1ª
Leitura (2Sam 5,1-3): Naqueles dias, todas as tribos de Israel foram ter
com David a Hebron e disseram-lhe: «Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já
antes, quando Saul era o nosso rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas
de Israel. E o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás
rei de Israel’». Todos os anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron.
O rei David concluiu com eles uma aliança diante do Senhor e eles ungiram David
como rei de Israel.
Salmo
Responsorial: 121
R. Vamos com alegria para a casa do Senhor.
Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor». Detiveram-se os nossos passos às tuas portas,
Jerusalém.
Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto! Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor.
Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel; ali estão os tribunais da justiça, os tribunais da
casa de David.
2ª
Leitura (Col 1,12-20): Irmãos: Damos graças a Deus Pai, que nos fez
dignos de tomar parte na herança dos santos, na luz divina. Ele nos libertou do
poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no
qual temos a redenção, o perdão dos pecados. Cristo é a imagem de Deus
invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque n’Ele foram criadas todas
as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações,
Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a
todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu
corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o
primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele
fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue
da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.
Evangelho
(Lc 23,35-43): Naquele tempo, o povo permanecia lá, olhando. E até os
chefes zombavam, dizendo: «A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de
fato, é o Cristo de Deus, o Eleito!» Os soldados também zombavam dele;
aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre e diziam: «Se és o rei dos judeus,
salva-te a ti mesmo!». Acima dele havia um letreiro: «Este é o Rei dos Judeus».
Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: «Tu não és o Cristo?
Salva-te a ti mesmo e a nós!». Mas o outro o repreendeu: «Nem sequer temes a
Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos
recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal». E acrescentou: «Jesus,
lembra-te de mim, quando começares a reinar». Ele lhe respondeu: «Em verdade te
digo: hoje estarás comigo no Paraíso».
Hoje, o Evangelho nos faz elevar os olhos à cruz onde Cristo agoniza no Calvário. Vemos ao Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. «Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus». (Lc 23,38). Este que sofre horrorosamente e que tem o rosto tão desfigurado é o Rei? É possível? O compreende perfeitamente o bom ladrão um dos justiçados de um lado e do outro Jesus, que diz com fé suplicante: «Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!» (Lc 23,42). A resposta de Jesus é consoladora e certa: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso». (Lc 23,43).
Sim, confessamos que Jesus é Rei.
Rei, com maiúscula. Ninguém estará nunca à altura de sua realeza. O Reino de
Jesus não é deste mundo. É um Reino onde se entra pela conversão cristã. Um
Reino de verdade e de vida, Reino de santidade e de graça, Reino de justiça, de
amor e de paz. Um Reino que sai do Sangue e a água que brotaram do costado de
Jesus Cristo.
O Reino de Deus foi um tema
primordial na predicação do Senhor. Não parava de convidar a todos a entrar
nele. Um dia, no Sermão da montanha, proclamou bem-aventurado os pobres no
espírito, porque eles são os que possuirão o Reino.
Origens, comentando a sentença de
Jesus «Nem se dirá: Hei-lo aqui; ou: Hei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está
no meio de vós» (Lc 17,21), explica que quem suplica para que o Reino de Deus
venha, o pede honestamente daquele Reino de Deus que tem dentro dele, para que
nasça, frutifique e amadureça. Complementa que «o Reino de Deus que há dentro
de nós, se avançamos continuamente, chegará a sua plenitude quando tenha sido
cumprido aquilo que diz o Apóstolo: que Cristo, una vez submetidos os seus
inimigos, colocará o Reino em mãos de Deus o Padre, e assim Deus será todo em
todos». O escritor exorta que digamos sempre «Seja santificado teu nome venha a
nós teu Reino».
Vivamos agora o Reino com a
santidade, e demos testemunho dele com a clareza que autêntica a fé e a
esperança.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Entre os homens, a confissão é seguida de castigo; perante Deus, porém, à confissão segue-se a salvação» (S. João Crisóstomo)
«A promessa de Jesus ao bom
ladrão dá-nos uma grande esperança. O Senhor sempre nos dá mais, é tão
generoso, dá sempre mais do que lhe pedimos: pedes-Lhe que se lembre de ti e
leva-te para o seu Reino» (Francisco)
«(...) A parábola do pobre Lázaro
e a palavra de Cristo crucificado ao bom ladrão (cf. Lc 23,43) (...) assim como
outros textos do Novo Testamento, falam dum destino final da alma (cf. Mt
16,26), o qual pode ser diferente para umas e para outras» (Catecismo da Igreja
Católica, nº 1.021)
* O texto de hoje tem por tema a realeza messiânica de Jesus (v. 2). Estamos no Calvário (v. 33; aram. Gólgota: Mc 15,22p), diante de Jesus crucificado, na hora em que Ele está a dar a vida pela salvação dos homens.
* v. 35. Os chefes troçavam de
Jesus, dizendo: «A outros salvou: salve-se a si mesmo, se este é o Cristo de
Deus, o Eleito». (vv. 35-38: Mt 27,39-43.37; Mc 15,29-32.26). Ao invés de
Mateus e de Marcos, em Lucas o povo não insulta Jesus na Sua paixão: limita-se
a “contemplá-lo” (Sl 22,8), silencioso e perplexo, enquanto os seus chefes
“troçam” dele (16,14; Sl 22,8), desafiando-o a “salvar-se a si mesmo” (Sl
22,9), com palavras decalcadas do Sl 22 (o principal salmo da paixão), fazendo
desta forma que, sem disso se aperceberem, as Escrituras se cumpram em Jesus
(cf. At 3,17-18; 13,27). Ignoravam que, para salvar a humanidade do pecado e da
morte, Jesus tinha de entrar neles para, ressuscitando, os vencer e viver para
sempre com Deus (cf. Rm 6,10).
* “Os chefes” dos judeus
ridicularizam a pretensão messiânica de Jesus (22,67-71), requerendo "um
sinal" da sua parte que o comprove (v. 8; 11,16.29) – neste caso, o
salvar-se a si mesmo, descendo da cruz –, acabando, ironicamente, por proclamar
desta forma dois títulos seus:
a) “o Cristo de Deus” (gr.), ou seja, “o Messias” (he.), o Ungido de Deus (Lc, 3x: 9,20; 2,26; só “Cristo”: Lc, 12x: 2,11; 4,41; 20,41; 22,67; 23,2; 23,35.39; 24,26.46), prometido no AT por Deus a David (2Sm 7,11-16).
b) e “o Eleito” (com artigo), título só mencionado por Lucas e por ele aplicado a Jesus nesta ocasião, em todo o NT.
* A designação vem do AT, onde
não é, em si mesma, um título messiânico, referindo-se a diversas realidades e
pessoas. No contexto onde agora é usada, ela designa Jesus, de forma
especial, como:
I) o “Servo de Iavé”, “escolhido” por Deus para levar a salvação a todos os povos (Is 42,1; cf. At 3,13.26; 4,27.30, onde Lucas prefere antes o termo grego mais específico, paîs, "servo", de sabor mais vincadamente veterotestamentário, também presente em Is 42,1, para designar Jesus);
II) o justo perseguido (cf. Sb 3,9; 4,15);
III) o Messias, descendente de David (só no Sl 89,4.20 e em Tb [S] 13,13);
IV) e, com o mesmo cariz messiânico da alínea anterior, aquele que foi exaltado sobre todas as criaturas e constituído por Deus juiz universal, referido, por diversas vezes, no Livro de Henoc (1Hen 39,6; 45,3; 49,2; 51,2.4; 52,6.9; 53,6; 55,4; 61,4.5.8.10; 62,1; 91,19), um apócrifo dos sécs. IV-I a.C., bem conhecido no séc. I d.C., não só em território palestinense, mas também nos círculos helenísticos de matriz judaica, como eram muitos daqueles para os quais Lucas e os outros autores do NT que o citam escreveram as suas obras.
* O título "o
Eleito" cobre em Lucas estas quatro acepções, evocando nesta passagem a
revelação da verdadeira identidade de Jesus pelo Pai, feita na Transfiguração,
onde a sua forma sinónima e mais lata (gr. eklelegménos, "escolhido")
aparece ligada ao título "o Filho" (9,35), designando, por isso,
aqui, inequivocamente, Jesus crucificado como Messias, sendo exatamente nesse
sentido que as autoridades judaicas o usam nesta passagem, fazendo pouco d'Ele.
Entretanto, precisamente por a
designação "o eleito" não ser em si mesma um título messiânico, uma
vez que no AT, no plural, ela também se refere, de forma particular, aos
membros do povo de Deus (Sl 105,43; 106,5; Is 65,9,22; Br 3,9; 4,15), este
título, aqui usado, serve para aludir a Jesus crucificado como o Messias, ao
mesmo tempo que o aponta como o protótipo dos seus discípulos, seguidores do
(seu) "Caminho" (At 9,2; 19,9.23; 22,4; 24,14.22), ou seja, os
cristãos (At 11,26), que, eleitos de Deus como Ele, também como Ele serão
odiados, perseguidos, rejeitados e mortos pelos judeus e pelos gentios,
servindo assim para os animar à perseverança e exortar à fidelidade com o
exemplo do seu Mestre, de modo a, com Jesus e como Ele, poderem participar
também da sua vitória (cf. v. 43).
* v. 36. Também os soldados
escarneciam dele. Aproximando‑se, ofereciam-lhe vinagre… Os soldados associam-se à
paródia dos chefes judaicos e “escarnecem” de Jesus (v. 11; 18,32; 22,63; cf.
2Cr 36,16). “Oferecem-lhe vinagre” (cf. Jo 19,29) a beber, cumprindo-se assim
também em Jesus a Escritura, neste caso, o Sl 69,22 (“na minha sede, deram-me
vinagre a beber”: cf. Jo 19,30).
* v. 37. ... dizendo: «Se Tu
és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo». Embora Lucas não especifique,
estes soldados são romanos, pois insultam Jesus evocando o motivo da sua
condenação por parte das autoridades romanas, ou seja, de Pôncio Pilatos (v.
3): ser “o Rei dos judeus” (neste capítulo, 3x: vv. 3.38). Também pedem a Jesus
o sinal que, a seu ver, comprovaria que eram verdadeiras as pretensões
messiânicas do crucificado: salvar-se a si mesmo (cf. v. 35). O Deus
vivo, porém, não é como os deuses pagãos: não precisa, como estes, de lutar
contra outros deuses para vencer, de forma a se salvar a si mesmo, triunfando
sobre eles, mas, pelo contrário, dá-se a Si mesmo em comunhão de amor para,
precisamente através da sua morte, salvar e glorificar o homem.
* v. 38. E por cima dele havia
um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Tal é, de facto, o motivo da
condenação de Jesus pelo poder romano, afixado no titulum crucis: “Este é o Rei
dos judeus”. Um letreiro cínico, que visava também ofender os judeus (cf. Jo
19,21s). Jesus, porém, nada tem de um rei temporal: não está sentado num trono,
mas pregado numa cruz; não veste roupas sumptuosas, mas está nu; não aparece
rodeado de soldados, dispostos a defendê-lo, mas foi abandonado pelos seus; não
é aclamado pelo povo, mas entregue pelos seus chefes; não julga, nem mostra a
sua autoridade, decidindo sobre a vida ou a morte fr milhares de homens, mas
está indefeso, pregado numa cruz, condenado a uma morte infamante (cf. Dt
21,23); não jura vingança, nem inflige castigo, mas tem apenas uma súplica na
boca: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem” (v. 34).
* v. 39. Um dos malfeitores
suspensos na cruz insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Cristo? Salva-te a Ti
mesmo e a nós». O quadro é completado por uma cena exclusiva de Lucas, bem
significativa para entender o sentido da realeza de Jesus. Com Jesus estão
“suspensos” (Dt 21,22) – ou seja, crucificados (v. 33; At 5,30; 10,39; Gl
3,13), não com cravos, mas com cordas (cf. Jo 19,31s) –, dois “malfeitores”
(vv. 32s.39; Mt 27,44; Mc 15,32b; 2Tm 2,9), no meio dos quais Ele se encontra.
Cumprem-se assim o Sl 22,17 (“Cercou-me um bando de malfeitores”) e Is 53,12
(“Foi contado entre os transgressores”).
Um dos malfeitores insulta também
Jesus (Mt 27,44; Mc 15,32), pedindo-lhe o mesmo sinal que os chefes judaicos e
os soldados romanos: salvar-se a si mesmo e descer da cruz, salvando-os, neste
caso, também a eles. É o terceiro insulto a Jesus na cruz por ser “o Cristo” e
o terceiro pedido de um sinal da parte dele que comprove a sua identidade
messiânica, tal como três foram as tentações de Jesus pelo diabo, no deserto,
por ele ser Filho de Deus, após as quais o diabo, "tendo esgotado toda a
espécie de tentação, se retirou de junto dele, até ao momento oportuno (gr.
kairós)" (4,1-13), que agora chegou. Em cada um destes três insultos
aparece o verbo “salvar” (gr. sôzô, 4x neste texto: 2x no v. 35, e 1x no v. 37
e aqui), pondo de manifesto que o que Deus está a operar através da paixão e
morte de Jesus na cruz é a salvação da humanidade (cf. 1,69.77; 2,11.30; 3,6;
19,9s).
Este insulto a Jesus como “o
Cristo”, repetido duas vezes pelos judeus (vv.35.39) e outras duas pelos
romanos, mas agora sob o título de “Rei dos judeus” (vv. 37-38), compendia o
falso testemunho levantado contra Jesus no início do seu processo (v. 2), que
levou à sua condenação por parte também da autoridade romana. Ele põe a nu a
contradição entre, por um lado, a conceção humana do poder por parte dos
grandes (cf. 22,25) e do Messias por parte dos judeus, que esperavam um rei
triunfalista, que faria grandes prodígios e destruiria todos os seus inimigos,
sem nunca morrer; e, por outro, a visão de Deus sobre o Messias, que, como
"Servo de Iavé", dá a sua vida pela redenção dos homens (Is
53,10-12).
Os insultos dirigidos contra
Jesus acabam assim por ser, contra a vontade dos Seus opositores, uma confissão
de fé, pronunciada e repetida por duas vezes – como se exigia para um
testemunho ser declarado verdadeiro (cf. Dt 17,6; 19,15; Mt 18,16; Jo 8,17;
2Cor 13,1) – pela sua própria boca: ser "Cristo Rei" (v. 2),
precisamente o título que damos a Jesus na solenidade que celebramos neste
domingo!
v. 40. Mas o outro, tomando a
palavra, repreendeu-o, dizendo: «Não temes ainda a Deus, tu que sofres a mesma
condenação? A visão divina de Jesus como o verdadeiro Messias é aceite,
porém, pelo outro malfeitor, que repreende o seu companheiro, por ver no
insulto deste a Jesus uma blasfémia.
v. 41. Quanto a nós fez-se
justiça, pois recebemos o que as nossas ações mereciam; mas este não fez nenhum
mal». Ao invés do companheiro de crucificação e dos circunstantes, ele
confessa, então, publicamente a sua culpa (cf. 18,13), reconhece a justeza da
sua condenação (cf. Dn 3,27-39; Js 7,19s.25s) e proclama a inocência de Jesus
(cf. v. 47; 12,8; At 13,28!; 3,14; 7,52; 22,14).
* v. 42. E dizia: «Jesus,
lembra-te de mim quando entrares no Teu reino». A seguir dirige-se a Jesus,
começando por invocar publicamente o Seu nome, “Jesus” (cf. Jl 3,5; At 2,21; Rm
10,13: "E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo"). Depois
pede-lhe: “lembra-te de mim”, ou seja, usa de misericórdia para comigo,
perdoa-me e salva-me (Gn 40,14; Tb 3,3; Sl 25,7; 106,4). Por último, põe
em Jesus toda a sua fé e esperança, acrescentando: “quando entrares no Teu
reino”. O malfeitor usa o verbo erchomai que significa “entrar/vir/aparecer”. É
uma expressão que retoma as palavras de Jesus na Última Ceia, em 22,18
("até que venha o Reino de Deus", designando a sua paixão, morte e
ressurreição como a verdadeira Páscoa, a da nova e eterna Aliança, que a páscoa
judaica prefigurava. Trata-se de um pedido surpreendente que um
condenado, um “maldito de Deus” (cf. Dt 21,22s), dirige a outro condenado,
maldito como ele (Gl 3,13), em quem, não obstante estar a morrer, reconhece a
presença de Deus que vem ao encontro do último dos homens e se faz próximo do
mais perdido deles, para dar ao homem, justamente condenado (cf. Rm 5,18), a
única, derradeira e verdadeira esperança: a da salvação (cf. 19,10).
Na realidade, é uma verdadeira "confissão de fé" em Jesus (gr. exomológuesis: cf. 10,21; Fl 2,11; Dn 9,4-20), na qual ele confessa Jesus, não como um rei terreno (pois sabe que Ele está a morrer), mas como o Rei-Messias do mundo vindouro, prometido por Deus (cf. Is 9,6; Dn 7,14.22), reconhecido como tal, não à luz da visão terrena e humana, judaica (segundo a qual, como vimos, o Messias não poderia morrer: cf. Mc 8,32s; Mt 16,22s), mas pela primeira vez, de forma inaudita, à luz do autêntico desígnio salvífico de Deus (cf. Mc 8,29; Mt 16,16s). Confissão de fé tão importante, que ainda hoje é cantada pelo povo na liturgia grega, no momento da comunhão.
* v. 43. E Ele disse‑lhe:
«Amém te digo: hoje
estarás comigo no Paraíso». Perante tal fé, Jesus responde: “Amém te digo”. A
palavra hebraica amém, já utilizada em ambiente litúrgico (cf. Dt 27,15-26; 1Cr
16,36; Rm 1,25, etc.), significa “é verdadeiro”, “é digno de fé”, “é digno de
confiança”. Jesus utiliza-a para vincar a importância do que a seguir vai
afirmar, indicando que o que diz é digno de fé e de confiança, podendo cada um
contar sobre isso e sobre isso apoiar a sua vida, porque certamente acontecerá
(cf. Ap 3,14).
* “Hoje” aparece aqui em Lucas
como a última das onze vezes que ocorre no seu Evangelho. Não tem apenas o
sentido cronológico do “dia presente” (12,28, 22,34.61), mas sobretudo o
sentido teológico do “dia da salvação e da graça” (2Cor 6,2), em que, quem
acredita em Jesus – como este malfeitor –, recebe a salvação (2,11; 4,21; 5,26;
13,32-33; 19,5.9).
* Jesus chama à vida eterna
“paraíso”. “Paraíso” é uma palavra persa que significa “parque”,
"pomar", "jardim" (Ne 2,8; Qo 2,5; Ct 4,13). Era o nome
dado em grego ao Éden (Gn 2,8-9; Ap 2,7), “o jardim de Deus” (Is 51,3; Ez
28,13), que no meio tinha a árvore da vida, onde o homem, criado por Deus, fora
colocado, gozando da comunhão com Ele, e donde foi expulso depois de ter pecado
(Gn 3,23s). O paraíso era considerado pelo judaísmo palestiniano contemporâneo
de Jesus a morada onde as almas dos justos repousavam até à ressurreição final
(cf. 16,23s; Apoc Mos 37; 2Hen 8,1-9). No NT, “paraíso” é sinónimo de “céu”, a
morada de Deus (cf. 2Cor 12,4), onde Cristo, pela sua morte e ressurreição, nos
introduziu (cf. Ef 2,6-7).
* É em Cristo que se inaugura
o “hoje”, definitivo e eterno, da salvação (cf. At 13,33), em que o homem,
redimido dos seus pecados pelo Sangue de Jesus e por Ele conduzido, regressa à
comunhão com Deus, tal como fora prometido (cf. Ez 37,27). Tal é o sentido da
realeza de Jesus: dar a vida, para, unindo os homens a Si, os associar à Sua
realeza, tornando-os participantes, com Ele e n'Ele, da sua vida divina, no
Reino de Deus, no eterno "hoje" da salvação, que nunca mais terá fim.
MEDITAÇÃO
1. Como é que damos testemunho da realeza de Cristo: através de estruturas de poder ou num serviço de amor e proximidade às pessoas?
2. Que é mais importante para mim: o seguimento de Jesus, a atenção ao próximo ou as minhas pretensões de aplausos e reconhecimento?
3. Sou compreensivo com os outros, mesmo com os que erram? Como é que me relaciono com os que são rejeitados por parte dos outros?
R. Vamos com alegria para a casa do Senhor.
Aleluia. Bendito O que vem em
nome do Senhor! Bendito o reino do nosso pai David! Aleluia.
«Este é o Rei dos Judeus»
Rev. D. Joan GUITERAS i Vilanova (Barcelona,
Espanha)
Hoje, o Evangelho nos faz elevar os olhos à cruz onde Cristo agoniza no Calvário. Vemos ao Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. «Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus». (Lc 23,38). Este que sofre horrorosamente e que tem o rosto tão desfigurado é o Rei? É possível? O compreende perfeitamente o bom ladrão um dos justiçados de um lado e do outro Jesus, que diz com fé suplicante: «Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!» (Lc 23,42). A resposta de Jesus é consoladora e certa: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso». (Lc 23,43).
«Entre os homens, a confissão é seguida de castigo; perante Deus, porém, à confissão segue-se a salvação» (S. João Crisóstomo)
Jesus, o Senhor e o centro de
nossa vida
Fr. Pedro Bravo, O.Carm
* O texto de hoje tem por tema a realeza messiânica de Jesus (v. 2). Estamos no Calvário (v. 33; aram. Gólgota: Mc 15,22p), diante de Jesus crucificado, na hora em que Ele está a dar a vida pela salvação dos homens.
a) “o Cristo de Deus” (gr.), ou seja, “o Messias” (he.), o Ungido de Deus (Lc, 3x: 9,20; 2,26; só “Cristo”: Lc, 12x: 2,11; 4,41; 20,41; 22,67; 23,2; 23,35.39; 24,26.46), prometido no AT por Deus a David (2Sm 7,11-16).
b) e “o Eleito” (com artigo), título só mencionado por Lucas e por ele aplicado a Jesus nesta ocasião, em todo o NT.
I) o “Servo de Iavé”, “escolhido” por Deus para levar a salvação a todos os povos (Is 42,1; cf. At 3,13.26; 4,27.30, onde Lucas prefere antes o termo grego mais específico, paîs, "servo", de sabor mais vincadamente veterotestamentário, também presente em Is 42,1, para designar Jesus);
II) o justo perseguido (cf. Sb 3,9; 4,15);
III) o Messias, descendente de David (só no Sl 89,4.20 e em Tb [S] 13,13);
IV) e, com o mesmo cariz messiânico da alínea anterior, aquele que foi exaltado sobre todas as criaturas e constituído por Deus juiz universal, referido, por diversas vezes, no Livro de Henoc (1Hen 39,6; 45,3; 49,2; 51,2.4; 52,6.9; 53,6; 55,4; 61,4.5.8.10; 62,1; 91,19), um apócrifo dos sécs. IV-I a.C., bem conhecido no séc. I d.C., não só em território palestinense, mas também nos círculos helenísticos de matriz judaica, como eram muitos daqueles para os quais Lucas e os outros autores do NT que o citam escreveram as suas obras.
Na realidade, é uma verdadeira "confissão de fé" em Jesus (gr. exomológuesis: cf. 10,21; Fl 2,11; Dn 9,4-20), na qual ele confessa Jesus, não como um rei terreno (pois sabe que Ele está a morrer), mas como o Rei-Messias do mundo vindouro, prometido por Deus (cf. Is 9,6; Dn 7,14.22), reconhecido como tal, não à luz da visão terrena e humana, judaica (segundo a qual, como vimos, o Messias não poderia morrer: cf. Mc 8,32s; Mt 16,22s), mas pela primeira vez, de forma inaudita, à luz do autêntico desígnio salvífico de Deus (cf. Mc 8,29; Mt 16,16s). Confissão de fé tão importante, que ainda hoje é cantada pelo povo na liturgia grega, no momento da comunhão.
1. Como é que damos testemunho da realeza de Cristo: através de estruturas de poder ou num serviço de amor e proximidade às pessoas?
2. Que é mais importante para mim: o seguimento de Jesus, a atenção ao próximo ou as minhas pretensões de aplausos e reconhecimento?
3. Sou compreensivo com os outros, mesmo com os que erram? Como é que me relaciono com os que são rejeitados por parte dos outros?




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