sexta-feira, 22 de abril de 2022

Domingo II da Páscoa – Domingo da Divina Misericórdia

1ª Leitura (At 4,32-35): A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.

Salmo Responsorial: 117

R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.

Diga a casa de Israel: é eterna a sua misericórdia. Diga a casa de Aarão: é eterna a sua misericórdia. Digam os que temem o Senhor: é eterna a sua misericórdia.

A mão do Senhor fez prodígios, a mão do Senhor foi magnífica. Não morrerei, mas hei de viver, para anunciar as obras do Senhor. Com dureza me castigou o Senhor, mas não me deixou morrer.

A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: é admirável aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.

2ª Leitura (1Jo 5,1-6): Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.

Aleluia. Disse o Senhor a Tomé: «Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto». Aleluia.

Evangelho (Jo 20,19-31): Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: «A paz esteja convosco». Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus disse, de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio». Então, soprou sobre eles e falou: «Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos». Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe: «Nós vimos o Senhor!». Mas Tomé disse: «Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!». Tomé respondeu: «Meu Senhor e meu Deus!». Jesus lhe disse: «Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!». Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.

«Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados»

+ Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (Tremp, Lleida, Espanha)

Hoje, segundo Domingo da Páscoa, completamos a oitava deste tempo litúrgico, uma das oitavas —juntamente com a do Natal— que a renovação litúrgica do Concílio Vaticano II manteve. Durante oito dias, contemplamos o mesmo mistério a aprofundamo-lo à luz do Espírito Santo.

Por desígnio do Papa João Paulo II, a este Domingo chama-se o Domingo da Divina Misericórdia. Trata-se de algo que vai muito mais além de uma devoção particular. Como explicou o Santo Padre na sua encíclica Dives in misericordia, a Divina Misericórdia é a manifestação amorosa de Deus em uma história ferida pelo pecado. A palavra “Misericórdia” tem a sua origem em duas palavras: “Miséria” e “Coração”. Deus coloca a nossa miserável situação devida ao pecado no Seu coração de Pai, que é fiel aos Seus desígnios. Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é a suprema manifestação e atuação da Divina Misericórdia. «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16) e entregou-O à morte para que fossemos salvos. «Para redimir o escravo sacrificou o Filho», temos proclamado no Pregão pascal da Vigília. E, uma vez ressuscitado, constituiu-O em fonte de salvação para todos os que creem nele. Pela fé e pela conversão, acolhemos o tesouro da Divina Misericórdia.

A Santa Madre Igreja, que quer que os seus filhos vivam da vida do Ressuscitado, manda que —pelo menos na Páscoa— se comungue na graça de Deus. A cinquentena pascal é o tempo oportuno para cumprir esta determinação. É um bom momento para confessar-se, acolhendo o poder de perdoar os pecados que o Senhor ressuscitado conferiu à sua Igreja, já que Ele disse aos Apóstolos: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados» (Jo 20,22-23). Assim iremos ao encontro das fontes da Divina Misericórdia. E não hesitemos em levar os nossos amigos a estas fontes de vida: à Eucaristia e à Confissão. Jesus ressuscitado conta conosco.

Pensamentos para o Evangelho de hoje

«E a Vós, Senhor, que vedes claramente, com os vossos olhos, os abismos da consciência humana o que, de mim, Te poderia passar despercebido, mesmo que me recusasse a confessá-lo?» (Santo Agostinho)

«Muitas vezes pensamos que confessar-nos é como ir à lavandaria. Mas Jesus, no confessionário, não é uma lavandaria. A confissão é um encontro com Jesus que nos espera tal qual somos» (Francisco)

«Cristo age em cada um dos sacramentos. Ele dirige-Se pessoalmente a cada um dos pecadores: “Meu filho, os teus pecados são-te perdoados” (Mc 2, 5); Ele é o médico que Se inclina sobre cada um dos doentes com necessidade d'Ele para os curar: alivia-os e reintegra-os na comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.484)

Meu Senhor e meu Deus!

Escrito por P. Américo no site Domus Iesu

* Bem-aventurados os que creem sem ver. - Tal como nos ciclos «A» e «B», hoje é proposto o mesmo trecho de João, tendo como segundo protagonista o apóstolo Tomé. Para já, pode-se dizer que este texto propõe três pontos fundamentais de muita importância. O primeiro fala do poder que o Ressuscitado conquistou com a sua vitória sobre a morte. É um poder que é transmitido aos discípulos (vv. 21-23; cf. Mt 28,18-20, Lc 24,47, At 26,17-18, 1Cor 15,3.17; e ainda: Mt 9,35; 10,7-8; 16,19; 18,18). Em segundo lugar, a fé não se esgota em palavras, mas é uma aposta, é um risco, é vida. Ou seja, não se trata de ver ou tocar, ou de «provar», mas sim do acolhimento dum anúncio que é feito (vv. 24-29; cf. 1Jo 1,1-5). Por fim, é preciso reconhecer que Jesus Cristo é o Filho de Deus, pelo que, aceitando-o assim, se chega à vida eterna. Mas não se pode também esquecer que a figura de Tomé nos é proposta sobretudo como exemplo de como todos deveremos proceder, de como todos devemos crer. Enfim, nesta perspectiva, Tomé não é paradigma de incredulidade, mas, sim, da fé autêntica. De resto, bem-vistas as coisas, Tomé não exigiu mais que os outros discípulos, que tinham acreditado só depois de «terem visto». Ora bem, então, a conclusão importante a que o evangelista quer chegar é de facto esta: «Bem-aventurado quem acredita sem ter visto». De entre os discípulos, o único que faz a profissão de fé autêntica sobre a divindade de Jesus é precisamente S. Tomé: «Meu Senhor e meu Deus!». Os outros não foram capazes de chegar a esta proposição, limitando-se a utilizar as expressões «Filho de Deus» e »Messias».

* O Primeiro e o Último - Ao contrário das descrições proféticas das «teofanias» características do AT, as narrações evangélicas sobre a Ressurreição (e não só), descrevem, com muita sobriedade e com palavras simples e reduzidas ao essencial, uma nova situação, um novo «estado» daquele que tinha ressuscitado pelo poder de Deus.

Agora, Ele regressa ao seu «estado original» e está liberto dos condicionalismos de espaço e de tempo. E, no entanto, está também presente no meio dos discípulos duma maneira real, embora diferente da anterior. Jesus é apresentado, segundo a visão do evangelista do autor do Apocalipse, com os atributos de sacerdote (hábito comprido) e de rei (cintura ou faixa de ouro). É apresentado como sendo o sentido da história – o Primeiro e o Último –, exercendo o seu poder sobre a morte e sobre o mundo da morte. Nessa visão é, portanto, o verdadeiro Senhor, exatamente como Deus; como Aquele que é o ser vivo desde sempre e para sempre.

* Sinais de salvação do Ressuscitado - A partir daquela manhã, algo de novo se passa nos apóstolos, após a derrota e pessimismo que se apoderara deles no momento da morte do Mestre. Quanto a este ponto, não há dúvida. De facto, de homens covardes e desesperados que eram, de repente, os apóstolos transformam-se em arautos destemidos dos prodígios operados graças ao poder de Jesus. Prova dessa mudança de atitude e comportamento é o testemunho do livro dos Atos, que lemos com profusão durante os domingos da Páscoa. A ação de Jesus é mais que evidente. Mais: são os próprios apóstolos – e de modo particular os mais responsáveis – a fazer prodígios em nome de Jesus.

Independentemente de outros fatores, não se podem negar estes factos, sob pena de negar o próprio valor do livro em consideração. E, para os que creem (e para os que leem o livro com espírito isento), isso está fora de questão. Agora, o que de fato não convém deixar na penumbra é um pormenor fundamental: ou seja, na verdade, nada acontece de novo enquanto os apóstolos não acreditam que Ele, Jesus (aquele que tinha sido levado à morte pelos anciãos do povo e pelos sacerdotes do Templo), apesar da derrota aparente, está novamente vivo e agora com todos os poderes que o Pai lhe concedeu. Quando os apóstolos, através da fé, fazem finalmente a opção por Jesus como Salvador, então as coisas começam a «acontecer e a «funcionar».

* O pecado é cancro que corrói - A «libertação» é um dos termos mais queridos dos jovens em geral e duma certa geração de teólogos em tempos mais recentes, polarizando entusiasmos e energias, numa procura dum mundo desvinculado de cadeias e proibições. Em princípio, esta ânsia é perfeitamente legítima. Para um cristão, porém, tem que se tratar de um processo global. É algo que não se pode resumir apenas numa libertação política e temporal. Esta libertação, nessa ótica, não pode ser apenas uma moda linguística e superficialmente política, mas uma redenção pelo próprio Deus, que ama de tal maneira o homem que não duvida sequer morrer por ele em Jesus Cristo.

Na ótica cristã, não basta, portanto, o esforço do homem, a sua luta apaixonada por uma maior liberdade, dignidade e justiça. Esses valores não estão em causa. Mas o que está em causa é se será possível alcançar esses valores prescindindo da componente espiritual, postergando o empenho dum Deus que, tendo criado o homem à sua imagem e semelhança, tem como «plano» que a libertação seja feita segundo essa imagem.

* Acima da estrutura, o espírito - Costuma-se dizer - sem discutir muito sobre o assunto - que são as estruturas que modelam e condicionam o homem. Bastaria, pois, mudar as estruturas para se seguir como consequência a mudança do homem. (Isso, claro, desde que se admita o princípio de que o homem tenha que mudar!). Lutando por fazer cair as estruturas anacrónicas da sociedade, estaria o caminho aberto à existência de uma maior justiça, liberdade e dignidade.

Claro que as estruturas – sejam quais forem – têm grande importância na «formatação» do homem. Mas a experiência tem demonstrado à saciedade que nem sempre a mudança de estruturas corresponde ao melhoramento das condições humanas. E o cristão sabe que a raiz da autêntica mudança não se joga primariamente na mudança mecânica das estruturas – que é, por vezes, inadiável – mas sim, mais profundamente, na opção que o homem for capaz de fazer entre egoísmo e doação. Essa é que é a mais radical libertação. Segundo essa ótica, essa mudança consubstancia-se na adequação ao projeto original de Deus, desfeado pela desobediência do homem. E isso, em definitivo, é um projeto que só o homem pode levar em frente. Por mais que a tecnologia seja deificada, estou convencido que, no fundo, a presidir às transformações - para além do próprio Deus - será aquele que foi criado à imagem e semelhança de Deus.

O Ressuscitado é a garantia - Ainda nessa ótica, Jesus ressuscitado é a garantia dessa libertação; é a base para uma libertação que mereça realmente o nome de libertação. Na verdade, onde não se verificou essa libertação, a experiência tem demonstrado que a queda de estruturas injustas deu frequentemente lugar a outras estruturas que não foram capazes de respeitar a dignidade humana.

No fundo, por outras palavras, o homem «novo» é só o «homem pascal». Só que, para que se dê realmente essa libertação, é necessário que esse homem pascal não o seja só de nome. E o facto é que a libertação, efetivamente trazida por Jesus, não é uma libertação que se impõe à força. De resto, a eficácia da libertação depende do facto de ela ser aceite livremente, sob pena de se contradizer a si mesma: ninguém pode ser verdadeiramente livre à força! A verdadeira libertação é uma libertação que é preciso aceitar no coração. O que significa necessariamente uma mentalidade nova.

Como comunidade de crentes, a Igreja é chamada, também ela, a promover a libertação – quanto a isso, não há dúvidas – mas trata-se duma libertação total. Certo que não basta uma libertação puramente interior, pois a libertação autêntica implica todos os setores, o homem todo. Mas sem nunca esquecer também que a autêntica libertação passa pela mudança interior, pela convicção profunda de que, fundamentalmente, todos os homens são iguais, não só porque todos são filhos e imagem do mesmo Pai, mas também porque todos foram remidos pelo sangue de Jesus que, vencendo o pecado e a morte, abriu definitivamente as portas da libertação total.

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