São Vicente, Diácono e Mártir
Salmo Responsorial: 79
R. Mostrai-nos,
Senhor, o vosso rosto e seremos salvos.
Pastor de Israel, escutai, Vós que conduzis José como um
rebanho. Vós que estais sobre os Querubins, aparecei à frente de Efraim,
Benjamim e Manassés. Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio.
Senhor, Deus do universo, até quando ardereis em cólera,
apesar da oração do vosso povo? Destes-nos a comer o pão das lágrimas e a beber
copioso pranto. Fizestes de nós objeto de contenda entre vizinhos e os inimigos
zombam de nós.
Aleluia. Abri, Senhor, os nossos corações, para recebermos a palavra do
vosso Filho. Aleluia.
Evangelho (Mc 3,20-21): Jesus voltou para casa, e
outra vez se ajuntou tanta gente que eles nem mesmo podiam se alimentar. Quando
seus familiares souberam disso, vieram para detê-lo, pois diziam: «Está ficando
louco».
«Está ficando louco»
Rev. D. Antoni CAROL i
Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Agora bem, e nós? Façamos exame! Quantas pessoas que vivem
ao nosso redor, que as temos ao nosso alcance, são luz para nossas vidas e,
nós...? Não é necessário ir muito longe: Pensemos no Papa João Paulo II: quanta
gente o seguiu e, ao mesmo tempo, quantos o interpretavam como um
“teimoso-antiquado”, ciumento do seu “poder”? É possível que Jesus —dois mil
anos depois— ainda continue na Cruz pela nossa salvação e, que nós, desde aqui
embaixo, continuemos dizendo-lhe «desça agora da cruz, para que vejamos e
acreditemos!» (cf. Mc 15,32)?
Ou pelo contrário. Se nos esforçarmos por configurarmos com
Cristo, nossa presença não resultará neutra para quem interagem conosco por
motivos de parentesco, trabalho, etc. Ainda mais, para alguns será molesta,
porque seremos um reclamo de consciência. Bem garantido o temos! «Se me
perseguiram, perseguirão a vós também» (Jo 15,20). Através das suas burlas
esconderão seu medo, mediante suas desqualificações farão uma má defesa de sua
“poltronaria”
Quantas vezes nos rotulam aos católicos de sermos
"exagerados”? Devemos lhes responder que não o somos, porque em questões
de amor é impossível exagerar. Mas que é verdade que somos “radicais”, porque o
amor é assim de “totalizador” «ou todo, ou nada»; «ou o amor mata o eu, ou o eu
mata o amor».
É por isso que o Santo Pai nos falou de “radicalismo
evangélico” e de “não ter medo”: «Na causa do Reino não há tempo para olhar
para atrás, menos ainda para dar-se à preguiça» (Santo João Paulo II).
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«Um sector do povo julga pejorativamente a obra e a mensagem
de Cristo. Devemos de aprender da força de Cristo ao sofrer tamanha difamação e
calúnia. O que interessa se os homens nos desonram, se a nossa consciência nos
defende?» (São Gregório Magno)
«A sua Mãe seguiu-o sempre fielmente, mantendo o olhar do
seu coração fixo em Jesus e no seu mistério. Peçamos a Maria que nos ajude
também a manter o olhar fixo em Jesus e a segui-lo sempre, mesmo quando custa»
(Francisco)
«Muitas coisas que interessam à curiosidade humana, a
respeito de Jesus, não figuram nos evangelhos. Quase nada se diz da sua vida em
Nazaré e mesmo grande parte da sua vida pública não é relatada. O que foi
escrito nos evangelhos, foi-o ‘para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho
de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome’ (Jo 20, 31)»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 514).
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* Marcos 3,20: A
atividade de Jesus. - Jesus voltou para casa. O domicílio dele agora é em
Cafarnaum (Mc 2,1). Já não mora mais com a família em Nazaré. Sabendo que Jesus
estava em casa, o povo foi para lá. Juntou tanta gente que eles não tinham nem
tempo para comer. Mais adiante Marcos novamente fala do muito serviço a ponto
de não terem tempo para poder comer sossegados (Mc 6,31)
* Marcos 3,20:
Conflito com a família. - Quando os parentes de Jesus souberam disso,
disseram: “Ficou louco!” Talvez, porque Jesus tinha saído fora do comportamento
normal. Talvez, porque comprometia o nome da família. Seja como for, os
parentes decidem levá-lo de volta para Nazaré. Sinal de que o relacionamento de
Jesus com a sua família estava estremecido. Isto deve ter sido fonte de muito
sofrimento, tanto para ele como para Maria, sua mãe. Mais adiante (Mc 3,31-35)
Marcos conta como foi o encontro dos parentes com Jesus. Eles chegaram na casa onde
Jesus estava. Provavelmente tinham vindo de Nazaré. De lá até Cafarnaum são uns
40 quilômetros. Sua mãe veio junto. Eles não podiam entrar na casa, porque
havia gente demais na entrada. Por isso mandaram um recado: Tua mãe, teus
irmãos e tuas irmãs estão lá fora e te procuram! A reação de Jesus foi firme
perguntando: Quem é minha mãe, quem são meus irmãos? E ele mesmo responde
apontando para a multidão que estava ao redor: Eis aqui minha mãe e meus
irmãos! Pois todo aquele que faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã,
minha mãe! Alargou a família! Jesus não permite que a família o afaste da
missão.
* A situação da
família no tempo de Jesus - No antigo Israel, o clã, isto é, a grande
família (a comunidade), era a base da convivência social. Era a proteção das
pequenas famílias e das pessoas, a garantia da posse da terra, o veículo
principal da tradição, a defesa da identidade. Era a maneira concreta do povo
daquela época encarnar o amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã, a
comunidade, era o mesmo que defender a Aliança. Na Galileia do tempo de Jesus,
por causa do sistema romano, implantado durante os longos governos de Herodes
Magno (37 a.C. a 4 a.C.) e de seu filho Herodes Antipas (4 a.C. a 39 d.C.),
tudo isto já não existia mais, ou cada vez menos. O clã (comunidade) estava
enfraquecendo. Os impostos a serem pagos tanto ao governo como ao templo, o
endividamento crescente, a mentalidade individualista da ideologia helenista,
as frequentes ameaças de repressão violenta por parte dos romanos, a obrigação
de acolher os soldados e dar-lhes hospedagem, os problemas cada vez maiores de
sobrevivência, tudo isto levava as famílias a se fecharem sobre si mesmas e
dentro das suas próprias necessidades. Já não se praticava mais a
hospitalidade, a partilha, a comunhão de mesa e a acolhida aos excluídos. Este
fechamento era reforçado pela religião da época. A observância das normas de
pureza era fator de marginalização de muita gente: mulheres, crianças,
samaritanos, estrangeiros, leprosos, possessos, publicanos, doentes, mutilados,
paraplégicos. Em vez de acolhida, partilha e comunhão, estas normas favoreciam
a separação e a exclusão.
Assim, tanto a conjuntura política, social e econômica como
a ideologia religiosa da época, tudo conspirava para o enfraquecimento dos
valores centrais do clã, da comunidade. Ora, para que o Reino de Deus pudesse
manifestar-se, novamente, na convivência comunitária do povo, as pessoas tinham
de ultrapassar os limites estreitos da pequena família e abrir-se de novo para
a grande família, para a Comunidade.
Jesus deu o exemplo.
Quando seus parentes chegaram em Cafarnaum e tentaram apoderar-se dele para
levá-lo de volta para casa, ele reagiu. Em vez de fechar-se na sua pequena
família, e alargou a família (Mc 3,33-35). Criou comunidade. Ele pedia o mesmo
de todos que queriam segui-lo. As famílias não podiam fechar-se. Os excluídos e
os marginalizados deviam ser acolhidos, novamente, dentro da convivência e,
assim, sentir-se acolhidos por Deus (cf Lc 14,12-14). Este era o caminho para
realizar o objetivo da Lei que dizia: “Entre vocês não pode haver pobres” (Dt
15,4). Como os grandes profetas do passado, Jesus procura reforçar a vida
comunitária nas aldeias da Galileia. Ele retoma o sentido profundo do clã, da
família, da comunidade, como expressão da encarnação do amor de Deus no amor ao
próximo.
Para um confronto
pessoal
1. A família
ajuda ou dificulta a sua participação na comunidade cristã? Como você assume o
seu compromisso na comunidade cristã?
2. O que tudo
isso nos tem a dizer para as nossas relações na família e na comunidade?
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