terça-feira, 15 de janeiro de 2013

LUMEN GENTIUM III



A LUMEN GENTIUM E OS OUTROS DOCUMENTOS CONCILIARES

Pe. Vitor Galdino Feller

Há quatro grandes constituições publicadas pelo Concílio Vaticano II: duas, sobre a Igreja: Lumen Gentium e Gaudium et Spes, e duas sobre as mesas com as quais o cristão se alimenta na fé: Sacrosanctum Concilium e Dei Verbum.

A Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia foi o primeiro documento do Concílio. Nos anos anteriores já havia, em diversos mosteiros e escolas teológicas, muita reflexão e experiências práticas que ajudaram a apressar a elaboração desse documento, que promoveu a reforma litúrgica da Igreja, mediante a centralidade no mistério pascal, maior sobriedade e simplicidade, participação da assembleia dos fiéis, celebração na língua do povo, uso de símbolos próprios da cultura popular. A Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a revelação divina foi muito debatida, passou por diversas elaborações até constituir-se no documento final, que pôs a Palavra de Deus em lugar de destaque na liturgia e na vida do povo, trouxe a Bíblia para a mão dos fiéis, favoreceu o estudo da Palavra de Deus nas escolas teológicas, seminários, movimentos e pastorais e abriu pistas para a posterior criação de círculos bíblicos e grupos bíblicos em família. Assim, o Concílio Vaticano II incentivou que os fiéis se alimentem abundantemente das mesas da Palavra e da Liturgia.

As duas constituições sobre a Igreja respondem às perguntas sobre a identidade e a relevância da Igreja: “Igreja, quem és tu? O que tens a dizer de ti mesma?” E: “Igreja, qual a tua importância para o mundo? O que tens a dizer ao mundo?”.

A primeira pergunta – O que tens a dizer de ti mesma? –, sobre a identidade ou essência ou ser da Igreja, é respondida pela Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja. Temos aí a primeira grande reflexão teológica, em 2000 anos de história, que a Igreja faz sobre si mesma. É a Igreja que se volta para dentro, num movimento de sístole, em busca de autocompreensão. Além dos amplos conceitos de mistério e de povo de Deus, ela se autodefine como sacramento universal de salvação, corpo místico de Cristo, templo do Espírito Santo, sinal, germe e instrumento do Reino de Deus. É a partir dessas noções conciliares que, mais tarde, nas exortações apostólicas pós-sinodais de João Paulo II, vai se cunhar a tríplice expressão sobre a Igreja: mistério, comunhão e missão.

A segunda pergunta – O que tens a dizer ao mundo? –, sobre a relevância ou importância da Igreja, é respondida pela Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo de hoje. Temos aí uma portentosa reflexão doutrinal-pastoral sobre o lugar da Igreja no mundo. É a Igreja que se volta para fora, num movimento de diástole, para compreender-se não mais como Igreja separada ou oposta ou superior ao mundo, mas, conforme a parábola evangélica do fermento na massa, como Igreja inserida nos caminhos da história. Seguindo a metodologia “ver-julgar-agir”, criada pela Ação Católica, faz-se inicialmente uma análise das grandes mudanças sociais, psicológicas, morais e religiosas e sobre as aspirações e interrogações da humanidade; apresenta-se, em seguida, a verdade cristã sobre o ser humano, sua dignidade, sua índole comunitária, o valor de sua atividade e a função da Igreja no mundo; e propõe-se, por fim, linhas de ação nos campos do matrimônio e da família, do progresso cultural, da vida econômico-social, da comunidade política, da promoção da paz e da comunidade internacional.

É ao redor desses dois grandes documentos sobre a Igreja, sobretudo ao redor de Lumen Gentium, verdadeiro eixo teológico-pastoral, que se desenrolam os outros documentos do Concílio. Há os que tratam das categorias de fiéis (bispos, presbíteros, religiosos, leigos e seminaristas) no interior da Igreja: o Decreto Christus Dominus sobre o múnus pastoral dos bispos, o Decreto Presbyterorum Ordinis sobre o ministério e a vida dos presbíteros; Decreto Perfectae Caritatis sobre a atualização dos religiosos, o Decreto Apostolicam Actuositatem sobre o apostolado dos leigos e o Decreto Optatam Totius sobre a formação sacerdotal. Há os que tratam de situações relacionadas à nova configuração da Igreja como comunhão: o Decreto Orientalium Ecclesiarum sobre as Igrejas orientais católicas e o Decreto Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo. Há os que tratam da missão da Igreja: o Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja, o Decreto Inter Mirifica sobre os meios de comunicação social e a Declaração Gravissimum Educacionis sobre a educação cristã. Há, por fim, dois importantíssimos documentos que mudarão para sempre o modo de a Igreja posicionar-se no mundo: a Declaração Nostra Aetate sobre as relações com as religiões não cristãs e a Declaração Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa.

Nessas quatro constituições, nove decretos e três declarações, o Concílio Vaticano II formulou um novo modo de a Igreja ser e agir. Um novo Pentecostes, que preparou a Igreja para o advento do novo milênio!

Leia, abaixo, a Lectio Divina da Quarta-Feira da 1ª Semana do Tempo Comum.

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