sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

1ª Leitura (2Sam 5,1-3):
Naqueles dias, todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Nós somos dos teus ossos e da tua carne. Já antes, quando Saul era o nosso rei, eras tu quem dirigia as entradas e saídas de Israel. E o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel, tu serás rei de Israel’». Todos os anciãos de Israel foram à presença do rei, a Hebron. O rei David concluiu com eles uma aliança diante do Senhor e eles ungiram David como rei de Israel.
 
Salmo Responsorial: 121
R. Vamos com alegria para a casa do Senhor.
 
Alegrei-me quando me disseram: «Vamos para a casa do Senhor». Detiveram-se os nossos passos às tuas portas, Jerusalém.
 
Jerusalém, cidade bem edificada, que forma tão belo conjunto! Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor.
 
Para celebrar o nome do Senhor, segundo o costume de Israel; ali estão os tribunais da justiça, os tribunais da casa de David.
 
2ª Leitura (Col 1,12-20): Irmãos: Damos graças a Deus Pai, que nos fez dignos de tomar parte na herança dos santos, na luz divina. Ele nos libertou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, o perdão dos pecados. Cristo é a imagem de Deus invisível, o Primogénito de toda a criatura; Porque n’Ele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, Tronos e Dominações, Principados e Potestades: por Ele e para Ele tudo foi criado. Ele é anterior a todas as coisas e n’Ele tudo subsiste. Ele é a cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele é o Princípio, o Primogénito de entre os mortos; em tudo Ele tem o primeiro lugar. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus.
 
Aleluia. Bendito O que vem em nome do Senhor! Bendito o reino do nosso pai David! Aleluia.
 
Evangelho (Lc 23,35-43): Naquele tempo, o povo permanecia lá, olhando. E até os chefes zombavam, dizendo: «A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Eleito!» Os soldados também zombavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre e diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!». Acima dele havia um letreiro: «Este é o Rei dos Judeus». Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: «Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!». Mas o outro o repreendeu: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal». E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar». Ele lhe respondeu: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso».
 
«Este é o Rei dos Judeus»
 
Rev. D. Joan GUITERAS i Vilanova (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos faz elevar os olhos à cruz onde Cristo agoniza no Calvário. Vemos ao Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. «Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus». (Lc 23,38). Este que sofre horrorosamente e que tem o rosto tão desfigurado é o Rei? É possível? O compreende perfeitamente o bom ladrão um dos justiçados de um lado e do outro Jesus, que diz com fé suplicante: «Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!» (Lc 23,42). A resposta de Jesus é consoladora e certa: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso». (Lc 23,43).
 
Sim, confessamos que Jesus é Rei. Rei, com maiúscula. Ninguém estará nunca à altura de sua realeza. O Reino de Jesus não é deste mundo. É um Reino onde se entra pela conversão cristã. Um Reino de verdade e de vida, Reino de santidade e de graça, Reino de justiça, de amor e de paz. Um Reino que sai do Sangue e a água que brotaram do costado de Jesus Cristo.
 
O Reino de Deus foi um tema primordial na predicação do Senhor. Não parava de convidar a todos a entrar nele. Um dia, no Sermão da montanha, proclamou bem-aventurado os pobres no espírito, porque eles são os que possuirão o Reino.
 
Origens, comentando a sentença de Jesus «Nem se dirá: Hei-lo aqui; ou: Hei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós» (Lc 17,21), explica que quem suplica para que o Reino de Deus venha, o pede honestamente daquele Reino de Deus que tem dentro dele, para que nasça, frutifique e amadureça. Complementa que «o Reino de Deus que há dentro de nós, se avançamos continuamente, chegará a sua plenitude quando tenha sido cumprido aquilo que diz o Apóstolo: que Cristo, una vez submetidos os seus inimigos, colocará o Reino em mãos de Deus o Padre, e assim Deus será todo em todos». O escritor exorta que digamos sempre «Seja santificado teu nome venha a nós teu Reino».
 
Vivamos agora o Reino com a santidade, e demos testemunho dele com a clareza que autêntica a fé e a esperança.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Entre os homens, a confissão é seguida de castigo; perante Deus, porém, à confissão segue-se a salvação» (S. João Crisóstomo)
 
«A promessa de Jesus ao bom ladrão dá-nos uma grande esperança. O Senhor sempre nos dá mais, é tão generoso, dá sempre mais do que lhe pedimos: pedes-Lhe que se lembre de ti e leva-te para o seu Reino» (Francisco)
 
«(...) A parábola do pobre Lázaro e a palavra de Cristo crucificado ao bom ladrão (cf. Lc 23,43) (...) assim como outros textos do Novo Testamento, falam dum destino final da alma (cf. Mt 16,26), o qual pode ser diferente para umas e para outras» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.021)
 
Jesus, o Senhor e o centro de nossa vida
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm
 
* O texto de hoje tem por tema a realeza messiânica de Jesus (v. 2).
Estamos no Calvário (v. 33; aram. Gólgota: Mc 15,22p), diante de Jesus crucificado, na hora em que Ele está a dar a vida pela salvação dos homens.
 
* v. 35. Os chefes troçavam de Jesus, dizendo: «A outros salvou: salve-se a si mesmo, se este é o Cristo de Deus, o Eleito». (vv. 35-38: Mt 27,39-43.37; Mc 15,29-32.26). Ao invés de Mateus e de Marcos, em Lucas o povo não insulta Jesus na Sua paixão: limita-se a “contemplá-lo” (Sl 22,8), silencioso e perplexo, enquanto os seus chefes “troçam” dele (16,14; Sl 22,8), desafiando-o a “salvar-se a si mesmo” (Sl 22,9), com palavras decalcadas do Sl 22 (o principal salmo da paixão), fazendo desta forma que, sem disso se aperceberem, as Escrituras se cumpram em Jesus (cf. At 3,17-18; 13,27). Ignoravam que, para salvar a humanidade do pecado e da morte, Jesus tinha de entrar neles para, ressuscitando, os vencer e viver para sempre com Deus (cf. Rm 6,10).
 
* “Os chefes” dos judeus ridicularizam a pretensão messiânica de Jesus (22,67-71), requerendo "um sinal" da sua parte que o comprove (v. 8; 11,16.29) – neste caso, o salvar-se a si mesmo, descendo da cruz –, acabando, ironicamente, por proclamar desta forma dois títulos seus:
a) “o Cristo de Deus” (gr.), ou seja, “o Messias” (he.), o Ungido de Deus (Lc, 3x: 9,20; 2,26; só “Cristo”: Lc, 12x: 2,11; 4,41; 20,41; 22,67; 23,2; 23,35.39; 24,26.46), prometido no AT por Deus a David (2Sm 7,11-16).
b) e “o Eleito” (com artigo), título só mencionado por Lucas e por ele aplicado a Jesus nesta ocasião, em todo o NT.
 
* A designação vem do AT, onde não é, em si mesma, um título messiânico, referindo-se a diversas realidades e pessoas. No contexto onde agora é usada, ela designa Jesus, de forma especial, como:
I) o “Servo de Iavé”, “escolhido” por Deus para levar a salvação a todos os povos (Is 42,1; cf. At 3,13.26; 4,27.30, onde Lucas prefere antes o termo grego mais específico, paîs, "servo", de sabor mais vincadamente veterotestamentário, também presente em Is 42,1, para designar Jesus);
II) o justo perseguido (cf. Sb 3,9; 4,15);
III) o Messias, descendente de David (só no Sl 89,4.20 e em Tb [S] 13,13);
IV) e, com o mesmo cariz messiânico da alínea anterior, aquele que foi exaltado sobre todas as criaturas e constituído por Deus juiz universal, referido, por diversas vezes, no Livro de Henoc (1Hen 39,6; 45,3; 49,2; 51,2.4; 52,6.9; 53,6; 55,4; 61,4.5.8.10; 62,1; 91,19), um apócrifo dos sécs. IV-I a.C., bem conhecido no séc. I d.C., não só em território palestinense, mas também nos círculos helenísticos de matriz judaica, como eram muitos daqueles para os quais Lucas e os outros autores do NT que o citam escreveram as suas obras.
 
* O título "o Eleito" cobre em Lucas estas quatro acepções, evocando nesta passagem a revelação da verdadeira identidade de Jesus pelo Pai, feita na Transfiguração, onde a sua forma sinónima e mais lata (gr. eklelegménos, "escolhido") aparece ligada ao título "o Filho" (9,35), designando, por isso, aqui, inequivocamente, Jesus crucificado como Messias, sendo exatamente nesse sentido que as autoridades judaicas o usam nesta passagem, fazendo pouco d'Ele.  Entretanto, precisamente por a designação "o eleito" não ser em si mesma um título messiânico, uma vez que no AT, no plural, ela também se refere, de forma particular, aos membros do povo de Deus (Sl 105,43; 106,5; Is 65,9,22; Br 3,9; 4,15), este título, aqui usado, serve para aludir a Jesus crucificado como o Messias, ao mesmo tempo que o aponta como o protótipo dos seus discípulos, seguidores do (seu) "Caminho" (At 9,2; 19,9.23; 22,4; 24,14.22), ou seja, os cristãos (At 11,26), que, eleitos de Deus como Ele, também como Ele serão odiados, perseguidos, rejeitados e mortos pelos judeus e pelos gentios, servindo assim para os animar à perseverança e exortar à fidelidade com o exemplo do seu Mestre, de modo a, com Jesus e como Ele, poderem participar também da sua vitória (cf. v. 43).
 
* v. 36. Também os soldados escarneciam dele. Aproximando‑se, ofereciam-lhe vinagre Os soldados associam-se à paródia dos chefes judaicos e “escarnecem” de Jesus (v. 11; 18,32; 22,63; cf. 2Cr 36,16). “Oferecem-lhe vinagre” (cf. Jo 19,29) a beber, cumprindo-se assim também em Jesus a Escritura, neste caso, o Sl 69,22 (“na minha sede, deram-me vinagre a beber”: cf. Jo 19,30).
 
* v. 37. ... dizendo: «Se Tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo». Embora Lucas não especifique, estes soldados são romanos, pois insultam Jesus evocando o motivo da sua condenação por parte das autoridades romanas, ou seja, de Pôncio Pilatos (v. 3): ser “o Rei dos judeus” (neste capítulo, 3x: vv. 3.38). Também pedem a Jesus o sinal que, a seu ver, comprovaria que eram verdadeiras as pretensões messiânicas do crucificado: salvar-se a si mesmo (cf. v. 35). O Deus vivo, porém, não é como os deuses pagãos: não precisa, como estes, de lutar contra outros deuses para vencer, de forma a se salvar a si mesmo, triunfando sobre eles, mas, pelo contrário, dá-se a Si mesmo em comunhão de amor para, precisamente através da sua morte, salvar e glorificar o homem.
 
* v. 38. E por cima dele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Tal é, de facto, o motivo da condenação de Jesus pelo poder romano, afixado no titulum crucis: “Este é o Rei dos judeus”. Um letreiro cínico, que visava também ofender os judeus (cf. Jo 19,21s). Jesus, porém, nada tem de um rei temporal: não está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não veste roupas sumptuosas, mas está nu; não aparece rodeado de soldados, dispostos a defendê-lo, mas foi abandonado pelos seus; não é aclamado pelo povo, mas entregue pelos seus chefes; não julga, nem mostra a sua autoridade, decidindo sobre a vida ou a morte fr milhares de homens, mas está indefeso, pregado numa cruz, condenado a uma morte infamante (cf. Dt 21,23); não jura vingança, nem inflige castigo, mas tem apenas uma súplica na boca: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem” (v. 34).
 
* v. 39. Um dos malfeitores suspensos na cruz insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Cristo? Salva-te a Ti mesmo e a nós». O quadro é completado por uma cena exclusiva de Lucas, bem significativa para entender o sentido da realeza de Jesus. Com Jesus estão “suspensos” (Dt 21,22) – ou seja, crucificados (v. 33; At 5,30; 10,39; Gl 3,13), não com cravos, mas com cordas (cf. Jo 19,31s) –, dois “malfeitores” (vv. 32s.39; Mt 27,44; Mc 15,32b; 2Tm 2,9), no meio dos quais Ele se encontra. Cumprem-se assim o Sl 22,17 (“Cercou-me um bando de malfeitores”) e Is 53,12 (“Foi contado entre os transgressores”).
 
Um dos malfeitores insulta também Jesus (Mt 27,44; Mc 15,32), pedindo-lhe o mesmo sinal que os chefes judaicos e os soldados romanos: salvar-se a si mesmo e descer da cruz, salvando-os, neste caso, também a eles. É o terceiro insulto a Jesus na cruz por ser “o Cristo” e o terceiro pedido de um sinal da parte dele que comprove a sua identidade messiânica, tal como três foram as tentações de Jesus pelo diabo, no deserto, por ele ser Filho de Deus, após as quais o diabo, "tendo esgotado toda a espécie de tentação, se retirou de junto dele, até ao momento oportuno (gr. kairós)" (4,1-13), que agora chegou. Em cada um destes três insultos aparece o verbo “salvar” (gr. sôzô, 4x neste texto: 2x no v. 35, e 1x no v. 37 e aqui), pondo de manifesto que o que Deus está a operar através da paixão e morte de Jesus na cruz é a salvação da humanidade (cf. 1,69.77; 2,11.30; 3,6; 19,9s).
 
Este insulto a Jesus como “o Cristo”, repetido duas vezes pelos judeus (vv.35.39) e outras duas pelos romanos, mas agora sob o título de “Rei dos judeus” (vv. 37-38), compendia o falso testemunho levantado contra Jesus no início do seu processo (v. 2), que levou à sua condenação por parte também da autoridade romana. Ele põe a nu a contradição entre, por um lado, a conceção humana do poder por parte dos grandes (cf. 22,25) e do Messias por parte dos judeus, que esperavam um rei triunfalista, que faria grandes prodígios e destruiria todos os seus inimigos, sem nunca morrer; e, por outro, a visão de Deus sobre o Messias, que, como "Servo de Iavé", dá a sua vida pela redenção dos homens (Is 53,10-12).
 
Os insultos dirigidos contra Jesus acabam assim por ser, contra a vontade dos Seus opositores, uma confissão de fé, pronunciada e repetida por duas vezes – como se exigia para um testemunho ser declarado verdadeiro (cf. Dt 17,6; 19,15; Mt 18,16; Jo 8,17; 2Cor 13,1) – pela sua própria boca: ser "Cristo Rei" (v. 2), precisamente o título que damos a Jesus na solenidade que celebramos neste domingo!
 
v. 40. Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o, dizendo: «Não temes ainda a Deus, tu que sofres a mesma condenação? A visão divina de Jesus como o verdadeiro Messias é aceite, porém, pelo outro malfeitor, que repreende o seu companheiro, por ver no insulto deste a Jesus uma blasfémia.
 
v. 41. Quanto a nós fez-se justiça, pois recebemos o que as nossas ações mereciam; mas este não fez nenhum mal». Ao invés do companheiro de crucificação e dos circunstantes, ele confessa, então, publicamente a sua culpa (cf. 18,13), reconhece a justeza da sua condenação (cf. Dn 3,27-39; Js 7,19s.25s) e proclama a inocência de Jesus (cf. v. 47; 12,8; At 13,28!; 3,14; 7,52; 22,14).
 
* v. 42. E dizia: «Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino».
A seguir dirige-se a Jesus, começando por invocar publicamente o Seu nome, “Jesus” (cf. Jl 3,5; At 2,21; Rm 10,13: "E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo"). Depois pede-lhe: “lembra-te de mim”, ou seja, usa de misericórdia para comigo, perdoa-me e salva-me (Gn 40,14; Tb 3,3; Sl 25,7; 106,4). Por último, põe em Jesus toda a sua fé e esperança, acrescentando: “quando entrares no Teu reino”. O malfeitor usa o verbo erchomai que significa “entrar/vir/aparecer”. É uma expressão que retoma as palavras de Jesus na Última Ceia, em 22,18 ("até que venha o Reino de Deus", designando a sua paixão, morte e ressurreição como a verdadeira Páscoa, a da nova e eterna Aliança, que a páscoa judaica prefigurava. Trata-se de um pedido surpreendente que um condenado, um “maldito de Deus” (cf. Dt 21,22s), dirige a outro condenado, maldito como ele (Gl 3,13), em quem, não obstante estar a morrer, reconhece a presença de Deus que vem ao encontro do último dos homens e se faz próximo do mais perdido deles, para dar ao homem, justamente condenado (cf. Rm 5,18), a única, derradeira e verdadeira esperança: a da salvação (cf. 19,10).
Na realidade, é uma verdadeira "confissão de fé" em Jesus (gr. exomológuesis: cf. 10,21; Fl 2,11; Dn 9,4-20), na qual ele confessa Jesus, não como um rei terreno (pois sabe que Ele está a morrer), mas como o Rei-Messias do mundo vindouro, prometido por Deus (cf. Is 9,6; Dn 7,14.22), reconhecido como tal, não à luz da visão terrena e humana, judaica (segundo a qual, como vimos, o Messias não poderia morrer: cf. Mc 8,32s; Mt 16,22s), mas pela primeira vez, de forma inaudita, à luz do autêntico desígnio salvífico de Deus (cf. Mc 8,29; Mt 16,16s). Confissão de fé tão importante, que ainda hoje é cantada pelo povo na liturgia grega, no momento da comunhão.
 
* v. 43. E Ele disse‑lhe: «Amém te digo: hoje estarás comigo no Paraíso». Perante tal fé, Jesus responde: “Amém te digo”. A palavra hebraica amém, já utilizada em ambiente litúrgico (cf. Dt 27,15-26; 1Cr 16,36; Rm 1,25, etc.), significa “é verdadeiro”, “é digno de fé”, “é digno de confiança”. Jesus utiliza-a para vincar a importância do que a seguir vai afirmar, indicando que o que diz é digno de fé e de confiança, podendo cada um contar sobre isso e sobre isso apoiar a sua vida, porque certamente acontecerá (cf. Ap 3,14).
 
* “Hoje” aparece aqui em Lucas como a última das onze vezes que ocorre no seu Evangelho. Não tem apenas o sentido cronológico do “dia presente” (12,28, 22,34.61), mas sobretudo o sentido teológico do “dia da salvação e da graça” (2Cor 6,2), em que, quem acredita em Jesus – como este malfeitor –, recebe a salvação (2,11; 4,21; 5,26; 13,32-33; 19,5.9).
 
* Jesus chama à vida eterna “paraíso”. “Paraíso” é uma palavra persa que significa “parque”, "pomar", "jardim" (Ne 2,8; Qo 2,5; Ct 4,13). Era o nome dado em grego ao Éden (Gn 2,8-9; Ap 2,7), “o jardim de Deus” (Is 51,3; Ez 28,13), que no meio tinha a árvore da vida, onde o homem, criado por Deus, fora colocado, gozando da comunhão com Ele, e donde foi expulso depois de ter pecado (Gn 3,23s). O paraíso era considerado pelo judaísmo palestiniano contemporâneo de Jesus a morada onde as almas dos justos repousavam até à ressurreição final (cf. 16,23s; Apoc Mos 37; 2Hen 8,1-9). No NT, “paraíso” é sinónimo de “céu”, a morada de Deus (cf. 2Cor 12,4), onde Cristo, pela sua morte e ressurreição, nos introduziu (cf. Ef 2,6-7).
 
* É em Cristo que se inaugura o “hoje”, definitivo e eterno, da salvação (cf. At 13,33), em que o homem, redimido dos seus pecados pelo Sangue de Jesus e por Ele conduzido, regressa à comunhão com Deus, tal como fora prometido (cf. Ez 37,27). Tal é o sentido da realeza de Jesus: dar a vida, para, unindo os homens a Si, os associar à Sua realeza, tornando-os participantes, com Ele e n'Ele, da sua vida divina, no Reino de Deus, no eterno "hoje" da salvação, que nunca mais terá fim.
 
MEDITAÇÃO
1. Como é que damos testemunho da realeza de Cristo: através de estruturas de poder ou num serviço de amor e proximidade às pessoas?
2. Que é mais importante para mim: o seguimento de Jesus, a atenção ao próximo ou as minhas pretensões de aplausos e reconhecimento?
3. Sou compreensivo com os outros, mesmo com os que erram? Como é que me relaciono com os que são rejeitados por parte dos outros?

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