quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Domingo I da Quaresma


1ª Leitura (Gen 2,7-9;3,1-7): O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. Fez nascer na terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: «É verdade que Deus vos disse: ‘Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do jardim’?». A mulher respondeu: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus avisou-nos: ‘Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis’». A serpente replicou à mulher: «De maneira nenhuma! Não morrereis. Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal». A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência. Colheu fruto da árvore e comeu; depois deu-o ao marido, que comeu juntamente com ela. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas.

Salmo Responsorial: 50
R. Pecámos, Senhor: tende compaixão de nós.

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade, pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados. Lavai-me de toda a iniquidade e purificai-me de todas as faltas.

Porque eu reconheço os meus pecados e tenho sempre diante de mim as minhas culpas. Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos vossos olhos.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme. Não queirais repelir-me da vossa presença e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação e sustentai-me com espírito generoso. Abri, Senhor, os meus lábios e a minha boca cantará o vosso louvor.

2ª Leitura (Rom 5,12-19): Irmãos: Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram. De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo. Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei. Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir. Mas o dom gratuito não é como a falta. Se pelo pecado de um só todos ¬¬¬pereceram, com muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo, se concedeu com abundância a todos os homens. E esse dom não é como o pecado de um só: o julgamento que resultou desse único pecado levou à condenação, ao passo que o dom gratuito, que veio depois de muitas faltas, leva à justificação. Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. De facto, como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, todos se tornarão justos.

Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

Evangelho (Mt 4,1-11): Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser posto à prova pelo diabo. Ele jejuou durante quarenta dias e quarenta noites. Depois, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!». Ele respondeu: «Está escrito: ‘Não se vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’». Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, joga-te daqui abaixo! Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito, e eles te carregarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus lhe respondeu: «Também está escrito: ‘Não porás à prova o Senhor teu Deus’!». O diabo o levou ainda para uma montanha muito alta. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua riqueza, e lhe disse: «Eu te darei tudo isso, se caíres de joelhos para me adorar». Jesus lhe disse: «Vai embora, Satanás, pois está escrito: ‘Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele prestarás culto’». Por fim, o diabo o deixou, e os anjos se aproximaram para servi-lo.

«Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser posto à prova pelo diabo»

Mn. Antoni BALLESTER i Díaz (Camarasa, Lleida, Espanha)

Hoje celebramos o primeiro domingo de Quaresma e, este tempo litúrgico “forte” é um caminho espiritual que nos leva a participar do grande mistério da morte e da ressurreição de Cristo. Diz o Papa João Paulo II: que «em cada ano a Quaresma nos propõe um tempo para intensificar a nossa oração e a penitência, e abrir o nosso coração à acolhida dócil da vontade divina. A Quaresma convida-nos a percorrer um itinerário espiritual que nos prepara para reviver o grande mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo, primeiro por médio da escuta constante da Palavra de Deus e a pratica mais intensa da mortificação, graças à qual podemos ajudar com maior generosidade ao próximo necessitado».

A Quaresma e o Evangelho de hoje nos ensinam que a vida é um caminho que nos deve levar ao céu. Mas, para poder merecê-lo, devemos ser provados pelas tentações. «Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser posto à prova pelo diabo» (Mt 4,1). Jesus quis ensinar-nos, ao permitir ser tentado, como devemos lutar e vencer as nossas tentações: com a confiança em Deus e a oração, com a graça divina e a fortaleza.

As tentações podem se descrever como os “inimigos da alma”. Em concreto, resumem-se e concretam-se em três aspectos: À primeira vista, “o mundo”: «manda que estas pedras se transformem em pães» (Mt 4,3). Supõe viver só para possuir bens.

À segunda vista, “o demônio”: «se caíres de joelhos para me adorar (...)» (Mt 4,9). Manifesta-se na ambição de poder.

E, finalmente, “a carne”: «joga-te daqui abaixo» (Mt 4,6) o que significa pôr a confiança no Corpo. Tudo isso o expressa Santo Tomas de Aquino dizendo que «a causa das tentações são as causas das concupiscências: o deleite da carne, o afã da glória, e a ambição de poder.

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Jesus no deserto derrotou o seu adversário com as palavras da Lei, não com o vigor dá o braço dele. Ele venceu para que sejamos vencedores da mesma forma" (São Leão Magno)

«Não podemos sustentar uma espiritualidade que se esquece do Deus todo-poderoso e criador. Caso contrário, acabaríamos adorando outros poderes do mundo, ou nos colocaríamos no lugar do Senhor, a ponto de tentar pisar na realidade por Ele criada sem conhecer limites" (Francisco)

«Jesus é o novo Adão que permaneceu fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpriu perfeitamente a vocação de Israel: ao contrário daqueles que antes provocaram Deus durante quarenta anos no deserto (cf. Sl 95,10), Cristo revela-se como o Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina. Nisso Jesus é vencedor do diabo; Ele 'amarrou o homem forte' para despojá-lo do que ele havia se apropriado(Mc 3.27). A vitória de Jesus no deserto sobre o Tentador é uma antecipação da vitória da Paixão. Obediência suprema do seu amor filial ao Pai" (Catecismo da Igreja Católica, n.539)

Entrar com Jesus no deserto

Darci Vilarinho

1. “Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto a fim de ser tentado perlo diabo…”, diz-nos o Evangelho deste 1º domingo da Quaresma. Jesus tinha acabado de ser batizado no rio Jordão. Tinha a consciência de ser “o Filho muito amado do Pai”, enviado para anunciar a boa nova aos pobres, curar os corações feridos, pregar o Reino e amar a todos até à doação da própria vida. Mas antes de iniciar essa atividade apostólica, Jesus sentiu a necessidade de jejuar, rezar, meditar e lutar, em profunda solidão e silêncio. Não foi para fugir das pessoas, porque para elas tinha sido enviado. Foi antes para tomar consciência da sua missão e não se desviar do projeto do Pai. As tentações de que fala o Evangelho referem-se a esta luta de Jesus para não se desviar do projeto de Deus Pai.
  
2. Respirar por dentroHá momentos na nossa vida em que todos sentimos a necessidade de sair da confusão em que tantas vezes nos encontramos e retirar-nos para um lugar isolado, à procura do essencial. Precisamos de deitar contas à vida, entender quem somos, onde estamos, com que objetivos vivemos, com que forças podemos contar.

Afogados neste mundo contemporâneo ou desorientados na vida, procuramos meios para fugir à opressão da sociedade e poder respirar espiritualmente. A tradição da Igreja sempre nos disse que Deus se encontra no silêncio e a Quaresma é tempo propício para isso: subtraindo-nos ao barulho e às solicitudes externas, reencontrar o caminho do nosso coração e entrar em contacto com as profundezas do nosso ser. Fiquem de fora os rumores e as luzes, os vídeos, os cedês, os ipads ou os iphones e os tablets: passemos do virtual ao real.

3. Remover tudo – Pede-nos S. Anselmo, um grande filósofo e teólogo do séc.XII: “Deixa um momento as tuas ocupações habituais, ó homem; entra um instante em ti mesmo, longe do tumulto dos teus pensamentos. Põe de parte os cuidados que te apoquentam e liberta-te agora das inquietações que te absorvem. Entrega-te uns momentos a Deus. Descansa por algum tempo na sua presença. Entra no íntimo da tua alma. Remove tudo, exceto Deus e o que te possa ajudar a procurá-lo. Encerra as portas da tua habitação e procura-o no silêncio”. “Ao deserto te conduzirei e falarei ao teu coração”, lê-se no profeta Oseias. A palavra de Deus é abundante neste tempo litúrgico para nos propor o caminho certo, para nos levar à revisão de vida, à conversão, ao encontro com Ele através de seu Filho que nos revela todo o amor que o Pai nos tem. Impele-nos o mesmo Espírito que impeliu Jesus, porque “todos os que se deixam levar pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”.

4. Há outros desertos – E o Espírito levar-nos-á à oração, à conversão, à sobriedade de vida e à renúncia em vista da solidariedade e da partilha. Quem verdadeiramente entra em contacto com Deus não pode fechar o seu coração aos problemas deste mundo, até porque há hoje, no dizer de Bento XVI, muitas formas de deserto que reclamam a nossa atenção: “o deserto da pobreza, o deserto da fome e da sede; o deserto do abandono, da solidão, do amor destruído. Existe também o deserto da escuridão de Deus, do vazio das almas que já não têm consciência da dignidade e do rumo do homem. Os desertos exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores se tornam muito grandes”.

Entremos com Jesus no deserto da Quaresma para, com Ele, enfrentarmos os desertos do mundo. Com Ele rezemos, jejuemos, lutemos e vençamos. Vencendo o espírito do mal, que é egoísmo, ódio e divisão, escolhamos com Jesus o projeto de Deus que passa pela vontade do Pai no amor e na partilha solidária.

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