro em vasos de argila, para que reconheçam todos que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós.
 
Responsório breve
R. Falou-me o coração * é a vossa face que eu procuro, Senhor.
R. Falou-me o coração.
V. Senhor, a vossa face eu procuro. * É a vossa face.
Glória ao Pai. R. Falou-me o coração.
 
Cântico evangélico
Ant. Quem me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e a ele me manifestarei.
 
Preces
Aclamemos com alegria o Senhor da Glória, a Coroa de todos os Santos, que nos concedeu hoje a graça de celebrarmos Santa Teresa; e digamos:
 
R. Glória a vós, Senhor!
 
Senhor, fonte de vida e de santidade, que manifestais nos vossos Santos as maravilhas da vossa graça,
- queremos com Santa Teresa cantar eternamente as vossas misericórdias. R.
 
Vós, que desejais abrasar todo o mundo com o fogo do vosso Amor,
- fazei que sejamos, como Santa Teresa, servidores do vosso Amor entre os nossos irmãos. R.
 
Vós, que revelais aos vossos Anjos os mistérios do vosso coração,
- associai-nos mais a vós, para que, tendo experimentado melhor o vosso amor em nós, conduzamos os irmãos para vós. R.
 
Vós, que proclamastes bem-aventurados os puros de coração e prometestes que haveriam de ver-vos,
- purificai o nosso olhar, para que vos descubramos em todas as criaturas e nos elevemos sempre para vós. R.
 
Vós, que resistis aos soberbos e dais inteligência aos simples,
- fazei que sejamos humildes de coração, para adquirirmos em benefício de toda a Igreja a sabedoria, que nos enriquece. R.
 
(intenções livres)
 
Pai nosso...
 
Oração
Ó Deus, que pelo Espírito Santo fizestes surgir Santa Teresa para recordar à Igreja o caminho da perfeição, dai-nos encontrar sempre alimento em sua doutrina celeste e sentir em nós o desejo da verdadeira santidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
 
VÉSPERAS
Hino
Este é o dia em que Teresa,
qual pomba de branca alvura,
à terra tão pouco presa,
o templo do céu procura.
As falas do Espírito escuta:
Amada, vem do Carmelo!
Esquece, irmã, tua gruta,
que o meu amor é mais belo.
Cantemos o Esposo amado,
que vem desposar Teresa
com seu anel de noivado
e a lâmpada sempre acesa.
 
Ant.1. O Senhor mostrou-me a Cidade Santa, resplandecente da Glória de Deus, e brilhava como pedra preciosíssima.
 
Salmos e Cântico do Comum das Virgens ou dos Doutores da Igreja.
 
Ant.2. Esta é a morada de Deus entre os homens: no meio deles vai habitar o Senhor.
 
Ant.3. Procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu Corpo, isto é, a Igreja.
 
Leitura breve – Jd 20-21
Vós, porém, caríssimos, edificai-vos mutuamente sobre o fundamento da vossa santíssima fé; rezai no Espírito Santo, de modo que vos mantenhais no amor de Deus, aguardando a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna.
 
Responsório breve
R. Vós sois * o templo do Deus Vivo. R. Vós sois.
V. E o Espírito de Deus habita em vós. * O templo.
Glória ao Pai. R. Vós sois.
 
Cântico Evangélico
Ant. Não se perturbe o vosso coração: na casa de meu Pai existem muitas moradas e eu vou preparar um lugar para vós.
 
Preces
Glorifiquemos a Cristo, que amou a sua Igreja e se entregou por ela para santificá-la; e pedindo-lhe que a conserve sempre santa e imaculada em todos os seus membros, digamos com muita confiança:
 
R. Protegei, Senhor, a vossa Igreja!
 
Vós, que sois a Cabeça da Igreja, que alimentais e protegeis.
- fazei que todos os fiéis permaneçam sempre unidos convosco pela fé e pela caridade. R.
 
Vós, que edificastes a Igreja sobre o fundamento dos Apóstolos e, por meio deles, nos ensinais a verdade e nos conduzis à vossa mesa,
- iluminai e dirigi aqueles que colocastes à sua frente. R.
 
Vós, que amastes e escolhestes alguns membros do vosso povo, para que anunciassem a vossa palavra aos irmãos,
- enviai trabalhadores para a vossa messe. R.
 
Vós, que não cessais de chamar discípulos que, para edificação da Igreja, vos seguem mais de perto na castidade, pobreza e obediência,
- fazei que todos os religiosos, tendo a Virgem Maria por Mãe e Mestra, vos sigam e sirvam fielmente. R.
 
Vós, que suscitastes na Igreja a família do Carmelo,
- concedei aos Carmelitas a graça da fidelidade ao espírito de oração e de zelo apostólico, a exemplo de Santa Teresa. R.
 
(intenções livres)
 
Vós, que morrestes para nos justificar e ressuscitastes para nos livrar da morte eterna,
- concedei aos nossos irmãos e irmãs falecidos a alegria da Páscoa eterna na comunhão com Maria e todos os vossos Santos. R.
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Ó Deus, que pelo Espírito Santo fizestes surgir Santa Teresa para recordar à Igreja o caminho da perfeição, dai-nos encontrar sempre alimento em sua doutrina celeste e sentir em nós o desejo da verdadeira santidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Terça-feira da 28ª semana do Tempo Comum

 Nossa Senhora Divina Pastora, Mãe, Rainha e Padroeira do Estado de Sergipe
São Gonçalo de Lagos, presbítero
 
1ª Leitura (Rom 1,16-25):
Irmãos: Não me envergonho do Evangelho, que é a força de Deus para a salvação de todo o crente: do judeu primeiramente, mas também do não judeu. Porque no Evangelho se revela a justiça de Deus, que tem origem na fé e conduz à fé, como está escrito: ‘O justo viverá pela fé’. Na verdade, a ira de Deus manifesta-se do alto do Céu contra toda a impiedade e injustiça dos homens, que na sua injustiça abafam a verdade. De facto, o que se pode conhecer de Deus é manifesto para eles, porque Deus lho manifestou. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade tornam-se, pelas suas obras, visíveis à inteligência. Deste modo, eles não têm desculpa, porque, conhecendo a Deus, não O glorificaram como Deus nem Lhe deram graças. Ao contrário, entregaram-se aos seus vãos raciocínios e o seu coração insensato encheu-se de trevas. Pretendendo ser sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória de Deus imortal por imagens que representam homens mortais, aves, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou, segundo os desígnios dos seus corações, à impureza com que desonram os seus corpos. Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira, prestaram culto e adoração às criaturas em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém.
 
Salmo Responsorial: 18
R. Os céus proclamam a glória de Deus.
 
Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite.
 
Não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia até aos confins do mundo.
 
Aleluia. A palavra de Deus é viva e eficaz, conhece os pensamentos e intenções do coração. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 11,37-41): Naquele tempo, enquanto Jesus estava falando, um fariseu o convidou para jantar em sua casa. Jesus foi e pôs-se à mesa. O fariseu ficou admirado ao ver que ele não tinha feito a lavação ritual antes da refeição. O Senhor disse-lhe: Vós, fariseus, limpais por fora o copo e a travessa, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades. Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai em esmola o que está dentro, e tudo ficará puro para vós.
 
«Antes, dai em esmola o que está dentro, e tudo ficará puro para vós»
 
Rev. D. Pedro IGLESIAS Martínez (Ripollet, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o evangelista situa a Jesus num banquete: Um fariseu rogou-lhe que fora a comer com ele (Lc 11,37). A boas horas teve tal ocorrência! Que cara deveu pôr o anfitrião quando o convidado saltou a norma ritual de se lavar (que não era um preceito da Lei, senão da tradição dos antigos rabinos) e além disso lhes censurou categoricamente a ele e ao seu grupo social. O fariseu não acertou no dia e, o comportamento de Jesus, como dizemos hoje, não foi politicamente correto.
 
Os evangelhos mostram-nos que ao Senhor lhe importava pouco o que dirão e o politicamente correto; por isso, pese a quem pese, ambas coisas não devem ser norma de atuação de quem se considere cristão. Jesus condena claramente a atuação própria da dupla moral, a hipocrisia que procura conveniência ou o engano: Vós, fariseus, limpais por fora o copo e a travessa, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades (Lc 11,39). Como sempre, a Palavra de Deus nos interpela sobre usos e costumes de nossa vida quotidiana, na que acabamos convertendo em valores ciladas que tentam dissimular os pecados de soberbia, egoísmo e orgulho, numa tentativa de globalizar a moral no politicamente correto, para não destoar e não ficar marginados, sem que importe o preço a pagar, nem como enegreçamos nossa alma, pois, afinal de contas, todo mundo o faz.
 
Dizia São Basilio que de nada deve fugir o homem prudente tanto como de viver segundo a opinião dos demais. Se somos testemunhas de Cristo, temos de saber que a verdade sempre é e será verdade, ainda que chovam chuços. Esta é nossa missão no meio dos homens com quem compartilhamos a vida, tentando nos manter limpos segundo o modelo de homem que Deus nos revela em Cristo. A limpeza do espírito passa acima das formas sociais e, se em algum momento surge-nos a dúvida, lembre-se que os limpos de coração verão a Deus. Que a cada um escolha o objetivo de sua mirada para toda a eternidade.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«As coisas parecem-nos menos difíceis quando as vemos feitas nos outros» (Santo Ambrósio)
 
«A fé vai antes de tudo da palavra à ideia, mas sempre tem que voltar da ideia à palavra e à ação» (Bento XVI)
 
«Os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos. Testemunham esta responsabilidade, primeiro pela criação dum lar onde são regra a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado. O lar é um lugar apropriado para a educação das virtudes (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.223)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* No evangelho de hoje continua o relacionamento tenso entre Jesus e as autoridades religiosas daquele tempo.
Apesar de tenso, havia algo de familiar entre Jesus e os fariseus. Convidado para jantar na casa deles, Jesus aceita o convite. Jesus não perde a liberdade diante deles, nem os fariseus diante de Jesus.
 
* Lucas 11,37-38: Admiração do fariseu diante da liberdade de Jesus. “Enquanto Jesus falava, um fariseu o convidou para jantar em casa. Jesus entrou, e se pôs à mesa. O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não tinha lavado as mãos antes da refeição”. Jesus aceita o convite para jantar na casa do fariseu, mas não muda o seu modo de agir, pois senta-se à mesma sem lavar as mãos. Nem o fariseu muda de atitude frente a Jesus, pois expressa a sua admiração pelo fato de Jesus não lavar as mãos. Naquele tempo, lavar as mãos antes das refeições era uma obrigação religiosa, imposta ao povo em nome da pureza, exigida pela lei de Deus. O fariseu estranhou o fato de Jesus não observar esta norma religiosa. Mesmo assim, apesar de totalmente diferentes, o fariseu e Jesus tinham algo em comum: a seriedade de vida. O jeito de viver dos fariseus era assim: cada dia, dedicavam oito horas ao estudo e à meditação da lei de Deus, outras oito horas ao trabalho para poder sobreviver com a família e oito horas ao descanso. Este testemunho sério da sua vida dava a eles uma grande liderança popular. Talvez seja por isso, que, apesar de totalmente diferentes, os dois, Jesus e os fariseus, se entendiam e se criticavam mutuamente, sem perder a possibilidade do diálogo.
 
* Lucas 11,39-41: A resposta de Jesus. “Vocês, fariseus, limpam o copo e o prato por fora, mas o interior de vocês está cheio de roubo e maldade. Gente sem juízo! Aquele que fez o exterior, não fez também o interior? Antes, deem em esmola o que vocês possuem, e tudo ficará puro para vocês”. Os fariseus observavam a lei ao pé da letra. Olhavam só a letra e, por isso, eram incapazes de perceber o espírito da lei, o objetivo que a observância da lei queria alcançar na vida das pessoas. Por exemplo, na lei está escrito: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Lv 19,18). E eles comentavam: “Devemos amar o próximo, sim, mas só o próximo, os outros não!” E daí nascia a discussão em torno da questão: “Quem é meu próximo?” (Lc 10,29) O apóstolo Paulo escreve na sua segunda carta aos Coríntios: “A letra mata, é o espírito que dá vida à letra” (2Cor 3,6). No Sermão da Montanha, Jesus critica os que observam a letra da lei mas transgredem o espírito da lei (Mt 5,20). Para ser fiel ao que Deus pede de nós não basta observar só a letra da lei. Isto seria o mesmo que limpar o copo e o prato por fora e deixar o interior cheio de sujeira: roubo e maldade. Não basta não matar, não roubar, não cometer adultério, não jurar. Só observa plenamente a lei de Deus aquele que, para além da letra, vai até à raiz e arranca de dentro de si os desejos de “roubo e de maldade” que possam levar ao assassinato, ao roubo, ao adultério. É na prática do amor que se realiza a plenitude da lei (cf. Mt 5,21-48).
 
Para um confronto pessoal
1) Nossa Igreja hoje merece esta acusação de Jesus contra os escribas e fariseus? Eu mereço?
2) Respeitar a seriedade de vida dos outros que pensam diferente de nós pode facilitar o diálogo tão necessário e tão difícil hoje em dia. Como pratico o diálogo na família, no trabalho e na comunidade?

sábado, 11 de outubro de 2025

Segunda-feira da 28ª semana do Tempo Comum

Santo Eduardo, o Confessor, Rei da Inglaterra
Beata Alexandrina Maria da Costa, Virgem
 
1ª Leitura (Rom 1,1-7):
Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por chamamento divino, escolhido para o Evangelho que Deus tinha de antemão prometido pelos profetas nas Sagradas Escrituras, acerca de seu Filho, nascido, segundo a carne, da descendência de David, mas, segundo o Espírito que santifica, constituído Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição de entre os mortos: Ele é Jesus Cristo, Nosso Senhor. Por Ele recebemos a graça e a missão de apóstolo, a fim de levarmos todos os gentios a obedecerem à fé, para honra do seu nome, dos quais fazeis parte também vós, chamados por Jesus Cristo. A todos os que habitam em Roma, amados por Deus e chamados a serem santos, a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.
 
Salmo Responsorial: 97
R. O Senhor revelou a sua salvação.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.
 
O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel.
 
Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai.
 
Aleluia. Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 11,29-32): Acorrendo as multidões em grande número, Jesus começou a dizer: «Esta geração é uma geração perversa. Busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas. De fato, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração. No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará juntamente com esta geração e a condenará, pois ela veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão, e aqui está quem é mais do que Salomão. No dia do juízo, os ninivitas se levantarão juntamente com esta geração e a condenarão; pois eles mostraram arrependimento com a pregação de Jonas, e aqui está quem é mais do que Jonas».
 
«Esta geração é uma geração perversa. Busca um sinal»
 
P. Raimondo M. SORGIA Mannai OP (San Domenico di Fiesole, Florença, Itália)
 
Hoje, a voz doce ainda que severa de Cristo põe em guarda os que estão convencidos de já ter o bilhete para o Paraíso só porque dizem: «Jesus, és tão belo!». Cristo pagou o preço da nossa salvação sem excluir ninguém, mas é necessário observar algumas condições básicas. E, entre outras, está a de não pretender que Cristo faça tudo e nós nada. Isso seria não somente necedade, mas também perversa soberba. Por isso o Senhor usa hoje a palavra perversa: «Esta geração é uma geração perversa. Busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas» (Lc 11,29). Dá-lhe o nome de perversa porque põe a condição de ver antes milagres espetaculares, para dar depois a sua eventual e condescendente adesão.
 
Nem diante dos conterrâneos de Nazaré acedeu, porque exigentes! pretendiam que Jesus assinalasse a sua missão de profeta e Messias com maravilhosos prodígios, que eles queriam saborear como espectadores sentados na poltrona de um cinema. Mas isso não pode ser: O Senhor oferece a salvação, mas só àquele que se sujeita a Ele mediante uma obediência que nasce da fé, que espera e cala. Deus pretende essa fé antecedente (que no nosso interior Ele mesmo pôs como uma semente de graça).
 
Uma testemunha contra os crentes que mantêm uma caricatura da fé será a rainha do sul, que se deslocou desde os confins da terra para escutar a sabedoria de Salomão e, acontece que «aqui está quem é mais do que Salomão» (Lc 11,31). Diz um provérbio que «não há pior surdo do que o que não quer ouvir». Cristo, condenado à morte, ressuscitará ao terceiro dia: a quem o reconheça, propõe-lhe a salvação, enquanto para os outros -regressando como um Juiz- não haverá nada a fazer, a não ser ouvir a condenação por incredulidade obstinada. Aceitemo-lo com fé e amor adiantados. O reconheceremos e nos reconhecerá como seus. Dizia o Beato Dom Alberione: «Deus não gasta a luz: acende as lâmpadas na medida que façam falta, mas sempre em tempo oportuno».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Da mesma forma que Salomão construiu aquele Templo, o verdadeiro Salomão também construiu um Templo: Cristo é o verdadeiro Salomão!» (Santo Agostinho)
 
«Ainda hoje, para as “Nínives modernas”, Deus procura mensageiros de penitência. Teremos a coragem, a fé profunda, a credibilidade necessária para alcançar os corações e abrir as portas à conversão?» (Bento XVI)
 
«Só a identidade divina da pessoa de Jesus é que pode justificar uma exigência tão absoluta como esta: ‘Quem não está comigo, está contra Mim’ (Mt 12, 30); o mesmo se diga de quando Ele afirma ser mais que Jonas, mais que Salomão, mais que o Templo (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 590)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz uma acusação muito forte de Jesus contra os fariseus e os escribas.
Eles queriam que Jesus lhes desse um sinal, pois não acreditavam nos sinais e milagres que ele estava realizando. Esta acusação de Jesus continua nos evangelhos dos próximos dias. Ao meditarmos estes evangelhos, devemos tomar muito cuidado para não generalizar a acusação de Jesus como se fosse dirigida contra todo o povo judeu. No passado, a ausência deste cuidado contribuiu, lamentavelmente, para aumentar em nós cristãos o antissemitismo que tantos males trouxe à humanidade ao longo dos séculos. Em vez de levantarmos o dedo contra os fariseus do tempo de Jesus, é melhor olharmos no espelho dos textos para perceber neles o fariseu que vive escondido na nossa igreja e em cada um de nós, e que merece a mesma crítica da parte de Jesus.
 
* Lucas 11, 29-30: O sinal de Jonas. “Quando as multidões se reuniram, Jesus começou a dizer: "Esta geração é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal de Jonas”. O evangelho de Mateus informa que eram os escribas e os fariseus que pediram um sinal (Mt 12, 38). Queriam que Jesus realizasse para eles um sinal, um milagre, para que pudessem verificar se ele era mesmo o enviado de Deus conforme eles o imaginavam. Queriam que Jesus se submetesse aos critérios deles. Queriam enquadrá-lo dentro do esquema do messianismo deles. Não havia neles abertura para uma possível conversão. Mas Jesus não se submeteu ao pedido deles. O evangelho de Marcos diz que Jesus, diante do pedido dos fariseus, soltou um profundo suspiro (Mc 8,12), provavelmente de desgosto e de tristeza diante de tão grande cegueira. Pois não adianta mostrar uma pintura bonita a quem não quer abrir os olhos. O único sinal que lhe será dado é o sinal de Jonas. “De fato, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será o Filho do Homem para esta geração”. Como será este sinal do Filho do Homem? O evangelho de Mateus responde: “Assim como Jonas passou três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem passará três dias e três noites no seio da terra” (Mt 12,40). O único sinal será a ressurreição de Jesus. Este é o sinal que, futuramente, vai ser dado aos escribas e fariseus. Jesus, por eles condenado à morte de cruz, será ressuscitado por Deus e continuará ressuscitando de muitas maneiras naqueles que nele acreditarem. O sinal que converte não são os milagres, mas sim o testemunho de vida!
 
* Lucas 11,31: Salomão e a rainha do Sul. A alusão à conversão do povo de Nínive associou e fez lembrar a conversão da Rainha de Sabá: “No dia do julgamento, a rainha do Sul se levantará contra esta geração, e a condenará. Porque ela veio de uma terra distante para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do que Salomão". Esta evocação quase ocasional do episódio da Rainha de Sabá que reconheceu a sabedoria de Salomão, mostra como se usava a Bíblia naquele tempo. Era por associação. A regra principal da interpretação era esta: “A Bíblia se explica pela Bíblia”. Até hoje, esta é uma das normas mais importantes para a interpretação da Bíblia, sobretudo para a Leitura Orante da Palavra de Deus.
 
* Lucas 11,32: Aqui está quem é maior do que Jonas. Depois da digressão sobre Salomão e a Rainha de Sabá, Jesus volta a falar do sinal de Jonas: “No dia do julgamento, os homens da cidade de Nínive ficarão de pé contra esta geração, e a condenarão. Porque eles fizeram penitência quando ouviram Jonas pregar”. O povo de Nínive se converteu diante do testemunho da pregação de Jonas e vai denunciar a incredulidade dos escribas e dos fariseus. Pois “aqui está quem é maior do que Jonas”. Jesus é maior que Jonas, maior que Salomão. Para nós cristãos, ele é a chave principal para a escritura (2Cor 3,14-18).
 
Para um confronto pessoal
1) Jesus criticou os escribas e os fariseus que chegavam a negar a evidência, tornando-se incapazes de reconhecer o apelo de Deus nos acontecimentos. E nós cristãos hoje, e eu: merecemos a mesma crítica de Jesus?
2) Nínive se converteu diante da pregação de Jonas. Os escribas e fariseus não se converteram. Hoje, os apelos da realidade provocam mudança e conversão nos povos do mundo inteiro: ameaça ecológica, urbanização que desumaniza, consumismo que massifica e aliena, injustiças, violência, etc. Muitos de nós cristãos vivemos alheios a estes apelos de Deus que vem da realidade.
 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida

São Carlo Acutis, leigo
 
Primeira Leitura (Est 5,1-2;7,2-3):
Ester revestiu-se com vestes de rainha e foi colocar-se no vestíbulo interno do palácio real, frente à residência do rei. O rei estava sentado no trono real, na sala do trono, frente à entrada. Ao ver a rainha Ester parada no vestíbulo, olhou para ela com agrado e estendeu-lhe o cetro de ouro que tinha na mão, e Ester aproximou-se para tocar a ponta do cetro. Então, o rei lhe disse: “O que me pedes, Ester; o que queres que eu faça? Ainda que me pedisses a metade do meu reino, ela te seria concedida”. Ester respondeu-lhe: “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado, concede-me a vida — eis o meu pedido! — e a vida do meu povo — eis o meu desejo!”
 
Salmo responsorial
R.  Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: que o Rei se encante com vossa beleza!
 
— Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto: “Esquecei vosso povo e a casa paterna! Que o Rei se encante com vossa beleza! Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!
 
— O povo de Tiro vos traz seus presentes, os grandes do povo vos pedem favores. Majestosa, a princesa real vem chegando, vestida de ricos brocados de ouro.
 
— Em vestes vistosas ao Rei se dirige e as virgens amigas lhe formam cortejo; entre cantos de festa e com grande alegria, ingressam, então, no palácio real”.
 
Segunda Leitura (Ap 12,1.5.13a.15-16a): Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro. Mas o filho foi levado para junto de Deus e do seu trono. Quando viu que tinha sido expulso para a terra, o dragão começou a perseguir a mulher que tinha dado à luz o menino. A serpente, então, vomitou como um rio de água atrás da mulher, a fim de a submergir. A terra, porém, veio em socorro da mulher.
 
Aleluia! Disse a mãe de Jesus aos serventes: “fazei tudo o que Ele disser!” Aleluia!
 
Evangelho (Jo 2,1-11): Naquele tempo, houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser!”. Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água!”. Encheram-nas até a boca. Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala!”. E eles levaram. O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho bom até agora!” Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
 
“Sua mãe disse aos que estavam servindo: ‘Fazei o que Ele vos disser’.” (Jo 2,5)
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
* O Evangelho desta Solenidade coloca à nossa consideração as bodas de Caná, acontecidas na Galileia.
Tanto naquele tempo como agora, as festas são apreciadas por todos, quer seja um casamento, um batizado, um aniversário, a festa do santo padroeiro ou da padroeira da igreja, fim de ano... festas e mais festas... Há algumas festas que ficam gravadas na nossa memória e que com o passar do tempo adquirem um significado cada vez mais profundo, assim como há outras que caem no mais profundo esquecimento porque perderam o seu significado. A festa das bodas de Caná, tal como é descrita no Evangelho de São João (Jo 2, 1-12), ficou gravada na memória do povo cristão e para alguns revela um sentido profundo.
 
* Para entender esta descoberta progressiva do significado das bodas de Caná, devemos recordar que o Evangelho de João é diferente dos outros Evangelhos. João narra os factos da vida de Jesus de tal modo que os leitores sejam conduzidos a descobrir neles uma dimensão mais profunda que somente a fé pode perceber. João faz, ao mesmo tempo, uma fotografia e um “Raio-X”. Durante a leitura, é bom prestar muita atenção aos pormenores do texto, sobretudo a duas coisas: 1) – as atitudes e comportamentos das pessoas e 2) – a falta e abundância que aparecem na festa das bodas de Caná.
 
* Quando dizemos “fotografia”, indicamos os factos em si, tal como aparecem diante dos nossos olhos. Quando dizemos “Raio-X”, referimo-nos à dimensão mais profunda, invisível aos olhos, que se encontra nos factos que só a fé nos faz perceber e no-la revela.
 
* É no modo de descrever os factos que João faz os “Raios-X” às palavras e aos gestos de Jesus. Mediante estes pormenores e alusões, o evangelista põe em relevo a dimensão simbólica e, fazendo assim, ajuda-nos a penetrar mais profundamente no mistério da pessoa e da mensagem de Jesus. Nas bodas de Caná, na Galileia, opera-se a transformação da água das purificações dos judeus em vinho para a festa das bodas. Vejamos de perto os pormenores com que João descreve a festa de modo que possamos compreender o significado mais profundo deste belo e tão conhecido episódio.
 
* João 2, 1-2: Festa das bodas. Jesus está convidado. No Antigo Testamento a festa das bodas era símbolo do amor de Deus para com o seu povo. Era o que todos esperavam no futuro (Os 2, 21-22; Is 62, 4-5). E é precisamente numa festa de bodas, junto a uma família e a uma comunidade, que Jesus realiza o seu “primeiro sinal” (Jo 2, 11). A Mãe de Jesus encontra-se também na festa. Jesus e os seus discípulos foram convidados. Ou seja, a Mãe de Jesus fazia parte da festa. Simboliza o Antigo Testamento. Também Jesus está presente mas com veste de convidado. Ele não faz parte do Antigo Testamento. Com os seus discípulos ele é o Novo Testamento que está a chegar. A Mãe de Jesus ajudará a passar do Antigo para o Novo Testamento.
 
* João 2, 3-5: Jesus e sua Mãe perante a falta de vinho. A Mãe de Jesus reconhece os limites do Antigo Testamento e toma a iniciativa para que se manifeste o Novo Testamento. Aproxima-se de Jesus e diz-lhe: “Não têm vinho”. Aqui aparece tanto a foto como o “Raio-X”. A foto representa a Mãe de Jesus como pessoa atenta aos problemas dos outros de tal modo que se dá conta que a falta de vinho arruinaria a festa. E não só constata o problema mas toma a iniciativa para o resolver. O Raio-X revela a dimensão mais profunda da relação entre o Antigo Testamento (a Mãe de Jesus) e o Novo Testamento (Jesus). A frase “não têm vinho!”, procede do Antigo Testamento e desperta em Jesus a ação que fará nascer o Novo. Jesus diz: “Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo?”. Ou seja, qual é o nexo entre o Antigo e o Novo Testamento? “Ainda não chegou a minha hora”. Maria não entende a resposta como uma negação visto que diz aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Atuando deste modo, Jesus ensina como se passa do Antigo para o Novo Testamento. A hora de Jesus, em que se fará a passagem do Antigo para o Novo Testamento, é a sua paixão, morte e ressurreição. A mudança de água em vinho é a indicação antecipada do Novo, que nascerá a partir da morte e da ressurreição de Jesus.
 
* Pelos fins do século primeiro discutia-se entre os primeiros cristãos acerca da validade do Antigo Testamento. Alguns já não queriam saber nada do Antigo Testamento. Na reunião dos Apóstolos em Jerusalém, São Tiago defendeu a continuidade do uso do Antigo Testamento (At 15, 13-21). Na verdade, nos princípios do século segundo, Marcião rejeitou o Antigo Testamento e ficou somente pelos livros do Novo Testamento. Alguns sustentavam, inclusivamente, que depois da vinda do Espírito Santo não se devia recordar mais Jesus de Nazaré, mas falar unicamente de Jesus Ressuscitado. Em nome do Espírito Santo diziam: “Anátema seja Jesus” (1Cor 12, 3).
 
* João 2, 6: As vasilhas da purificação estão vazias. Trata-se de um pequeno detalhe mas muito significativo. As vasilhas costumavam estar sempre cheias, sobretudo durante uma festa. Aqui estão vazias! Por que? A observância da lei da pureza, simbolizada pelas seis vasilhas, esgotou todas as suas possibilidades. A antiga lei conseguiu já preparar as pessoas para poder estar em união de graça e de justificação diante de Deus. As vasilhas, a antiga aliança, estão vazias. Já não podem gerar uma vida nova.
 
* João 2, 7-8: Jesus e os serventes.
A recomendação da Mãe de Jesus aos serventes é a última grande ordem do Antigo Testamento: “Fazei tudo o que ele vos disser!”. O Antigo Testamento olha já para Jesus. De agora em diante as palavras e os gestos de Jesus marcarão a vida. Jesus chama os serventes e ordena-lhes que encham as seis vasilhas. No total, mais de seiscentos litros! De imediato manda levar ao chefe de mesa. Esta iniciativa de Jesus acontece sem que os donos da festa intervenham. Nem Jesus, nem a Mãe, nem os serventes eram os donos, obviamente. Nenhum deles pediu autorização aos donos. A renovação passa pelas pessoas que não pertencem ao centro do poder.
 
* João 2, 9-10: Descoberta do sinal por parte do dono da casa. O chefe de mesa prova a água transformada em vinho e diz ao esposo: “Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!”. O chefe de mesa, o Antigo Testamento, reconhece publicamente que o Novo é melhor! Onde antes estava a água para os ritos de purificação dos judeus, agora há vinho em abundância para a festa. Era muito vinho! Mais de seiscentos litros, e a festa estava quase no fim. Qual é o sentido desta abundância? Que se faz com o vinho que sobra? Estamos a bebê-lo hoje!
 
* João 2, 11-12: Comentário do evangelista. Este é o primeiro sinal. No quarto Evangelho, o primeiro sinal acontece para ajudar na reconstrução da família, da comunidade, para sanar as relações de base entre as pessoas. Seguir-se-ão outros sinais. João não utiliza a palavra milagre, mas a palavra sinal. A palavra sinal indica que as ações de Jesus em favor das pessoas têm um valor profundo, que só se descobre com o “Raio-X” da fé. A pequena comunidade que se formou à volta de Jesus naquela semana, vendo o sinal, estava já capacitada para perceber o significado mais profundo e “acreditou n'Ele”.
 
* Bodas muito esperadas. No Evangelho de João, o começo da vida pública de Jesus acontece numa festa de bodas, momento de muita alegria e de muita esperança. Por isso mesmo, as bodas de Caná têm um significado simbólico muito forte. Na Bíblia, o matrimónio é a imagem utilizada para significar a realização da perfeita união entre Deus e o seu povo. Estas bodas entre Deus e o seu povo eram esperadas desde há muito tempo, mais de oitocentos anos!
 
* Foi o profeta Oseias (por volta do ano 750 antes de Cristo) que, pela primeira vez, representou a esperança destas bodas quando narra a parábola da infidelidade do povo perante as propostas de Yahvé. A monarquia de Israel abandonou Yahvé e a sua misericórdia, conduzindo o povo para o culto de falsos deuses. Mas o profeta, seguro do amor de Deus, diz que o povo será de novo conduzido ao deserto para escutar da parte de Deus a seguinte promessa: “Far-te-ei minha esposa para sempre, far-te-ei minha esposa na justiça e no direito, na benevolência e no amor, e desposar-te-ei na fidelidade e tu reconhecerás o Senhor” (Os 2, 21-22). Estes esponsais entre Deus e o povo indica que o ideal do êxodo será alcançado (Os 2, 4-25). Depois de quase cento e cinquenta anos, o profeta Jeremias volta a tomar as palavras de Oseias para denunciar a monarquia de Judá. E diz que Judá terá o mesmo destino de Israel por causa da sua infidelidade (Jer 2, 2-5; 3, 11-13). Mas também Jeremias olha para a esperança de uns desposórios perfeitos com a seguinte novidade: será a mulher que seduzirá o marido (Jer 31, 22). E apesar da crise geral causada pelo desterro na Babilónia, o povo não perde a esperança de que um dia este desposório realizar-se-á. Yahvé terá compaixão da sua esposa abandonada (Is 54, 1-8). Com o regresso dos desterrados, a “Abandonada” voltará a ser a esposa acolhida com muita alegria (Is 62, 4-5).
 
* Olhando para a Novidade que chega, também João Baptista olha para Jesus, o Esposo esperado (Jo 3, 29). No ensinamento e nos diálogos com as pessoas, Jesus retoma a parábola de Oseias, o sonho das bodas perfeitas. Ele apresenta-se como o Esposo esperado (Mc 2, 19). No diálogo com a samaritana, apresenta-se como o verdadeiro Esposo, o sétimo (Jo 4, 16-17). As comunidades cristãs aceitaram Jesus como o Esposo esperado (2Cor 11, 2; Ef 5, 25-31). As bodas de Caná querem demonstrar que Jesus é o verdadeiro Esposo que chega para as tão esperadas bodas, portanto, um vinho gostoso e abundante. Estas bodas definitivas estão descritas com belas imagens no livro do Apocalipse (Ap 19, 7-8; 21, 1; 22, 5).
 
* A Mãe de Jesus no Evangelho de João. Ainda que não seja chamada com o nome de Maria, a Mãe de Jesus aparece duas vezes no Evangelho de João: no princípio, nas bodas de Caná (Jo 2, 1-5) e, no final, aos pés da Cruz (Jo 19, 25-27). Nos dois casos representa o Antigo Testamento que espera a chegada do Novo, e nos dois casos, contribuiu para a chegada do Novo. Maria é o laço entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, a Mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, é aquela que se dá conta dos limites do Antigo Testamento e dá os passos para que possa aparecer o Novo. Aos pés da Cruz, está junto ao “discípulo amado”. O discípulo amado é a comunidade que cresce à volta de Jesus, é o filho que nasce do Antigo Testamento. À petição de Jesus, o filho, o Novo Testamento, recebe a Mãe, o Antigo Testamento, em sua casa. Os dois devem caminhar juntos. Na verdade, o Novo não se entende sem o Antigo. O Novo não terá base, fundamento. E o Antigo sem o Novo seria incompleto: uma árvore sem frutos.
 
* Os sete dias da nova criação. O texto começa: “Ao terceiro dia” (Jo 2, 1). No capítulo anterior, João repetiu já por três vezes a expressão “No dia seguinte” (Jo 1, 29.35.43). Fazendo os cálculos, isto apresenta o seguinte esquema: o testemunho de João Baptista acerca de Jesus (Jo 1, 29) acontece no primeiro dia. “No dia seguinte” (Jo 1, 29), ou seja, o segundo dia, acontece o baptismo de Jesus (Jo 1, 29-34). No terceiro dia ocorre o chamamento dos discípulos e de Pedro (Jo 1, 35-42). No quarto dia, Jesus chama Filipe e Natanael (Jo 1, 43-51). Finalmente, “três dias depois”, isto é, no sétimo dia, ou seja em pleno sábado, acontece o primeiro sinal das bodas de Caná (Jo 2, 1). Ao longo do Evangelho de João Jesus realizará sete sinais.
 
* João utiliza o esquema da semana para apresentar o começo da atividade de Jesus. O Antigo Testamento serve-se do mesmo esquema para apresentar a criação. Nos primeiros seis dias Deus criou todas as coisas chamando-as pelo seu nome. No sétimo dia descansou e não trabalhou mais (Gen 1, 1-2, 4). Igualmente Jesus nos seis primeiros dias de atividade chama as pessoas e cria a comunidade, a nova humanidade. No sétimo dia, ou seja, no sábado, Jesus não repousa, mas realiza o seu primeiro sinal. Ao longo dos capítulos seguintes, de 2 a 19 inclusive, realizará seis sinais, sempre ao sábado (Jo 5, 16; 9, 14). Na manhã da ressurreição, quando Maria Madalena vai ao sepulcro, diz-se: “No primeiro dia da semana” (Jo 20, 1): é o primeiro dia da nova criação, depois daquele sábado prolongado em que Jesus faz os sete sinais.
 
* Acusado de trabalhar ao sábado, Jesus responde: “Meu Pai sempre trabalha, e também eu trabalho” (Jo 5, 17). Através da atividade de Jesus entre Caná e a Cruz, o Pai completa o que falta na velha criação, de modo que possa aparecer a nova criação na ressurreição de Jesus.
 
Meditação
Jesus veio revelar-nos Deus como um Pai bondoso e terno, que fica feliz quando pode amar os seus filhos. É esse o “vinho” que Jesus veio trazer para alegrar a “aliança”: o “vinho” do amor de Deus, que produz alegria e que nos leva à festa do encontro com o Pai e com os irmãos. A nossa “religião” é isto mesmo – o encontro com o Jesus que nos dá o vinho do amor?

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Sábado XXVII do Tempo Comum

São João XXIII, papa
 
1ª Leitura (Joel 4,12-21):
Eis o que diz o Senhor: «Levantem-se as nações e encaminhem-se para o Vale de Josafat. Ali estarei sentado a julgar todas as nações vizinhas. Metei a foice, porque a seara está madura; vinde pisar, porque o lagar está cheio: os tanques transbordam, porque é grande a malícia das nações». Multidões e multidões no Vale do Julgamento! Está próximo o dia do Senhor no Vale do Julgamento! O sol e a lua escureceram e as estrelas perderam o seu brilho. O Senhor ruge desde Sião, de Jerusalém faz ouvir a sua voz: tremem os céus e a terra. Mas o Senhor é um refúgio para o seu povo, um abrigo para os filhos de Israel. Então sabereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus, que habito em Sião, o meu santo monte. Jerusalém será um lugar sagrado e nunca mais passarão por lá os estranhos». Nesse dia, os montes escorrerão vinho novo, as colinas jorrarão leite e correrão águas em todos os ribeiros de Judá. Do templo do Senhor sairá uma nascente, para regar o Vale das Acácias. O Egipto será terra devastada e Edom um deserto desolado, por causa das violências contra os filhos de Judá, por terem derramado na sua terra sangue inocente. Mas Judá será habitado para sempre e Jerusalém de geração em geração. «Eu vingarei o seu sangue, que não deixarei impune». E o Senhor habitará em Sião.
 
Salmo Responsorial: 96
R. Alegrai-vos, justos, no Senhor.
 
O Senhor é rei: exulte a terra, rejubile a multidão das ilhas. Ao seu redor, nuvens e trevas; a justiça e o direito são a base do seu trono.
 
Derretem-se os montes como cera diante do Senhor de toda a terra. Os céus proclamam a sua justiça e todos os povos contemplam a sua glória.
 
A luz resplandece para os justos e a alegria para os corações retos. Alegrai-vos, justos, no Senhor e louvai o seu nome santo.
 
Aleluia. Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 11,27-28): Naquele tempo, enquanto Jesus assim falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse: Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram. Ele respondeu: Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.
 
«Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram»
 
Rev. D. Jaume AYMAR i Ragolta (Badalona, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, escutamos o melhor dos louvores que Jesus podia fazer a sua própria Mãe: Felizes (...) são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática (Lc 11,28). Com essa resposta, Jesus Cristo não rejeita o apaixonado elogio que aquela simples mulher dedicava a sua Mãe, pelo contrário o aceita e vai além, explicando que Maria Santíssima é bem-aventurada, sobretudo! Pelo fato de ter sido boa e fiel no cumprimento da Palavra de Deus.
 
Às vezes me perguntam se os cristãos acreditam na predestinação, como acreditam outras religiões. Não! Os cristãos acreditamos que Deus tem reservado um destino de felicidade para nós. Deus quer que sejamos felizes, afortunados, bem-aventurados. Prestemos atenção em como essa palavra vai se repetindo nos ensinos de Jesus: Felizes, felizes, felizes... . Felizes os pobres, os mansos, os que têm fome e sede da justiça, os que não viram, e creram! (cf. Mt 5,3-12; Jn 20,29). Deus quer nossa felicidade, uma felicidade que começa já neste mundo, apesar de que os caminhos para chegar lá, não sejam nem a riqueza, nem o poder, nem o êxito fácil, nem a fama, senão o amor pobre e humilde de quem tudo o espera. A alegria de acreditar! Aquela da que falava o converso Jacques Maritain.
 
Trata-se de uma felicidade que é ainda maior do que a alegria de viver, porque acreditamos em uma vida sem fim, eterna. Maria, a Mãe de Jesus, não é somente afortunada por tê-lo trazido ao mundo, por tê-lo amamentado e criado; como percebia aquela espontânea mulher do povoado, senão, sobretudo, por ter sido ouvinte da Palavra e, por pô-la em prática: por ter amado e, por deixar se amar por seu Filho Jesus. Como escrevia o poeta: Poder dizer mãe e ouvir-se dizer filho meu / é a sorte que nos invejava Deus. Que Maria, Mãe do Amor Perfeito, rogue por nós.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O Criador do homem, sendo nascido da raça humana, teve que escolher para si, entre todas, uma mãe como Ele sabia que lhe seria conveniente e agradável» (São Bernardo)
 
«Quem tem tempo para ouvir a sua Palavra e deixar-se fascinar pelo seu amor? A fé em Deus pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo» (Bento XVI)
 
«Deus revelou-Se plenamente enviando o seu próprio Filho, no qual estabeleceu a sua aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de modo que, depois d'Ele, não haverá outra Revelação.» (Catecismo da Igreja Católica, nº 73)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
*
O evangelho de hoje é bem curto, mas tem um significado importante no conjunto do evangelho de Lucas. Ele nos traz a chave para entender o que Lucas ensina a respeito de Maria, a Mãe de Jesus, no assim chamado Evangelho da Infância (Lc 1 e 2).
 
* Lucas 11,27: A exclamação da mulher. “Enquanto Jesus dizia essas coisas, uma mulher levantou a voz no meio da multidão, e lhe disse: "Feliz o ventre que te carregou, e os seios que te amamentaram”. A imaginação criativa de alguns apócrifos sugere que aquela senhora era uma vizinha de Nossa Senhora lá em Nazaré. Tinha um filho, chamado Dimas, que, como tantos outros rapazes da Galileia daquela época, entrou na guerrilha contra os romanos, foi preso e executado junto com Jesus. Era o bom ladrão (Lc 23,39-43). A mãe dele, ouvindo Jesus falar tão bonito ao povo, lembrou de Maria, sua vizinha, e disse: “Como Maria deve ser feliz tendo um filho assim!”.
 
* Lucas 11,28: A resposta de Jesus. Jesus responde, fazendo o maior elogio à sua mãe: “Mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”. Lucas fala pouco de Maria: aqui (Lc 11,28) e no Evangelho da Infância (Lc 1 e 2). Para ele, Lucas, Maria é a Filha de Sião, imagem do novo povo de Deus. Ele apresenta Maria como modelo para a vida das comunidades. No Concílio Vaticano II, o documento preparado sobre Maria foi inserido como capítulo final no documento Lumen Gentium sobre a Igreja. Maria é modelo para a Igreja. É sobretudo na maneira de Maria relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê o exemplo dela para a vida das comunidades: “Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”. Maria nos ensina como acolher a Palavra de Deus, como encarná-la, vivê-la, aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-nos moldar por ela, mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Esta é a visão que está por de trás do Evangelho de Infância (Lc 1 e 2). A chave para entender estes dois capítulos nos é dada no evangelho de hoje: “Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”. Veja como nestes capítulos Maria se relaciona com a Palavra de Deus.
 
1. Lucas 1,26-38:
A Anunciação: "Faça-se em mim segundo a tua palavra!"
Saber abrir-se, para que a Palavra de Deus seja acolhida e se encarne.
2. Lucas 1,39-45:
A Visitação: "Bem-aventurada aquela que acreditou!"
Saber reconhecer a Palavra de Deus numa visita e em tantos outros fatos da vida.
3. Lucas 1,46-56:
O Magnificat: “O Senhor fez em mim maravilhas!”
Reconhecer a Palavra na história do povo e produzir um canto de resistência e de esperança
4. Lucas 2,1-20:
O Nascimento: "Ela meditava sobre os fatos em seu coração"
Não havia lugar para eles. Os marginalizados acolhem a Palavra.
5. Lucas 2,21-32:
A Apresentação: "Meus olhos viram a tua salvação!"
Os muitos anos de vida purificam os olhos.
6. Lucas 2,33-38:
Simeão e Ana: "Uma espada vai atravessar sua alma"
Acolher e encarnar a palavra na vida, ser sinal de contradição.
7. Lucas 2,39-52:
Aos doze anos no templo: "Então, não sabiam que devo estar com o Pai?"
Eles não compreenderam a Palavras que lhes foi dita!
8. Lucas 11,27-28:
O Elogio à mãe: "Feliz o ventre que te carregou!"
Feliz quem ouve e pratica a Palavra
 
Para um confronto pessoal
1) Vocês conseguem descobrir a Palavra viva de Deus em sua vida?
2) Como você vive a devoção à Maria, a mãe de Jesus?

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Sexta-feira da 27ª semana do Tempo Comum

S. Tomás de Villanova, bispo
 
1ª Leitura (Joel 1,13-15; 2,1-2):
Vesti-vos de luto e chorai, sacerdotes, entoai lamentações, ministros do altar. Vinde passar a noite com vestes de penitência, ministros do meu Deus. Porque no templo de Deus, desapareceram a oferenda e a libação. Proclamai um solene jejum, convocai uma assembleia. Reuni os anciãos e todos os habitantes do país no templo do Senhor, vosso Deus. E clamai ao Senhor: «Ah, que dia este!». Está próximo o dia do Senhor, que vai chegar como devastação que vem do Omnipotente. Tocai a trombeta em Sião, dai o alarme no meu santo monte. Estremeçam todos os habitantes do país, porque está a chegar o dia do Senhor. Sim, ele está próximo: será dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e de sombras. Como a luz da aurora, estende-se sobre os montes um povo numeroso e forte. Nunca houve povo nenhum como ele, nem depois dele haverá outro, até às mais longínquas gerações.
 
Salmo Responsorial: 9
R. O Senhor julgará a terra com justiça.
 
De todo o coração, Senhor, Vos quero louvar e contar todas as vossas maravilhas. Quero alegrar-me e exultar em Vós, quero cantar o vosso nome, ó Altíssimo.
 
Ameaçastes os pagãos, destruístes os ímpios, apagastes o seu nome para sempre. Afundaram-se as nações no fosso que abriram, ficaram presos os seus pés na armadilha que prepararam.
 
O Senhor é rei para sempre, firmou o seu trono para julgar. Ele julga a terra com justiça, governa os povos com retidão.
 
Aleluia. Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo, diz o Senhor; e quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 11,15-26): Naquele tempo, depois de que Jesus expulsou um demônio, alguns disseram: É pelo poder de Beelzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios. Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. Mas, conhecendo seus pensamentos, ele disse-lhes: Todo reino dividido internamente será destruído; cairá uma casa sobre a outra. Ora, se até Satanás está dividido internamente, como poderá manter-se o seu reino? Pois dizeis que é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os demônios. Se é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os demônios, pelo poder de quem então vossos discípulos os expulsam? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, é porque o Reino de Deus já chegou até vós. Quando um homem forte e bem armado guarda o próprio terreno, seus bens estão seguros. Mas, quando chega um mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura em que confiava e distribui os despojos. Quem não está comigo é contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha. Quando o espírito impuro sai de alguém, fica vagando por lugares áridos, à procura de repouso. Não o encontrando, diz: Vou voltar para minha casa de onde saí. Chegando aí, encontra a casa varrida e arrumada. Então ele vai e traz outros sete espíritos piores do que ele, que entram e se instalam aí. No fim, o estado dessa pessoa fica pior do que antes.
 
«Alguns disseram: É pelo poder de Beelzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios»
 
Rev. D. Josep PAUSAS i Mas (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)
 
Hoje, contemplamos comovidos como Jesus é ridiculamente culpado de expulsar demônios: É pelo poder de Beelzebul, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios (Lc 11,15). É difícil imaginar um bem maior, expulsar, afastar das almas ao diabo, o instigador do mal e, ao mesmo tempo, escutar a acusação mais grave fazê-lo, precisamente, pelo poder do próprio diabo. É realmente uma incriminação gratuita, que manifesta muita cegueira e inveja por parte dos acusadores do Senhor. Hoje em dia, também, sem perceber, eliminamos de raiz o direito que os outros têm a discrepar, a serem diferentes e, a terem suas próprias posições contrárias e, incluso, opostas às nossas.
 
Quem o vive fechado em um dogmatismo político, cultural ou ideológico, facilmente menospreza ao que discrepa, desqualificando todo seu projeto e negando-lhe competência e, inclusive honestidade. Em tal caso, o adversário político ou ideológico transforma-se no inimigo pessoal. O confronto degenera em insulto e agressividade. O clima de intolerância e mútua exclusão violenta pode, então, nos conduzir à tentação de eliminar de alguma maneira a quem se nos apresenta como inimigo.
 
Nesse clima é fácil justificar qualquer atentado contra pessoas, inclusive, os assassinatos, se o morto não é dos nossos. Quantas pessoas sofrem hoje com esse ambiente de intolerância e rechaço mútuo que frequentemente se respira nas instituições públicas, nos locais de trabalho, nas assembleias e confrontos políticos!
 
Entre todos devemos criar as condições e um clima de tolerância, respeito mútuo e confronto leal no qual seja possível ir achando caminhos de diálogo. Os cristãos, longe de endurecer e sacralizar falsamente nossas posições manipulando a Deus e identificando-o com nossas próprias posturas, devemos seguir a este Jesus que quando seus discípulos pretendiam que impedisse que outros expulsaram demônios em nome dele, os corrigiu dizendo-lhes: Não o proibais, pois quem não é contra vós, está a vosso favor(Lc 9,50). Todo o inumerável coro de pastores reduz-se ao Corpo de um só Pastor (Santo Agostinho).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Já que Cristo, com a sua vinda, expulsou o diabo dos nossos corações para preparar em nós um templo, façamos todos os esforços com a sua ajuda para que Cristo não seja desonrado em nós pelas nossas más obras» (São Cesário de Arles)
 
«O Diabo está sempre a tentar arruinar a obra de Deus, semeando a divisão no coração humano, entre o corpo e a alma, entre o homem e Deus, nas relações sociais, internacionais... O mal semeia a guerra; Deus cria a paz» (Bento XVI)
 
«(…) O poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo facto de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de Deus. (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 395)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
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O evangelho de hoje traz uma longa discussão em torno da expulsão de um demônio mudo que Jesus acabava de realizar diante do povo.
 
* Lucas 11,14-16: Três reações diferentes diante da mesma expulsão. Jesus estava expulsando demônios. Diante deste fato bem visível, realizado diante de todos, houve três reações diferentes. O povo ficou admirado, aplaudiu. Outros diziam: "É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios". O evangelho de Marcos informa que se tratava dos escribas que tinham vindo de Jerusalém para controlar a atividade de Jesus (Mc 3,22). Outros ainda pediam um sinal do céu, pois não se convenceram diante do sinal tão evidente da expulsão realizada diante de todo o povo.
 
* Lucas 11,17-19: Jesus mostra a incoerência dos adversários. Jesus usa dois argumentos para rebater a acusação de estar expulsando demônio em nome de Beelzebu. Em primeiro lugar, se o demônio expulsa o próprio demônio, ele se divide a si mesmo e não vai sobreviver. Em segundo lugar, Jesus lhes devolve o argumento: Se eu expulso em nome de demônio, os filhos de vocês o fazem em nome de quem? Com outras palavras, eles também estariam fazendo as expulsões em nome de Beelzebu.
 
* Lucas 11,20-23: Jesus é o homem mais forte que chegou, sinal da chegada do Reino. Aqui Jesus chega no ponto central da sua argumentação: “Quando um homem forte e bem armado guarda a sua casa, os bens dele estão em segurança. Mas, quando chega um homem mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou.”. Na opinião do povo daquele tempo, Satanás dominava o mundo através de demônios (daimônia). Ele era o homem forte e bem armado que guardava a sua casa. A grande novidade era o fato de que Jesus conseguia expulsar os demônios. Sinal de que ele era e é o homem mais forte que chegou. Com a chegada de Jesus o reino de Beelzebu entrou em declínio: “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou para vocês”. Quando os magos do Faraó viram que Moisés fazia coisas que eles não eram capazes de realizar, foram mais honestos que os escribas diante de Jesus e disseram: “Aqui tem o dedo de Deus!” (Ex 8,14-15).
 
* Lucas 11,24-26: A segunda queda é pior que a primeira. Na época de Lucas nos anos 80, diante das perseguições, muitos cristãos voltaram atrás e abandonaram as comunidades. Voltaram à maneira de viver de antes. Para advertência a eles e a todos nós, Lucas guardou estas palavras de Jesus sobre a segunda queda que é pior do que a primeira.
 
* A expulsão dos demônios. O primeiro impacto que a ação de Jesus causava no povo era a expulsão dos demônios: “Até mesmo aos espíritos impuros ele dá ordens e eles lhe obedecem!” (Mc 1,27). Uma das principais causas da briga de Jesus com os escribas era a expulsão dos demônios. Eles o caluniavam dizendo: “Ele está possuído por Beelzebu! É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios!” O primeiro poder que os apóstolos receberam quando foram enviados em missão foi o poder de expulsar os demônios: “Deu-lhes poder sobre os espíritos maus” (Mc 6,7). O primeiro sinal que acompanha o anúncio da ressurreição é a expulsão dos demônios: “Os sinais que acompanharão aqueles que acreditarem são estes: expulsarão demônios em meu nome!” (Mc 16,17). A expulsão dos demônios era o que mais chamava a atenção do povo (Mc 1,27). Ela atingia o centro da Boa Nova do Reino. Por meio dela Jesus devolvia as pessoas a si mesmas. Devolvia-lhes o juízo, a consciência (Mc 5,15). É sobretudo o evangelho de Marcos, do começo ao fim, com palavras quase iguais, repete sem parar a mesma mensagem: “E Jesus expulsava os demônios!” (Mc 1,26.34.39; 3,11-12.22.30; 5,1-20; 6,7.13; 7,25-29; 9,25-27.38; 16,17). Parece um refrão que sempre volta. Hoje, em vez de usar sempre as mesmas palavras usaríamos palavras diferentes para transmitir a mesma mensagem e diríamos: “O poder do mal, o Satanás, que mete tanto medo no povo, Jesus o venceu, dominou, amarrou, destronou, derrotou, expulsou, eliminou, exterminou, aniquilou, abateu, destruiu e matou!” O que o Evangelho nos quer dizer é isto: “Ao cristão é proibido ter medo de Satanás!” Pela sua ressurreição e pela sua ação libertadora, Jesus afasta de nós o medo de Satanás, cria liberdade no coração, firmeza na ação e esperança no horizonte! Devemos caminhar na Estrada de Jesus com sabor de vitória sobre o poder do mal!
 
Para um confronto pessoal
1) Expulsar o poder do mal. Qual é hoje o poder do mal que massifica o povo e roube dele a consciência crítica?
2) Você pode dizer de você mesma que é totalmente livre e liberta? Caso a resposta for negativa, alguma parte em você está em poder de outras forças. O que você faz para expulsar este poder que toma conta de você?