sábado, 18 de abril de 2020

II Domingo da Páscoa


1ª Leitura (At 4,32-35): A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.

Salmo Responsorial: 117
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.

Diga a casa de Israel: é eterna a sua misericórdia. Diga a casa de Aarão: é eterna a sua misericórdia. Digam os que temem o Senhor: é eterna a sua misericórdia.

A mão do Senhor fez prodígios, a mão do Senhor foi magnífica. Não morrerei, mas hei-de viver, para anunciar as obras do Senhor. Com dureza me castigou o Senhor, mas não me deixou morrer.

A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: é admirável aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.

2ª Leitura (1Jo 5,1-6): Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.

Aleluia. Disse o Senhor a Tomé: «Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto». Aleluia.

Evangelho (Jo 20,19-31): Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: «A paz esteja convosco». Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus disse, de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio». Então, soprou sobre eles e falou: «Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos». Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe: «Nós vimos o Senhor!» Mas Tomé disse: «Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!». Tomé respondeu: «Meu Senhor e meu Deus!». Jesus lhe disse: «Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!». Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.

«Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados»

Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (La Fuliola, Lleida, Espanha)

Hoje, segundo Domingo da Páscoa, completamos a oitava deste tempo litúrgico, uma das oitavas —juntamente com a do Natal — que a renovação litúrgica do Concílio Vaticano II manteve. Durante oito dias, contemplamos o mesmo mistério a aprofundamo-lo à luz do Espírito Santo.

Por desígnio do Papa João Paulo II, a este Domingo chama-se o Domingo da Divina Misericórdia. Trata-se de algo que vai muito mais além de uma devoção particular. Como explicou o Santo Padre na sua Encíclica Dives in misericordia, a Divina Misericórdia é a manifestação amorosa de Deus em uma história ferida pelo pecado. A palavra “Misericórdia” tem a sua origem em duas palavras: “Miséria” e “Coração”. Deus coloca a nossa miserável situação devida ao pecado no Seu coração de Pai, que é fiel aos Seus desígnios. Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é a suprema manifestação e atuação da Divina Misericórdia. «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigênito» (Jo 3,16) e entregou-O à morte para que fossemos salvos. «Para redimir o escravo sacrificou o Filho», temos proclamado no Pregão pascal da Vigília. E, uma vez ressuscitado, constituiu-O em fonte de salvação para todos os que creem nele. Pela fé e pela conversão, acolhemos o tesouro da Divina Misericórdia.

A Santa Madre Igreja, que quer que os seus filhos vivam da vida do Ressuscitado, manda que — pelo menos na Páscoa — se comungue na graça de Deus. A cinquentena pascal é o tempo oportuno para cumprir esta determinação. É um bom momento para confessar-se, acolhendo o poder de perdoar os pecados que o Senhor ressuscitado conferiu à sua Igreja, já que Ele disse aos Apóstolos: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados» (Jo 20,22-23). Assim iremos ao encontro das fontes da Divina Misericórdia. E não hesitemos em levar os nossos amigos a estas fontes de vida: à Eucaristia e à Confissão. Jesus ressuscitado conta conosco.

O Domingo da Misericórdia

P. Antonio Rivero, L.C.

Este dia foi chamado por São João Paulo II, o domingo da Misericórdia, porque do coração de Jesus, cheio de ternura brotaram estes dons como raios e reflexos da sua Ressurreição: a paz, os sacramentos e a última bem-aventurança, com a qual Cristo confirma a fé em nós, que cremos nele (segunda leitura) e naqueles que sofrem as dúvidas do apóstolo são Tomé.

Com a celebração do presente domingo da Misericórdia concluímos a Oitava de Pascoa, ou seja, esta semana que a Igreja nos convidou a considerar como um dia só: “O dia que o Senhor fez”. O Evangelho de hoje nos relata a aparição de Jesus Misericordioso aos seus discípulos no mesmo dia da sua ressurreição, no qual derramou sobre eles e lhes confiou o tesouro da sua Paz e dos seus Sacramentos, e confirmou a nossa fé e a fé de todos os “Tomés” do mundo, que estão cheios de dúvidas e com ânsias de ter certezas (evangelho). Esta paz nos levará depois a viver melhor a Eucaristia, a rezar com mais fervor e a praticar a caridade com os nossos irmãos (primeira leitura).

Em primeiro lugar, Cristo Misericordioso e Ressuscitado nos dá a sua paz, em hebraico Shalom (שלום), que significa um desejo de saúde, harmonia, paz interior, calma e tranquilidade para aquele ou aqueles a quem está dirigido. Paz como bem-estar entre as pessoas, as nações e entre deus e o homem. Os apóstolos perderam esta paz depois da morte de Cristo no Calvário. Estavam realmente com a paz, a fé e a esperança despedaçadas. Esta perturbação sombria dos discípulos é dissipada pela luz da vitória do Senhor, que enche os seus corações de serenidade e de alegria. Santo Agostinho definia a paz como “a tranquilidade da ordem”. E posto que existem duas “ordens”, a imperfeita da terra e a acabada do céu, existem também duas “pazes”: a da peregrinação e a da pátria. A insistência dessa palavra “paz” no Canon Romano da missa é clara: a Igreja recebeu a missão de estender até os confins do mundo a paz de Cristo Ressuscitado e Misericordioso.

Em segundo lugar, Cristo já nos dera na Quinta-Feira Santa o sacramento da Eucaristia. Agora, do seu coração misericordioso retira este outro tesouro: o sacramento da Reconciliação. Cristo envia os seus apóstolos com a missão de prolongar a sua própria missão: perdoar os pecados. A paz com Deus e com os nossos irmãos, primeiro dom que comentamos, se perdeu por culpa do pecado. Com o sacramento da Reconciliação recuperamos esta paz que rompemos com o pecado. A Igreja, depois da Ressurreição de Cristo é o instrumento mediante o qual o Senhor vai reduzindo tudo sob a soberania do seu reinado, o instrumento pelo qual a graça divina é comunicada, cujo curso ordinário são os sacramentos, ordenados à reconciliação dos homens com Deus, mediante a conversão.

Finalmente, outro dos dons da Ressurreição de Jesus foi a confirmação da nossa fé. A fé na ressurreição de Cristo é a verdade fundamental da nossa salvação. “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e é vã também, a vossa fé… Ainda estais nos vossos pecados”, dirá São Paulo. À luz da ressurreição todos os mistérios que Deus nos revelou e nos confiou ganham luminosidade.

Para refletir: Experimentamos com frequência a paz de Deus através da Reconciliação sacramental? Por que duvidamos com frequência de Deus e do seu amor misericordioso? Está firme a nossa fé em Cristo Ressuscitado?

Que os “Tomés” que andam por aí pedindo teimosamente provas e com a fé recaída se encontrem com Jesus misericordioso e que lhe mostre com carinho as suas chagas para que eles metam o seu dedo, creiam Nele e o anunciem por todas as partes do mundo.

P. Antonio Rivero, L.C.

Este domingo se chamava domingo “in albis”, ou seja, “in albis deponendis”, “o domingo no qual se despojam já os vestidos brancos” aqueles que antigamente tinham recebido o batismo na noite da Vigília Pascal. Hoje este domingo se chama, por indicação do Papa João Paulo II “Domingo II de Páscoa ou da divina misericórdia”. Neste ano da misericórdia este domingo deverá ser vivido com mais realce, se puder. Que ao passar junto dos nossos irmãos a nossa sombra reflita a luz de Cristo que os ilumina e consola (1ª leitura). E assim possam se encontrar com Cristo ressuscitado e exclamar com Tomé: “Meu Senhor e meu Deus” (Evangelho).

Em primeiro lugar, que muitos estão atravessando uma crise de fé, é evidente. Repetem o que os outros experimentara. Albert Camus no seu livro “a Peste” faz dizer o ateu Rieux, que não é mais que a sua mesma sombra: “Eu vivo na noite”, pois não podia compaginar a bondade de Deus e o sofrimento dos inocentes. O maior místico dos séculos na Igreja, São João da Cruz, diz: isto é “a noite escura da alma”, porque de Deus não sentia nem o consolo nem o olhar nem o sussurro. Santa Teresa de Lisieux: “Assaltam-me pensamentos como os que podem ter os piores materialistas”, porque Deus desaparecia para ela nos telões da criação. A Beata Teresa de Calcutá também viveu esta crise: “Há tanta contradição na minha alma: um profundo almejo de Deus, tão profundo que faz dano; um sofrimento contínuo, e com isso o sentimento de não ser querida por Deus, rejeitada, vazia, sem fé, sem amor, sem zelo… O céu não significa nada para mim, para mim parece um lugar vazio!”. Santa Teresa de Jesus, a grande mística de Ávila, descreve assim a sua: “ó valha-me Deus, e que são os trabalhos interiores e exteriores que padece uma alma até entrar na sétima morada… Nenhum consolo é admissível nesta tempestade…”. E, se fosse pouco, Jesus na cruz: Meu Deus, por que me abandonaste?!”. Ou seja que aqui, de Tomés pela vida afora, quem mais e quem menos. Pois a estes Tomés Jesus quer mostrar as suas chagas e curá-los, como o apóstolo Tomé.      

Em segundo lugar, o que fazer diante destas dúvidas e crises de fé? Culpar o ateísmo teórico do marxismo e os seus sequazes, o laicismo e esceticismo de intelectuais honradas ou baratos, o humanismo ateu de progressistas cavernícolas, que reduzem a religião à correção ética da vida ou ao compromisso social com o proletariado ou à auto realização da pessoa? Mas para dizer a verdade, parte da culpa está em alguns cristãos. Assim declararam os 2000 padres conciliares no Concílio Vaticano II ao falar do ateísmo em 1965: “também os que creem têm nisto a sua parte de responsabilidade…em quanto que, com o descuido da educação religiosa, ou com a exposição inadequada da doutrina ou inclusive com os defeitos da sua vida religiosa, moral e social, velaram mais que revelaram o genuíno rosto de Deus e da religião” (Gaudium et spes, 19). Também a estes crentes incoerentes Cristo ressuscitado quer lhes mostrar o seu lado aberto para convidá-los a meter a mão e voltar à fé simples que lhes transmitiram os seus avós e talvez a mãe de família. E assim possam exclamar de coração: “Meu Senhor e meu Deus”.   

Finalmente, e agora compete a nós ver a mensagem para cada um de nós. É o momento de revisar a nossa fé em Cristo ressuscitado, não seja que tenha algum Tomé escondido entre alguma greta do nosso coração ou da nossa mente. A todos nós chega a tentação de pedir a Deus um “seguro de felicidade”, ou pouco menos, ver o rosto de Deus, ou receber provas ou sinais de que vamos por bom caminho. Quem de nós não teve uma crise de fé, ou porque Deus parece ter entrado em eclipse na nossa vida, ou porque se acumularam as desgraças que nos fazem duvidar do seu amor, ou porque as tentações nos levam por caminhos não retos ou porque nos esfriamos no nosso fervor inicial? Jesus misericordioso quer se aproximar. Convida-nos a colocar o nosso dedo também nas suas chagas para que as nossas dúvidas se convertam em certezas, as nossas tristezas em alegrias, as nossas desconfianças em seguranças, a nossa teimosia em humildade, as nossas tempestades em calma. Aprendamos de Tomé a nos despojar de falsos apoios, a estar um pouco menos seguros de nós mesmos e aceitar a purificação que se supõem nesses momentos de escuridão. Se os santos tiveram esses momentos, quem somos nós para pedir a Deus que os tire de nós? “Meu Senhor e meu Deus”.

Para refletir: Como me comporto quando há nuvens escuras na minha vida? Tenho medos e me alimento de dúvidas? Ou ao contrário, esses momentos são ocasião para amadurecer na minha fé? Quantas vezes ao dia exclamo: “Meu Senhor e meu Deus”?

Para rezar: rezemos hoje a Maria e sempre que sintamos essas escuridões:
Sob a vossa proteção nos acolhemos,
Santa Mãe de Deus;
Não desprezeis as nossas súplicas
Que vos dirigimos
Nas nossas necessidades,
Antes bem livrai-nos de todo perigo,
Ó Virgem gloriosa e bendita!
Amém.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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