sábado, 5 de dezembro de 2015

II Domingo do Advento

Textos: Ba 5, 1-9; Filp 1, 4-6.8-11; Lc 3, 1-6

Evangelho (Lc 3,1-6): No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Ituréia e da Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilene, enquanto Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, a Palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto. Ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para ele. Todo vale será aterrado; toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas serão endireitadas, e os caminhos esburacados, aplanados. E todos verão a salvação que vem de Deus».

«E todos verão a salvação que vem de Deus»

+ Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)

Hoje a Igreja propõe-se a contemplação das palavras proféticas de Isaias, que fazem referência ao precursor do Senhor, João Batista, o qual se deu a conhecer no rio Jordão anunciando a salvação de Deus. Ele tinha a missão de abrir trajetos, aplanar caminhos, nivelar montanhas, converter os terrenos escabrosos em vales frondosos (cf. Lc 3,4-5). Também agora aos cristãos se nos pede —sem nenhum medo ao mundo atual— trabalhar apostolicamente para que todos possam vislumbrar a salvação (cf. Lc 3,6) que só vem de Deus por Jesus Cristo.

Temos muitas depressões para encher, muitos caminhos para aplanar, muitas montanhas para trasladar. Quiçá são tempos difíceis, mas não nos faltarão os meios se contamos com a graça de Deus. Seremos precursores na medida em que vivamos perto do Senhor e então se cumprirão aquelas palavras da Carta a Diogneto: «O que é a alma para o corpo, assim são os cristãos no meio do mundo». Naturalmente, temos de amar de todo o coração este mundo em que vivemos, como dizia um personagem duma novela de Dostoievski: «Amai toda a criação no seu conjunto e nos seus elementos, cada folha, cada raio, os animais, as plantas. E amando compreendereis o mistério divino das coisas. E uma vez compreendido acabareis por amar o mundo inteiro com um amor universal».

São Justinho afirmava: «Todas as coisas nobremente humanas pertencem-nos». E desde as entranhas do mundo –no meio do trabalho, da família, do ambiente social- seremos precursores preparando os caminhos da salvação que vem de Deus. Com o exemplo e a palavra «sacudiremos a preguiça dos que nos são mais próximo, abrindo-lhes largos horizontes ante sua existência egoísta e aburguesada, complicando-lhes a vida, fazendo que se esqueçam de eles mesmos e os levaremos à alegria e à paz», como São Josemaria Escrivá descreveu o trabalho apostólico dos cristãos no meio do mundo.

«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas »

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje vemos como um dos discípulos diz-lhe a Jesus: «Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos» (Lc 11,1). A resposta de Jesus: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja teu nome; venha o teu Reino; dá-nos, a cada dia, o pão cotidiano, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos introduzas em tentação» (Lc 11,2-4), pode ser resumida com uma frase: a correta disposição para a oração cristã é a disposição de uma criança diante do seu pai.

Vemos a seguir que a oração, segundo Jesus, é um tratamento do tipo “pai-filho”. Quer dizer, é um assunto familiar baseado numa relação de familiaridade e amor. A imagem de Deus como pai nos fala de uma relação baseada no afeto e na intimidade e, não na de autoridade e poder

Rezar como cristãos supõe pôr-nos numa situação onde vemos a Deus como pai e lhe falamos como seus filhos: «Você me escreveu: ‘Orar é falar com Deus. Mas, de que? — De que? Dele, de você: alegrias, tristezas, sucessos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas! e fazimentos de graças e petições: e amor e desagravo. Em duas palavras: Conhecê-lo e conhecer-se. Tratar-se!» (São Josemaria).

Quando os filhos falam com os pais prestam atenção em uma coisa: Transmitir em palavras e linguajem corporal o que sentem no coração. Somos melhores mulheres e homens de oração quando nosso tratamento com Deus se faz mais íntimo, como o do pai com seu filho. Disso nos deixou exemplo o mesmo Jesus. Ele é o caminho.

E se você acode à Virgem, Mestra de oração, que fácil será! De fato, «a contemplação de Cristo tem em Maria seu modelo insuperável. O rosto do Filho lhe pertence de uma maneira especial (...). Ninguém tem se dedicado com a assiduidade de Maria à contemplação do rosto de Cristo» (João Paulo II).

«Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas»

Pe. Sílvio Faria sdb

Neste segundo domingo de Advento, ecoa no Evangelho a voz de João Batista, profeta enviado por Deus como precursor do Messias. Ele apresenta-se no deserto da Judeia e, fazendo eco de um antigo oráculo de Isaías, brada: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas". Esta mensagem atravessa os séculos e chega até nós, repleta de extraordinária atualidade convidando-nos, também a nós, a preparar o caminho do Senhor no nosso coração e na nossa vida.

No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide e Lisânias tetrarca de Abilene, no pontificado de Anás e Caifás...

Lucas apresenta João como o último dos profetas do Antigo Testamento. Podemos deduzir isto através do seu modo de o descrever. Também os escritos dos antigos profetas se iniciam apresentando o contexto histórico no qual se realiza a pregação profética. Veja-se por exemplo Isaías (Is 1,1), Jeremias (Jr 1,1-3), Oseias (Os 1,1), Amos (Am 1,1). Lucas faz a mesma coisa para dizer que, depois de 500 anos sem uma presença profética, aparece de novo um profeta: João, precursor.

Num momento bem concreto da história universal, numa situação que anseia a mudança, na Palestina, uma faixa de terra perdida na vastidão do império romano, tem início, pela obra de João, a preparação imediata do tempo da salvação. É nesta nossa história concreta, sem mais distinções entre o sacro e profano, que se faz presente a palavra de Deus. A história da salvação, de facto, não é uma história diferente da história humana e da nossa história pessoal. Tenho consciência do tempo que me toca viver? Acredito que também hoje Deus se pode fazer presente na nossa história?

...foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto.

A palavra de Deus fez-se ouvir a João, como acontecia com os profetas do Antigo Testamento: “A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia... e dirás tudo o que Eu te mandar... Eis que ponho as minhas palavras na tua boca...” (Jr 1, 4-9). A palavra de Deus chama-o, coloca-o ao seu serviço e continua a ser a força dominante da sua vida.
No quadro geográfico traçado anteriormente por Lucas, há um lugar privilegiado no qual Deus falou como ao seu povo: o deserto. É também no deserto que João é surpreendido pela palavra de Deus. O “deserto” evoca, à primeira vista, sensações de solidão, de desvanecimento e de receio. O “deserto”, contudo, também constitui o lugar providencial do encontro com Deus. Que significa para mim fazer a experiência de deserto numa época - como a nossa - cada vez mais exposta à dispersão, à fragmentação interior, ao culto do aparecer?

E ele percorreu toda a zona do rio Jordão, pregando um baptismo de penitência para a remissão dos pecados...

João é o precursor: precede o seu Senhor e proclama o que está para acontecer. A sua mensagem é um baptismo para a remissão dos pecados. O baptismo (a imersão no Jordão) relacionado com a confissão dos pecados, deve manifestar a vontade de conversão.
Este baptismo não era apenas um ritual. Tratava-se de um baptismo de penitência, que utilizava o símbolo da água para expressar a purificação do coração e da vida. João, chamado o "Baptista", ou seja, o "Batizado", pregava este baptismo a Israel para preparar a iminente vinda do Messias. E a todos dizia que depois dele viria outro, maior do que ele, que teria batizado não com a água, mas com o Espírito Santo (cf. Mc 1, 7-8).

… como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: Uma voz clama no deserto: 'Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas...'.

Lucas cita um texto de Isaías (Is 40, 3-5) para ajudar os leitores a entender melhor o sentido da pregação de João. Nesse texto Isaías anunciava o regresso do povo do exílio para a Palestina e descrevia-o como um novo êxodo. Para Lucas, Jesus inicia um novo êxodo preparado pela pregação de João no deserto. Um novo regresso a Deus e à sua vontade e Palavra.
Não se pode deixar de notar uma contradição com aquilo que foi proclamado na primeira leitura deste II Domingo de Advento. Nela Baruc afirmava: “Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares e encher os vales, para se aplanar a terra, a fim de que Israel possa caminhar em segurança” (Br 5, 7). Era um canto de confiança na salvação que Deus certamente levaria a bom fim.
No livro dos oráculos do profeta Isaías, pelo contrário, é pedido aos Israelitas que preparem eles mesmos o caminho do Senhor. O profeta dirige-lhes o convite a que se empenhem em aplanar cada colina e nivelar os lugares inacessíveis. A salvação vem de Deus e é apenas obra das suas mãos, mas só é obtida por quem elimina os obstáculos à sua vinda. Os dois profetas não estão em contradição, mas completam-se. O primeiro sublinha a obra irresistível do amor de Deus. O segundo profeta põe em relevo a obra do homem.

'Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas, endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas...'

Ao contrário dos outros evangelistas que se limitam a citar um versículo de Isaías, Lucas continua a citação: “Sejam alteados todos os vales…” (vv.5-6). Se ele acrescenta também estes versículos isto significa que o faz por um interesse particular. Torna-se mais forte a imagem de mudança que é necessário (aplanar os montes e elevar os vales). Dois movimentos com um mesmo fim: preparar a vinda do Senhor.
Deus deseja vir habitar com os homens de todos os tempos e lugares, e chama-os a cooperar com Ele na obra da salvação. Mas o que é isso? Procurar anunciar um caminho novo de felicidade e vida para cada um de nós, através da presença transformante de Jesus, Seu Filho. Como? O Evangelho dá-nos a resposta: “corrigindo” as injustiças; “enchendo” os vazios de bondade, de misericórdia, de respeito e compreensão; “abatendo” o orgulho, as barreiras, as violências; “aplanando” tudo o que impede às pessoas uma vida livre e digna. Só deste modo nos preparamos para celebrar de modo autêntico o Natal.

...e toda a criatura verá a salvação de Deus’.

O Evangelista sublinha a universalidade da salvação, destinada a cada homem. Jesus veio não só para os judeus, mas para todos os homens. De facto, Lucas escreve o seu evangelho para a comunidade da Grécia, na sua maioria, pagãos convertidos.
O período litúrgico do Advento é tempo de meditação, de convite à profundidade, a reencontrar os grandes desejos que “habitam” a nossa vida e que a palavra de Deus nos faz entrever. Por todos podemos e devemos esperar, a todos devemos relançar a confiança respeito a um horizonte mais verdadeiro e autêntico: “todos verão a salvação de Deus!”. Está para cumprir-se o anúncio profético de Simeão (Lc 2, 28-32).

Preparemos o caminho!

Pe. Antonio Rivero, L.C.

São Nicolau de Mira (ou de Bari), Bispo 
Necessitamos a voz de um novo Isaias ou de um novo João que nos recorde o que Deus quer de nós neste Advento: encher vales, planar montanhas, endireitar o que está torto na nossa vida para caminhar e receber dignamente Cristo que vem neste Natal.

No domingo passado Deus nos convidava na liturgia a estar acordados sem nos deixar distrair pelas preocupações daqui debaixo; ocupar-nos, sim, preocupar-nos, não. Hoje o nosso bom Deus nos estimula a caminhar durante o Advento ao encontro de Cristo, animosos, tirando do nosso caminho o que nos incomodaria para chegar até Deus ou para que Ele se aproxime de nós (evangelho), sem cara de luto e aflição porque se aproxima a nossa completa libertação (1ª leitura) e levando uma vida irrepreensível e santa, dando frutos de caridade (2ª leitura).

Em primeiro lugar, João nos lembra da grande promessa do Antigo Testamento: vem alguém importante, o grande libertador da humanidade, Cristo. Caminhemos ao seu encontro! No tempo do profeta Isaias, quando vinha alguém importante com o seu cortejo, cortavam-se ervas daninhas, se enchia de enfeites, achatava-se um obstáculo, reparava-se uma ponte ou se acomodava um vau. Daí se inspira também João Batista: está por chegar alguém que está por cima de todo mundo, alguém que ele denomina “o que há de vir”, o esperado pelo povo. Tem que traçar um caminho no deserto para que possa chegar. Três coisas fundamentais têm que ajeitar nesse caminho: primeiro, “todo vale se encherá”. Quantos vales de depressão, desânimo e tristeza encontramos na nossa vida que nos afundam e, do mesmo jeito, impedem-nos chegar a Cristo! Segundo, “toda montanha será abaixada”. Quantas montanhas de orgulho, soberba e vaidade também encontramos à esquerda e à direita da nossa vida que nos levam a desterrar Deus! E terceiro, “o que está torto, será endireitado”. Quantas trilhas tortuosas aparecem no nosso caminhar até Deus: a trilha da mentira, do egoísmo, da corrupção, da luxúria, da violência, da moral sem escrúpulos, da teologia da prosperidade! Essas três ações se realizam no coração de cada um de nós.      

Em segundo lugar, mas, o que acontece? O homem complicou os seus caminhos com o pecado e ficou preso como dentro de um labirinto. Inspirados no antigo mito, necessitamos o “fio de Ariadna” para sair do labirinto onde se encontra o Minotauro de três cabeças- mundo, demônio y carne-, que quer devorar os valores e a dignidade cristã. E não só sair, mas matar o monstro que nos incita ao pecado, chame-se orgulho, preguiça, trapaça, hipocrisia, superficialidade, embriaguezes de todo tipo: não só de vinho e drogas, mas da própria beleza, da própria inteligência ou de nós mesmos que é a pior ebriedade. Ariadna deu a Teseu uma espada para matá-lo, e assim Teseu saiu vitorioso, incólume e salvo. Cristo nos deu a espada da sua Palavra e assim nos liberta do terrível tributo a qual o demônio estava nos obrigando: dar pábulo às nossas paixões seja do espírito ou seja da carne. E assim, morto o Minotauro, podemos caminhar expeditos e seguros ao encontro de Cristo, nosso Salvador.     

Finalmente, e para resumir, eis aqui o conselho: “encher, rebaixar, endireitar os caminhos”. Só assim no final do caminho do Advento, estaremos preparados para receber Cristo. Só assim Cristo se colocará de pé na nossa alma e nos pedirá a chave do nosso coração para entrar e comer e intimar conosco e encher-nos com a sua graça, e celebrar o Natal. Só assim seremos trilhas acessíveis para os nossos irmãos também chegarem a Cristo no final do Advento, e não poços ou penhascos onde caiam. Só assim também nós, parafraseando o evangelho de hoje, podemos dizer: “No ano 2015 do reinado de imperadores, reis e presidentes do mundo inteiro, sob o pontificado do Papa Francisco, veio a Palavra de Deus que o Espírito Santo nos fez entender, para que preparemos o caminho até o Senhor Jesus”. 

Para refletir: Qual área da minha vida tenho que endireitar para fazer bem este caminho até Cristo: a minha mente, fechada à algumas verdades da fé católica; a minha afetividade, que anda desajustada e maluca, a minha vontade, frouxa e sem vontade?

Para rezar: Vamos rezar esta música:

1.Pelas estradas da vida
Nunca sozinho estás;
Contigo pelo caminho
Santa Maria vai.

Vem conosco, vem caminhar;
Santa Maria, vem.
Vem conosco, vem caminhar;
Santa Maria, vem.

2.E se te dizem os homens
Que nada podes mudar,
Luta por um mundo novo
De unidade e paz.

3.Se pelo mundo os homens
Sem conhecer-se vão
Não negues nunca a tua mão
A quem te encontrar.

4.E se parece cansado
E inútil caminhar,
Tu vais fazendo o caminho:
Outros te seguirão.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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