quarta-feira, 29 de maio de 2013

SOLENIDADE DO SSMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

Evangelho (João 6,52-59) Naquele tempo, Os judeus discutiam entre si: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?” Jesus disse: “Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem consome a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. Quem consome a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que me consome viverá por meio de mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram – e no entanto morreram. Quem consome este pão viverá para sempre”. Jesus falou estas coisas ensinando na sinagoga, em Cafarnaum.

Reflexão de Frei Carlos Mesters, ocarm

* Estamos chegando quase ao fim do Discurso do Pão da Vida. Aqui começa a parte mais polêmica. Os judeus se fecham e começam a questionar as afirmações de Jesus.

* João 6,52-55: Carne e sangue: expressão da vida e da doação total.  Os judeus reagem: “Como esse homem pode dar-nos a sua carne para comer?” Era perto da festa da Páscoa. Dentro de poucos dias, todos iam comer a carne do cordeiro pascal na celebração da noite de páscoa. Eles não entenderam as palavras de Jesus, porque tomaram tudo ao pé da letra. Mas Jesus não diminui as exigências, não retira nada do que disse, e insiste: “Eu garanto a vocês: se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue, não terão a vida em vocês. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele”.   (1) Comer a carne de Jesus significa aceitar Jesus como o novo Cordeiro Pascal, cujo sangue nos liberta da escravidão. A lei do Antigo Testamento, por respeito à vida, proibia comer sangue (Dt 12,16.23; At 15.29). Sangue era o sinal da vida. (2) Beber o sangue de Jesus significa assimilar a mesma maneira de viver que marcou a vida de Jesus. O que traz vida não é celebrar o maná do passado, mas sim comer este novo pão que é Jesus, a sua carne e o seu sangue. Participando da Ceia Eucarística, assimilamos a sua vida, a sua doação e entrega.  “Se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue não terão vida em vocês”. Devem aceitar Jesus como messias crucificado, cujo sangue vai ser derramado.

* João 6,56-58: Quem me receber como alimento viverá por mim.  As últimas frases do Discurso do Pão da Vida são de grande profundidade e tentam resumir tudo que foi dito. Elas evocam a dimensão mística que envolve a participação na eucaristia. Expressam o que Paulo diz na carta aos Gálatas: “Vivo, mas já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). E o que diz o Apocalipse de João: “Se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, ele comigo” (Ap 3,20). E o próprio João no Evangelho: “Se alguém me ama guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele faremos nossa morada” (Jo 14,23). E termina com a promessa da vida que marca a diferença com o antigo êxodo: “Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que os pais de vocês comeram e depois morreram. Quem come deste pão viverá para sempre.”

* João 6,59: Termina o discurso na sinagoga. Até aqui foi a conversa entre Jesus e o povo e os judeus na sinagoga de Cafarnaum. Como aludimos anteriormente, o Discurso do Pão da Vida nos oferece uma imagem de como era a catequese naquele fim do primeiro séculos nas comunidades cristãs da Ásia Menor. As perguntas do povo e dos judeus refletem as dificuldades dos membros das comunidades. E as resposta de Jesus representam os esclarecimentos para ajuda-los a superar as dificuldades, aprofundar sua fé e viver mais intensamente a eucaristia que era celebrada sobretudo nas noites de sábado para o domingo, o Dia do Senhor.

Para um confronto pessoal
1) A partir do Discurso do Pão da Vida, a celebração da Eucaristia recebe uma luz muito forte e um aprofundamento enorme. Qual a luz eu estou percebendo que me ajuda a dar um passo?
2) Comer a carne e o sangue de Jesus, é o mandamento que ele nos dá. Como vivo a eucaristia na minha vida? Mesmo não podendo ir à missa todos os dias ou todos os domingos, minha vida deve ser eucarística. Como tento realizar este objetivo?

DOS SERMÕES DE SANTO AGOSTINHO, BISPO
No corpo de Cristo, vos tornastes agora membros de Cristo


    O ministério da Palavra e o cuidado com que vos geramos para que Cristo se forme em vós, nos levam a vos dizer o que seja este sacramento tão grande e tão divino, este remédio tão célebre e nobre, este sacrifício tão puro e tão fácil. Já não é mais em uma única cidade terrestre, Jerusalém, nem mais no tabernáculo construído por Moisés, nem no templo erguido por Salomão – tudo isso não era senão sombra de realidades futuras – mas é do nascer do sol até o seu ocaso (Sl 112 [113], 3), como predisseram os Profetas, que se imola e se oferece a Deus a vítima de louvor, segundo a graça do Novo Testamento.
    Já não se vai mais buscar entre o rebanho uma vítima sangrenta, já não nos aproximamos do altar com uma ovelha, mas, de agora em diante, o sacrifício de nosso tempo é o corpo e o sangue do próprio sacerdote. Foi deste sacerdote que se predisse no salmo: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem do rei Melquisedeque (Sl 109 [110], 4). Ora, lemos no Gêneses e bem sabemos que Melquisedeque, sacerdote do Altíssimo, ofereceu pão e vinho (cf. Gn 14, 18), quando abençoou nosso pai Abraão.
   Cristo, nosso Senhor, que ofereceu, ao sofrer por nós, o que recebera ao nascer por nós, estabelecido sacerdote para a eternidade, instituiu o sacrifício do seu corpo e do seu sangue. Porque seu corpo, traspassado pela lança, deixou correr a água e o sangue pelo qual remiu nossos pecados. Lembrando-vos desta graça, realizando a vossa salvação com temor e tremor – pois é Deus que em vós opera – vós vos aproximais para participar deste altar. Reconhecei no pão o que pendeu da cruz, no cálice o que escorreu do lado aberto. Os antigos sacrifícios do povo de Deus significavam, em sua múltipla variedade, o único sacrifício que havia de vir. E tudo o que foi anunciado de modo múltiplo e diverso nos sacrifícios do Antigo Testamento, se relaciona com o sacrifício único, revelado no Novo.
    Recebei, pois, e comei o corpo de Cristo, uma vez que, no corpo de Cristo, vos tornastes agora membros de Cristo. Recebei e bebei o sangue de Cristo. Para que não vos deixeis dispersar, comei aquele que é o vosso vínculo; para não parecerdes sem valor aos vossos próprios olhos, bebei aquele que é o preço pelo qual fostes resgatados. Quando comeis este alimento e bebeis esta bebida, eles se transformam em vós; assim vós também sois transformados no corpo de Cristo, se viveis na obediência e no fervor. Se tendes a vida nele, sereis com ele uma só carne. Porque este sacramento não vos apresenta o corpo de Cristo para dele vos separar. O Apóstolo nos lembra que isto foi predito na Sagrada Escritura: Os dois serão uma só carne. Este mistério é grande – eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja (Ef 5, 32).
Em outro lugar foi dito a respeito da própria eucaristia: Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo (1Cor 10, 17). Começais, pois, a receber o que começastes a ser.

DOS SERMÕES DE SANTO AGOSTINHO, BISPO
Cristo consagrou em sua mesa o mistério da nossa paz e unidade


   O que estais vendo sobre o altar é o pão e o cálice; é o que também reiteram vossos olhos. No entanto, segundo a fé na qual deveis ser instruídos, o pão é o corpo de Cristo e o cálice o sangue de Cristo.
   O que dissemos de modo conciso, talvez seja o bastante para a fé. Mas a fé deseja ser instruída. Com efeito, podeis dizer-me: tu mandaste que acreditássemos; agora, porém, dá-nos uma explicação a fim de podermos compreender. Na verdade, é possível ocorrer à mente de alguém este pensamento: sabemos de quem nosso Senhor Jesus Cristo recebeu um corpo: da Virgem Maria. Quando criança, ele foi amamentado e alimentado; cresceu até se tornar um jovem adulto; morreu na cruz, foi descido da cruz, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, no dia que quis subiu ao céu e para lá levou seu corpo; de lá, onde agora está à direita do Pai, voltará para julgar os vivos e os mortos. Como, então, pode este pão ser o seu corpo? E este cálice, ou melhor, o que nele está contido, ser o seu sangue?
  Irmãos, estas realidades chamam-se sacramentos, porque neles o que vemos é diferente do que acreditamos. O que vemos tem aspecto material, enquanto o que compreendemos produz um efeito espiritual.
   Se queres compreender o que é o Corpo de Cristo, ouve o Apóstolo que diz aos fiéis: Vós sois o corpo de Cristo e os seus membros (1Cor 12, 27). Portanto, se sois o corpo de Cristo e os seus membros, é vosso mistério que está colocado sobre a mesa do Senhor: recebei o mistério que sois vós. A isto que sois, respondeis: “Amém”; e assim respondendo, o subscreveis. De fato, ouvis: “O corpo de Cristo”; e respondeis: “Amém”. Sê membro do corpo de Cristo para que teu “Amém” seja verídico!
   Mas, por que o corpo de Cristo está no pão? Não queremos afirmar aqui nada de próprio, mas ouçamos ainda o mesmo Apóstolo que, falando deste sacramento, diz: Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo (1Cor 10, 17). Procurai compreender e alegrai-vos: unidade, verdade, piedade, caridade! Um só pão: quem é este único pão? Nós, embora muitos, somos um só corpo. Lembrai-vos de que não se faz pão com um único grão de trigo, e sim com muitos. Sede o que vedes, e recebei o que sois! Eis o que disse o Apóstolo a respeito do pão.
   Quanto ao que devemos compreender sobre o cálice, embora nada tenha dito, ele nos deu a conhecer o suficiente. Com efeito, para se obter a espécie visível do pão, muitos grãos de trigo formam uma só massa. De igual modo se realiza o que a Sagrada Escritura afirma com relação aos fiéis: Possuíam um só coração e uma só alma (At 4, 32) diante de Deus. O mesmo também ocorre com o vinho. Lembrai-vos, irmãos, de como se faz o vinho. Muitas uvas pendem do cacho, mas o suco das uvas conflui para a unidade.
  Foi dessa maneira que Cristo nos representou e quis que lhe pertencêssemos, consagrando em sua mesa o mistério da nossa paz e unidade. Quem recebe o sacramento da unidade e não conserva o vínculo da paz, recebe não um sacramento para sua salvação, mas um testemunho que o condena.

DAS HOMILIAS SOBRE O EVANGELHO DE SÃO MATEUS, DE SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, BISPO
Ardentemente desejei comer convosco esta ceia pascal
    
   Enquanto estavam comendo, Jesus tomou o pão e o partiu (Mt 26, 26). Por que o Senhor instituiu esse mistério no tempo pascal? Para aprendermos com esse ato que ele é o legislador da Antiga Aliança e tudo que ela prefigurava tinha em vista a Nova Aliança. Onde estava a figura, Cristo estabeleceu a verdade. Aqui, a tarde é sinal da plenitude dos tempos, quando os acontecimentos estão prestes a serem concluídos. Jesus dá graças para nos ensinar como devemos celebrar esse mistério, mostrando-nos que vai livremente ao encontro de sua paixão a fim de sabermos também sofrer com ações de graças; e, em conseqüência, infunde em nós a santa esperança.
    Portanto, se a figura pôde nos libertar de tamanha escravidão, quanto mais a realidade não libertará o mundo e beneficiará o gênero humano. Eis porque o Senhor não institui primeiro esse mistério, mas o realiza no momento em que deverão cessar as prescrições legais. Suprime, assim, a mais importante festa judaica, transferindo seus discípulos para uma outra mesa infinitamente mais sagrada, e diz: Tomai, comei; isto é o meu corpo, que é dado por vós (Mt 26, 26; Lc 22, 19).
   Como não ficariam perturbados os que ouviram tais palavras? Antes disso, Cristo já lhes havia dito muitas e grandes coisas a respeito desse sacramento. Por isso, agora não diz mais nada, visto que já tinham ouvido o suficiente. Declara, porém, a causa de sua paixão, que é a remissão dos pecados. E chama o cálice a Nova Aliança no meu sangue (1Cor 11, 25), isto é, o sangue da promessa e da nova Lei.
  Tudo isso, agora confirmado no Novo Testamento, o Antigo já o havia prometido. Como neste se ofereciam ovelhas e novilhos, no Novo Testamento se oferece o sangue do Senhor. Mostra dessa maneira sua morte iminente; por isso fala de Testamento, mencionando também o Antigo que fora igualmente estipulado por meio do sangue. Ao referir a causa de sua morte, afirma que seu sangue é derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados (Mt 26, 28). E acrescenta: Fazei isto em memória de mim (Lc 22, 19).
  Observais como Cristo desvia e afasta os apóstolos das observâncias judaicas? É como se dissesse: Outrora celebráveis a Páscoa em memória dos milagres realizados por Deus no Egito; agora a celebrais em memória de mim. No Egito o sangue foi derramado para salvar os primogênitos; agora será derramado para a salvação do mundo inteiro.
   Este é o meu sangue, derramado para remissão dos pecados (Mt 26, 28). O Senhor fez essa afirmação para mostrar que sua paixão e cruz são um mistério e também para confortar seus discípulos. Assim como Moisés dissera: Observareis este preceito como decreto perpétuo (Ex 12, 24), do mesmo modo diz Jesus: Fazei isto em minha memória, até que eu venha (cf. 1Cor 11, 25. 26), isto é, desejei dar essas realidades novas, dar-vos uma Páscoa que vos tornará homens espirituais.
   Ele também bebe do cálice. A fim de evitar que, ouvindo semelhantes palavras, os apóstolos dissessem: Como? Beberemos sangue e comeremos carne?; e para não ficarem perturbados, como acontecera outrora, quando ao falar desses mistérios muitos se escandalizaram com aquelas palavras, o próprio Senhor é o primeiro a dar o exemplo. Induz assim a que eles participem com ânimo sereno desses mistérios. Por isso, ele mesmo bebe seu próprio sangue.

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