quinta-feira, 16 de outubro de 2025

XXX Domingo do Tempo Comum

1ª Leitura (Si 35,12-14.16-18):
O Senhor é um juiz que não faz acepção de pessoas. Não favorece ninguém em prejuízo do pobre e atende a prece do oprimido. Não despreza a súplica do órfão, nem os gemidos da viúva. Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens. A oração do humilde atravessa as nuvens e não descansa enquanto não chega ao seu destino. Não desiste, até que o Altíssimo o atenda, para estabelecer o direito dos justos e fazer justiça.
 
Salmo Responsorial: 33
R. O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
 
A toda a hora bendirei o Senhor, o seu louvor estará sempre na minha boca. A minha alma gloria-se no Senhor: escutem e alegrem-se os humildes.
 
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal, para apagar da terra a sua memória. Os justos clamaram e o Senhor os ouviu, livrou-os de todas as angústias.
 
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado e salva os de ânimo abatido. O Senhor defende a vida dos seus servos, não serão castigados os que n’Ele confiam.
 
2ª Leitura (2Tim 4,6-8.16-18): Caríssimo: Eu já estou oferecido em libação e o tempo da minha partida está iminente. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. E agora já me está preparada a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me há-de dar naquele dia; e não só a mim, mas a todos aqueles que tiverem esperado com amor a sua vinda. Na minha primeira defesa, ninguém esteve a meu lado: todos me abandonaram. Queira Deus que esta falta não lhes seja imputada. O Senhor esteve a meu lado e deu-me força, para que, por meu intermédio, a mensagem do Evangelho fosse plenamente proclamada e todas as nações a ouvissem; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste. Glória a Ele pelos séculos dos séculos. Amém.
 
Aleluia. Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo e confiou-nos a palavra da reconciliação. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 18,9-14): Para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: «Dois homens subiram ao templo para orar. Um era fariseu, o outro publicano» O fariseu, de pé, orava assim em seu íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de toda a minha renda’. O publicano, porém, ficou a distância e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem compaixão de mim, que sou pecador!’ Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, mas o outro não. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado».
 
«Meu Deus, tem compaixão de mim…»
 
Rev. D. Joan Pere PULIDO i Gutiérrez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)
 
Hoje lemos com atenção e novidade o Evangelho de São Lucas. Uma parábola dirigida aos nossos corações. Umas palavras de vida para desvendar nossa autenticidade humana e cristã, que se fundamenta na humildade de sabermos nos pecadores («Meu Deus, tem compaixão de mim…»: Lc 18,13), e na misericórdia e bondade de nosso Deus («Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado»: Lc 18,14).
 
A autenticidade é, hoje mais que nunca!, uma necessidade para descobrirmos nos mesmos e ressaltar a realidade libertadora de Deus em nossas vidas e em nossa sociedade. É a atitude adequada para que a Verdade de nossa fé chegue, com toda a sua força, ao homem e à mulher de hoje. Três eixos integram esta autenticidade evangélica: a firmeza, o amor e a sensatez (cf. 2Tim 1,7).
 
A firmeza para conhecer a Palavra de Deus e mantê-la em nossas vidas, apesar das dificuldades. Especialmente em nossos dias, temos que por atenção neste ponto, porque há muito autoengano no ambiente que nos rodeia. São Vicente de Lerins nos advertia: «Apenas começa a estender-se a podridão de um novo erro e este, para se justificar, apodera-se de alguns versículos da Escritura, que além interpreta com falsidade e fraude»
 
O amor, para olhar com olhos de ternura – quer dizer, com o olhar de Deus- à pessoa ou ao acontecimento que temos diante. São João Paulo II nos anima a «promover uma espiritualidade da comunhão», que —entre outras coisas— significa «um olhar de coração sobretudo para o mistério da Trindade que habita em nós, e cuja luz tem que ser reconhecida também no rosto dos irmãos que estão a nosso lado».
 
E, finalmente, sensatez, para transmitir esta Verdade com a linguagem de hoje, encarnando realmente a Palavra de Deus em nossa vida: «Crerão em nossas obras mais que em qualquer outro discurso» (São João Crisóstomo).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Não tenhamos de modo algum a presunção de que vivemos em retidão e sem pecado. O que testemunha a favor da nossa vida é o reconhecimento das nossas faltas» (Santo Agostinho)
 
«Não basta perguntar-nos quanto tempo rezamos, é preciso perguntar-nos também como rezamos. Eu pergunto: pode-se rezar com arrogância? Não. É possível orar com hipocrisia? Não. Devemos rezar apenas colocando-nos diante de Deus, tal como somos» (Francisco)
 
«‘A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes’. De onde é que falamos, ao orar? Das alturas do nosso orgulho e da nossa vontade própria, ou das ‘profundezas’ (Sl 130, 1) dum coração humilde e contrito? Aquele que se humilha é que é elevado. A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um “mendigo de Deus”» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.559)
 
Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador.
 
Thomaz Hughes
 
* O tema da oração continua no trecho de hoje.
Jesus mostra que não basta somente rezar, pois muito depende das nossas atitudes enquanto rezamos. Por isso, ele nos conta mais uma parábola que só Lucas relata: a do “Fariseu e do Publicano”.
 
* Para entender bem esta passagem, é imprescindível que nós entendamos o significado dos termos “Fariseu” e “Publicano”. Os fariseus formavam um partido religioso-político, nascido dos “fiéis observadores da Lei”, ou “Hasidim” dos tempos da revolução dos Macabeus. Eles romperam com as ambições políticas dos Hasmoneus (dinastia dos Macabeus) e formaram o seu grupo dos “separados”, que parece ser o sentido da palavra “Fariseu”. Eles primaram pela observância rigorosa da Lei, embora entre eles existissem diversas escolas de interpretação.
 
* Na nossa linguagem, a palavra “fariseu” normalmente significa “hipócrita”, uma injustiça aos fariseus, que eram, na maioria absoluta, gente sincera de uma ascese rigorosa em busca da fidelidade à Lei de Deus. Provavelmente estamos muito influenciados pelo Capítulo 23 de Mateus, uma das páginas mais virulentas do Novo Testamento, que reflete mais a situação de perseguição dos cristãos pelos fariseus pelo ano 85, do que a situação no tempo de Jesus. A grande crítica de Jesus contra este grupo não era por motivos de moral, mas porque, confiando na observação externa da Lei como garantia de salvação, tiraram a gratuidade de Deus, que nos salva “de graça”.
 
* Enquanto os fariseus gozavam de enorme prestígio diante do povo no tempo de Jesus, do outro lado um dos grupos mais odiados e desprezados era o dos “cobradores de impostos”, ou “publicanos” (assim chamados porque cobravam um imposto denominado “publicum”). Esse ódio não nasceu simplesmente da resistência natural do povo contra a cobrança de impostos e taxas, mas do fato que eles trabalhavam pelo poder opressor, os Romanos, através dos seus lacaios, os Herodianos. Os publicanos estavam entre os mais “impuros”, considerados exploradores do seu próprio povo em favor dos opressores. Por isso, eles eram contados entre os mais odiados e desprezados da sociedade judaica.
 
* Como aconteceu no início do capítulo 15, aqui também Lucas destaca o motivo da parábola: “Para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola” (v. 9).
 
* É interessante verificar os dois tipos de oração! O Fariseu elenca todas as suas observâncias, tudo o que ele faz, conforme manda o a Lei! Ele não mente, ele faz isso mesmo. Só que ele confia absolutamente no poder da sua prática para garantir a salvação. Assim dispensa a graça de Deus, pois se a Lei é capaz de salvar, não precisamos da graça! Ainda se dá ao luxo de desprezar os que não viviam como ele, ou porque não queriam, ou porque não conseguiam: “Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros, nem como esse cobrador de impostos” (v. 11).
 
* O publicano também não mente quando reza! Longe do altar, nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito em sinal de arrependimento e dizia: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador” (v. 13). É importante notar exatamente o que reza: ele não diz “eu pequei”, mas algo muito mais profundo, “eu sou pecador”. “Pecar” é um ato, “ser pecador “é um estado de ser! E era a verdade: ele era vigarista, ladrão opressor do seu povo, traidor da sua raça. Mas ele tem consciência disso, e não só disso, mas do fato de que por si mesmo ele é incapaz de mudar a sua situação moral. A sua única esperança é jogar-se diante da misericórdia de Deus. Para o espanto dos seus ouvintes, Jesus afirma que o desprezado publicano voltou para a casa “justificado” (= tornado justo) por Deus, e não o outro; pois, é Deus que nos torna justos por pura gratuidade, e não em recompensa por termos observado as minúcias de uma Lei.
 
* Como entrou o farisaísmo em cheio nas nossas tradições de espiritualidade! Como as nossas pregações reduziam a fé e o seguimento de Jesus a uma observância externa de uma lista de Leis! Como reduzimos Deus a um mero “banqueiro” que no fim da vida faz as contas e nos dá o que nós “merecemos”, de acordo com uma teologia de retribuição! Quem tem conta em haver com Ele, ganhará o céu, e quem estiver em dívida, irá para o inferno! Onde fica a graça de Deus, e a cruz de Cristo? Paulo mudou de vida quando descobriu que a Lei, por tão importante que fosse como “pedagogo”, não era capaz de salvar, mas que é Deus que nos salva, sem mérito algum nosso, através de Jesus Cristo! Com esta descoberta, se libertou! Defendia este seu “evangelho”, conforme Gálatas 1, a ferro e fogo!
 
* O texto de hoje convida-nos para que examinemos até que ponto deixamos o farisaísmo entrar na nossa vida; até que ponto confiamos em nós mesmos como agentes da nossa salvação; até que ponto nos damos o direito de julgar os outros, conforme os nossos critérios. Uma advertência saudável e oportuna que alerta contra uma mentalidade “elitista” e “excludente”, que pode insinuar-se na nossa espiritualidade, como fez na dos fariseus, sem que tomemos consciência disso!

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