quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


M E D I T A Ç Õ E S     Q U A R E S M A I S

O SERVO SOFREDOR - A história da paixão de Cristo II


Glorifica o teu Filho

     "Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste.  E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo" (Jo 17.1-5).

     Na noite de quinta-feira santa, quando Jesus havia acabado de instituir a Santa Ceia, ele começou a orar em voz alta. Ele disse: Pai, é chegada a hora; glorifica o teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti. Era chegada a hora marcada, cuidadosamente preparada pelo Pai desde a eternidade, como o aposto Paulo o atesta: (Ele) nos escolheu nele antes da fundação do mundo (Efésios 1.4). Esta hora foi anunciada em minúcias por muitos profetas, durante quatro mil anos. Esta hora foi ansiosamente esperada por tantos fiéis, por reis e profetas (Lc 10.24). Chegara a hora do sofrimento, da paixão e da morte de Jesus. A hora em que a serpente feriria o descendente da mulher (Gn 3.15), pensando, em sua ilusão, que venceria. Este atrevimento trouxe a derrota a Satanás. Jesus lhe esmagou a cabeça, libertando desta forma os que andavam pelo vale da sombra da morte (Sl 23.3). Jesus veio para destruir as obras do diabo (1 Jo 3.8). A hora da luta final chegara. Jesus se prepara com oração para este momento. Orou ao Pai: Glorifica o teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti. Que glória é essa? Vejamos exemplos. A glória de um atleta são suas lutas e vitórias. A glória de um carpinteiro é sua obra, uma mesa, um armário, etc. A glória de Jesus é seu sofrimento, sua morte, sua ressurreição, sua obra salvífica, a salvação da humanidade. Sim, Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).

     O mundo, desde a queda de Adão e Eva, está deitado em pecado, escravizado por Satanás, condenado à eterna condenação. Por mais que se elogie a sabedoria e honra do ser humano, ele está perdido. Ninguém o pode salvar. A justiça de Deus é fulminante: A alma que pecar, essa morrerá (Ezequiel 18.20). Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las (Gálatas 3.10). Deus, por ser um Deus justo, não pode voltar atrás. Anjos não podiam ajudar. O homem não pode se ajudar a si mesmo, ele estava eternamente perdido. Mas eis que o Filho de Deus se prontificou a sofrer pela humanidade e libertá-la. Por seu sofrimento a libertou. Possibilitou a volta do pecador a Deus. O restabelecimento da comunhão com Deus, pela fé na graça de Cristo.

     É isto o que agora mais apreciamos, louvamos e glorificamos em Deus, sua obra salvífica por Cristo. Que Deus nos amou e salvou por seu Filho unigênito, Jesus Cristo. Esta é a glória de Jesus: Sua obra salvífica. Todos os feitos de Deus, a criação, a manutenção, os milagres são gloriosos, mas nenhuma obra divina é tão gloriosa e glorifica e o Pai e o Filho como este feito da salvação da humanidade, a salvação pela cruz.

     Esta glória o mundo não vê. Os fariseus, Pilatos, Herodes não a viram, apesar de terem Cristo diante de seus olhos. Até os discípulos ficaram perturbados diante da humilhação de Cristo. Somente no dia de Pentecostes, quando o Espírito encheu seus corações e os iluminou, compreenderam as Escrituras e a magnitude da obra de Cristo. Ainda hoje muitíssimos não vêem a glória de Cristo. O malfeitor na cruz, no entanto, viu a glória de Cristo. Em adoração suplicou: Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino (Lc 23.42). Ele viu, mesmo no momento da maior humilhação, que este a seu lado, era seu Salvador, no qual encontrou perdão, vida e eterna salvação. Isto não lhe foi revelado por carne e sangue, por sua inteligência, seu raciocínio, mas o Espírito Santo o lembrou do que aprendera na infância, comparando isto com o que ouviu de Jesus e viu nele, o Espírito Santo o conduziu ao arrependimento e a fé na graça de Cristo.

     É chegada a hora, glorifica o teu Filho. Os discípulos confessaram mais tarde: Vimos a sua glória, glória como a do unigênito do Pai (Jo 1.14). E Jesus lhes havia dito: E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste (João 17.3).

Do Ofício de Leituras:
Dos sermões de São Leão Magno, papa (Sermo 6 de Quadragesima, 1-2: PL 54,285-287) (Séc. V)
A purificação espiritual por meio do jejum e da misericórdia

     Em todo tempo, amados filhos, a terra está repleta da misericórdia do Senhor (Sl 32,5). A própria natureza é para todo fiel uma lição que o ensina a louvar a Deus, pois o céu e a terra, o mar e tudo o que neles existe proclamam a bondade e a onipotência de seu Criador; e a admirável beleza dos elementos postos a nosso serviço requer da criatura racional uma justa ação de graças.
     O retorno, porém, desses dias que os mistérios da salvação humana marcaram de modo mais especial e que precedem imediatamente a festa da Páscoa, exige que nos preparemos com maior cuidado por meio de uma purificação espiritual.
     Na verdade, é próprio da solenidade pascal que a Igreja inteira se alegre com o perdão dos pecados. Não é apenas nos que renascem pelo santo batismo que ele se realiza, mas também naqueles que desde há muito são contados entre os filhos adotivos.
     É, sem dúvida, o banho da regeneração que nos torna criaturas novas; mas todos têm necessidades de se renovar a cada dia para evitarmos a ferrugem inerente à nossa condição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho da perfeição; por isso, todos sem exceção, devemos empenhar-nos para que, no dia da redenção, pessoa alguma seja encontrada nos vícios do passado.
     Por conseguinte, amados filhos, aquilo que cada cristão deve praticar em todo tempo, deve praticá-lo agora com maior zelo e piedade, para cumprir a prescrição, que remonta aos apóstolos, de jejuar quarenta dias, não somente reduzindo os alimentos, mas sobretudo abstendo-se do pecado.
     A estes santos e razoáveis jejuns, nada virá juntar-se com maior proveito do que as esmolas. Sob o nome de obras de bondade; graças a elas, todos os fiéis podem manifestar igualmente os seus sentimentos, por mais diversos que sejam os recursos de cada um.
     Se verdadeiramente amamos a Deus e ao próximo, nenhum obstáculo impedirá nossa boa vontade. Quando os anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14), proclamavam bem-aventurado, não só pela virtude da benevolência mas também pelo dom da paz, todo aquele que, por amor, se compadece do sofrimento alheio.
     São inúmeras as obras de misericórdia, o que permite aos verdadeiros cristãos tomar parte na distribuição de esmolas, sejam eles ricos, possuidores de grandes bens, ou pobres, sem muitos recursos. Apesar de nem todos poderem ser iguais na possibilidade de dar, todos podem sê-lo na boa vontade que manifestam.

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