Santos
Timóteo e Tito, bispos, discípulos de São Paulo
Santa
Paula, viúva
1ª
Leitura (2Esd 8,2-4a.5-6.8-10): Naqueles dias, o sacerdote Esdras trouxe
o Livro da Lei perante a assembleia de homens e mulheres e todos os que eram
capazes de compreender. Era o primeiro dia do sétimo mês. Desde a aurora até ao
meio-dia, fez a leitura do Livro, no largo situado diante da Porta das Águas,
diante dos homens e mulheres e todos os que eram capazes de compreender. Todo o
povo ouvia atentamente a leitura do Livro da Lei. O escriba Esdras estava de pé
num estrado de madeira feito de propósito. Estando assim em plano superior a
todo o povo, Esdras abriu o Livro à vista de todos; e quando o abriu, todos se
levantaram. Então Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todo o povo
respondeu, erguendo as mãos: «Amém! Amém!». E prostrando-se de rosto por terra,
adoraram o Senhor. Os levitas liam, clara e distintamente, o Livro da Lei de
Deus e explicavam o seu sentido, de maneira que se pudesse compreender a
leitura. Então o governador Neemias, o sacerdote e escriba Esdras, bem como os
levitas, que ensinavam o povo, disseram a todo o povo: «Hoje é um dia
consagrado ao Senhor vosso Deus. Não vos entristeçais nem choreis». – Porque
todo o povo chorava, ao escutar as palavras da Lei –. Depois Neemias
acrescentou: «Ide para vossas casas, comei uma boa refeição, tomai bebidas
doces e reparti com aqueles que não têm nada preparado. Hoje é um dia
consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do
Senhor é a vossa fortaleza».
Salmo Responsorial: 18
R. As vossas palavras, Senhor,
são espírito e vida.
A lei do Senhor é perfeita, ela
reconforta a alma; as ordens do Senhor são firmes, dão sabedoria aos simples.
Os preceitos do Senhor são retos
e alegram o coração; os mandamentos do Senhor são claros e iluminam os olhos.
O temor do Senhor é puro e
permanece eternamente; os juízos do Senhor são verdadeiros, todos eles são retos.
Aceitai as palavras da minha boca
e os pensamentos do meu coração estejam na vossa presença: Vós, Senhor, sois o
meu amparo e redentor.
2ª
Leitura (1Cor 12,12-30): Irmãos: Assim como o corpo é um só e tem muitos
membros, e todos os membros do corpo, apesar de numerosos, constituem um só
corpo, assim sucede também em Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos,
escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito para constituirmos
um só corpo e a todos nos foi dado a beber um só Espírito. De fato, o corpo não
é constituído por um só membro, mas por muitos. Se o pé dissesse: «Uma vez que
não sou mão, não pertenço ao corpo», nem por isso deixaria de fazer parte do
corpo. E se a orelha dissesse: «Uma vez que não sou olho, não pertenço ao
corpo», nem por isso deixaria de fazer parte do corpo. Se o corpo inteiro fosse
olho, onde estaria o ouvido? Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfato?
Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros, segundo a sua vontade. Se todo
ele fosse um só membro, que seria do corpo? Há, portanto, muitos membros, mas
um só corpo. O olho não pode dizer à mão: «Não preciso de ti»; nem a cabeça
dizer aos pés: «Não preciso de vós». Pelo contrário, os membros do corpo que
parecem mais fracos são os mais necessários; os que nos parecem menos honrosos
cuidamo-los com maior consideração; e os nossos membros menos decorosos são
tratados com maior decência: os que são mais decorosos não precisam de tais
cuidados. Deus organizou o corpo, dispensando maior consideração ao que dela
precisa, para que não haja divisão no corpo e os membros tenham a mesma
solicitude uns com os outros. Deste modo, se um membro sofre, todos os membros
sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se alegram com ele.
Vós sois corpo de Cristo e seus membros, cada um por sua parte. Assim, Deus
estabeleceu na Igreja em primeiro lugar apóstolos, em segundo profetas, em
terceiro doutores. Vêm a seguir os dons dos milagres, das curas, da
assistência, de governar, de falar diversas línguas. Serão todos apóstolos?
Todos profetas? Todos doutores? Todos farão milagres? Todos terão o poder de
curar? Todos falarão línguas? Terão todos o dom de as interpretar?
Aleluia. O Senhor enviou-me a
anunciar a boa nova aos pobres, a proclamar aos cativos a redenção. Aleluia.
Evangelho
(Lc 1,1-4;4,14-21): Muitos tentaram escrever a história dos fatos
ocorridos entre nós, assim como nos transmitiram aqueles que, desde o início,
foram testemunhas oculares e, depois, se tornaram ministros da palavra. Diante
disso, decidi também eu, caríssimo Teófilo, redigir para ti um relato ordenado,
depois de ter investigado tudo cuidadosamente desde as origens, para que
conheças a solidez dos ensinamentos que recebeste. Jesus voltou para a
Galileia, com a força do Espírito, e sua fama se espalhou por toda a região.
Ele ensinava nas sinagogas deles, e todos o elogiavam. Foi então a Nazaré, onde
se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à sinagoga e levantou-se
para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro,
encontrou o lugar onde está escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, pois
ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres: enviou-me
para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista;
para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça da parte do
Senhor». Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos
de todos, na sinagoga, estavam fixos nele. Então, começou a dizer-lhes: «Hoje
se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir».
«Para que conheças a solidez
dos ensinamentos que recebeste»
Rev. D. Bernat GIMENO i Capín (Barcelona,
Espanha)
Hoje, começamos a ouvir a voz de
Jesus através do evangelista que nos acompanhará durante todo o Tempo Comum
próprio do Ano C : São Lucas. Que «conheças a solidez dos ensinamentos que
recebeste» (Lc 1,4), escreve Lucas ao seu amigo Teófilo. Se é esta a finalidade
do que escreve, devemos tomar consciência da importância que tem o fato de
meditar todos os dias o Evangelho do Senhor – palavra viva e, portanto, sempre
nova.
Como Palavra de Deus, Jesus nos é
apresentado hoje como um Mestre, já que «ia ensinando nas sinagogas deles» (Lc
4,15). Começa como qualquer outro pregador: lendo um texto da Escritura, que se
cumpre precisamente nesse momento… Está a cumprir-se a palavra do profeta
Isaías; mais ainda: toda a palavra, todo o conteúdo das Escrituras, tudo o que
os profetas tinham anunciado se concretiza e se cumpre em Jesus. Acreditar ou
não em Jesus não é indiferente, porque é o próprio “Espírito do Senhor” que O
ungiu e enviou.
A mensagem que Deus quer
transmitir à humanidade através da Sua Palavra é uma boa nova para os
abandonados, um anúncio de liberdade para os cativos e oprimidos, uma promessa
de salvação. Uma mensagem que enche de esperança toda a humanidade. Nós, filhos
de Deus em Cristo através do sacramento do batismo, também recebemos esta unção
e participamos na Sua missão: levar esta mensagem de esperança a toda a
humanidade.
Meditando o Evangelho que dá
solidez à nossa fé, vemos que Jesus pregava de um modo diferente dos outros
mestres. Pregava como quem tem autoridade (cf. Lc 4,32). E isto porque pregava
principalmente com obras, com o exemplo, dando testemunho, entregando até a Sua
própria vida. Assim temos de fazer nós, não podemos ficar só pelas palavras:
temos de concretizar com obras o nosso amor a Deus e aos irmãos. Podem
ajudar-nos as Obras de Misericórdia – sete espirituais e sete corporais – que
nos propõe a Igreja, que, como uma mãe, orienta o nosso caminho.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Se dirigir o anelo de teu
coração à sabedoria, à verdade e à contemplação do Unigênito de Deus, teus
olhos vem a Jesus» (Orígenes)
«Em nosso tempo de dispersão e
distração, este Evangelho nos invita interrogar a nós mesmos sobre a nossa
capacidade de escuta. Antes de poder falar de Deus e com Deus, temos que
escutá-lo» (Francisco)
«(...) Temos o sinal da presença
de Cristo quando “aos pobres se anuncia a Boa Nova” (Mt 11,5; cf. Lc 4,18)»
(Catecismo da Igreja Católica, n°2443)
“O Espírito do Senhor está
sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres”
Site da Ordem do Carmo em
Portugal.
* O Evangelho de hoje é
constituído por dois textos diferentes. No primeiro (1,1-4), temos um
prólogo literário onde Lucas, imitando o estilo dos escritores helénicos da
altura, apresenta o seu trabalho: trata-se de uma investigação cuidada dos
“factos que se realizaram entre nós”, a fim de que os crentes de língua grega
(a quem o Evangelho de Lucas se dirige) verifiquem “a solidez da doutrina em
que foram instruídos”. Estamos na década de 80 quando, desaparecidas já as
“testemunhas oculares” de Cristo, o cristianismo começa a defrontar-se com uma
série de heresias e de desvios doutrinais, que põem em causa a identidade
cristã. Era, pois, necessário, recordar aos crentes as suas raízes e a solidez
dessa doutrina recebida de Jesus, através do testemunho legítimo que é a
tradição transmitida pelos apóstolos.
* Na segunda parte (4,14-21),
apresenta-se o início da pregação de Jesus, que Lucas coloca em Nazaré. O
cenário de fundo é o do culto sinagogal, no sábado. O serviço litúrgico
celebrado na sinagoga consistia em orações e leituras da Lei e dos Profetas,
com o respectivo comentário. Os leitores eram membros instruídos da comunidade
ou, como no caso de Jesus, visitantes conhecidos pelo seu saber na explicação
da Palavra de Deus. O centro do relato está na proclamação de um texto do
Trito-Isaías (cf. Is 61,1-2) que descreve como é que o Messias concretizará a
sua missão.
* v. 16: A sinagoga é um lugar
frequentado por Jesus. Aqui, desde os primeiros anos da sua juventude, Ele
escutou a Palavra de Deus e interpreta-a segundo a tradição do seu povo. É
significativo o facto de que Jesus procure o centro do culto. Todo o judeu
adulto podia tomar a palavra, os chefes da sinagoga geralmente confiavam esta
tarefa aos que fossem entendidos nas Escrituras. O facto de Jesus se levantar
para ler, indica que era costume Ele fazê-lo, como era habitual frequentar a
sinagoga ao sábado. O inciso segundo o seu costume dá muita força ao versículo,
de modo que se pode presumir que quem lê e fala não é um qualquer, mas um filho
de Israel experto na leitura e interpretação da Torah ou dos Profetas. A fé
cristã nasce portanto de representantes fiéis do povo de Israel, nos quais a
espera chegou à maturidade. Todos os personagens de Lucas são autênticos
israelitas: Zacarias, Isabel e João, Maria, José e Jesus, os Apóstolos e depois
nos Atos, Paulo. É um acostumado que leva consigo algo de novo. A sinagoga é o
lugar de onde sai o anúncio para ser estendido até às cidades de Judá e da
Galileia, a todo o Israel e até aos confins do mundo.
* vv. 17-19: Jesus encontra a
passagem de Isaías 61, 1-2 que provavelmente se refere à consagração de um
profeta (cf. 1Re 19, 16). Lucas elimina da citação de Isaías o fim
ameaçador porque não interessa ao seu propósito: realçar que o ensinamento de
Jesus tem o seu início na Escritura (17-19; 25-27) e torna-se atual na sua
Pessoa. As palavras de Isaías nos lábios de Jesus adquirem pleno significado e
resumem a sua missão: cheio do Espírito Santo (Lc 4, 1), ungido do Senhor, é
enviado a anunciar aos pobres uma alegre mensagem: a libertação dos
prisioneiros e oprimidos, a vista aos cegos, a pregar o tempo da graça do
Senhor.
* v. 20: A descrição
pormenorizada dos gestos evidencia o que está para acontecer. Jesus fala
sentado, a posição típica de quem ensina. Os olhos fixos n'Ele, preparam a
importância do que Jesus vai dizer. A sua homilia é breve mas comprometedora. O
movimento caracteriza esta passagem de Lucas. Jesus vem, entrou, levantou-se,
sentou-se, passou entre eles, e foi-se. Também os nazarenos se levantam mas
para o prender. Claro contraste. Jesus levanta-se para ler, os homens
levantam-se para afastá-lo. A espera descrita neste versículo Todos os que
estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele, termina em rejeição. O problema
não está no anúncio, já conhecido e fonte de esperança para os piedosos
israelitas, mas no anunciador que o faz seu.
* v. 21: Jesus não comenta as
palavras de Isaías mas atualiza-as. A sua palavra é palavra-acontecimento –
rhema – (At 10, 37), uma palavra que é já salvação. A profecia converte-se em
vida, é um facto. A interpretação de Jesus supera toda a expectativa. Na
Palavra está presente o hoje, aquele hoje típico do evangelista que é o hoje da
salvação, o hoje do cumprimento em correspondência com o que se escuta (cf. Rom
10, 17). Para Lucas é essencial a escuta. E a realização das promessas antigas
que se repete em toda a obra lucana (Lc 9, 51; At 2, 1; 19, 21) destina-se aos
que escutam: os anawin, os pobres, os oprimidos, os preferidos de Jahvé (Is 11,
4; 29, 19) e agora os preferidos de Jesus (Mt 11, 28).
* A finalidade da obra de
Lucas é recordar aos crentes das comunidades de língua grega as suas raízes e a
sua referência a Jesus. Neste texto em concreto, Lucas vai apresentar o
programa que Jesus se propõe realizar no meio dos homens, como uma proposta de
libertação dirigida a todos os oprimidos.
* O ponto de partida é a
leitura do texto de Is 61,1-2. Esse texto apresenta o profeta anónimo que,
em Jerusalém, consola os exilados, como um “ungido de Deus”, que possui o
Espírito de Deus; a sua missão consiste em gritar a “boa notícia” de que a
libertação chegou ao coração e à vida de todos os prisioneiros do sofrimento,
da opressão, da injustiça, do desânimo, do medo. O que é mais significativo, no
entanto, é a “actualização” que Jesus faz desta profecia: Ele apresenta-Se como
o “profeta” que Deus ungiu com o seu Espírito, a fim de concretizar essa missão
libertadora.
* O projeto libertador de
Deus em favor dos homens prisioneiros do egoísmo, da injustiça e do pecado
começa, portanto, a cumprir-se na ação de Jesus (“cumpriu-se hoje mesmo esta
passagem da Escritura que acabais de ouvir” – vers. 21). Na sequência, Lucas
vai descrever a atividade de Jesus na Galileia como o anúncio (em palavras e em
gestos) de uma “boa notícia” dirigida preferencialmente aos pobres e
marginalizados (aos leprosos, aos doentes, aos publicanos, às mulheres),
anunciando-lhes que chegou o fim de todas as escravidões e o tempo novo da vida
e da liberdade para todos.
* Lucas anuncia também, neste
texto programático, o caminho futuro da Igreja e as condições da sua fidelidade
a Cristo. A comunidade crente toma consciência, através deste texto, de que
a sua missão é a mesma de Cristo e consiste em levar a “boa notícia” da
libertação aos mais pobres, débeis e marginalizados do mundo. Ungida pelo
Espírito para levar a cabo esta missão, a Igreja cumpre o seguimento de Jesus.
Palavra para o caminho
Movido pelo Espírito de Deus.
Toda a vida de Jesus está impulsionada, conduzida e orientada pelo sopro, pela
força e pelo amor de Deus. Crer na divindade de Jesus não é confessar,
teoricamente, uma fórmula dogmática elaborada pelos concílios, mas é ir descobrindo,
de maneira concreta, nas suas palavras, nos seus gestos, na sua ternura e no
seu fogo, o Mistério último da vida que os crentes chamam “Deus”.
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