segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

SEXTO DIA DA NOVENA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM NOSSA SENHORA


ROSA MÍSTICA

 I. MARIA CONSERVAVA todas estas coisas, meditando-as no seu coração1. E a sua mãe conservava todas estas coisas no seu coração2. Por duas vezes o Evangelista se refere a esta atitude de Maria diante dos acontecimentos: uma na noite de Belém, e a outra em Nazaré, ao regressar de Jerusalém depois de encontrar Jesus no Templo. A insistência do Evangelista parece um eco da repetida reflexão de Maria, que deve tê-la confidenciado aos Apóstolos depois da Ascensão de Jesus aos céus.

A Virgem conservava e meditava. Sabia recolher-se interiormente, guardava e avaliava na sua intimidade, isto é, tornava tema da sua oração os grandes e pequenos acontecimentos da sua vida. Esta oração contínua de Maria é como o aroma da rosa “que se eleva constantemente para Deus. Essa elevação nunca cessa, tem um frescor primaveril; é sempre jubilosamente nova e virginal. Se a brisa das nossas orações ou os ventos tempestuosos deste mundo passam por Ela e a tocam, o perfume da sua oração eleva-se então em tons mais fortes e perceptíveis; Maria converte-se em intercessora, incluindo a nossa oração na sua para apresentá-la ao Pai em Jesus Cristo, seu Filho”3.

Quando estava nesta terra, a Virgem não fazia nada que não fosse por referência ao seu Filho: cada vez que falava com Jesus, e quando o fitava, quando lhe sorria ou pensava nele, orava, pois a oração é isso: é falar com Deus4.

Em Caná da Galileia, nas bodas daqueles parentes ou amigos, ensina-nos com que delicadeza e insistência devemos pedir. “Apesar de ser a Mãe de Jesus, de tê-lo embalado nos seus braços, Maria abstém-se de lhe indicar o que pode fazer. Expõe a necessidade e deixa o resto ao critério do Filho, na certeza de que a solução que Ele der ao problema, seja qual for e em que sentido for, será a melhor, a mais conveniente. Deixa a mais ampla liberdade ao Senhor, para que faça a sua vontade sem compromissos nem violências. Mas isso porque estava certa de que a vontade do Filho era o que de mais perfeito se podia fazer e o que deveras resolvia a questão. Não tolhe os movimentos do seu Filho, antes confia na sua sabedoria, no seu conhecimento superior, na sua visão mais ampla e profunda das circunstâncias que Ela provavelmente desconhecia. Nossa Senhora nem sequer considerou se Jesus acharia conveniente ou não intervir: expõe o que sucede e abandona-o nas suas mãos.  É que a fé compromete o Senhor muito mais do que os argumentos mais sagazes e contundentes”5.

Ao pé da Cruz, a Virgem anima-nos a estar sempre junto de Jesus, em oração silenciosa, nos momentos mais duros da vida. E a última notícia que dela nos dá o Evangelho no-la retrata entre os Apóstolos, orando com eles6, à espera da chegada do Espírito Santo.

“O Santo Evangelho facilita-nos brevemente o caminho para entendermos o exemplo da nossa Mãe: Maria conservava todas estas coisas dentro de si, ponderando-as no seu coração (Lc 2, 19). Procuremos nós imitá-la, conversando com o Senhor, num diálogo enamorado, de tudo o que se passa conosco, até dos acontecimentos mais triviais. Não esqueçamos que temos de pesá-los, avaliá-los, vê-los com olhos de fé, para descobrir a Vontade de Deus”7. É a isso que nos deve levar a nossa meditação diária: a identificar-nos plenamente com Jesus, a dar um conteúdo divino aos pequenos acontecimentos diários.

II. O AROMA DA NOSSA ORAÇÃO deve subir constantemente ao nosso Pai-Deus. Mais ainda: pedimos a Nossa Senhora – que já está no Céu em corpo e alma – que diga a Jesus constantemente coisas boas de nós:  “Lembrai-vos, Virgem Mãe de Deus, quando estiverdes na presença do Senhor, de dizer-lhe coisas boas em nosso favor”8. E Ela, do Céu, anima-nos a nunca abandonar a oração, o trato com Deus, pois a oração é a nossa fortaleza diária.

Devemos chegar a um trato cada vez mais íntimo com o Senhor na nossa oração mental – nesses tempos diários que dedicamos a falar-lhe silenciosamente dos nossos assuntos, a dar-lhe graças, a pedir-lhe ajuda e a dizer-lhe que o amamos... – e mediante a oração vocal, empregando muitas vezes as palavras que serviram a tantas gerações para elevar os seus corações e os seus pedidos ao Senhor e à sua Santíssima Mãe.

A oração robustece-nos contra as tentações. Às vezes, leva-nos a ouvir as mesmas palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos no horto de Getsêmani: Por que dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação9. Devemos rezar sempre, mas há momentos em que temos de fazê-lo mais intensamente, porque talvez sejam maiores as dificuldades familiares ou profissionais, ou mais fortes as tentações. A oração mantém-nos vigilantes contra o inimigo que ataca e fortalece-nos o espírito perante as dificuldades.

A Virgem Santa Maria ensina-nos hoje a ponderar no nosso coração e a dar sentido na presença de Deus a tudo aquilo que constitui a nossa vida: ao que nos parece uma grande desgraça, às pequenas contrariedades, às alegrias, à rotina do trabalho diário, às trivialidades da vida familiar, à amizade...

Como Maria, acostumemo-nos a procurar o Senhor na intimidade da nossa alma em graça. “Alegra-te com Ele no teu recolhimento interior. Alegra-te com Ele, já que o tens tão perto. Deseja-o aí; adora-o aí; não o procures fora de ti, porque te distrairás e te cansarás, e não o encontrarás; não poderás fruir dele com maior certeza nem com mais rapidez nem mais perto do que dentro de ti”10.

Nenhuma pessoa neste mundo soube tratar Jesus como a sua Mãe; e, depois dela, São José, que passou longas horas olhando-o, contemplando-o, falando com Ele dos pequenos assuntos diários, com simplicidade e veneração. Se recorrermos a eles com fé antes de começarmos a nossa oração mental diária, veremos como nos ajudam a conversar afetuosamente com o Senhor nesses minutos de silêncio e de colóquio íntimo.

III. NA ORAÇÃO MENTAL, falamos com o Senhor de pessoa a pessoa, entendemos o que Ele quer de nós, vemos com outra profundidade o conteúdo da Sagrada Escritura, pois “a compreensão tanto das coisas como das palavras transmitidas cresce quando os fiéis as contemplam e estudam, repassando-as no seu coração”11.

Juntamente com esse “ponderar as coisas no coração”, também é muito grata ao Senhor a oração vocal, como o foi sem dúvida a da Virgem, pois Ela certamente recitaria Salmos e outras fórmulas contidas no Antigo Testamento, próprias do povo hebreu12. Quando começamos o trabalho, ao terminá-lo, ao caminharmos pela rua, ao subirmos ou descermos as escadas da nossa casa..., a nossa alma inflama-se com as orações vocais e a nossa vida converte-se, pouco a pouco, numa contínua oração: recitamos o Pai-Nosso, a Ave-Maria, jaculatórias que nos ensinaram ou que aprendemos ao lermos e meditarmos o Santo Evangelho, extraídas das palavras com que muitos personagens que se aproximavam do Senhor lhe pediam que os curasse, perdoasse, abençoasse... Algumas dessas jaculatórias foram-nos ensinadas quando éramos pequenos: “São frases ardentes e singelas, dirigidas a Deus e à sua Mãe, que é nossa Mãe. Ainda hoje – recordava o Bem-aventurado Josemaría Escrivá –, de manhã e à tarde, não um dia, mas habitualmente, renovo aquele oferecimento de obras que os meus pais me ensinaram: Ó Senhora minha, ó minha Mãe!, eu me ofereço todo a Vós. E, em prova do meu afeto filial, vos consagro neste dia os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração... Não será isto – de certa maneira – um princípio de contemplação, demonstração evidente de confiado abandono?”13

A oração Lembrai-vos, a Salve-Rainha..., encerram para muitos cristãos a recordação e a candura da primeira vez em que as rezaram. Não deixemos que essas belíssimas orações se percam; cumpramos o dever de ensiná-las aos outros. De modo muito particular, podemos esmerar-nos nestes dias da Novena na recitação do terço, pois tem sido recomendada com tanta insistência pela Igreja.

O Papa Pio IX encontrava-se no seu leito de morte, e um dos prelados que o assistiam perguntou-lhe em que pensava naquelas horas supremas. E o Papa respondeu-lhe: “Veja: estou contemplando docemente os quinze mistérios que adornam as paredes desta sala, que são outros tantos quadros de consolo. Se soubesse como me animam! Contemplando os mistérios gozosos, não me lembro das minhas dores; pensando nos dolorosos, sinto-me extremamente confortado, pois vejo que não estou sozinho no caminho da dor, mas que Cristo vai à minha frente; e quando considero os gloriosos, sinto uma grande alegria, e parece-me que todas as minhas penas se convertem em resplendores de glória. Como me consola o rosário neste leito de morte!” E dirigindo-se depois aos que o rodeavam, disse: “O rosário é um Evangelho compendiado e dará aos que o recitam os rios de paz de que nos fala a Sagrada Escritura; é a devoção mais bela, mais rica em graças e gratíssima ao coração de Maria. Seja este, meus filhos, o meu testamento, para que vos lembreis de mim na terra”14.

Façamos hoje o propósito de aproveitar melhor o tempo que dedicamos à meditação diária e às orações vocais, especialmente ao terço, por meio do qual alcançaremos graças sem conta para nós e para aqueles que queremos aproximar do Senhor.

(1) Lc 2, 19; (2) Lc 2, 51; (3) F. M. Moshner, Rosa mística, pág. 201; (4) cfr. Card. J. H. Newman, Rosa mística, pág. 79; (5) F. Suaréz, A Virgem Nossa Senhora, pág. 246-247; (6) At 1, 14; (7) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 285; (8) cfr. Graduale Romanum, 1979, pág. 422; (9) Lc 22, 46; (10) São João da Cruz, Cântico espiritual, 1, 8; (11) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum, 8; (12) cfr. F. M. Willam, Vida de Maria, pág. 160; (13) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 296; (14) cfr. H. Marín, Doctrina Pontificia IV: Documentos marianos, BAC, Madrid, 1954, n. 322.

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