terça-feira, 23 de junho de 2020

24 de junho: Nascimento de São João Batista


1ª Leitura (Is 49,1-6): Terras de Além-Mar, escutai-me; povos de longe, prestai atenção. O Senhor chamou-me desde o ventre materno, disse o meu nome desde o seio de minha mãe. Fez da minha boca uma espada afiada, abrigou-me à sombra da sua mão. Tornou-me semelhante a uma seta aguda, guardou-me na sua aljava. E disse-me: «Tu és o meu servo, Israel, por quem manifestarei a minha glória». E eu dizia: «Cansei-me inutilmente, em vão e por nada gastei as minhas forças». Mas o meu direito está no Senhor e a minha recompensa está no meu Deus. E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo, a fim de Lhe restaurar as tribos de Jacob e reconduzir os sobreviventes de Israel. Eu tenho merecimento aos olhos do Senhor e Deus é a minha força. Ele disse-me então: «Não basta que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Farei de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».

Salmo Responsorial: 138
R. Eu Vos dou graças, Senhor, porque maravilhosamente me criastes.

Senhor, Vós conheceis o íntimo do meu ser: sabeis quando me sento e quando me levanto. De longe penetrais o meu pensamento: Vós me vedes quando caminho e quando descanso, Vós observais todos os meus passos.

Vós formastes as entranhas do meu corpo e me criastes no seio de minha mãe. Eu Vos dou graças por me terdes feito tão maravilhosamente: admiráveis são as vossas obras.

Vós conhecíeis já a minha alma e nada do meu ser Vos era oculto, quando secretamente era formado, modelado nas profundidades da terra.

2ª Leitura (At 13,22-26): Naqueles dias, Paulo falou deste modo: «Deus concedeu aos filhos de Israel David como rei, de quem deu este testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará sempre a minha vontade’. Da sua descendência, como prometera, Deus fez nascer Jesus, o Salvador de Israel. João tinha proclamado, antes da sua vinda, um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. Prestes a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem julgais; mas depois de mim, vai chegar Alguém, a quem eu não sou digno de desatar as sandálias dos seus pés’. Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus: a nós é que foi dirigida esta palavra de salvação».

Aleluia. Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, irás à frente do Senhor a preparar os seus caminhos. Aleluia.

Evangelho (Lc 1,57-66.80): Quando se completou o tempo da gravidez, Isabel deu à luz um filho. Os vizinhos e os parentes ouviram quanta misericórdia o Senhor lhe tinha demonstrado, e alegravam-se com ela. No oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. A mãe, porém, disse: «Não. Ele vai se chamar João». Disseram-lhe: «Ninguém entre os teus parentes é chamado com este nome!». Por meio de sinais, então, perguntaram ao pai como ele queria que o menino se chamasse. Zacarias pediu uma tabuinha e escreveu: «João é o seu nome!» E todos ficaram admirados. No mesmo instante, sua boca se abriu, a língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor, e a notícia se espalhou por toda a região montanhosa da Judéia. Todos os que ouviram a notícia ficavam pensando: «Que vai ser este menino?» De fato, a mão do Senhor estava com ele. O menino crescia e seu espírito se fortalecia. Ele vivia nos desertos, até o dia de se apresentar publicamente diante de Israel

«O menino crescia e seu espírito se fortalecia»

Rev. D. Joan MARTÍNEZ Porcel (Barcelona, Espanha)

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Hoje, celebramos solenemente o nascimento do Batista. São João é um homem de grandes contrastes: vive o silêncio do deserto, mas daí mesmo move as massas e as convida com voz convincente à conversão; é humilde para reconhecer que ele é tão somente é a voz, não a Palavra, mas não tem medo de falar e é capaz de acusar e denunciar as injustiças até aos mesmos reis; convida aos seus discípulos a ir até Jesus, mas não rejeita conversar com o rei Herodes enquanto está em prisão. Silencioso e humilde é também valente e decidido até derramar seu sangue. João Batista é um grande homem! O maior dos nascidos de mulher, assim o elogiará Jesus; mas somente é o precursor de Cristo.

Talvez o segredo de sua grandeza está em sua consciência de saber-se elegido por Deus; assim o expressa o evangelista: «O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel.» (Lc 1,80). Toda sua infância e juventude estiveram marcadas pela consciência de sua missão: dar testemunho; e o fez batizando a Cristo no Rio Jordão, preparando para o Senhor um povo bem disposto e, ao final de sua vida, derramando seu sangue em favor da verdade. Com nosso conhecimento de João, podemos responder à pergunta de seus contemporâneos: «Todos os que o ouviam conservavam-no no coração, dizendo: Que será este menino? Porque a mão do Senhor estava com ele» (Lc 1,66).

Todos nós, pelo batismo, fomos escolhidos e enviados a dar testemunho do Senhor. Em um ambiente de indiferença, são João é modelo e ajuda para nós; são Agostinho nos diz: «Admira a João o quanto seja possível, pois o que admiras aproveita a Cristo. Aproveita a Cristo, repito, não porque lhe ofereces alguma coisa a Ele, e sim para que tu possas progredir Nele». Em João, suas atitudes de Precursor, manifestadas na sua oração atenta ao Espírito, em sua fortaleza e sua humildade, nos ajudam a abrir horizontes novos de santidade para nós e para nossos irmãos.

“JHWH é graça, é bondade”

Pe. Benedito Mazeti

Depois do conjunto dos dois nascimentos, o de João Batista e o de Jesus (cf. Lucas 1,5-56), o evangelista passa para o conjunto dos dois nascimentos, a começar pelo do Precursor. Tudo isto acontece num clima de serenidade, entre louvores a Deus e os parabéns dos vizinhos (versículos 57-58). Dá um rápido aceno à circuncisão de João, segue-se a discussão a respeito do nome que vão lhe dar (versículos 59-64) e a pergunta a respeito da missão que Deus lhe reservará (versículos 65-66). A liturgia, depois, passa para o versículo conclusivo, recordando o nascimento do menino e a sua vida solitária no deserto (versículo 80).

Lucas nos dois primeiros capítulos, nos conta a infância de João Batista, profeta do Altíssimo e a de Jesus, Filho do Altíssimo. Constitui uma parte muito original com um vocabulário e estilo relembrando os do Primeiro Testamento.

O nascimento de João Batista (versículos 67-58). Lucas menciona rapidamente o nascimento de João Batista (apenas 2 versículos) para concentrar toda a atenção sobre a sua circuncisão (8 versículos). No caso de Jesus é o contrário: assistimos a um deslocamento do interesse de Lucas. Enquanto a circuncisão de Jesus é apenas notificada (1 versículo só), o relato de seu nascimento é bem mais desenvolvido (7 versículos) do que o de João. Isto se deve ao fato de que para Lucas era muito mais importante explicar por que o Salvador nasceu em Belém, na Judéia, enquanto o lugar de nascimento de João (em Ain Kãrim, mais ou menos a 8 km de Jerusalém) não interessa. Por outro lado, a circuncisão do Precursor é muito importante porque, naquela oportunidade, conforme o costume judaico, receberá o seu nome: “João”.

A circuncisão de João Batista (versículos 59-66). O oitavo dia depois do nascimento era a data legal da circuncisão (Gênesis 17,12; Levítico 12,3). O rito foi estabelecido a partir de Abraão quando Deus fez Aliança com ele, tornando-se pai de uma multidão de povos (Gênesis 17,5-10). Desde então todos os homens que vieram depois foram circuncidados para manifestar em sua carne a Aliança perpétua de Deus com seu povo. Até hoje, judeus e muçulmanos obedecem a este mandamento fundamental; o seu não cumprimento exclui a pessoa do plano salvífico de Deus (Atos 15,1) e constitui um pecado irremissível (Jubileus 15,33-34). O preceito atinge “tanto o nascido em casa como o comprado de estrangeiros (Gênesis 17,12-13).

Primitivamente, no Primeiro Testamento, o nome era dado no dia do nascimento (Gênesis 21,3-4). Mais tarde, sob a influência do helenismo e do judaísmo mais recente, passou a ser dado no dia da circuncisão: é o caso aqui. Geralmente, costumava dar ao menino o nome de seu avô. (para evitar o problema do mesmo nome –homonímia - entre pai e filho). Por causa da idade avançada de Zacarias, os parentes queriam dar à criança o nome de seu pai; a diferença de idade era tão grande que não teria confusão. Zacarias Júnior, diríamos hoje. Mas a mãe propões outro nome, João, o que causou estranheza a algumas pessoas.

No Primeiro Testamento, o nome da criança podia ser dado indeferentemente pelo pai (Gênesis 16,15; 17,19; Êxodo 2,22) ou pela mãe (Gênesis 29,32-35; 30,6.24 Juízes 13,24; 1Samuel 1,20; 4,21; 2Samuel 12,24). Entretanto, quando havia conflito entre os esposos, a opinião do pai prevalecia (Gênesis 35,18). João recebe o nome de seu pai (Lucas 1,13.63) e Jesus de sua mãe (Lucas 1,31), por causa da sua concepção virginal. Obedecendo à ordem do anjo, Zacarias, e Maria manifestam a sua fé.

Porém, Isabel não estava sabendo que um mensageiro de Deus tinha indicado o nome de João. E como ninguém de sua parentela tinha este nome, percebemos melhor que teve uma intuição divina. O nome próprio do Batista (“João”, isto é, “Deus é favorável) sintetiza e ao mesmo tempo cumpre o plano misericordioso do Deus de Israel que se lembrou de sua Aliança com Abraão, cujo sinal visível é justamente a circuncisão. Assim o nome da pessoa revela ao mesmo tempo o sentido de sua missão.

O mutismo de Zacarias - Para Santo Agostinho, o fato de Zacarias ficar mudo, ao duvidar do anúncio do nascimento de seu filho, é muito significativo. Aliás, fica mudo desde o anúncio até o nascimento de João. O mutismo de Zacarias é símbolo da profecia antiga que se encontrava de certo modo velada ou adormecida até o momento da pregação de Cristo. Com a chegada de Cristo, a quem a profecia antiga se referia, lançava-se nova luz e dava sentido e vitalidade à história da salvação. Segundo Santo Agostinho, bispo de Hipona, a recuperação da voz de Zacarias, no momento em que seu filho recebe o nome por ele designado (Johanan) significa “JHWH é graça, é bondade”, isto é, João significa “Deus se mostrou misericordioso”, tem o mesmo sentido do véu que se rasga no Templo de Jerusalém quando acontece a morte de Cristo na cruz. A língua destravada de Zacarias rompe o mutismo da profecia, tal como o véu do Templo que impedia o acesso ao Santo dos santos.

A Palavra do Senhor liberta, abre a boca, solta a língua para que as pessoas possam louvar e profetizar. Zacarias bendiz o Deus misericordioso e compassivo, que se preocupa com a vida do povo. O Espírito de Deus ilumina, ajuda a descobrir os sinais de salvação nos acontecimentos da vida. Deus renova as promessas, a Aliança feita a Abraão. Agora ele faz nascer um menino, que será chamado profeta do Altíssimo, pois andará à frente do Senhor para preparar o caminho e anunciar a salvação ao povo (cf. Lucas 1,68-79).

Juventude de João Batista (versículo 80. Inspira-se na infância de Samuel (1Samuel 2,21.26) e um pouco também em Sansão (Juízes 13,24-25). É uma espécie de refrão que encontramos igualmente em Lucas 2,40.52 para descrever a vida oculta de Jesus em Nazaré. Resume num versículo só toda a vida juventude de João: isto significa que não sabemos nada dela! A única informação que possuímos é que o Batista “habitava nos desertos”. Este traço já prefigura a atividade posterior de João (Lucas 3,2.4; 7,24). O deserto, lugar de treinamento dos profetas, será também o quadro do retiro de Jesus Cristo, preparatório à sua vida pública (Lucas 4,1-13).

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