sexta-feira, 1 de agosto de 2025

XVIII Domingo do Tempo Comum

Bto. Pedro de Cesis, Bispo e 14º Prior General da nossa Ordem
 
1ª Leitura (Co 1,2; 2,21-23):
Vaidade das vaidades – diz Coelet – vaidade das vaidades: tudo é vaidade. Quem trabalhou com sabedoria, ciência e êxito, tem de deixar tudo a outro que nada fez. Também isto é vaidade e grande desgraça. Mas então, que aproveita ao homem todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou debaixo do sol? Na verdade, todos os seus dias são cheios de dores e os seus trabalhos cheios de cuidados e preocupações; e nem de noite o seu coração descansa. Também isto é vaidade.
 
Salmo Responsorial: 89
R. Senhor, tendes sido o nosso refúgio através das gerações.
 
Vós reduzis o homem ao pó da terra e dizeis: «Voltai, filhos de Adão». Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou e como uma vigília da noite.
 
Vós os arrebatais como um sonho, como a erva que de manhã reverdece; de manhã floresce e viceja, de tarde ela murcha e seca.
 
Ensinai-nos a contar os nossos dias, para chegarmos à sabedoria do coração. Voltai, Senhor! Até quando... Tende piedade dos vossos servos.
 
Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade, para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias. Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus. Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos.
 
2ª Leitura (Col 3,1-5.9-11): Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos manifestareis com Ele na glória. Portanto, fazei morrer o que em vós é terreno: imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria. Não mintais uns aos outros, vós que vos despojastes do homem velho com as suas ações e vos revestistes do homem novo, que, para alcançar a verdadeira ciência, se vai renovando à imagem do seu Criador. Aí não há grego ou judeu, circunciso ou incircunciso, bárbaro ou cita, escravo ou livre; o que há é Cristo, que é tudo e está em todos.
 
Aleluia. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 12,13-21): Alguém do meio da multidão disse a Jesus: «Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo». Ele respondeu: “Homem, quem me encarregou de ser juiz ou árbitro entre vós?». E disse-lhes: «Atenção! Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenham muitas coisas, a vida não consiste na abundância de bens». E contou-lhes uma parábola: «A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘Que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, goza a vida!’ Mas Deus lhe diz: «Tolo! Ainda nesta noite, tua vida te será retirada. E para quem ficará o que acumulaste? Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não se torna rico diante de Deus».
 
«A vida não consiste na abundância de bens»
 
Rev. D. Jordi PASCUAL i Bancells (Salt, Girona, Espanha)
 
Hoje, Jesus situa-nos face a face com aquilo que é fundamental para a nossa vida cristã, nossa vida de relação com Deus: fazer-se rico diante Dele. Ou seja, encher nossas mãos e nosso coração com os bens sobrenaturais, espirituais, de graça e não de coisas materiais.
 
Por isso, à luz do Evangelho de hoje, podemos nos perguntar: De que enchemos nosso coração? O homem da parábola sabia bem: «Descansa, come, bebe, goza a vida» (Lc 12,19. Mas isso não é o que Deus espera de um bom filho seu. O Senhor não colocou nossa felicidade nas heranças, boas comidas, carros último modelo, férias em lugares exóticos, casas de campo, o sofá, a cerveja ou o dinheiro. Todas essas coisas podem ser boas, mas em si mesmas não podem saciar o desejo de plenitude da nossa alma e, portanto, devemos usá-las bem, como meios que são.
 
É a experiência de São Inácio de Loyola, cuja celebração temos próxima. Assim, o reconhecia em sua autobiografia: «Quando se voltava para as coisas mundanas, sentia grandíssimo prazer; mas, ao deixá-las por cansaço, via-se descontente e árido. Ao contrário, quando pensava na vida rigorosa que notava nos santos, não só no momento em que as resolvia no pensamento, se enchia de gozo, mas quando o abandonava, encontrava-se alegre». Também pode ser a experiência de cada um de nós.
 
E acontece que as coisas materiais, terreais, caducam e passam; por contraste, as coisas espirituais são eternas, imortais, duram para sempre e, são as únicas que podem encher nosso coração e dar sentido pleno à nossa vida humana e cristã.
 
Jesus o diz bem claro: «Tolo!» (Lc 12,20), assim qualifica quem tem apenas objetivos materiais, terreais, egoístas. Que em qualquer momento da nossa existência podamo-nos apresentar diante Deus com as mãos e o coração cheios de esforço por ter buscado ao Senhor e, aquilo que a Ele gosta, que é o único que nos levará ao céu.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O homem tem um dever honroso e uma obrigação: orar e amar. Quem ora e ama, tem encontrado a felicidade neste mundo» (S. João Mª Vianney)
 
«Tu és importante! E Deus conta contigo pelo que és, não pelo que tens: perante ele, nada vale a roupa que vestes nem o telemóvel que utilizas; não lhe importa se vais à moda, importas-lhe, tal qual és. Aos olhos de Deus, vales, e aquilo que vales não tem preço» (Papa Francisco)
 
«O décimo mandamento condena a avidez e o desejo duma apropriação desmesurada dos bens terrenos; e proíbe a cupidez desregrada, nascida da paixão imoderada das riquezas e do seu poder (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.536)
 
Assim acontece àquele que acumula para si e não se torna rico para Deus.
 
Fr. Pedro Bravo, ocarm.
 
* O episódio de hoje, exclusivo de Lucas, não aparece nos outros evangelhos.
Faz parte do “caminho de Jesus para Jerusalém” (9,51-19,28), onde Lucas colocou a maior parte das informações que conseguiu reunir a respeito de Jesus e não se encontram nos outros sinóticos (cf. 1,2-3). O texto de hoje traz a resposta de Jesus à pessoa que lhe pediu para ser mediador na repartição duma herança.
 
13: Alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, diz ao meu irmão que divida comigo a herança». Desde sempre, a distribuição da herança entre os herdeiros tem sido uma questão delicada e, muitas vezes, ocasião de discussões e contendas sem fim. Para resolver os diferendos que surgiam nesta matéria, era frequente então as partes pedirem a mediação ou arbitragem dos rabinos. Naquele tempo, a herança tinha a ver com a identidade das pessoas (cf. 1Rs 21,1-3) e com a sua sobrevivência (cf. Nm 27,1-11; 36,1-12). O problema maior tinha a ver com a distribuição das terras entre os filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o perigo da herança se esfacelar em pequenos pedaços de terra que já não poderiam garantir a sobrevivência de todos. Por isso, para evitar a pulverização da herança e manter vivo o nome da família, o filho mais velho recebia o dobro dos outros filhos, ou seja, dois terços da herança (Dt 21,17; cf. 2Rs 2,11). Neste caso, é o segundo filho que protesta contra o primogénito, que se tinha apoderado de tudo (talvez porque a herança era pequena).
 
14: Mas Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?» Na resposta, Jesus manifesta a consciência que tinha da sua missão. Não se sente enviado por Deus para arbitrar questões de repartição de heranças (cf. Ex 2,14; At 7,27.35), uma matéria do foro civil suficientemente legislada e salvaguardada pelo direito romano e demais sistemas jurídicos de então, que dispunham dos seus próprios meios para fazer valer as suas leis. Ao recusar uma missão de ordem temporal, Jesus distingue-se de Moisés (cf. Ex 18,13-26) e dos rabinos do seu tempo.
 
15. E disse-lhes: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque a vida duma pessoa não depende da abundância dos seus bens». O pedido do homem levou Jesus a dar uma palavra sobre a relação das pessoas com os bens. “Disse-lhes”, aos presentes, para prestarem atenção e se guardarem de toda a ganância (gr. pleonexia, “cupidez”, “avareza”: Mc 7,22; Rm 1,29; Ef 5,3; Cl 3,5!; 2Pd 2,14), “porque a vida duma pessoa não depende da abundância dos seus bens” (cf. Sl 49,6-9). O valor da vida duma pessoa não consiste no ter, mas em ser “rico para Deus” (cf. v. 21), pois quando a ganância se apodera do coração, não se é capaz de repartir com equidade e paz.
 
16: Disse-lhes então uma parábola: «O campo dum homem rico produziu muito. Jesus conta então uma parábola para ajudar as pessoas a refletir sobre o sentido da vida (vv. 16-20). Ela mostra a futilidade daqueles que pensam poder encontrar segurança e refúgio nas próprias riquezas, em particular em tempos de perseguição (cf. vv. 4-12).
 
17: E ele pensava consigo: “Que hei de fazer, pois não tenho onde recolher a minha colheita?
 
18: Vou fazer assim: deitarei abaixo os meus celeiros, edificareis outros maiores e aí recolherei todo o trigo e os meus bens. 17-18: cf. Gn 41,33-36. Na parábola abunda o pronome possessivo na primeira pessoa do singular (“meu”, “meus”, “minha”), sem que exista qualquer referência a Deus ou ao próximo.
 
19: Então direi à minha alma: ‘Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos: descansa, come, bebe, regala-te’”. “Comer, beber”: esta expressão, imagem aqui duma vida dissipada e inútil, recorre no v. 45 (17,27s; cf. Gn 25,34; Ex 32,6; Is 22,13). Unida ao verbo “regalar-se” (gr. euphraíno) aparece em Qo 8,15 (cf. Qo 9,7; Is 65,13) como um princípio de sabedoria para uma vida feliz, embora apenas a nível terreno. No Reino, porém, a única sabedoria e a verdadeira felicidade são a justiça, a misericórdia e o amor fraterno, que se traduzem na partilha dos próprios bens com os irmãos que sofrem e passam necessidade, seja eles quem forem.
 
20: Mas Deus disse-lhe: “Néscio! Esta noite ser-te-á reclamada a tua alma. E o que preparaste, para quem será?” Primeira conclusão da parábola. A morte é uma chave importante para redescobrir o verdadeiro sentido da vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o que perece e o que permanece. Quem só busca o ter e esquece o ser perde tudo na hora da morte: é “néscio” (Jr 17,11; cf. Sl 49,14). O judaísmo considerava que se Deus concedia abundância de bens a alguém, era para este pudesse imitar a generosidade divina, repartindo com os necessitados (cf. Tb 4,16; Dt 15,11; Pv 31,20; Is 58,7). Se o não fizesse, disso teria de prestar contas a Deus (16,2; Rm 14,12; Hb 4,13), quando lhe fosse “reclamada a sua alma” (gr. psychê, “vida”: Sb 15,8) na hora da morte, a qual pode chegar inesperadamente, sem avisar (cf. Sr 11,19; Tg 4,14ss), bem mais cedo do que se pensa, neste caso, nessa mesma noite. Transparece aqui um pensamento muito frequente nos livros sapienciais: para quê acumular bens nesta vida, se não se sabe quem vai ficar com eles (cf. Sl 49,11.17-20) e o que é que vão fazer com eles (cf. Sr 2,12.18-19.21)?
 
21: Assim acontece àquele que acumula para si e não se torna rico para Deus.  Segunda conclusão da parábola. Como tornar-se rico para Deus? Jesus diz pouco depois: “Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós bolsas que não se gastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça corrói, porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (vv. 33-34; o mesmo em 18,22), pois “há mais felicidade em dar do que em receber” (At 20,35).
Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
 
MEDITAÇÃO
1. O homem pediu a Jesus para o ajudar a receber a sua parte da herança. E eu, que peço eu a Deus nas minhas orações?
2. O consumismo cria necessidades e desperta em nós a ganância. Que faz para não ser vítima da ganância provocado pelo consumismo?

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