terça-feira, 24 de janeiro de 2012

EM QUE CONSISTE A VOCAÇÃO PARA O CARMELO?
     Na Igreja há muitas vocações, muitos carismas, muitas tarefas, muitas necessidades, muitos serviços. Ao longo dos séculos, diante das necessidades do povo de Deus, sempre apareceram pessoas que procuravam ler a situação do povo à luz da Palavra de Deus e se sentiam impelidas para responder ao chamado que vinha da realidade. Assim foram surgindo as várias congregações, as ordens, os institutos, os movimentos leigos e tantos outros movimentos e formas de ajuda para melhorar a vida das pessoas e transformar a convivência humana mais de acordo com a vontade de Deus. Assim surgiu a Ordem do Carmo, a Família Carmelitana. Foi na Idade Média, mais de oitocentos anos atrás.


A grande necessidade do povo de Deus na Idade Média
     No Século X e XI, apareceu uma grande necessidade no povo da Europa. O sistema social, econômico e político do feudalismo começou a desintegrar-se. Muita gente que vivia nos feudos, saía para ir morar nas periferias das cidades que estavam crescendo com muita força e poder. Assim, ao redor das cidades surgiam as massas de pobres, chamados “menores”. Na Igreja, o clero não estava preparado para esta mudança repentina e os grandes mosteiros dos monges, que viviam longe do povo, por ora não tinham resposta adequada.
     Diante deste grande clamor, diante desta vocação de Deus vinda da realidade, muitas pessoas começaram a procurar uma resposta. Uma destas pessoas foi Francisco de Assis. Para ajudar o povo a reencontrar Deus na vida, ele criou pequenas comunidades itinerantes de leigos que viviam entregues à oração e andavam pelos povoados para anunciar e irradiar a Boa Nova de Jesus. Era chamado o Movimento Mendicante.
     Os franciscanos (o nome vem de Francisco) se chamavam “Frades Menores”, porque procuravam viver com os “menores” e como os “menores”, os pobres. Como os “Frades Menores” surgiram vários outros grupos mendicantes: Dominicanos, Servitas, Mercedários e outros. Um deles somos nós: a Ordem dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, a Família Carmelitana.


A Família Carmelitana: sua vocação, seu carisma
     Os mendicantes nasceram para ajudar os “menores”, o povo pobre que vinha dos feudos e enchia as periferias das cidades. Cada grupo mendicante procurava responder a uma necessidade bem concreta do povo.
          • Os Franciscanos identificavam-se, sobretudo, com a pobreza e viviam pobres com os pobres, testemunhando e anunciando a Boa Nova de Jesus.
          • Os Dominicanos procuravam atender às necessidades do conhecimento deficiente que o povo tinha das coisas da fé, pois havia muita gente que semeava confusão entre os pobres.
          • Os Mercedários se uniam para ajudar na libertação dos muitos prisioneiros e escravos.
          • Os frades Carmelitas procuravam atender à grande necessidade que o povo sentia de saber como rezar, como viver com Deus na oração; como viver na presença de Deus, como irradiar esta presença de Deus no meio do povo, no meio dos “menores”.
     Os primeiros carmelitas, na sua maioria, eram leigos. Eles abandonaram a Europa, sua terra natal, para poderem viver, como peregrinos, na Terra de Jesus. Eles se estabeleceram no Monte Carmelo, onde era muito viva a memória do profeta Elias e do seu discípulo o profeta Eliseu. Lá no Monte Carmelo, começaram a organizar-se em comunidade ao redor da fonte do Profeta Elias e ao redor de uma capelinha dedicada a Santa Maria do Monte Carmelo. Eles foram morar lá, como eles mesmos diziam, para poder iniciar uma vida nova “em obséquio de Jesus Cristo”. Isto foi em torno do ano 1192.
     Eles viviam de maneira muito simples e pobre, cada um numa gruta na montanha, que eles chamavam de Cela.
           De manhã cedo, reuniam na capela para celebrar a Eucaristia.
           Durante o dia, rezavam os salmos, meditavam a vida de Jesus
           Trabalhavam para poder sobreviver.
           Em determinados dias desciam do Monte para os povoados a fim de anunciar a Boa Nova de Jesus ao povo do lugar.
     Depois de uns anos, eles quiseram ter a aprovação da Igreja para esta sua maneira de viver o Evangelho lá no Monte Carmelo. Resolveram conversar com o bispo de Jerusalém, o Patriarca Alberto.
           Mas antes de falarem com ele, fizeram uma reunião e elaboraram um rascunho, no qual expunham para Alberto o seu jeito próprio de “viver em obséquio de Jesus Cristo”.
           O patriarca Alberto acolheu o pedido e transformou o rascunho num programa de vida que é a Regra do Carmo. Isso foi em 1207.
     Uns 30 anos depois, eles decidiram que um grupo deles devia voltar para Europa, pois, diante das ameaças dos muçulmanos, a situação no Monte Carmelo estava cada vez mais insegura, com menos perspectivas. Assim, alguns deles voltaram para a Europa: uns foram para a ilha de Chipre, outros para Sicília e para o Sul da França. Isto foi em 1238.
     Nas cidades da Europa, a situação do povo era bem diferente do que nos povoados ao redor do Monte Carmelo. Por isso, para que pudessem servir melhor aos “menores” da Europa, pediram ao Papa Inocêncio IV para adaptar a Regra às novas circunstâncias. O Papa atendeu ao pedido, atualizando e aprovando a Regra. Isto foi no dia 1 de outubro de 1247.
     Um pouco mais de 50 anos depois, em 1300, já havia mais de 150 Comunidades Carmelitas ou Pequenos Carmelos em quase todos os países da Europa. Sinal de que o testemunho de vida deles era um apelo forte para a juventude da época.
     A Regra do Carmo, rascunhada pelos frades, escrita por Alberto em 1207 e adaptada e aprovada pelo Papa Inocêncio IV, está em vigor até hoje, 800 anos depois, animando e orientando toda a Família Carmelitana, a beber da mesma fonte e a produzir os mesmos frutos de vida, de santidade e de justiça.
     O Monte Carmelo: um ideal de vida “ao redor da fonte”
     O Monte Carmelo marcou para sempre a vida daqueles primeiros frades! Marcou-a de tal maneira, que o Monte deixou de ser uma simples montanha, uma referência geográfica, para tornar-se um ideal de vida. Por isso, em vez de Albertinos (o nome viria de Alberto), eles quiseram ser chamados de Carmelitas, Moradores do Carmelo. Cada pequena comunidade de carmelitas, seja de leigos, leigas, frades, freiras ou monjas, devia ser um Pequeno Carmelo, isto é,
           um lugar onde as pessoas deviam poder reencontrar o mesmo ideal de vida,
           a mesma Boa Nova de Deus,
           o mesmo ambiente acolhedor,
           a mesma hospitalidade
           a mesma fraternidade, que os tinha marcado para sempre desde aquele primeiro início lá no Monte Carmelo.
     Até hoje, tentamos recriar em nós o mesmo ideal de vida. Como os nossos Santos e Santas, iniciamos também nós a “Subida do Monte Carmelo”, junto com os filhos e filhas dos Profetas, junto com Alberto, Ângelo, Maria Madalena dei Pazzi, João Soreth, Nuno, João da Cruz, Tereza de Ávila, Teresinha de Lisieux, Tito Brandsma, Isidoro Bakanja, Gabriel Couto, Ângelo Paoli. Tantos e tantas! Homens e mulheres, sacerdotes e religiosas, monjas e leigos, casados e solteiros, pais e mães de família, jovens e velhos.
     A fonte em torno da qual os carmelitas se reúnem é a intuição mística que brota dentro de cada um de nós e sobe do fundo da nossa consciência dizendo: “Deus existe, ele está conosco, ele nos ouve; dele dependemos, nele vivemos, nos movemos e existimos. Somos da raça do próprio Deus” (cf. At 17,28). E o coração humano responde murmurando: “Sim, Tu nos fizeste para ti, e o nosso coração estará irrequieto até que não descanse em Ti!”
     E hoje, mais do que nunca, em cada nova geração que nasce, este murmúrio da alma levanta a cabeça em busca de uma resposta urgente e atualizada: Por que existimos? Quem nos fez? Quem é Deus? Qual o sentido da nossa vida? Deus, onde estás? As imagens de Deus mudam, devem mudar, para que os costumes e as imagens envelhecidas e antiquadas não nos impeçam de descobrir a novidade da vocação de Deus na vida de hoje.
           A água que Elias bebeu na fonte do Carmelo ajudou-o a redescobrir a presença de Deus quando ele, perdido e desanimado, deitou debaixo de uma árvore e pediu para morrer (1Rs 19,4).
           Ele imaginava Deus de um jeito: poderoso, forte, ameaçador, como terremoto, tempestade e fogo. Mas Deus já não estava no terremoto, nem na tempestade, nem no fogo (1Rs 19,11-12).
           A água que Elias tinha bebido na fonte do Monte Carmelo ajudou-o a superar as imagens antigas de Deus e o levou a discernir a presença divina, para além das imagens, na brisa leve (1Rs 19,12), no silêncio sonoro, na noite escura, mais clara que o sol do meio dia (Sl 139,12). Esta fonte brota sempre, até hoje, mesmo de noite! Venha Beber desta fonte!
     Quem tiver sede, venha beber, disse Jesus à Samaritana (Jo 4,14; 7,37-39). No Monte Carmelo existe a fonte que, ao longo dos séculos, matou a sede do profeta Elias, do profeta Eliseu, dos filhos dos profetas, dos Santos e Santas do Carmelo. Venha conosco beber desta fonte!

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