quinta-feira, 31 de julho de 2025

3 de agosto.

 Beato Pedro de Cesis (ou de Casa)
Bispo e 14º Prior General da nossa Ordem (1330 – 1342)
 

Nasceu em Limoges, França, na nobre família dos Cesis. Antes dos 20 anos tomou o hábito carmelita em Limoges, onde se destacou por ser um noviço fervoroso. Sendo professo, foi o enviado à Universidade de Paris, e ali se doutorou em Teologia. Em 1324 participou no Capítulo Geral de Barcelona, onde foi eleito Provincial de Aquitânia (1324-1330), zelando pela extensão e observância da Ordem. Foi Geral durante 11 anos (1330-1341), nos quais promoveu a disciplina, o culto mariano e a formação reta dos noviços. Foi o Geral sob o qual viveram São Pedro Tomás e Santo André Corsini. Em 1341, apenas deixou o Generalato, o papa Bento XII o nomeou bispo de Vasion. Clemente VI o nomeou Patriarca Latino de Jerusalém, ao mesmo tempo que administrava sua sede de Vasion. Faleceu em 3 de agosto de 1348.
 
Salmodia, Leitura, Responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Senhor, que destes ao Beato Pedro de Cesis, a graça de imitar fielmente a Cristo pobre e humilde, e o fizestes resplandecer pela sua caridade ardente e pela fé que vence o mundo, concedei, por sua intercessão, que também nós, perseverando na fé e na caridade e vivendo plenamente a nossa vocação, caminhemos para a santidade perfeita, à imagem de Jesus Cristo, vosso Filho, Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 

Sábado XVII do Tempo Comum

Santa Maria, Rainha dos Anjos
Santo Eusébio, bispo
São Pedro Julião Eymard, presbítero
 
1ª Leitura (Lev 25,1.8-17):
O Senhor falou a Moisés, dizendo: «Contareis sete semanas de anos, isto, é, sete vezes sete anos; de maneira que, durante esse período de tempo, serão quarenta e nove anos. No dia dez do sétimo mês, mandarás fazer uma proclamação ao som da trombeta. É o dia das Expiações: tocareis a trombeta por toda a vossa terra. De cinquenta em cinquenta anos promulgareis um ano santo e proclamareis no país a liberdade de todos os habitantes da terra. Será para vós um jubileu: cada um tornará a possuir a sua propriedade e cada um voltará à sua família. O quinquagésimo ano será para vós um ano jubilar: não semeareis, nem ceifareis as espigas que tiverem nascido espontaneamente, nem vindimareis as vinhas não podadas. É um jubileu, que será para vós sagrado: comereis do que os campos forem produzindo. Nesse ano jubilar, cada um tornará a possuir a sua propriedade. Se venderes alguma coisa ao teu próximo, ou se lhe comprares alguma coisa, nenhum de vós prejudique o seu irmão. Comprarás ao teu próximo, tendo em conta o número de anos depois do jubileu; e ele te venderá segundo o número de anos de colheita. Quanto maior for o número de anos, maior será o preço; quanto menor for o número de anos, menor será o preço, pois o que ele te vende é um certo número de colheitas. Nenhum de vós prejudique o seu próximo. Temerás o teu Deus, porque Eu sou o Senhor, vosso Deus».
 
Salmo Responsorial: 66
R. Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.
 
Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os vossos caminhos e entre os povos a vossa salvação.
 
Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra.
 
A terra produziu os seus frutos, o Senhor nosso Deus nos abençoa. Deus nos dê a sua bênção e chegue o seu louvor aos confins da terra.
 
Aleluia. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 14,1-12): Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes. Ele disse aos seus cortesãos: «É João Batista! ele ressuscitou dos mortos; por isso, as forças milagrosas atuam nele». De fato, Herodes tinha mandado prender João, acorrentá-lo e colocá-lo na prisão, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe. Pois João vivia dizendo a Herodes: «Não te é permitido viver com ela». Herodes queria matá-lo, mas ficava com medo do povo, que o tinha em conta de profeta. Por ocasião do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou tanto a Herodes que ele prometeu, com juramento, dar a ela tudo o que pedisse. Instigada pela mãe, ela pediu: «Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista». O rei ficou triste, mas, por causa do juramento e dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela. E mandou cortar a cabeça de João, na prisão. A cabeça foi trazida num prato, entregue à moça, e esta a levou para a sua mãe. Os discípulos de João foram buscar o corpo e o enterraram. Depois vieram contar tudo a Jesus.
 
«A fama de Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes»
 
Rev. D. Joan Pere PULIDO i Gutiérrez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)
 
Hoje, a liturgia convida-nos a contemplar uma injustiça: A morte de João Batista; e, também, descobrir na Palavra de Deus a necessidade de um testemunho claro e concreto de nossa fé para encher o mundo de esperança.
 
Convido-os a focalizar nossa reflexão na personagem do tetrarca Herodes. Realmente, para nós, não é um verdadeiro testemunho, mas nos ajudará a destacar alguns aspectos importantes para a nossa declaração de fé em meio do mundo. «Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes» (Mt 14,1). Esta afirmação distingue uma atitude aparentemente correta, mas pouco sincera. É a realidade que hoje podemos achar em muitas pessoas e, talvez também em nós mesmos. Muitas pessoas têm ouvido falar de Jesus, mas, quem é Ele realmente? que implicância pessoal nos une a Ele?
 
Em primeiro lugar, é necessário dar uma resposta correta; a do tetrarca Herodes não passa de ser uma vaga informação: «É João Batista! Ele ressuscitou dos mortos» (Mt 14,2). Com certeza sentimos falta da afirmação de Pedro diante da pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’» (Mt 16,15-16). E esta afirmação não dá lugar para o medo ou para a indiferença, e sim abre a porta a um testemunho fundamentado no Evangelho da esperança. Assim o definia São João Paulo II na sua Exortação apostólica A Igreja na Europa: «Junto à Igreja toda, convido aos meus irmãos e irmãs na fé a se abrirem constante e confiadamente a Cristo e, a se deixar renovar por Ele, anunciando com o vigor da paz e o amor a todas as pessoas de boa vontade que, quem encontra ao Senhor conhece a Verdade, descobre a Vida e, reconhece o Caminho que conduz a ela».
 
Que, hoje sábado, a Virgem Maria, a Mãe da esperança, nos ajude de verdade a encontrar Jesus e, a dar um bom testemunho Dele aos nossos irmãos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«São João Baptista deu a sua vida por Cristo, embora não lhe fosse ordenado negar Jesus Cristo; só lhe foi ordenado que calasse a verdade» (São Beda, o Venerável)
 
«São João Baptista recorda-nos também, cristãos do nosso tempo, que o amor a Cristo, à sua Palavra, à Verdade, não admite arranjos. Verdade é verdade, não há discussão» (Bento XVI)
 
«O dever dos cristãos de participar na vida da Igreja os impele a ser testemunhas do Evangelho e das obrigações que dele derivam. Este testemunho é transmissão de fé em palavras e obras. O testemunho é um ato de justiça que estabelece ou dá a conhecer a verdade” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2.472)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje descreve como João Batista foi vítima da corrupção e da prepotência do governo de Herodes.
Foi morto sem processo, durante um banquete do rei com os grandes do reino. O texto traz muitas informações sobre o tempo em que Jesus vivia e sobre a maneira como era exercido o poder pelos poderosos da época.
 
* Mateus 14,1-2. Quem é Jesus para Herodes. O texto começa informando a opinião de Herodes a respeito de Jesus: "Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse homem". Herodes procurava compreender Jesus a partir dos medos que o assaltavam após o assassinato de João. Herodes era um grande supersticioso que escondia o medo atrás da ostentação da sua riqueza e do seu poder.
 
* Mateus 14,3-5: A causa escondida do assassinato de João. Galileia, terra de Jesus, era governada por Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o Grande, desde 4 antes de Cristo até 39 depois de Cristo. Ao todo, 43 anos! Durante todo o tempo que Jesus viveu, não houve mudança de governo na Galileia! Herodes era dono absoluto de tudo, não prestava conta a ninguém, fazia o que bem entendia. Prepotência, falta de ética, poder absoluto, sem controle por parte do povo! Mas quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era o Império Romano. Herodes, lá na Galileia, para não ser deposto, procurava agradar a Roma em tudo. Insistia sobretudo numa administração eficiente que desse lucro ao Império. A preocupação dele era a sua própria promoção e segurança. Por isso, reprimia qualquer tipo de subversão. Mateus informa que o motivo do assassinato de João foi a denúncia que o Batista fez a Herodes por ele ter casado com Herodíades, mulher do seu irmão Filipe. Flávio José, escritor judeu daquela época, informa que o motivo real da prisão de João Batista era o medo que Herodes tinha de um levante popular. Herodes gostava de ser chamado de benfeitor do povo, mas na realidade era um tirano (Lc 22,25). A denúncia de João contra Herodes foi a gota que fez transbordar o copo: "Não te é permitido casar com ela”.  E João foi preso.
 
* Mateus 14,6-12: A trama do assassinato. Aniversário e banquete de festa, com danças e orgias! Marcos informa que a festa contava com a presença “dos grandes da corte, dos oficiais e das pessoas importantes da Galileia” (Mc 6,21). É nesse ambiente que se trama o assassinato de João Batista. João, o profeta, era uma denúncia viva desse sistema corrupto. Por isso foi eliminado sob pretexto de um problema de vingança pessoal. Tudo isto revela a fraqueza moral de Herodes. Tanto poder acumulado na mão de um homem sem controle de si! No entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento leviano a Salomé, a jovem dançarina, filha de Herodíades. Supersticioso como era, pensava que devia manter esse juramento, atendeu ao capricho da menina e mandou o soldado trazer a cabeça de João num prato e dar à dançarina, que o entregou à sua mãe. Para Herodes, a vida dos súditos não valia nada. Dispunha deles como dispunha da posição das cadeiras na sala.
 
* As três marcas do governo de Herodes: a nova Capital, o latifúndio e a classe dos funcionários:
1. A Nova Capital.  Tiberíades foi inaugurada quando Jesus tinha seus 20 anos. Era chamada assim para agradar a Tibério, o imperador de Roma. Lá moravam os donos das terras, os soldados, a polícia, os juízes muitas vezes insensíveis (Lc 18,1-4). Para lá eram levados os impostos e o produto do povo. Era lá que Herodes fazia suas orgias de morte (Mc 6,21-29). Tiberíades era a cidade dos palácios do Rei, onde vivia o pessoal de roupa fina (cf Mt 11,8). Não consta nos evangelhos que Jesus tenha entrado nessa cidade.
 
2. O Latifúndio.  Os estudiosos informam que, durante o longo governo de Herodes, cresceu o latifúndio em prejuízo das propriedades comunitárias. O Livro de Enoque denuncia os donos das terras e expressa a esperança dos pequenos: “Então, os poderosos e os grandes já não serão mais os donos da terra!” (En 38,4). O ideal dos tempos antigos era este: “Cada um debaixo da sua vinha e da sua figueira, sem que haja quem lhes cause medo” (1 Mac 14,12; Miq 4,4; Zac 3,10). Mas a política do governo de Herodes tornava impossível a realização deste ideal.
 
3. A Classe dos funcionários. Herodes criou toda uma classe de funcionários fiéis ao projeto do rei: escribas, comerciantes, donos de terras, fiscais do mercado, coletores de impostos, militares, policiais, juízes, promotores, chefes locais. Em cada aldeia ou cidade havia um grupo de pessoas que apoiavam o governo. Nos evangelhos, alguns fariseus aparecem junto com os herodianos (Mc 3,6; 8,15; 12,13), o que reflete a aliança entre o poder religioso e poder civil. A vida do povo nas aldeias era muito controlada, tanto pelo governo como pela religião. Era necessária muita coragem para começar algo novo, como fizeram João e Jesus! Era o mesmo que atrair sobre si a raiva dos privilegiados, tanto do poder religioso como do poder civil.
 
Para um confronto pessoal
1. Conhece casos de pessoas que morreram vítimas da corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós, na nossa comunidade e na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo?
2. Herodes, o poderoso, que pensava ser o dono da vida e da morte do povo, era um covarde diante dos grandes e um bajulador corrupto diante da moça. Covardia e corrupção marcavam o exercício do poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje nos vários níveis da sociedade e da Igreja.

Sexta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

Santo Afonso Mª de Ligório, bispo e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Lev 23,1.4-11.15-16.27.34b-37):
O Senhor falou a Moisés, dizendo: «São estas as solenidades do Senhor, as assembleias sagradas, para as quais, no tempo devido, convocareis os filhos de Israel: No dia catorze do primeiro mês, ao entardecer, é a Páscoa do Senhor; e no dia quinze desse mês, é a Festa dos Pães Ázimos em honra do Senhor. Durante sete dias comereis pães ázimos. No primeiro dia reunireis uma assembleia sagrada: não fareis qualquer trabalho servil. Durante sete dias apresentareis ao Senhor oferendas passadas pelo fogo. No sétimo dia reunireis uma assembleia sagrada: Não fareis qualquer trabalho servil». O Senhor falou ainda a Moisés, dizendo: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Quando tiverdes entrado na terra que vos darei e aí ceifardes as searas, levareis ao sacerdote um molho de espigas, como primícias da vossa colheita. O sacerdote oferecê-lo-á ao Senhor com o gesto da apresentação, para que Ele vos seja favorável. Esta apresentação será feita no dia a seguir ao sábado. A partir do dia a seguir ao sábado, em que tiverdes trazido o molho de espigas para a apresentação, contareis sete semanas completas. Até ao dia a seguir ao sétimo sábado, contareis cinquenta dias e apresentareis ao Senhor uma oferenda da nova colheita. No dia dez do sétimo mês, é o dia das Expiações. Reunireis uma assembleia sagrada: fareis penitência e apresentareis ao Senhor oferendas passadas pelo fogo. A partir do dia quinze deste sétimo mês, durante sete dias, é a Festa das Tendas em honra do Senhor. No primeiro dia reunireis uma assembleia sagrada: não fareis qualquer trabalho servil. Durante sete dias, apresentareis ao Senhor oferendas passadas pelo fogo. No oitavo dia reunireis uma assembleia sagrada: apresentareis ao Senhor oferendas passadas pelo fogo. É o dia da última assembleia: não fareis qualquer trabalho servil. São estas as solenidades do Senhor, nas quais reunireis assembleias sagradas, para oferecer ao Senhor oferendas passadas pelo fogo, holocaustos, oblações, sacrifícios e libações, segundo o ritual próprio de cada dia’».
 
Salmo Responsorial: 80
R. Aclamai a Deus, nossa força.
 
Aclamai a Deus, nossa força, aplaudi ao Deus de Jacob. Fazei ressoar a trombeta na lua nova e na lua cheia, dia da nossa festa.
 
É uma obrigação para Israel, é um preceito do Deus de Jacob, lei que Ele impôs a José, quando saiu da terra do Egipto.
 
«Não terás contigo um deus alheio, nem adorarás divindades estranhas. Eu, o Senhor, sou o teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto».
 
Aleluia. A palavra do Senhor permanece eternamente. Esta é a palavra que vos foi anunciada. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,54-58): Jesus foi para sua própria cidade e se pôs a ensinar na sinagoga local, de modo que ficaram admirados. Diziam: «De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não estão todas conosco? De onde, então, lhe vem tudo isso?». E ele tornou-se para eles uma pedra de tropeço. Jesus, porém, disse: «Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa!». E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.
 
«Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa»
 
Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant Jordi Desvalls, Girona, Espanha)
 
Hoje, como naquele tempo, é difícil falar de Deus àqueles que nos conhecem há muito tempo. No caso de Jesus, são João Crisóstomo comenta: «Os nazarenos admiravam-se Dele, mas essa admiração não os levava a crer, mas a sentir inveja, como se dissessem: `Porque Ele, e não eu´». Jesus conhecia bem aqueles que em vez ouvi-lo, escandalizavam-se por causa Dele. Eram parentes, amigos, vizinhos pessoas que Ele apreciava, mas justamente a eles não chegará a mensagem da salvação.
 
Nós —que não podemos fazer milagres nem temos a santidade de Cristo— não provocaremos inveja (ainda se por acaso possa acontecer, se realmente nos esforçarmos por viver como cristãos). Seja como for, nos encontraremos, como Jesus, com aqueles a quem amamos ou apreciamos, são os que menos nos escutam. Neste sentido, devemos recordar, também, que as pessoas veem mais os defeitos do que as virtudes, e aqueles que estiveram ao nosso lado durante anos podem dizer interiormente —Tu que fazias (ou fazes) isto ou aquilo, o que vais me ensinar?
 
Pregar ou falar de Deus entre as pessoas do nosso povo ou família é difícil, mas é necessário. É preciso dizer que Jesus quando ia a casa estava precedido pela fama de seus milagres e sua palavra. Talvez, nós precisaremos estabelecer um pouco de fama de santidade por fora (e dentro) de casa antes de “predicar” às pessoas da casa.
 
São João Crisóstomo acrescenta no seu comentário: «Presta atenção, por favor, na amabilidade do Mestre: não lhes castiga por não ouvi-lo, mas diz com doçura: `Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa´(Mt 13,57). Resulta evidente que Jesus iria-se triste desse lugar, mas continuaria suplicando para que sua palavra salvadora fosse bem-vinda no seu povo.
 
E nós (que nada vamos perdoar ou deixar de lado), igual temos que orar para que a palavra de Jesus chegue até aqueles que amamos, mas não querem nos ouvir.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Um pouco de fé pode muito» (São João Crisóstomo)
 
«A fé floresce quando nos deixamos “atrair” pelo Pai para Jesus, e vamos e Ele com o coração aberto. Aí nós recebemos o dom, o dom da Fé» (Francisco)
 
«Para o cristão, crer em Deus é crer inseparavelmente em Aquele que Deus enviou, “no seu Filho muito amado” em quem Ele pôs todas as suas complacências (Mc 1,11). Deus mandou-nos que O escutássemos (...) (Mc9,7)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 151)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje conta como foi a visita de Jesus à Nazaré, sua comunidade de origem.
A passagem por Nazaré foi dolorosa para Jesus. O que antes era a sua comunidade, agora já não é mais. Alguma coisa mudou. Onde não há fé, Jesus não pode fazer milagre.
 
* Mateus 13, 53-57ª:  Reação do povo de Nazaré frente a Jesus. É sempre bom voltar para a terra da gente. Após longa ausência, Jesus também voltou e, como de costume, no dia de sábado, foi para a reunião da comunidade. Jesus não era coordenador, mesmo assim ele tomou a palavra. Sinal de que as pessoas podiam participar e expressar sua opinião. O povo ficou admirado, não entendeu a atitude de Jesus: "De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres?” Jesus, filho do lugar, que eles conheciam desde criança, como é que ele agora ficou tão diferente? O povo de Nazaré ficou escandalizado e não o aceitou: “Não é ele o filho do carpinteiro?” O povo não aceitou o mistério de Deus presente num homem comum como eles conheciam Jesus. Para poder falar de Deus ele teria de ser diferente. Como se vê, nem tudo foi bem-sucedido. As pessoas que deveriam ser as primeiras a aceitar a Boa Nova, estas eram as que se recusavam a aceitá-la. O conflito não é só com os de fora de casa, mas também com os parentes e com o povo de Nazaré. Eles recusam, porque não conseguem entender o mistério que envolve a pessoa de Jesus: “Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não moram aqui conosco? Então, de onde vem tudo isso?"  Não deram conta de crer.
 
* Mateus 13, 57b-58: Reação de Jesus diante da atitude do povo de Nazaré. Jesus sabe muito bem que “santo de casa não faz milagre”. Ele diz: "Um profeta só não é honrado em sua própria pátria e em sua família". De fato, onde não existe aceitação nem fé, a gente não pode fazer nada. O preconceito o impede. Jesus, mesmo querendo, não pôde fazer nada. Ele ficou admirado da falta de fé deles.
 
* Os irmãos e as irmãs de Jesus. A expressão “irmãos de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso?  Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos bem mais para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Não o impeçam! Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40).
 
Para um confronto pessoal
1. Em Jesus algo mudou no seu relacionamento com a Comunidade de Nazaré. Desde que você começou a participar na comunidade, alguma coisa mudou no seu relacionamento com a família? Por que?
2. A participação na comunidade tem ajudado você a acolher e a confiar mais nas pessoas, sobretudo nos mais simples e pobres?

terça-feira, 29 de julho de 2025

Quinta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

Santo Inácio de Loyola, presbítero
 
1ª Leitura (Ex 40,16-21.34-38):
Naqueles dias, Moisés fez tudo como o Senhor lhe tinha ordenado. No primeiro dia do primeiro mês do ano segundo, foi erguido o Tabernáculo. Moisés construiu assim o Tabernáculo: assentou as bases, colocou as pranchas, aplicou as travessas e levantou as colunas. Depois estendeu a Tenda sobre o Tabernáculo e pôs sobre ele a cobertura da Tenda, conforme o Senhor lhe tinha ordenado. Colocou as tábuas da Lei dentro da Arca; pôs os varais na Arca e, sobre esta, o propiciatório. Levou a Arca para dentro do Tabernáculo e colocou o véu de proteção para encobrir a Arca da Lei, conforme o Senhor lhe tinha ordenado. Então a nuvem cobriu a Tenda da Reunião e a glória do Senhor encheu o Tabernáculo. Moisés não podia entrar na Tenda da Reunião, porque a nuvem estava poisada sobre ela e a glória do Senhor enchia o Tabernáculo. Sempre que a nuvem se elevava acima do Tabernáculo, os filhos de Israel levantavam o acampamento para nova jornada. Mas se a nuvem não se elevava, eles não se moviam enquanto ela não se elevasse de novo. De dia repousava a nuvem do Senhor sobre o Tabernáculo e de noite aparecia fogo sobre ele, à vista de toda a casa de Israel, em todas as suas jornadas.
 
Salmo Responsorial: 83
R. Como é agradável a vossa morada, Senhor do Universo!
 
A minha alma suspira ansiosamente pelos átrios do Senhor. O meu ser e a minha carne exultam no Deus vivo.
 
Até as aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus.
 
Felizes os que moram em vossa casa: podem louvar-Vos continuamente. Felizes os que em Vós encontram a sua força, os que caminham para ver a Deus em Sião.
 
Um dia em vossos átrios vale por mais de mil longe de Vós. Antes quero ficar no vestíbulo da casa do meu Deus, do que habitar nas tendas dos pecadores.
 
Aleluia. Abri, Senhor, o nosso coração, para recebermos a palavra do vosso Filho. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,47-53): Naquele tempo, disse Jesus ao povo: «Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que pegou peixes de todo tipo. Quando ficou cheia, os pescadores puxaram a rede para a praia, sentaram-se, recolheram os peixes bons em cestos e jogaram fora os que não prestavam. Assim acontecerá no fim do mundo: os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isso?» — «Sim», responderam eles. Então Ele acrescentou: «Assim, pois, todo escriba que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas». Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.
 
«Recolhem em cestos o que é bom e jogam fora o que não presta»
 
Rev. D. Ferran JARABO i Carbonell (Agullana, Girona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho constitui uma chamada vital à conversão. Jesus não nos poupa da dura realidade: «Os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo» (Mt 13,49-50). E a advertência é clara! Não podemos fraquejar.
 
Agora devemos optar livremente: ou buscamos a Deus e ao bem com todas as nossas forças, ou colocamos nossa vidas à beira da morte. Ou estamos com Cristo ou estamos contra Ele. Converter-se significa, nesse caso, optar totalmente por fazer parte do grupo dos justos e levar uma vida digna de filhos. Porém, temos em nosso interior a experiência do pecado: sabemos o bem que deveríamos fazer, mas fazemos o mal; como podemos dar uma verdadeira unidade às nossas vidas? Sozinhos, não podemos fazer muito. Somente se nos colocamos nas mãos de Deus podemos fazer algum bem e pertencer ao grupo dos justos.
 
«Por não sabermos quando virá nosso Juiz, devemos viver cada dia como se não houvesse o dia seguinte» (São Jerônimo). Essa frase é um convite a viver com intensidade e responsabilidade nossa vida cristã. Não se trata de ter medo, mas sim de viver com esperança esse tempo de graça, louvor e glória.
 
Cristo nos ensina o caminho para nossa própria glorificação. Cristo é o caminho, portanto, nossa salvação, nossa felicidade e tudo o que possamos imaginar passa por Ele. E se tudo o temos em Cristo, não podemos deixar de amar a Igreja que nos apresenta e é seu corpo místico. Contra as visões puramente humanas dessa realidade é necessário que recuperemos a visão divino-espiritual: nada melhor do que Cristo e o cumprimento de sua vontade!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«As minhas palavras são espírito e são vida, e não podem ser ponderadas com base em critérios humanos. Não devem de ser usadas para satisfazer a vã complacência, mas devem ser ouvidas em silêncio e devem ser recebidas com humildade» (Thomas de Kempis)
 
«Aí onde vamos, mesmo na paróquia menor, no canto mais perdido desta terra, lá está a única Igreja. E este é um grande dom de Deus. A Igreja é uma para todos» (Francisco)
 
«(…) Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou na terra o Reino dos céus. A Igreja é o Reino de Cristo ‘já presente em mistério’ (Concílio Vaticano II)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 763)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
*
 O evangelho de hoje traz a última parábola do Sermão das Parábolas: a história da rede lançada ao mar. Esta parábola encontra-se só no evangelho de Mateus, sem nenhum paralelo nos outros três evangelhos.
 
* Mateus 13,47-48: A parábola da rede lançada ao mar. "O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora”. A história contada é bem conhecida do povo da Galileia que vive ao redor do lago. É o trabalho deles. A história reflete o fim de um dia de trabalho. Os pescadores saem para o mar com esta única finalidade: jogar a rede, apanhar muito peixe, puxar a rede cheia para a praia, escolher os peixes bons para levar para casa e jogar fora os que não servem. Descreve a satisfação do pescador no fim de um dia de trabalho pesado e cansativo. Esta história deve ter provocado um sorriso de satisfação no rosto dos pescadores que escutavam Jesus. O pior é chegar na praia no fim do dia sem ter pescado nada (Jo 21,3).
 
* Mateus 13,49-50: A aplicação da parábola. Jesus aplica a parábola, ou melhor dá uma sugestão para as pessoas poderem discutir a parábola e aplicá-la em suas vidas. “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. E lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes."  Como entender esta fornalha de fogo? São imagens fortes para descrever o destino daqueles que se separam de Deus ou não querem saber de Deus. Toda cidade tem um lixão, um lugar onde joga os detritos e o lixo. Lá existe um fogo de monturo permanente que é alimentado diariamente pelo lixo novo que nele vai sendo despejado. O lixão de Jerusalém ficava num vale perto da cidade que se chamava geena, onde, na época dos reis havia até uma fornalha para sacrificar os filhos ao falso deus Molok. Por isso, a fornalha da geena tornou-se símbolo de exclusão e de condenação. Não é Deus que exclui. Deus não quer a exclusão nem a condenação, mas que todos tenham vida e vida em abundância. Cada um de nós se exclui a si mesmo.
 
* Mateus 13,51-53: O encerramento do Sermão das Parábola. No final do Sermão das parábolas Jesus encerra com a seguinte pergunta: "Vocês compreenderam tudo isso?" Eles responderam “Sim!” E Jesus termina a explicação com uma outra comparação que descreve o resultado que ele quer obter com as parábolas: "E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas". Dois pontos para esclarecer:
 
(1) Jesus compara o doutor da lei com o pai de família. O que faz o pai de família? Ele “tira do seu baú coisas novas e velhas".  A educação em casa se faz transmitindo aos filhos e às filhas o que eles, os pais, receberam e aprenderam ao longo dos anos. É o tesouro da sabedoria familiar onde estão encerradas a riqueza da fé, os costumes da vida e tanta outra coisa que os filhos vão aprendendo. Ora, Jesus quer que, na comunidade, as pessoas responsáveis pela transmissão da fé sejam como o pai de família. Assim como os pais entendem da vida em família, assim, estas pessoas responsáveis pelo ensino devem entender as coisas do Reino e transmiti-la aos irmãos e irmãs da comunidade.
 
(2) Trata-se de um doutor da Lei que se torna discípulo do Reino. Havia portanto doutores da lei que aceitavam Jesus como revelador do Reino. O que acontece com um doutor na hora em que descobre em Jesus o Messias, o filho de Deus? Tudo aquilo que ele estudou para poder ser doutor da lei continua válido, mas recebe uma dimensão mais profunda e uma finalidade mais ampla. Uma comparação para esclarecer o que acabamos de dizer. Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos ficaram com a ideia de se tratar de uma pessoa inflexível, exigente, que não permitia intimidade. Nesse momento, chegou um jovem, viu a fotografia e exclamou: "É meu pai!" Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: "Pai severo, hein!" Ele respondeu: "Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal, na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar uma família pobre que estava morando num terreno baldio da prefeitura há vários anos! Meu pai ganhou a causa. Os pobres não foram despejados!” Todos olharam de novo e disseram: "Que pessoa simpática!” Como por um milagre, a fotografia se iluminou por dentro e tomou um outro aspecto. Aquele rosto, tão severo adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho, mudaram tudo, sem mudar nada! As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer, iluminaram o sentido do Antigo Testamento pelo lado de dentro (Mt 5,17-18) e iluminaram por dentro toda a sabedoria acumulada do doutor da Lei. O mesmo Deus, que parecia tão distante e severo, adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura!
 
Para um confronto pessoal
1) A experiência do Filho já entrou em você para mudar os olhos e descobrir as coisas de Deus de outro modo?
2) O que te revelou o Sermão das Parábolas sobre o Reino?

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Quarta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

São Pedro Crisólogo, bispo
 
1ª Leitura (Ex 34,29-35):
Quando Moisés descia do monte Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas da Lei, não sabia que o seu rosto irradiava luz, depois de se encontrar com o Senhor. Aarão e todos os filhos de Israel, ao olharem para Moisés, viram que o seu rosto irradiava luz e temeram aproximar-se dele. Então Moisés chamou-os. Aarão e todos os chefes da comunidade aproximaram-se e Moisés falou com eles. Depois todos os filhos de Israel se aproximaram e ele transmitiu-lhes todas as ordens que tinha recebido do Senhor no monte Sinai. Quando Moisés acabou de lhes falar, cobriu o rosto com um véu. Sempre que Moisés comparecia na presença do Senhor para falar com Ele, tirava o véu até sair de lá. Então comunicava aos filhos de Israel as ordens que recebera. Mas como os filhos de Israel viam que o rosto de Moisés irradiava luz, ele voltava a cobrir o rosto com o véu, até voltar a entrar de novo na Tenda para falar com o Senhor.
 
Salmo Responsorial: 98
R. Vós sois santo, Senhor, nosso Deus.
 
Aclamai o Senhor, nosso Deus, prostrai-vos a seus pés: Ele é santo.
 
Moisés e Aarão estão entre os seus sacerdotes e Samuel entre os que invocam o seu nome; invocavam o Senhor e Ele os atendia.
 
Falava-lhes da coluna de nuvem; eles observavam os seus mandamentos e os preceitos que lhes dera.
 
Aclamai o Senhor, nosso Deus e prostrai-vos diante da sua montanha santa: é santo o Senhor, nosso Deus.
 
Aleluia. Eu chamo-vos amigos, diz o Senhor, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,44-46): Naquele tempo, Jesus disse às pessoas: «O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo. Alguém o encontra, deixa-o lá bem escondido e, cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, ele vai, vende todos os bens e compra aquela pérola».
 
«Vai vender todos os seus bens e compra aquele campo»
 
Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Mateus põe à nossa consideração duas parábolas sobre o Reino dos Céus. O anúncio do Reino é essencial na prédica de Jesus e na esperança do povo eleito. Mas é notório que a natureza desse Reino não era entendida pela maioria. Não a entendia o sinédrio que o condenaram à morte, não a entendiam Pilatos, nem Herodes, também não a entenderam de início os próprios discípulos. Só se encontra uma compreensão como a que Jesus pede ao bom ladrão, cravado junto dele na Cruz, quando lhe diz: «Jesus, Lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino» (Lc 23,42). Ambos tinham sido acusados como malfeitores e estavam quase a morrer; mas, por um motivo que desconhecemos, o bom ladrão reconhece Jesus como Rei de um Reino que virá depois daquela terrível morte. Só podia ser um Reino espiritual.
 
Jesus, na sua primeira prédica, fala do Reino como um tesouro escondido cuja descoberta causa alegria e estimula à compra do campo para poder gozar dele para sempre: «cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo» (Mt 13,44). Mas, ao mesmo tempo, alcançar o Reino requer procurá-lo com interesse e esforço, ao ponto de vender tudo o que se possui: «Ao encontrar uma de grande valor, ele vai, vende todos os bens, e compra aquela pérola» (Mt 13,46). «A propósito de que se diz buscai e quem busca. Encontra? Arrisco a ideia de que se trata das pérolas e a pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo» (Orígenes).
 
O Reino é de paz, amor justiça e liberdade. Alcançá-lo é, por um lado, dom de Deus e por outro lado, responsabilidade humana. Diante da grandeza do dom divino constatamos a imperfeição e instabilidade dos nossos esforços, que às vezes ficam destruídos pelo pecado, as guerras e a malicia que parecem insuperáveis. Não obstante, devemos ter confiança, pois o que parece impossível para o homem é possível para Deus.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Nesta santa Igreja Católica, instruídos com esclarecidos preceitos e ensinamentos, alcançaremos o reino dos céus e herdaremos a vida eterna, pela qual tudo toleramos, para que possamos obtê-la do Senhor» (São Cirilo de Jerusalém)
 
«Vale a pena deixar tudo por este Reino. É o tesouro enterrado no campo: quem o encontra o enterra novamente e vende tudo o que tem para comprar o campo e assim ficar com o tesouro» (Bento XVI)
 
«(…) Este tesouro [a Boa Nova], recebido dos Apóstolos, foi fielmente guardado pelos seus sucessores. Todos os fiéis de Cristo são chamados a transmiti-lo de geração em geração, anunciando a fé, vivendo-a em partilha fraterna e celebrando-a na liturgia e na oração» (Catecismo da Igreja Católica, nº 3)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz mais duas pequenas parábolas do Sermão das Parábolas.
As duas são semelhantes entre si, mas com diferenças significativas para esclarecer melhor determinados aspectos do Mistério do Reino que está sendo revelado através destas parábolas.
 
*  Mateus 13,44: A parábola do tesouro escondido no campo. Jesus conta uma história bem simples e bem curta que poderia acontecer na vida de qualquer um de nós. Ele diz: “O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo”. Jesus não explica. Ele só diz: O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo”. Assim, ele provoca os ouvintes a partilhar com os outros o que esta história nele suscitou. Partilho alguns pontos que descobri: (1) O tesouro, o Reino, já está no campo, já está na vida. Está escondida. Passamos e pisamos por cima sem nos dar conta. (2) O homem encontrou o tesouro. Foi puro acaso. Ele não esperava encontrá-lo, pois não estava procurando. (3) Ao descobrir que se trata de um tesouro muito importante, o que ele faz? Faz o que todo mundo faria para ter o direito de poder apropriar-se do tesouro. Ele vai, vende tudo que tem e compra o campo. Assim, junto com o campo adquiriu o tesouro, o Reino. A condição é vender tudo! (4) Se o tesouro, o Reino, já estava na vida, então é um aspecto importante da vida que começa a ter um novo valor. (5) Nesta história, o que predomina é a gratuidade. O tesouro é encontrado por acaso, para além das programações nossas. O Reino acontece! E se acontece, você ou eu temos que tirar as consequências e não permitir que este momento de graça passe sem dar fruto.
 
* Mateus 13,45-46: A parábola do comprador de pedras preciosas.
A segunda parábola é semelhante à primeira mas tem uma diferença importante. Tente descobri-la. A história é a seguinte: “O Reino do Céu é também como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola”.  Partilho alguns pontos que descobri: (1) Trata-se de um comerciante de pérolas. A profissão dele é buscar pérolas. Ele só faz isso na vida: buscar e encontrar pérolas. Buscando, ele encontra uma pérola de grande valor. Aqui a descoberta do Reino não é puro acaso, mas fruto de longa busca. (2) Comerciante de pérola entende do valor das pérolas, pois muitas pessoas querem vender para ele as pérolas que encontraram. Mas o comerciante não se deixa enganar. Ele conhece o valor da sua mercadoria. (3) Quando ele encontra uma pérola de grande valor, ele vai e vende tudo que tem e compra essa pérola. O Reino é o valor maior.
 
* Resumindo o ensinamento das duas parábolas. As duas tem o mesmo objetivo: revelar a presença do Reino, mas cada uma revela uma maneira diferente de o Reino mostrar a sua presença: através de descoberta da gratuidade da ação de Deus em nós, e através do esforço e da busca que todo ser humano faz para ir descobrindo cada vez melhor o sentido da sua vida.
 
Para um confronto pessoal
1) Tesouro escondido: já encontrou alguma vez? Já vendeu tudo para poder adquiri-la?
2) Buscar pérolas: qual a pérola que você busca e ainda não encontrou?

domingo, 27 de julho de 2025

29 de julho, SS. Marta, Maria e Lázaro

1ª Leitura (Ex 32,15-24.30-34):
Naqueles dias, Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas da Lei, escritas de ambos os lados, em uma e outra face. As tábuas eram obra de Deus; a escritura era letra de Deus gravada nas tábuas. Josué ouviu a vozearia do povo e disse a Moisés: «Há gritos de guerra no acampamento». Moisés respondeu-lhe: «Não são gritos de vitória, nem lamentos de derrota; o que eu oiço são vozes de gente a cantar». Ao aproximar-se do acampamento, viu o bezerro e as danças. Então Moisés, inflamado em cólera, arremessou as tábuas e fê-las em pedaços no sopé do monte. Pegou no bezerro que eles tinham fabricado, queimou-o e triturou-o até o reduzir a pó; espalhou-o na água e deu-a a beber aos filhos de Israel. Moisés perguntou a Aarão: «Que te fez este povo, para o induzires a pecado tão grave?». Aarão respondeu-lhe: «Não se acenda a cólera do meu senhor. Bem sabes como este povo é inclinado para o mal. Foram eles que me disseram: ‘Faz-nos um deus que vá à nossa frente, porque a esse Moisés, o homem que nos fez sair da terra do Egipto, não sabemos o que lhe aconteceu’. Então eu disse-lhes: ‘Quem tem ouro?’ Eles desfizeram-se do ouro que tinham e deram-mo. Depois eu lancei-o ao fogo e saiu este bezerro». No dia seguinte, Moisés disse ao povo: «Vós cometestes um grande pecado. Mas agora vou subir à presença do Senhor, para ver se posso obter o perdão do vosso pecado». Moisés voltou à presença do Senhor e disse-Lhe: «Este povo cometeu um grande pecado, fabricando um deus de ouro. Se quisésseis ainda perdoar-lhe este pecado... Se não, peço que me risqueis do livro que escrevestes». O Senhor respondeu a Moisés: «Riscarei do meu livro aquele que pecou contra Mim. Agora vai e conduz o povo para onde Eu te disse, que o meu Anjo irá à tua frente. Mas no dia em que Eu tiver de intervir, castigarei o seu pecado».
 
Salmo Responsorial: 105
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom.
 
Fizeram um bezerro no Horeb e adoraram um ídolo de metal fundido. Trocaram a sua glória pela figura de um boi que come feno.
 
Esqueceram a Deus que os salvara, que realizara prodígios no Egipto, maravilhas na terra de Cam, feitos gloriosos no Mar Vermelho.
 
E pensava já em exterminá-los, se Moisés, o seu eleito, não intercedesse junto d’Ele e aplacasse a sua ira para os não destruir.
 
Aleluia. Deus Pai nos gerou pela palavra da verdade, para sermos as primícias das suas criaturas. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 10,38-42): Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!». O Senhor, porém, lhe respondeu: «Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada».
 
«Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, também nós que estamos ocupados com muitas coisas devemos ouvir o que o Senhor nos recorda: «No entanto, uma só é necessária» (Lc 10,42): o amor, a santidade. Este é o objetivo, o horizonte que não podemos perder nunca de vista no meio de nossas ocupações cotidianas.
 
Porque ocupados estaremos sempre se obedecermos à indicação do Criador: «Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!» (Gn 1,28). A Terra! O mundo: é aqui o nosso lugar de encontro com o Senhor. «Eu não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno» (Jo 17,15). Sim, o mundo é o altar para nós e para nossa entrega a Deus e aos outros.
 
Somos do mundo, mas não podemos ser mundanos. Muito pelo contrário, somos chamados a ser como a bela expressão de João Paulo II sacerdotes da criação, sacerdotes do nosso mundo, de um mundo que amamos apaixonadamente.
 
Eis aqui a questão: o mundo e a santidade, o trabalho diário e a única coisa necessária. Não são duas realidades opostas: temos que procurar a confluência de ambas. E essa confluência se produz em primeiro lugar e sobretudo em nosso coração, que é onde se pode unir o céu e a terra. Porque no coração humano é onde pode nascer o diálogo entre o Criador e a criatura.
 
É necessário, portanto, a oração. «O nosso tempo é um tempo em constante movimento, que frequentemente desemboca no ativismo, com o risco fácil de acabar fazendo por fazer. Temos que resistir a essa tentação, procurando ser antes de fazer. Recordamos a este respeito a reprovação de Jesus a Marta: «Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária (Lc 10,41-42)» (João Paulo II).
 
Não há oposição entre o ser e o fazer, mas sim há uma ordem de prioridade, de precedência: «Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada» (Lc 10,42).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A vida de Marta, é nosso mundo; a vida de Maria é o mundo que esperamos. Vivamos a de aqui com retitude para obter plenamente a outra» (Santo Agostinho)
 
«A palavra de Cristo é muito clara: não desprecia a vida ativa, e muito menos a generosa hospitalidade; mas lembra o fato de que a única coisa verdadeiramente necessária é outra: escutar a Palavra do Senhor» (Bento XVI)
 
«É tão grande a força e a virtude de Palavra de Deus, que ela se torna para a Igreja apoio e vigor e, para os filhos da Igreja, solidez da fé, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual» (Catecismo da Igreja Católica, n° 131)
 
“Tu ainda estás navegando, enquanto ela já está no porto.” (Sto Agostinho)
 
* Jesus entra em uma aldeia e é recebido por velhas amigas: Marta e Maria. Jesus não é apenas o primeiro enviado pelo Pai, mas também aquele que reúne os homens e, no nosso caso, os membros da casa de Betânia, na medida em que é a única Palavra do Pai. Se é verdade que há muitos serviços a serem realizados, acolhendo com atenção as necessidades dos outros, então é ainda mais verdadeiro que o que é insubstituível é ouvir a Palavra. O relato que Lucas faz é um episódio real e, ao mesmo tempo, um ideal. Começa com as boas-vindas de Marta (v. 38). Em seguida, esboça Maria com uma atitude típica do discípulo, sentada aos pés de Jesus e totalmente atenta à escuta de sua Palavra. Essa atitude de Maria é extraordinária porque, no judaísmo da época de Jesus, não era permitido que uma mulher frequentasse a escola de um professor, de um mestre. Até agora, temos um quadro harmonioso: a acolhida de Marta, a escuta de Maria. Mas logo a acolhida de Marta se transformará em superativismo: a mulher é “puxada”, dividida por realizar múltiplos serviços. Ela está tão absorvida que é incapaz de controlar os serviços domésticos. A grande quantidade de atividades, compreensível para tal convidado, torna-se tão desproporcional que a impede de viver o que é essencial, precisamente no momento em que Jesus está presente em sua casa. Sua preocupação ou inquietação é legítima, mas então ela se torna transforma em angústia, um estado de espírito que não é conveniente quando se recebe um amigo.
 
* O seu serviço de acolhimento, de boas-vindas, é muito positivo, mas é prejudicial devido ao estado de ansiedade com que o realiza. O evangelista dá ao leitor um vislumbre disso para mostrar que não há contradição entre a “diaconia” da mesa e a da Palavra, mas quer sugerir que o serviço deve estar relacionado com a escuta. Por não ter relacionado a atitude espiritual do serviço à da escuta, Marta sente-se abandonada pela irmã. Em vez de dialogar com Maria, ela reclama com o Mestre. Presa em sua solidão, ela se volta contra Jesus, que parece indiferente ao seu problema (“Senhor, não te importas...”) e depois contra a irmã (“minha irmã me deixa sozinha com todo o serviço?”). Em sua resposta, Jesus não a repreende, nem a critica, mas tenta ajudá-la a recuperar o que é essencial naquele momento: ouvir o Mestre. Ele a convida a escolher aquela parte, única e prioritária, que Maria espontaneamente assumiu. O episódio nos convida a considerar um perigo sempre frequente na vida dos cristãos: a ansiedade, a preocupação, o superativismo que podem nos isolar da comunhão com Cristo e com a comunidade. O perigo é mais subtil porque, frequentemente, as preocupações materiais ou as inquietações levadas a cabo com ansiedade são aquelas que consideramos uma forma de serviço. O que incomoda Lucas é que, em nossas comunidades, a prioridade que deve ser dada à Palavra de Deus e à escuta não deve ser negligenciada. Antes de servir os outros, os parentes e a comunidade eclesial, é necessário ser servido por Cristo com Sua Palavra de graça. E assim, imersos nas tarefas diárias como Marta, esquecemos que o Senhor deseja cuidar de nós... É necessário, ao contrário, colocar em Jesus e em Deus todas as nossas preocupações e ansiedades.
 
Para um confronto pessoal:
• Você sabe como relacionar o serviço com a escuta da Palavra de Jesus? Ou você se deixa levar pela ansiedade por causa das múltiplas coisas a fazer?
• Você compreendeu que, antes de servir, você tem que aceitar ser servido por Cristo? Você está ciente de que seu serviço só se torna divino se você tiver aceitado previamente Cristo e sua palavra?

sábado, 26 de julho de 2025

Segunda-feira da 17ª semana do Tempo Comum

S. Pedro Poveda Castroverde, presbítero e mártir, fundador do Instituto Teresiano
 
1ª Leitura (Ex 32,15-24.30-34):
Naqueles dias, Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas da Lei, escritas de ambos os lados, em uma e outra face. As tábuas eram obra de Deus; a escritura era letra de Deus gravada nas tábuas. Josué ouviu a vozearia do povo e disse a Moisés: «Há gritos de guerra no acampamento». Moisés respondeu-lhe: «Não são gritos de vitória, nem lamentos de derrota; o que eu ouço são vozes de gente a cantar». Ao aproximar-se do acampamento, viu o bezerro e as danças. Então Moisés, inflamado em cólera, arremessou as tábuas e fê-las em pedaços no sopé do monte. Pegou no bezerro que eles tinham fabricado, queimou-o e triturou-o até o reduzir a pó; espalhou-o na água e deu-a a beber aos filhos de Israel. Moisés perguntou a Aarão: «Que te fez este povo, para o induzires a pecado tão grave?». Aarão respondeu-lhe: «Não se acenda a cólera do meu senhor. Bem sabes como este povo é inclinado para o mal. Foram eles que me disseram: ‘Faz-nos um deus que vá à nossa frente, porque a esse Moisés, o homem que nos fez sair da terra do Egipto, não sabemos o que lhe aconteceu’. Então eu disse-lhes: ‘Quem tem ouro?’ Eles desfizeram-se do ouro que tinham e deram-mo. Depois eu lancei-o ao fogo e saiu este bezerro». No dia seguinte, Moisés disse ao povo: «Vós cometestes um grande pecado. Mas agora vou subir à presença do Senhor, para ver se posso obter o perdão do vosso pecado». Moisés voltou à presença do Senhor e disse-Lhe: «Este povo cometeu um grande pecado, fabricando um deus de ouro. Se quisésseis ainda perdoar-lhe este pecado... Se não, peço que me risqueis do livro que escrevestes». O Senhor respondeu a Moisés: «Riscarei do meu livro aquele que pecou contra Mim. Agora vai e conduz o povo para onde Eu te disse, que o meu Anjo irá à tua frente. Mas no dia em que Eu tiver de intervir, castigarei o seu pecado».
 
Salmo Responsorial: 105
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom.
 
Fizeram um bezerro no Horeb e adoraram um ídolo de metal fundido. Trocaram a sua glória pela figura de um boi que come feno.
 
Esqueceram a Deus que os salvara, que realizara prodígios no Egipto, maravilhas na terra de Cam, feitos gloriosos no Mar Vermelho.
 
E pensava já em exterminá-los, se Moisés, o seu eleito, não intercedesse junto d’Ele e aplacasse a sua ira para os não destruir.
 
Aleluia. Deus Pai nos gerou pela palavra da verdade, para sermos as primícias das suas criaturas. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,31-35): Naquele tempo Jesus apresentou-lhes outra parábola ainda: «O Reino dos Céus é como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior que as outras hortaliças e torna-se um arbusto, a tal ponto que os pássaros do céu vêm fazer ninhos em seus ramos». E contou-lhes mais uma parábola: «O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha, até que tudo ficasse fermentado». Jesus falava tudo isso em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar de parábolas, para se cumprir o que foi dito pelo profeta: «Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo».
 
«Nada lhes falava sem usar de parábolas»
 
Rev. D. Josep Mª MANRESA Lamarca (Valldoreix, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho apresenta-nos Jesus predicando aos seus discípulos. E o faz do jeito que nele é habitual, através das parábolas, quer dizer, empregando imagens simples e comuns para explicar os grandes mistérios escondidos do Reino. Assim todo mundo podia entender, desde as pessoas com maior formação até as menos formadas.
 
«O Reino dos Céus é como um grão de mostarda...» (Mt 13,31). Os grãos de mostarda não se veem, são muito pequenos, mas se temos cuidado deles e os regamos... Acabam se tornando em grandes árvores. «O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha...» (Mt 13,33). O fermento não se vê, mas se não estivesse aí, a massa não subiria. Assim também é a vida cristã, a vida da graça: não se percebe no exterior, não faz barulho, mas... Se você deixa que se introduza no seu coração, a graça divina vai fazendo frutificar a semente e transformando assim às pessoas pecadoras em santas.
 
Esta graça divina dá-se nos pela fé, pela oração, pelos sacramentos, pela caridade. Mas a vida da graça é, sobretudo, um dom que devemos esperar e desejar com humildade. Um dom que sábios e eruditos deste mundo não sabem valorar, mas que Deus Nosso Senhor quer fazer chegar aos humildes e simples.
 
Tomara que quando nos procure, encontre-nos não no grupo dos orgulhosos, mas naquele dos humildes, que se reconhecem fracos e pecadores, mas muito agradecidos e confiando na bondade do Senhor. Assim, o grão de mostarda chegará a ser uma grande árvore; assim o fermento da Palavra de Deus dará em nós frutos de vida eterna. Porque, «quanto mais se abaixa o coração pela humildade, mais se levanta até a perfeição» (São Agostinho).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«No tenha medo ao mundo paganizado, porque o Senhor nos procura justamente para que sejamos fermento, sal e luz no médio deste mundo. Não te preocupes, que o mundo não te fara dano, só se você quiser» (São Josemaría)
 
«A família que vive a alegria da fé, a comunica espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toada a sociedade» (Papa Francisco)
 
«Sendo próprio do estado dos leigos viverem a sua vida no meio do mundo e dos assuntos profanos, eles são chamados por Deus a exercer a seu apostolado no mundo à maneira de fermento» (Catecismo da Igreja Católica, n° 940)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* Estamos meditando o Sermão das Parábolas, cujo objetivo é revelar, por meio de comparações, o mistério do Reino de Deus presente na vida do povo.
O evangelho de hoje traz duas pequenas parábolas, da semente de mostarda e do fermento. Nelas Jesus conta duas histórias tiradas da vida de cada dia que vão servir como meio de comparação para ajudar o povo a descobrir o mistério do Reino. Ao meditar estas duas histórias não se deve logo querer descobrir o que cada elemento das histórias nos tem a dizer sobre o Reino. Antes disso, se deve olhar, primeiro, a história em si mesma como um todo e procurar descobrir qual o ponto central em torno do qual a história foi construída, pois é este ponto central que servirá como meio de comparação para revelar o Reino de Deus. Vamos ver qual o ponto central das duas parábolas.
 
* Mateus 13,31-32: A parábola da semente de mostarda. Jesus diz: "O Reino do Céu é como uma semente de mostarda“ e, em seguida, ele conta a história: uma semente bem pequena é lançada no campo; mesmo sendo pequena, ela cresce, fica maior que as outras plantas e chega a atrair os passarinhos para fazer nela seus ninhos. Jesus não explica a história. Aqui vale o que ele disse em outra ocasião: “Quem tem ouvidos para ouvir ouça!” Ou seja: “É isso. Vocês ouviram e agora tratem de entender!” Compete a nós descobrir o que esta história nos revela sobre o Reino de Deus presente em nossas vidas. Assim, por meio desta história da semente de mostarda Jesus provoca nossa fantasia, pois cada um de nós entende algo de semente. Jesus espera que as pessoas, nós todos, comecemos a partilhar o que cada um descobriu. Partilho aqui três pontos que descobri sobre o Reino a partir desta parábola: (1) Jesus diz: "O Reino do Céu é como uma semente de mostarda“. O Reino não é algo abstrato, não é uma ideia. É uma presença no meio de nós (Lc 17,21). Como é esta presença? Ela é como a semente de mostarda: presença bem pequena, humilde, que quase não se vê. Trata-se do próprio Jesus, um pobre camponês carpinteiro, andando pela Galileia, falando do Reino ao povo das aldeias. O Reino de Deus não segue os critérios dos grandes do mundo. Tem outro modo de pensar e de proceder. (2) A parábola evoca uma profecia de Ezequiel, onde se diz que Deus vai pegar um pequeno broto de cedro e plantá-lo nas alturas da montanha de Israel. Este pequeno broto de cedro ”vai soltar ramos e produzir frutos, e se transformará num cedro gigante. Os passarinhos farão nele seus ninhos, e os pássaros se abrigarão à sombra de seus ramos E todas as árvores do campo saberão que sou eu, Javé, que rebaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa, seco a árvore verde e faço brotar a árvore seca. Eu, Javé, falo e faço". (Ez 17,22-23). (3) A semente de mostarda, mesmo sendo pequena, cresce e suscita esperança. Como a semente de mostarda, assim o Reino tem uma força interior e cresce. Cresce como? Cresce através da pregação de Jesus e dos discípulos e discípulas nos povoados da Galileia. Cresce, até hoje, através do testemunho das comunidades e se torna uma boa notícia de Deus que irradia e atrai o povo. A pessoa que chega perto da comunidade, se sente acolhida, em casa, e faz nela seu ninho, a sua morada. No fim, a parábola deixa uma pergunta no ar: quem são os passarinhos? A pergunta vai ter resposta mais adiante no evangelho. O texto sugere que se trata dos pagãos que vão poder entrar no Reino (Mt 15,21-28).
 
* Mateus 13,33: A parábola do fermento. A história da segunda parábola é esta: uma mulher pega um pouco de fermento e o mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado. Novamente, Jesus não explica. Só diz: "O Reino do Céu é como o fermento...”. Como na primeira parábola, fica por nossa conta de descobrir o significado para nós hoje. Partilho alguns pontos que descobri e me fizeram pensar: (1) O que cresce não é o fermento, mas sim a massa. (2) Trata-se de uma coisa bem caseira, do trabalho da mulher em casa. (3) Fermento tem algo de podre que é misturado na massa pura da farinha. (4) O objetivo é fazer levedar a massa toda e não apenas uma parte. (5) Fermento não tem finalidade em si mesma, mas serve apenas para fazer crescer a massa.
 
* Mateus 13,34-35: Porque Jesus fala em parábolas. Aqui, no fim do Sermão das Parábolas, Mateus traz um esclarecimento sobre o motivo que levava Jesus a ensinar o povo em forma de parábolas. Ele diz que era para se cumprir a profecia que dizia: "Abrirei a boca para usar parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo". Na realidade, o texto citado não é de um profeta, mas de um salmo (Sl 78,2). É que para os primeiros cristãos todo o Antigo Testamento era uma grande profecia a anunciar veladamente a vinda do Messias e a realização das promessas de Deus. Em Marcos 4,34-34, o motivo que levava Jesus a ensinar o povo por meio de parábolas era para adaptar a mensagem à capacidade do povo. Por serem exemplos tirados da vida do povo, Jesus ajudava as pessoas a descobrir as coisas de Deus no quotidiano. Tornava a vida transparente. Fazia perceber que o extraordinário de Deus se esconde nas coisas ordinárias e comuns da vida de cada dia. O povo entendia da vida. Nas parábolas recebia a chave para abri-la e encontrar dentro dela os sinais de Deus. No fim do Sermão das Parábolas, em Mateus 13,52, como ainda veremos, vai ser dado outro motivo que levava Jesus a ensinar por meio de parábolas.
 
Para um confronto pessoal
1. Qual o ponto destas duas parábolas de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por que?
2. Qual a semente que, sem você se dar conta, cresceu em você e na sua comunidade?

sexta-feira, 25 de julho de 2025

28 de julho

 São Pedro Poveda Castroverde
Presbítero e mártir - Fundador da Instituição Teresiana
 
Pedro Poveda Castroverde nasceu em Linhares (Jaén) em 3 de dezembro de 1874. Desde criança sentiu atração pelo sacerdócio. Ingressou no seminário de Jaén e concluiu os estudos no de Guadix, diocese na qual recebeu a ordenação em 1897. Começou seu ministério no Seminário e no atendimento pastoral aos que viviam nas margens da população, criando uma escola para eles. Nomeado canônico de Covadonga ocupou-se da formação cristã dos peregrinos e começou a escrever livros sobre educação e a relação entre a fé e a ciência. A partir de 1911, com algumas jovens colaboradoras, começou a fundação de Academias e Centros pedagógicos que dariam início à Instituição Teresiana. Transferiu-se para Jaén para consolidar a mesma Instituição que receberia ali aprovação diocesana e depois, estando ele já em Madri como capelão real, a aprovação pontifícia. Sacerdote prudente e audaz, pacífico e aberto ao diálogo, entregou sua vida por causa da fé na madrugada de 28 de julho de 1936, identificando-se: "Sou sacerdote de Cristo" perante aqueles que o conduziriam ao martírio.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.

Oração
Senhor nosso Deus, que concedestes a são Pedro Poveda, fundador da Instituição Teresiana, impulsionar a ação evangelizadora dos cristãos mediante a educação e a cultura, e entregar a sua vida no martírio como «sacerdote de Jesus Cristo»; concedei-nos que saibamos, como ele, participar fielmente da missão da Igreja com o testemunho de nossa vida cristã e a entrega generosa ao anúncio de vosso Reino. Por Jesus Cristo, nosso Senhor.

XVII Domingo do Tempo Comum

S. Tito Brandsma, presbítero e mártir de nossa Ordem
 
1ª Leitura (Gen 18,20-32):
Naqueles dias, disse o Senhor: «O clamor contra Sodoma e Gomorra é tão forte, o seu pecado é tão grave que Eu vou descer para verificar se o clamor que chegou até Mim corresponde inteiramente às suas obras. Se sim ou não, hei de sabê-lo». Os homens que tinham vindo à residência de Abraão dirigiram-se então para Sodoma, enquanto o Senhor continuava junto de Abraão. Este aproximou-se e disse: «Irás destruir o justo com o pecador? Talvez haja cinquenta justos na cidade. Matá-los-ás a todos? Não perdoarás a essa cidade, por causa dos cinquenta justos que nela residem? Longe de Ti fazer tal coisa: dar a morte ao justo e ao pecador, de modo que o justo e o pecador tenham a mesma sorte! Longe de Ti! O juiz de toda a terra não fará justiça?». O Senhor respondeu-lhe: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos, perdoarei a toda a cidade por causa deles». Abraão insistiu: «Atrevo-me a falar ao meu Senhor, eu que não passo de pó e cinza: talvez para cinquenta justos faltem cinco. Por causa de cinco, destruirás toda a cidade?». O Senhor respondeu: «Não a destruirei se lá encontrar quarenta e cinco justos». Abraão insistiu mais uma vez: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta». O Senhor respondeu: «Não a destruirei em atenção a esses quarenta». Abraão disse ainda: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei mais uma vez: talvez haja lá trinta justos». O Senhor respondeu: «Não farei a destruição, se lá encontrar esses trinta». Abraão insistiu novamente: «Atrevo-me ainda a falar ao meu Senhor: talvez não se encontrem lá mais de vinte justos». O Senhor respondeu: «Não destruirei a cidade em atenção a esses vinte». Abraão prosseguiu: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei ainda esta vez: talvez lá não se encontrem senão dez». O Senhor respondeu: «Em atenção a esses dez, não destruirei a cidade».
 
Salmo Responsorial: 137
R. Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor.
 
De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças, porque ouvistes as palavras da minha boca. Na presença dos Anjos hei de cantar-Vos e adorar-Vos, voltado para o vosso templo santo.
 
Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade, porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa. Quando Vos invoquei, me respondestes, aumentastes a fortaleza da minha alma.
 
O Senhor é excelso e olha para o humilde, ao soberbo conhece-o de longe. No meio da tribulação Vós me conservais a vida, Vós me ajudais contra os meus inimigos.
 
A vossa mão direita me salvará, o Senhor completará o que em meu auxílio começou. Senhor, a vossa bondade é eterna, não abandoneis a obra das vossas mãos.
 
2ª Leitura (Col 2,12-14): Irmãos: Sepultados com Cristo no baptismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos mortos. Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas. Anulou o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o, cravando-o na cruz.
 
Aleluia. Recebestes o espírito de adopção filial; nele clamamos: «Abá, ó Pai». Aleluia.
 
Evangelho (Lc 11,1-13): Um dia, Jesus estava orando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: «Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos». Ele respondeu: «Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja teu nome; venha o teu Reino; dá-nos, a cada dia, o pão cotidiano, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos introduzas em tentação». E Jesus acrescentou: «Imaginai que um de vós tem um amigo e, à meia-noite, o procura, dizendo: ‘Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’. O outro responde lá de dentro: ‘Não me incomodes. A porta já está trancada. Meus filhos e eu já estamos deitados, não posso me levantar para te dar os pães’. Digo-vos: mesmo que não se levante para dá-los por ser seu amigo, vai levantar-se por causa de sua impertinência e lhe dará quanto for necessário. Portanto, eu vos digo: pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate, a porta será aberta. Algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!».
 
«Jesus estava orando num certo lugar… ‘Senhor, ensina-nos a orar’»
 
Pe. Jean GOTTIGNY (Bruxelles, Bélgica)
 
Hoje, Jesus em oração nos ensina a orar. Prestemos atenção no que sua atitude nos ensina. Jesus Cristo experimenta em muitas ocasiões a necessidade de encontrar-se cara a cara com seu Pai. Lucas, em seu Evangelho, insiste sobre este ponto.
 
Sobre que falavam naquele dia? Não sabemos. No entanto, em outra ocasião, nos chegou um fragmento de conversação entre seu Pai e Ele. No momento em que foi batizado no rio Jordão, quando estava orando, «E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado’» (Lc 3,22). No parêntese de um diálogo ternamente afetuoso.
 
Quando, no Evangelho de hoje, um dos discípulos, ao observar seu recolhimento, lhe implora que lhes ensine a falar com Deus, Jesus responde: «Quando ores, diga: ‘Pai, santificado seja teu nome…’» (Lc 11,2). A oração consiste em uma conversação filial com esse Pai que nos ama com loucura. Não definia Teresa de Ávila a oração como “uma íntima relação de amizade”: «estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama»?
 
Bento XVI encontra «significativo que Lucas situe o Pai-nosso no contexto da oração pessoal do próprio Jesus. Desta forma, Ele nos faz participar de sua oração; conduz-nos ao interior do diálogo íntimo do amor trinitário; ou seja, levanta nossas misérias humanas até o coração de Deus».
 
É significativo que, na linguagem cotidiana, a oração que Jesus Cristo nos ensinou se resume nestas duas únicas palavras: «Pai Nosso». A oração cristã é eminentemente filial.
 
A liturgia católica põe esta oração nos nossos lábios no momento em que nos preparamos para receber o Corpo e o Sangre de Jesus Cristo. As sete petições que permite e a ordem em que estão formuladas nos dão uma ideia da conduta que devemos de manter quando recebamos a Comunhão Eucarística.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Ele quer que eu lhe ame porque me há perdoado, não muito, senão tudo. Não tem esperado a que eu lhe ame muito, senão que tem querido que eu saiba até que ponto Ele me tem amado, para que eu lhe ame a Ele com loucura!» (Santa Teresa de Lisieux)
 
«O Senhor disse-nos como temos de orar. Lucas põe o “Pai Nosso” em relação com a oração pessoal em Jesus mesmo. Ele nos faz participes de sua própria oração, nos introduz no diálogo interior do Amor trinitário» (Bento XVI)
 
«Tal oração, que nos vem de Jesus, é verdadeiramente única: é “do Senhor”. Efetivamente, por um lado, nas palavras desta oração o Filho Único dá-nos as palavras que o Pai Lhe deu: Ele é o mestre da nossa oração. Por outro lado, sendo o Verbo encarnado, Ele conhece no seu coração de homem as necessidades dos seus irmão e irmãs humanos e nos as revela: Ele é o modelo da nossa oração.» (Catecismo da Igreja Católica, n° 2765)
 
«Ensina-nos a orar»
 
Pe. Marcelo de Moraes, da Diocese de Leiria-Fátima
 
* Na oração coleta do 17º Domingo do Tempo Comum é invocada sobre nós a misericórdia do Senhor, para que possamos aderir, desde já, ou seja, neste mundo, aos bens eternos.
Deus é o Sumo e o nosso maior Bem. Ele quis participar da vida do ser humano; e é justamente com misericórdia que Ele vem ao nosso encontro. A primeira leitura deixa claro que Deus tem um olhar atento sobre o homem e sabe da sua má conduta, mas acima de tudo Deus é misericordioso. Ele é, como rezamos no salmo 137, Aquele que está sempre perto e nos atende quando O invocamos. E, como diz São Paulo na segunda leitura, é por Jesus que Deus nos perdoou e nos fez voltar à vida. Por isso, o Evangelho de São Lucas apresenta-nos a oração do Pai nosso; e o melhor meio de encontro e de relação com Deus é, de facto, o da oração. No Pai nosso o foco está sobre o perdão que devemos dar aos outros, porque Deus nos amou e nos perdoou primeiro; e assim devemos fazer, porque filho de peixe, sabe nadar. 
 
* Jesus ensina os discípulos sobre a oração: o “Pai-Nosso”, como sempre foi entendido pelos cristãos de todos os tempos, é o modelo. Através desta oração, Jesus exorta o crente a implorar de Deus o auxílio para as necessidades, mas, acima de tudo, encoraja-os a dirigir-se a Deus, a quem chama de Pai, com toda a confiança.
 
* Os discípulos compreenderam que Jesus não rezava como eles e pediram que os ensinasse. A oração que é ensinada revela-nos que: Deus é um Pai amoroso, que nos perdoa e nos convida a perdoar-nos uns aos outros. Um Pai que procura relação conosco. O foco da oração não somos nós, com as nossas necessidades que devem ser satisfeitas e que são já conhecidas por Deus. Deus é o centro e a parte mais importante da oração; isso porque nós somos importantes para Ele. Por isso Jesus diz-nos que assim como nós, na nossa “maldade”, no nosso pecado, sabemos e podemos dar coisas boas aos nossos filhos, assim Deus dá-nos o que é bom, o que nos é necessário; e não há nada mais necessário que a Sua presença em nós, através do Seu Espírito, que nos faz filhos.
 
* Falar com Deus, “importuná-lo”, dizer o que temos dentro, embora Ele bem saiba “o que está no homem” (Jo 2,25), é fundamental. Existe, porém, uma distância entre o que pedimos e o que realmente desejamos, entre nós e o nosso desejo. Esta distância é percorrida no caminho da oração, e dura uma vida inteira. Pois (só) o Pai sabe o que realmente precisamos (Mt 6,32). Por isso, o Espírito Santo é a «coisa boa» de Deus para nós.
 
* «… estava Jesus em oração em certo lugar».  Jesus é exemplo do homem orante, do homem que confia em Deus, do crente que se aproxima de Deus em oração. Do fiel que procura ocasiões durante o dia para estar com Deus a sós, em silêncio, mesmo que externamente haja ruido, barulho. Ensina-nos, Senhor, em primeiro lugar, a sabermos procurar ocasiões para orar, mesmo que não tenhamos tempo para parar. Que a oração seja para nós como respirar e comer: indispensável.
 
* «Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos» Ensina-nos, Senhor, que a oração é indispensável. Ensina-nos, sobretudo, a rezar bem, a rezar com a vida. Obrigado, Senhor, porque a oração do Pai nosso diz-nos que somos filhos, que Deus é o nosso Pai. A oração, Senhor, nada mais é que o meio pelo qual nos relacionamos contigo, que és o nosso Pai.
 
* «‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino’…».  Em primeiro lugar na oração está Deus. Ele é o mais importante. Ele é Pai. O seu nome deve ser santificado. O Seu reino deve vir ao nosso encontro. Obrigado, Senhor, por seres quem és, um Deus que é Pai, digno de todos os louvores, um Rei poderoso cujo reino é de amor.
 
* «… ‘dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’».  Obrigado, Senhor, pelos dons de cada dia, por aquilo que Te peço hoje, porque hoje me é necessário. Obrigado pelo Teu perdão que me leva a perdoar também. Obrigado, meu Deus, porque estás comigo em todos os momentos, principalmente quando me sinto mais frágil e caio em tentação. Ainda que eu caia, Senhor, sei que estás sempre comigo.
 
* «Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á».  Obrigado, Senhor, porque, quando Te louvamos e quando estamos em união contigo e com os irmãos, podemos pedir-Te com confiança os dons que tens para nos oferecer.
 
* «… quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lhe pedem!».  Obrigado, Senhor, pelo Espírito Santo. «Vem, Espírito Santo».
 
Meditação
1 – Tenho procurado no meu dia a dia «lugares», ocasiões para rezar? A oração é indispensável para mim como respirar e comer?
2 – Tenho procurado crescer na oração? Tenho rezado com maturidade, ou seja, a minha oração evolui ou é sempre a mesma coisa? Tenho aprendido com Jesus a rezar?
3 – Tenho louvado a Deus? Quando rezo, louvo mais a Deus ou peço mais? Na minha oração, Deus e o louvor a Ele ocupam a parte mais importante, ou penso primeiro em mim e nas minhas necessidades?
4 – Peço a Deus pelas necessidades de cada dia, ou estou sempre preocupado com as necessidades de amanhã, do futuro? Perdoo? Sei que o perdão que devo aos outros é a minha decisão de poder amar o meu semelhante que errou? E ainda que eu não volte a ser seu amigo, poderei garantir a minha mão estendida quando ele precisar de mim? Tenho estado sempre em união com Deus para evitar cair em tentação? E quando caio em tentação, recorro ao sacramento do Perdão (Confissão) e sinto que Deus me levanta para eu recomeçar?
5 - Quando peço, nas minhas orações, faço-o com confiança, porque sei que, se for qualquer coisa boa para a minha felicidade, Deus permitirá e só me dará o que é bom para mim?
6 - Sei que o Espírito Santo é Deus presente em mim? Sei que invocar o Espírito Santo em todas as circunstâncias da vida, dizendo «Vem, Espírito Santo», é uma oração poderosa e eficaz? - Sei que é justamente o Espírito Santo de Deus que me santifica, por que promove a minha comunhão filial com Deus?
 
Propósito e oração final
A partir desta palavra proponho-me:
1 – Orar mais e principalmente melhor: procurar ocasiões para rezar durante o dia. Nem é preciso estar sozinho ou num lugar específico, ainda que às vezes sim. O «lugar» da oração é o coração.
2 – Perdoar: ainda que a amizade não seja possível e que não seja possível esquecer. Perdoar é ter a mão estendida a quem errou.