Textos: Ba 5, 1-9; Filp 1, 4-6.8-11; Lc 3, 1-6
Evangelho
(Lc 3,1-6): No décimo quinto ano do
império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia,
Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe, tetrarca da Ituréia e da
Traconítide, e Lisânias, tetrarca de Abilene, enquanto Anás e Caifás eram sumos
sacerdotes, a Palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no
deserto. Ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de
conversão para o perdão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do
profeta Isaías: «Voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as veredas para ele. Todo vale será aterrado; toda montanha e colina
serão rebaixadas; as passagens tortuosas serão endireitadas, e os caminhos
esburacados, aplanados. E todos verão a salvação que vem de Deus».
«E todos verão a
salvação que vem de Deus»
+ Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)
Hoje
a Igreja propõe-se a contemplação das palavras proféticas de Isaias, que fazem
referência ao precursor do Senhor, João Batista, o qual se deu a conhecer no
rio Jordão anunciando a salvação de Deus. Ele tinha a missão de abrir trajetos,
aplanar caminhos, nivelar montanhas, converter os terrenos escabrosos em vales
frondosos (cf. Lc 3,4-5). Também agora aos cristãos se nos pede —sem nenhum
medo ao mundo atual— trabalhar apostolicamente para que todos possam vislumbrar
a salvação (cf. Lc 3,6) que só vem de Deus por Jesus Cristo.
Temos
muitas depressões para encher, muitos caminhos para aplanar, muitas montanhas
para trasladar. Quiçá são tempos difíceis, mas não nos faltarão os meios se
contamos com a graça de Deus. Seremos precursores na medida em que vivamos
perto do Senhor e então se cumprirão aquelas palavras da Carta a Diogneto: «O
que é a alma para o corpo, assim são os cristãos no meio do mundo».
Naturalmente, temos de amar de todo o coração este mundo em que vivemos, como
dizia um personagem duma novela de Dostoievski: «Amai toda a criação no seu
conjunto e nos seus elementos, cada folha, cada raio, os animais, as plantas. E
amando compreendereis o mistério divino das coisas. E uma vez compreendido
acabareis por amar o mundo inteiro com um amor universal».
São
Justinho afirmava: «Todas as coisas nobremente humanas pertencem-nos». E desde
as entranhas do mundo –no meio do trabalho, da família, do ambiente social-
seremos precursores preparando os caminhos da salvação que vem de Deus. Com o
exemplo e a palavra «sacudiremos a preguiça dos que nos são mais próximo,
abrindo-lhes largos horizontes ante sua existência egoísta e aburguesada,
complicando-lhes a vida, fazendo que se esqueçam de eles mesmos e os levaremos
à alegria e à paz», como São Josemaria Escrivá descreveu o trabalho apostólico
dos cristãos no meio do mundo.
«Preparai o caminho do
Senhor, endireitai as veredas »
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès,
Barcelona, Espanha)
Vemos
a seguir que a oração, segundo Jesus, é um tratamento do tipo “pai-filho”. Quer
dizer, é um assunto familiar baseado numa relação de familiaridade e amor. A
imagem de Deus como pai nos fala de uma relação baseada no afeto e na
intimidade e, não na de autoridade e poder
Rezar
como cristãos supõe pôr-nos numa situação onde vemos a Deus como pai e lhe
falamos como seus filhos: «Você me escreveu: ‘Orar é falar com Deus. Mas, de
que? — De que? Dele, de você: alegrias, tristezas, sucessos e fracassos,
ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas! e fazimentos de graças e
petições: e amor e desagravo. Em duas palavras: Conhecê-lo e conhecer-se.
Tratar-se!» (São Josemaria).
Quando
os filhos falam com os pais prestam atenção em uma coisa: Transmitir em
palavras e linguajem corporal o que sentem no coração. Somos melhores mulheres
e homens de oração quando nosso tratamento com Deus se faz mais íntimo, como o
do pai com seu filho. Disso nos deixou exemplo o mesmo Jesus. Ele é o caminho.
E
se você acode à Virgem, Mestra de oração, que fácil será! De fato, «a
contemplação de Cristo tem em Maria seu modelo insuperável. O rosto do Filho
lhe pertence de uma maneira especial (...). Ninguém tem se dedicado com a
assiduidade de Maria à contemplação do rosto de Cristo» (João Paulo II).
«Preparai o caminho do
Senhor, endireitai as suas veredas»
Pe. Sílvio Faria sdb
Neste
segundo domingo de Advento, ecoa no Evangelho a voz de João Batista, profeta
enviado por Deus como precursor do Messias. Ele apresenta-se no deserto da
Judeia e, fazendo eco de um antigo oráculo de Isaías, brada: "Preparai o
caminho do Senhor, endireitai as suas veredas". Esta mensagem atravessa os
séculos e chega até nós, repleta de extraordinária atualidade convidando-nos,
também a nós, a preparar o caminho do Senhor no nosso coração e na nossa vida.
No décimo
quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era
governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca
da região da Itureia e Traconítide e Lisânias tetrarca de Abilene, no
pontificado de Anás e Caifás...
Lucas
apresenta João como o último dos profetas do Antigo Testamento. Podemos deduzir
isto através do seu modo de o descrever. Também os escritos dos antigos
profetas se iniciam apresentando o contexto histórico no qual se realiza a
pregação profética. Veja-se por exemplo Isaías (Is 1,1), Jeremias (Jr 1,1-3),
Oseias (Os 1,1), Amos (Am 1,1). Lucas faz a mesma coisa para dizer que, depois
de 500 anos sem uma presença profética, aparece de novo um profeta: João,
precursor.
Num
momento bem concreto da história universal, numa situação que anseia a mudança,
na Palestina, uma faixa de terra perdida na vastidão do império romano, tem início,
pela obra de João, a preparação imediata do tempo da salvação. É nesta nossa
história concreta, sem mais distinções entre o sacro e profano, que se faz
presente a palavra de Deus. A história da salvação, de facto, não é uma
história diferente da história humana e da nossa história pessoal. Tenho
consciência do tempo que me toca viver? Acredito que também hoje Deus se pode
fazer presente na nossa história?
...foi
dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto.
A
palavra de Deus fez-se ouvir a João, como acontecia com os profetas do Antigo
Testamento: “A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: antes de te
haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia... e dirás tudo o que Eu te
mandar... Eis que ponho as minhas palavras na tua boca...” (Jr 1, 4-9). A
palavra de Deus chama-o, coloca-o ao seu serviço e continua a ser a força
dominante da sua vida.
No
quadro geográfico traçado anteriormente por Lucas, há um lugar privilegiado no
qual Deus falou como ao seu povo: o deserto. É também no deserto que João é
surpreendido pela palavra de Deus. O “deserto” evoca, à primeira vista,
sensações de solidão, de desvanecimento e de receio. O “deserto”, contudo,
também constitui o lugar providencial do encontro com Deus. Que significa para
mim fazer a experiência de deserto numa época - como a nossa - cada vez mais
exposta à dispersão, à fragmentação interior, ao culto do aparecer?
E ele percorreu
toda a zona do rio Jordão, pregando um baptismo de penitência para a remissão
dos pecados...
João
é o precursor: precede o seu Senhor e proclama o que está para acontecer. A sua
mensagem é um baptismo para a remissão dos pecados. O baptismo (a imersão no
Jordão) relacionado com a confissão dos pecados, deve manifestar a vontade de
conversão.
Este
baptismo não era apenas um ritual. Tratava-se de um baptismo de penitência, que
utilizava o símbolo da água para expressar a purificação do coração e da vida.
João, chamado o "Baptista", ou seja, o "Batizado", pregava
este baptismo a Israel para preparar a iminente vinda do Messias. E a todos
dizia que depois dele viria outro, maior do que ele, que teria batizado não com
a água, mas com o Espírito Santo (cf. Mc 1, 7-8).
… como
está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: Uma voz clama no deserto:
'Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas...'.
Lucas
cita um texto de Isaías (Is 40, 3-5) para ajudar os leitores a entender melhor
o sentido da pregação de João. Nesse texto Isaías anunciava o regresso do povo
do exílio para a Palestina e descrevia-o como um novo êxodo. Para Lucas, Jesus
inicia um novo êxodo preparado pela pregação de João no deserto. Um novo
regresso a Deus e à sua vontade e Palavra.
Não
se pode deixar de notar uma contradição com aquilo que foi proclamado na
primeira leitura deste II Domingo de Advento. Nela Baruc afirmava: “Deus
decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares e encher os vales,
para se aplanar a terra, a fim de que Israel possa caminhar em segurança” (Br
5, 7). Era um canto de confiança na salvação que Deus certamente levaria a bom
fim.
No
livro dos oráculos do profeta Isaías, pelo contrário, é pedido aos Israelitas
que preparem eles mesmos o caminho do Senhor. O profeta dirige-lhes o convite a
que se empenhem em aplanar cada colina e nivelar os lugares inacessíveis. A
salvação vem de Deus e é apenas obra das suas mãos, mas só é obtida por quem
elimina os obstáculos à sua vinda. Os dois profetas não estão em contradição,
mas completam-se. O primeiro sublinha a obra irresistível do amor de Deus. O
segundo profeta põe em relevo a obra do homem.
'Sejam
alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas, endireitem-se os
caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas...'
Ao
contrário dos outros evangelistas que se limitam a citar um versículo de
Isaías, Lucas continua a citação: “Sejam alteados todos os vales…” (vv.5-6). Se
ele acrescenta também estes versículos isto significa que o faz por um
interesse particular. Torna-se mais forte a imagem de mudança que é necessário
(aplanar os montes e elevar os vales). Dois movimentos com um mesmo fim:
preparar a vinda do Senhor.
Deus
deseja vir habitar com os homens de todos os tempos e lugares, e chama-os a
cooperar com Ele na obra da salvação. Mas o que é isso? Procurar anunciar um
caminho novo de felicidade e vida para cada um de nós, através da presença
transformante de Jesus, Seu Filho. Como? O Evangelho dá-nos a resposta:
“corrigindo” as injustiças; “enchendo” os vazios de bondade, de misericórdia,
de respeito e compreensão; “abatendo” o orgulho, as barreiras, as violências;
“aplanando” tudo o que impede às pessoas uma vida livre e digna. Só deste modo
nos preparamos para celebrar de modo autêntico o Natal.
...e toda
a criatura verá a salvação de Deus’.
O
Evangelista sublinha a universalidade da salvação, destinada a cada homem.
Jesus veio não só para os judeus, mas para todos os homens. De facto, Lucas
escreve o seu evangelho para a comunidade da Grécia, na sua maioria, pagãos
convertidos.
O
período litúrgico do Advento é tempo de meditação, de convite à profundidade, a
reencontrar os grandes desejos que “habitam” a nossa vida e que a palavra de
Deus nos faz entrever. Por todos podemos e devemos esperar, a todos devemos
relançar a confiança respeito a um horizonte mais verdadeiro e autêntico:
“todos verão a salvação de Deus!”. Está para cumprir-se o anúncio profético de
Simeão (Lc 2, 28-32).
Preparemos o caminho!
Pe. Antonio Rivero, L.C.
São Nicolau de Mira (ou de Bari), Bispo |
No
domingo passado Deus nos convidava na liturgia a estar acordados sem nos deixar
distrair pelas preocupações daqui debaixo; ocupar-nos, sim, preocupar-nos, não.
Hoje o nosso bom Deus nos estimula a caminhar durante o Advento ao encontro de
Cristo, animosos, tirando do nosso caminho o que nos incomodaria para chegar
até Deus ou para que Ele se aproxime de nós (evangelho), sem cara de luto e
aflição porque se aproxima a nossa completa libertação (1ª leitura) e levando
uma vida irrepreensível e santa, dando frutos de caridade (2ª leitura).
Em
primeiro lugar, João nos lembra da grande promessa do Antigo Testamento: vem
alguém importante, o grande libertador da humanidade, Cristo. Caminhemos ao seu
encontro! No tempo do profeta Isaias, quando vinha alguém importante com o seu
cortejo, cortavam-se ervas daninhas, se enchia de enfeites, achatava-se um
obstáculo, reparava-se uma ponte ou se acomodava um vau. Daí se inspira também
João Batista: está por chegar alguém que está por cima de todo mundo, alguém
que ele denomina “o que há de vir”, o esperado pelo povo. Tem que traçar um
caminho no deserto para que possa chegar. Três coisas fundamentais têm que
ajeitar nesse caminho: primeiro, “todo vale se encherá”. Quantos vales de
depressão, desânimo e tristeza encontramos na nossa vida que nos afundam e, do
mesmo jeito, impedem-nos chegar a Cristo! Segundo, “toda montanha será
abaixada”. Quantas montanhas de orgulho, soberba e vaidade também encontramos à
esquerda e à direita da nossa vida que nos levam a desterrar Deus! E terceiro,
“o que está torto, será endireitado”. Quantas trilhas tortuosas aparecem no
nosso caminhar até Deus: a trilha da mentira, do egoísmo, da corrupção, da
luxúria, da violência, da moral sem escrúpulos, da teologia da prosperidade!
Essas três ações se realizam no coração de cada um de nós.
Em
segundo lugar, mas, o que acontece? O homem complicou os seus caminhos com o
pecado e ficou preso como dentro de um labirinto. Inspirados no antigo mito,
necessitamos o “fio de Ariadna” para sair do labirinto onde se encontra o
Minotauro de três cabeças- mundo, demônio y carne-, que quer devorar os valores
e a dignidade cristã. E não só sair, mas matar o monstro que nos incita ao
pecado, chame-se orgulho, preguiça, trapaça, hipocrisia, superficialidade,
embriaguezes de todo tipo: não só de vinho e drogas, mas da própria beleza, da
própria inteligência ou de nós mesmos que é a pior ebriedade. Ariadna deu a
Teseu uma espada para matá-lo, e assim Teseu saiu vitorioso, incólume e salvo.
Cristo nos deu a espada da sua Palavra e assim nos liberta do terrível tributo
a qual o demônio estava nos obrigando: dar pábulo às nossas paixões seja do
espírito ou seja da carne. E assim, morto o Minotauro, podemos caminhar
expeditos e seguros ao encontro de Cristo, nosso Salvador.
Finalmente,
e para resumir, eis aqui o conselho: “encher, rebaixar, endireitar os
caminhos”. Só assim no final do caminho do Advento, estaremos preparados para
receber Cristo. Só assim Cristo se colocará de pé na nossa alma e nos pedirá a
chave do nosso coração para entrar e comer e intimar conosco e encher-nos com a
sua graça, e celebrar o Natal. Só assim seremos trilhas acessíveis para os
nossos irmãos também chegarem a Cristo no final do Advento, e não poços ou
penhascos onde caiam. Só assim também nós, parafraseando o evangelho de hoje, podemos
dizer: “No ano 2015 do reinado de imperadores, reis e presidentes do mundo
inteiro, sob o pontificado do Papa Francisco, veio a Palavra de Deus que o
Espírito Santo nos fez entender, para que preparemos o caminho até o Senhor
Jesus”.
Para
refletir:
Qual área da minha vida
tenho que endireitar para fazer bem este caminho até Cristo: a minha mente,
fechada à algumas verdades da fé católica; a minha afetividade, que anda
desajustada e maluca, a minha vontade, frouxa e sem vontade?
Para
rezar: Vamos rezar esta música:
1.Pelas
estradas da vida
Nunca
sozinho estás;
Contigo
pelo caminho
Santa
Maria vai.
Vem
conosco, vem caminhar;
Santa
Maria, vem.
Vem
conosco, vem caminhar;
Santa
Maria, vem.
2.E
se te dizem os homens
Que
nada podes mudar,
Luta
por um mundo novo
De
unidade e paz.
3.Se
pelo mundo os homens
Sem
conhecer-se vão
Não
negues nunca a tua mão
A
quem te encontrar.
4.E
se parece cansado
E
inútil caminhar,
Tu
vais fazendo o caminho:
Outros
te seguirão.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre
Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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