sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Domingo IV do Domingo do Advento

S. Pedro Canísio, presbítero e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Is 7,10-14):
Naqueles dias, o Senhor mandou ao rei Acaz a seguinte mensagem: «Pede um sinal ao Senhor teu Deus, quer nas profundezas do abismo, quer lá em cima nas alturas». Acaz respondeu: «Não pedirei, não porei o Senhor à prova». Então Isaías disse: «Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel».
 
Salmo Responsorial: 23
R. Venha o Senhor: é Ele o rei glorioso.
 
Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.
 
Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.
 
Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacob.
 
2ª Leitura (Rom 1,1-7): Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por chamamento divino, escolhido para o Evangelho que Deus tinha de antemão prometido pelos profetas nas Sagradas Escrituras, acerca de seu Filho, nascido, segundo a carne, da descendência de David, mas, segundo o Espírito que santifica, constituído Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição de entre os mortos: Ele é Jesus Cristo, Nosso Senhor. Por Ele recebemos a graça e a missão de apóstolo, a fim de levarmos todos os gentios a obedecerem à fé, para honra do seu nome, dos quais fazeis parte também vós, chamados por Jesus Cristo. A todos os que habitam em Roma, amados por Deus e chamados a serem santos, a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.
 
Aleluia. A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado Emanuel, Deus conosco. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 1,18-24): Ora, a origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente. Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: «José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados». Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: « Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: ‘Deus-conosco’». Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa.
 
«Não tenhas receio de receber Maria por tua esposa»
 
Pe. Edson RODRIGUES (Pesqueira, Pernambuco, Brasil)
 
Hoje, liturgia do Advento nos traz José que receberá de Deus uma missão: o Verbo de Deus, que irá nascer da virgem, ficará também aos seus cuidados paternos. «Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho» (Is 7,14), o profeta Isaías já o tinha anunciado cerca de 700 anos antes. Perplexo e movido pela incompreensão de tão grande mistério, José, temente a Deus e homem “justo e bom”, decide, em segredo, deixar Maria com seus pais. Ele encontra nas palavras do mensageiro as razões para desistir de sua decisão e aceitar o mistério e os planos de Deus: «Não tenhas medo de receber Maria por tua esposa!» (Mt 1,20). O Espírito Santo que, em Maria, gerou o Verbo encarnado, dá sentido e confirma o que o anjo disse a José que recebe a grande missão de dar nome e cuidar do menino-Deus gerado no seio virginal de jovem de Nazaré (cf. Mt 1,20-21).
 
São Bernardino de Sena diz que «quando a providência divina escolhe alguém para uma graça particular ou estado superior, também dá à pessoa assim escolhida todas os carismas necessários para o exercício de sua missão». E assim José, livre dos medos e temores, fez-se colaborador na obra da encanação, capacitado para assumir esta honrosa e desafiadora missão.
 
Hoje vivemos em meio a medos e inseguranças, em situações que, por vezes, nos desencorajam e nos levam a largar o barco, buscando na fuga as soluções para as difíceis realidades. Mas em meio à oração silenciosa e contemplativa, o Senhor também nos diz: «Não tenhais medo!» (cf. Mt 14,27), e nos encoraja para aceitar, confiantes e resolutos, os seus desígnios.
 
Em nossos dias, o Papa Leão XIV nos encoraja: «Deus ama a todos nós e o mal não prevalecerá. Estamos todos nas mãos de Deus e, sem medo, todos unidos à mão de Deus e uns aos outros, vamos em frente».
 
«Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado»
 
Rev. D. Pere GRAU i Andreu (Les Planes, Barcelona, Espanha)
 
Hoje a liturgia da Palavra convida-nos a considerar e a admirar a figura de são José, um homem verdadeiramente bom. De Maria, a Mãe de Deus se diz que era bendita entre todas as mulheres (cf. Lc 1,42). De José se escreveu que era justo (cf. Mt 1,19).
 
Todos devemos a Deus Pai Criador a nossa identidade individual como pessoas feitas à sua imagem e semelhança, com real liberdade e radical. Como a resposta a esta liberdade podemos dar glória a Deus, como se merece ou, também podemos fazer de nós mesmos, alguma coisa não agradável aos olhos de Deus.
 
Não duvidemos de que José, com o seu trabalho, com o seu compromisso familiar e social ganhou o “Coração” do Criador, consideremo-lo como homem de confiança na colaboração da Redenção humana por meio do seu Filho feito homem como nós.
 
Apreendemos, pois, de são José sua fidelidade — provada já desde o princípio — e o seu bom comportamento durante o resto da sua vida, unida — intimamente —a Jesus e a Maria.
 
É padroeiro e intercessor para todos os pais, biológicos ou não, que neste mundo ajudaram a seus filhos a dar uma resposta semelhante à de ele. É o padroeiro da Igreja, como identidade ligada estreitamente ao seu Filho e, continuamos a ouvir as palavras de Maria quando encontra o Menino Jesus que se havia “perdido” no Templo: «O teu pai e eu...» (Lc 2,48).
 
Com Maria, nossa Mãe, encontramos a José como pai. Santa Teresa de Jesus deixou escrito: «Tomei por advogado e senhor ao glorioso são José e encomendei-me muito a ele (...). Não me lembro que lhe haja suplicado alguma coisa que a haja deixado de fazer».
 
Especialmente é pai para aqueles que tendo escutado a chamada do Senhor a ocupar, pelo ministério sacerdotal, o lugar que nos cede Jesus Cristo para o bem da Igreja. —São José glorioso: protege as nossas famílias, protege as nossas comunidades; protege a todos aqueles que ouviram a chamada à vocação sacerdotal... E que haja muitos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Ele, que tinha tido o poder de tudo criar a partir do nada, negou-se a refazer o que tinha sido profanado se Maria não participasse» (Santo Anselmo)
 
«São José é o modelo do homem “justo” que, em perfeita sintonia com a sua esposa, acolhe o Filho de Deus feito homem com uma atitude de total disponibilidade à Vontade Divina» (Bento XVI)
 
«Deus enviou o seu Filho» (GI 4, 4). Mas, para Lhe «formar um corpo» quis a livre cooperação duma criatura. Para isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré, na Galileia, «virgem que era noiva de um homem da casa de David, chamado José. O nome da virgem era Maria» (Lc1, 26-27) O Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para Mãe, precedesse a Encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida» (Catecismo da Igreja Católica, nº 488)
 
Tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados.”
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.
 
*
O texto de hoje pertence ao género literário, já presente no AT, dos “relatos do nascimento” de um eleito de Deus: o nascimento do eleito é anunciado por um anjo, que dá a conhecer a missão que Deus lhe vai confiar (cf. Jz 13,3s), indicada pelo nome que lhe deverá ser imposto, depois de ter nascido (cf. Gn 17,19). O eleito é, deste modo, associado, de forma singular, à obra salvífica de Deus, que é Quem toma a iniciativa e age através dele, mostrando que a obra é Sua, que a Sua Palavra é verdadeira e se cumpre sempre.
 
v. 18. A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava desposada com José e antes de terem vivido juntos, achou-se grávida por virtude do Espírito Santo. A conceção de Jesus é o primeiro episódio do “Livro da origem de Jesus Cristo” (v. 1). Depois de ter apresentado a origem humana de Jesus, mostrando que Ele é “filho de David” (vv. 117), ou seja, descendente de David, Mateus apresenta a origem divina de Jesus (vv. 18-25). Ao designá-la “nascimento”, génesis em grego (vv. 1.18), o nome do primeiro livro da Bíblia na tradução grega dos LXX, Mateus indica que em Jesus se inaugura uma nova criação. O título grego “Cristo” (Mt, 16x, 6+10 = yod+vav, uma das formas do nome divino), traduz o hebraico Messias, significando o “ungido” pelo Espírito Santo (Is 11,2),  prometido por Deus a David (2Sm 7,11-16), que seria sacerdote, profeta e rei (Lv 21,12; Dt 18,18; Is 45,1; 1QS 9,11) e havia de trazer a salvação definitiva ao seu povo. O título Cristo já é usado aqui por Mateus como um nome próprio: Jesus Cristo.
 
* Estamos em Nazaré. Maria e José estavam desposados (v. 16; Lc 1,27). O casamento em Israel processava-se em duas fases: na primeira, o desposório ou esponsais (he. 'arash), os noivos prometiam-se um ao outro em casamento mediante um contrato e desposavam-se, mas sem coabitarem. Numa segunda fase, decorrido um tempo mais ou menos longo, selavam o seu compromisso definitivo, o casamento propriamente dito (he. nissuin). O vínculo assumido no desposório tinha, no entanto, um caráter tão sério que eles já se chamavam “marido” e “mulher” e se uma das partes quisesse voltar atrás, sofria uma penalidade, sendo necessário recorrer ao divórcio para o dissolver. Se nesta fase fosse concebido um filho, ele era considerado filho legítimo de ambos, e se a noiva cometesse uma infidelidade, era tida como adúltera.
 
* É nesta fase que algo de absolutamente inédito acontece: sem ter coabitado com José, Maria, que vive em sua casa, acha-se grávida por virtude “do Espírito Santo” (cf. v. 20). O Espírito Santo é o amor de Deus em ação, a Sua força criadora que está na origem do universo (cf. Gn 1,2; Sl 104,30) e do homem (cf. Jb 33,4!; Ez 37,5s; Is 42,5). Jesus não será apenas ungido pelo Espírito Santo como Messias, mas é obra sua, desde o princípio. Ele é o Homem novo, no qual se inaugura a nova criação. Maria não diz nada a ninguém, nem sequer a José, pois confia a Deus a direção de tudo.
 
v. 19. Mas José, seu marido, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Entra então em cena José (he. “Ele acrescente”). Ele é “filho de Jacob” (v. 16), evocando José, filho do patriarca Jacob, o “homem dos sonhos” (Gn 30,24; 37,19), enviado por Deus à frente dos seus irmãos para “salvar” as suas vidas, em vista da “grande libertação” (Gn 45,7). É o que José fará com Maria e Jesus. Ao aperceber-se da gravidez de Maria, sendo o único a saber que a criança não é dele, não se atreve a denunciar Maria e, apesar do que vê, respeita o mistério daquela gravidez, que não compreende, recusando repudiá-la publicamente, como mandava a Lei, limitando-se a fazê-lo “em segredo”, ou seja, em privado, entregando-lhe uma certidão de divórcio (cf. Dt 24,1), a fim de não a acusar de adultério, "expondo-a" deste modo à morte por lapidação (cf. Dt 22,20s.24).
 
* José age assim porque “era justo”. Embora soubesse, em consciência, que não podia manter a sua relação com Maria, a sua “justiça” (o amor a Deus e ao próximo, que se traduz na obediência à Sua vontade), que supera a dos escribas e fariseus (cf. 5,20), já é evangélica: age “em segredo”, só para agradar a Deus (cf. 6,1), não julgando Maria (cf. 7,1), preferindo a misericórdia à letra da Lei, evitando desta forma condenar um inocente (cf. 12,7).
 
* José e Maria são chamados “marido” e “mulher” (gr. anêr, gunê: vv. 16. 19.20.24), tal como o primeiro casal (Gn 2,23; 3,6.16); mas ao invés dos nossos primeiros pais, em que a mulher e o homem pecaram e o homem depois acusou a mulher perante Deus, neste caso nem Maria pecou, nem José a acusa, aparecendo assim ambos como o casal exemplar da nova humanidade (cf. v. 24).
 
v. 20. Tendo ele assim pensado, eis que lhe apareceu, num sonho, um anjo do Senhor, dizendo: “José, filho de David, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Tendo José pensado em repudiar Maria “em segredo” (2,7), Deus associa-se a ele e fala-lhe também em segredo, “num sonho”, através de um anjo (gr. “mensageiro”), enquanto ele dorme, em sua casa. O termo “sonho” (gr. onár) só ocorre na Bíblia em Mateus (6x: 2,12.13.19.22.19). Era através de sonhos que Deus falava aos homens no AT (cf. Gn 20,3; 31,11; 37,6; 40,5; 41,1; Nm 12,6; 1Rs 3,5; Dn 4,13). “Anjo do Senhor” (2,13.19) designa no AT o próprio Deus que intervém na história para transmitir ao homem a Sua Palavra e lhe assegurar a Sua presença (Gn 16,11; 22,11.15; Ex 3,2), realçando assim a iniciativa divina, a verdade da sua Palavra, a transcendência da missão, o caráter sobrenatural da obra, a eficácia da ação. O anjo revela a José duas coisas totalmente novas: 1) o mistério da conceção virginal de Jesus; 2) declarando-lhe algo inaudito: que aquela “é do Espírito Santo” (v. 18; Lc 1,35).
 
v. 21. Dará à luz um Filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus, pois Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Se em Lucas a anunciação do nome é feita a Maria (Lc 1,31); em Mateus é a José que compete impor o nome ao filho, segundo a Lei (v. 25; ao oitavo dia, na circuncisão, quando o pai recebe a criança como seu filho, mesmo no caso deste ser adotivo: Gn 17,19; 21,3s; Lc 2,21). “Jesus” é a tradução grega do nome hebraico “Josué” (Ieoshuah), “Deus salva”. Em aramaico diz-se Ieshuah, a palavra usada em hebraico para “salvação”. É o nome do sucessor de Moisés, que introduziu Israel na Terra Prometida. Como o nome indica, a missão de Jesus será a de salvar “o seu povo”, agora, porém, não de inimigos terrenos (os egípcios), mas “dos seus pecados”, o que só Deus podia fazer (cf. Sl 130,8), não esperando ninguém que o Messias o fizesse (Str-B 1,70-74). É a terceira novidade: Jesus fá-lo-á (pelo Seu Sangue, derramado para remissão dos pecados: 26,28; Lv 17,11; Hb 9,14s; Ef 1,7; Cl 1,1), levando, como novo Josué, o novo povo de Deus, num novo êxodo, à sua verdadeira pátria, o Reino dos céus.
 
v. 22. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta. É em Jesus que se “cumpre o que foi dito” por Deus nas Escrituras (plêrôthê tó rêthen, 10x: 2,15.17.23; 4,14; 8,17; 12,17; 13,35; 21,4; 27,9), embora ultrapassando-o muito. Este é um tema central em Mateus que escreve para cristãos de origem judaica, para quem era fundamental a prova escriturística, aduzida segundo o esquema promessa-cumprimento: Deus faz o que disse, cumpre o que prometeu (cf. Nm 23,19). E tudo o que Deus prometeu no AT realiza-se em Jesus Cristo e, por meio dele, naqueles que nele acreditam.
 
v. 23. “Eis que a virgem conceberá no ventre e dará à luz um filho, a quem chamarão Emanuel” o que, traduzido, é: “Deus conosco”. Revelam-se então mais duas boas novas: 1) Jesus, o Messias prometido, concebido pelo Espírito Santo, nascido de uma virgem, é quem redimirá o seu povo dos seus pecados; 2) Ele é o Emanuel prometido em Is 7,14 (8,8), ou seja, o “Deus conosco” (Is 8,10; 2Cr 32,8; Sl 46,8.12). A passagem de Is 7,14, aduzida por Mateus, não era, porém, uma passagem que no judaísmo se aplicasse ao Messias, mas apenas ao rei Ezequias (NuR 14,173a); mas é agora, porém, que se cumpre à letra, de forma inaudita, o que ela significava e que Deus tinha prometido através dos profetas: habitar no meio do seu povo (cf. Ex 29,45; Ez 37,27; Zc 2,10; 8,23; 2Cor 6,16), sendo Ele mesmo a fazê-lo em Jesus, o Deus-conosco. O tema, de capital importância para a autocompreensão do povo de Deus, já desde Moisés (cf. Ex 33,16; 34,9), é retomado por Mateus no final do seu Evangelho (28,20; cf. 26,29), de modo a formar uma “grande inclusão”, à volta da figura de Jesus, o “Deus conosco”.
 
v. 24. Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu a sua mulher. “Quando despertou do sono” (Gn 28,16), “José fez como o Anjo do Senhor lhe tinha ordenado” (gr. prostásso: 8,4; Js 5,14) e recebe Maria como esposa. Pela fé e obediência de José, “filho de Abraão” (v. 1), à Palavra de Deus, na qual se apoia, pondo toda a sua confiança em Deus, e não no que vê (cf. Gn 15,6) ou as leis da natureza dizem, as vidas de Maria e de Jesus são salvas e Jesus será “o Filho de David” (Mt, 9x: v. 1; 2,42.45 9,27; 12,23; 15,22; 20,30s; Rm 1,3; 2Tm 2,8; 2Sm 7,11-16), não graças à carne, pela força da Lei, mas em virtude da promessa, por obra do Espírito Santo. Deus compraz-se na colaboração do homem, reputando o que se faz ao mais pequenino dos irmãos do Seu Filho como sendo feito a Ele (cf. 25,40); é o que aqui agora literalmente acontece: o gesto que José tem em relação a Jesus (e Maria) é realmente feito a Ele.
 
MEDITAÇÃO
1. Tenho a mesma disponibilidade de Maria para acolher os desafios de Deus? Sou capaz de dizer cada dia “sim” a Jesus, para que Ele possa nascer em mim e chegar através de mim aos outros para os salvar?
2. Acolho os projetos de Deus com a mesma disponibilidade de José, na obediência total a Deus? Como reajo quando alguém não é como eu gostaria que fosse ou como acho que deveria ser?
 
Chamados a acolher o Deus conosco
 
Pe. Eduardo Caseiro
 
* Enquanto o Evangelho segundo São Lucas nos oferece o testemunho da Alegre notícia do Deus que vem a este mundo por meio do Seu Filho feito homem a partir do olhar de Nossa Senhora, o Evangelho de São Mateus oferece-nos uma visão complementar, a de São José.
José e Maria eram noivos, mas há algo que abala o seu caminho de preparação para o matrimónio: Maria encontra-se grávida. Acolhendo a Anunciação do Anjo e dando o seu sim, recebe no seu seio o Filho de Deus. Jesus, o Deus conosco, encontra no seio de Maria o primeiro lugar que o acolhe a este mundo. Ao receber esta notícia da parte de Maria, José fica confuso e pensa deixá-la em segredo. José tinha medo do desfecho daquela história. Mas eis que Deus age e anuncia a José que aquele menino que Maria gera no seu seio é o Filho de Deus, o Deus conosco. E que a sua família tinha sido escolhida para acolher esta dádiva de Deus ao mundo. José, que era um homem justo, acolhe este anúncio, e recebe Maria como sua esposa, tornando-se também ele protagonista desta história de amor entre Deus e os homens.
 
* A ação de Deus na nossa vida é, grande parte das vezes, desconcertante. Porque nos desafia a sair dos nossos esquemas mentais, dos nossos pequenos projetos, da nossa vida tantas vezes corrida, que não é saboreada. Quando Deus entra, tudo muda, porque a vinda de Deus à nossa vida traz sempre a novidade que só o infinito amor de Deus por nós pode trazer.
 
* Ao olharmos a vida de José e de Maria, que se preparavam para o matrimónio, não nos será difícil pensar que os seus projetos, os seus sonhos comuns, aquilo a que se dispunham viver como família não incluía acolher a vinda de Deus à nossa carne, não incluía de tal modo fazer parte do projeto de Deus para a vida do mundo que seriam o seio familiar onde Jesus nasceria, cresceria, aprenderia, em certo sentido, a ser homem.
 
* Mas Deus vem. Diz a Maria: ‘Não temas, porque achaste graça diante de Deus, e o que vai nascer será chamado Filho do Altíssimo’. Diz a José ‘Não temas receber Maria, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo’. Vem, desafia o seu modo de viver a vida e convida-os à confiança: o que Deus tem reservado para eles, para cada homem e mulher, é sempre maior do que aquilo que possamos pedir ou imaginar.
 
* Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor.
Acolher a vinda de Deus à nossa vida é receber a certeza de que os nossos projetos, os nossos desejos, a nossa maneira de olhar a vida, será profundamente alterada, porque imensamente enriquecida pelo amor transformante de Deus. 
Como estou a viver este tempo de Advento? Estou atento às vindas de Deus à minha vida? E sou capaz de o acolher, com tudo o que isso traz de desafio à transformação do meu olhar e da minha vida?
 
* Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta.
Deus não esquece as suas promessas. Acreditamos num Deus atento à vida dos homens, um Deus que jamais deixa de se mostrar presente e de dar carne concreta à suas promessas. 
Sou capaz de olhar a minha vida como bênção de Deus? Como um lugar onde Deus cumpre as suas promessas?
 
* Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa. Deus oferece-se à nossa vida. Mas não se impõe: espera a nossa resposta. Porque o amor não se impõe, mas espera pacientemente o sim da nossa liberdade. 
Como me coloco diante dos apelos que Deus me faz? Ofereço livremente a minha vida para ser um lugar onde Deus pode agir, por meio do qual Deus pode vir a este mundo?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Féria Privilegiada do Advento: 20 de dezembro

1ª Leitura (Is 7,10-14):
Naqueles dias, o Senhor mandou ao rei Acaz a seguinte mensagem: «Pede um sinal ao Senhor teu Deus, quer nas profundezas do abismo, quer lá em cima nas alturas». Acaz respondeu: «Não pedirei, não porei o Senhor à prova». Então Isaías disse: «Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel».
 
Salmo Responsorial: 23
R. O Senhor virá: Ele é o rei da glória.
 
Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.
 
Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.
 
Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacob.
 
Aleluia. Ó Chave da Casa de David, que abris e ninguém pode fechar, fechais e ninguém pode abrir: vinde libertar os que vivem no cativeiro das trevas e nas sombras da morte. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: «Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse: «Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao anjo: «Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível». Maria disse: «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo retirou-se.
 
«Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra»
 
Rev. D. Jordi PASCUAL i Bancells (Salt, Girona, Espanha)
 
Hoje contemplamos, mais uma vez, esta cena extraordinária da Anunciação. Deus, sempre fiel a suas promessas, por meio do anjo Gabriel, diz a Maria que tem sido escolhida para trazer o Salvador ao mundo. Assim como o Senhor costuma agir, o maior acontecimento da Humanidade —o Criador e Senhor de todas as coisas se tornou homem como nós—, acontece do jeito mais simples: uma moça, num povoado pequeno de Galileia, sem espetáculo.
 
A maneira é simples, o acontecimento é excepcional. Como também são grandes as virtudes da Virgem Maria: cheia de graça, o Senhor está com Ela, humilde, simples, disposta a fazer a vontade de Deus, generosa. Deus tem planos para ela, para você e para mim, mas Ele espera a colaboração livre e amorosa de cada um para cumpri-los. Maria nos dá um exemplo disso: «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). Não é só um sim à mensagem do anjo; é colocar-se nas mãos do Pai-Deus, abandonar-se confiadamente na sua providência, é dizer sim e deixar agir ao Senhor agora e em todas as circunstâncias da vida.
 
Da resposta de Maria, como também da nossa resposta ao que Deus nos pede- escreve São Josemaria- «não esqueças, dependem muitas coisas grandes».
 
Estamos nos preparando para celebrar o Natal. A melhor maneira de fazê-lo é ficar perto de Maria, contemplando a sua vida e procurando imitar suas virtudes para poder receber ao Senhor com um coração bem disposto: —O que espera Deus de mim, agora, hoje, no meu trabalho, com as pessoas que tenho contato, na relação com Ele? São situações pequenas do dia a dia, mas depende da resposta que demos!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Pela obediência foi causa da salvação própria e da salvação de todo o género humano» (São Irineu)
 
«Maria é a dócil serva da Palavra divina. Tinha motivos para ter medo, porque levar sobre si mesma o peso do mundo, ser a mãe do Rei do universo, era superior às forças de um ser humano. Por isso, o Arcanjo lhe repetiu “Não temas” tão típico da Escritura» (Bento XVI)
 
«O anjo Gabriel, no momento da Anunciação, saúda-a como ‘cheia de graça’ (Lc 1,28). Efetivamente, para poder dar o assentimento livre da sua fé ao anúncio da sua vocação, era necessário que Ela fosse totalmente movida pela graça de Deus» (Catecismo da Igreja Católica, nº 490)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* A visita do anjo Gabriel a Maria evoca as visitas de Deus a várias mulheres do Antigo Testamento:
Sara, mãe de Isaque (Gn 18,9-15), Ana, mãe de Samuel (1 Sam 1,9-18), a mãe de Sansão (Jz 13,2-5). A todas elas foi anunciado o nascimento de um filho com missão importante na realização do plano de Deus.
 
* A narração começa com a expressão “No sexto mês”. É o sexto mês da gravidez de Isabel. A necessidade concreta de Isabel, uma senhora já de idade que vai ter o seu primeiro filho com parto de risco, é o pano de fundo de todo este episódio. Ela é mencionada no começo (Lc 1,26) e no fim da visita do anjo (Lc 1,36.39).
 
* O anjo diz: “Alegra-te! Cheia de graça! O Senhor está contigo!” Palavras semelhantes foram ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12) e a outras pessoas com missão importante no plano de Deus. Maria estranha a saudação e procura saber o significado daquelas palavras. Ela é realista. Quer entender. Não aceita qualquer inspiração.
 
* O anjo responde: “Não tenha medo, Maria!” Como na visita do anjo a Zacarias, também aqui a primeira saudação de Deus é sempre: ”Não ter medo!” Em seguida, o anjo recorda as promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer e que deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará o Reino de Deus. Esta é a explicação do anjo para Maria não ficar assustada.
 
* Maria tem consciência da missão que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição. Ela analisa a oferta a partir dos critérios que tem à sua disposição. Humanamente falando, não era possível: “Como pode ser isto, se eu não conheço homem algum?”
 
* O anjo explica que o Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. O milagre se repete até hoje. Quando a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres, algo novo acontece pela força do mesmo Espírito Santo! Algo tão novo e surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou um filho nascer de uma senhora já de idade como Isabel, da qual todo mundo dizia que ela não podia ter neném! E o anjo acrescenta: “E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!”
 
* A resposta do anjo clareou tudo para Maria, e ela se entrega: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Maria usa para si o título de Serva, empregada do Senhor. Este título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos (Is 42,1-9; 49,3-6). Mais tarde, Jesus também definirá sua missão como um serviço: “Não vim para ser servido, mas para servir!” (Mt 20,28). Aprendeu da Mãe!
 
Para um confronto pessoal
1. O que mais chama a sua atenção na visita do anjo Gabriel a Maria?
2. Jesus elogiou sua mãe quando disse: “Feliz quem ouve a Palavra e a põe em prática” (Lc 11,28). Como Maria se relacionou com a Palavra de Deus durante a visita do Anjo?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Féria Privilegiada do Advento: 19 de dezembro

1ª Leitura (Jz 13,2-7.24-25a):
Naqueles dias, vivia em Soreá um homem da tribo de Dã, chamado Manoé, cuja mulher, sendo estéril, não tinha filhos. O Anjo do Senhor apareceu a essa mulher e disse-lhe: «És estéril e sem filhos, mas conceberás e darás à luz um filho. Agora tem cuidado: não bebas vinho nem outra bebida alcoólica, nem comas nada impuro, porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não tocará na sua cabeça, porque o menino será consagrado a Deus desde o seio materno e começará a libertar Israel das mãos dos filisteus». A mulher foi dizer ao marido: «Veio ter comigo um homem de Deus. Tinha o aspecto de um Anjo do Senhor, cheio de majestade. Não lhe perguntei donde vinha, nem ele me revelou o seu nome. Mas disse-me: «Conceberás e darás à luz um filho. Agora não bebas vinho nem outra bebida alcoólica e não comas nada impuro, porque o menino será consagrado a Deus desde o seio materno até ao dia da sua morte». A mulher deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão. O menino cresceu e o Senhor abençoou-o.
 
Salmo Responsorial: 70
R. A minha boca cantará a vossa glória.
 
Sede para mim um refúgio seguro, a fortaleza da minha salvação. Vós sois a minha defesa e o meu refúgio: meu Deus, salvai-me do pecador.
 
Sois Vós, Senhor, a minha esperança, a minha confiança desde a juventude. Desde o nascimento Vós me sustentais, desde o seio materno sois o meu protetor.
 
Meu Deus, hei de narrar os vossos feitos grandiosos, recordarei, Senhor, a vossa justiça sem igual. Desde a juventude Vós me ensinais e até hoje anunciei sempre os vossos prodígios.
 
Ó rebento da raiz de Jessé, sinal erguido diante dos povos: vinde libertar-nos, não tardeis mais. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,5-25): No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote, chamado Zacarias, da classe de Abias. Sua esposa era descendente de Aarão e chamava-se Isabel. Ambos eram justos diante de Deus e cumpriam fielmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. Ao exercer as funções sacerdotais diante de Deus, quando era a vez de sua classe, conforme o costume dos sacerdotes, Zacarias foi sorteado para entrar no Santuário do Senhor e fazer a oferenda do incenso. Nessa hora do incenso, todo o povo estava em oração, do lado de fora. Apareceu-lhe, então, o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Quando Zacarias o viu, ficou perturbado e cheio de medo. O anjo lhe disse: «Não tenhas medo, Zacarias, porque o Senhor ouviu o teu pedido. Isabel, tua esposa, vai te dar um filho, e tu lhe porás o nome de João. Ficarás alegre e feliz, e muitos se alegrarão com seu nascimento. Ele será grande diante do Senhor. Não beberá vinho nem bebida fermentada; e, desde o ventre da mãe, ficará cheio do Espírito Santo. Ele fará voltar muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais aos filhos e os rebeldes, à sabedoria dos justos; e para preparar um povo bem-disposto para o Senhor». Zacarias disse ao anjo: “Como posso ter certeza disso? Estou velho e minha esposa já tem uma idade avançada. O anjo respondeu-lhe: «Eu sou Gabriel, e estou, sempre na presença de Deus. Eu fui enviado para falar contigo e anunciar-te esta boa nova. E agora, ficarás mudo, sem poder falar até o dia em que estas coisas acontecerem, porque não acreditaste nas minhas palavras que se cumprirão no tempo certo». O povo estava esperando Zacarias e se admirava com sua demora no Santuário. Quando saiu, não podia falar, e perceberam que ele tivera uma visão no Santuário. Zacarias se comunicava com eles por meio de gestos e permanecia mudo. Passados os dias do seu ofício, ele voltou para casa. Algum tempo depois, sua esposa Isabel ficou grávida e permaneceu escondida durante cinco meses; ela dizia: “assim o Senhor fez comigo nestes dias: ele dignou-se tirar a vergonha que pesava sobre mim».
 
«Não tenhas medo, Zacarias, porque o Senhor ouviu o teu pedido. Isabel, tua esposa, vai te dar um filho»
 
Rev. D. Ignasi FUSTER i Camp (La Llagosta, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o anjo Gabriel anuncia ao sacerdote Zacarias o nascimento "sobrenatural" de João Batista, que vai preparar a missão do Messias. Deus, na sua amorosa providência, prepara o nascimento de Jesus, ao anunciar o nascimento de João. Ainda que Isabel seja estéril, isso não tem importância. Deus deseja fazer o milagre por amor a nós, seus filhos.
 
Mas Zacarias, não manifesta no momento certo a visão sobrenatural da fé: «Como posso ter certeza disso? Estou velho e minha esposa já tem uma idade avançada» (Lc 1,18). Tem um olhar excessivamente humano. Só falta a docilidade confiada nos planos de Deus, que sempre são maiores do que os nossos: Nesta circunstância, justamente, que a Encarnação do Filho de Deus para a salvação do gênero humano! O anjo encontra Zacarias "distraído", lento para as coisas de Deus, estava como "fora de jogo".
 
Faltando poucos dias para o Natal, convém que o anjo do Senhor nos encontre preparados, como Maria. É preciso que tentemos manter a presença de Deus o dia todo, acrescentar o nosso amor a Jesus Cristo, no nosso tempo de oração, receber com muita devoção a Sagrada Comunhão: porque Jesus nasce e vem conosco! E que não nos falte a visão sobrenatural nos afazeres da nossa vida. Devemos ter visão sobrenatural em nosso trabalho, nos nossos estudos, em nossos apostolados, inclusive, nos inconvenientes diários. Nada escapa à providência divina! Com a certeza e a alegria de saber que colaboramos com os anjos e com o Senhor nos planos amorosos e salvadores de Deus.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Se o home acolhe sem vaidade nem ostentação a verdadeira gloria procedente de quem o criou, receberá de Ele ainda mais gloria, até se fazer semelhante a Aquele que morreu por ele» (Santo Irineu)
 
«Da esterilidade o Senhor é capaz de voltar a começar uma nova descendência, uma nova vida: este é a mensagem de hoje. Quando a humanidade está extenuada, já não pode seguir avançando, chega a graça e chega o Filho, e chega a salvação» (Francisco)
 
«“Veio um homem enviado por Deus, Seu nome era João” (Jo 1,6). João “pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo” (Lc 1,15.41), por obra do próprio Cristo, que a Virgem Maria acabava de conceber do Espírito Santo. A “visitação” de Maria a Isabel tornou-se, assim, visita de Deus ao seu povo.» (Catecismo da Igreja Católica, n°717)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O evangelho de hoje traz a visita do anjo Gabriel a Zacarias (Lc 1,5-25).
O evangelho de amanhã vai trazer a visita do mesmo anjo Gabriel a Maria (Lc 1,26-38). Lucas coloca as duas visitas uma ao lado da outra, para que nós, lendo os dois textos com atenção, percebamos as pequenas e significativas diferenças entre uma e outra visita, entre o Antigo e o Novo Testamento. Procure e descubra as diferenças entre as visitas do anjo Gabriel a Zacarias e a Maria através das seguintes perguntas: Onde o anjo aparece? A quem aparece? Qual o anúncio? Qual a resposta? Qual a reação da pessoa visitada depois da visita? Etc.
 
* A primeira mensagem do anjo de Deus a Zacarias é: “Não ter medo!” Até hoje, Deus ainda causa medo em muita gente e até hoje a mensagem continua válida a mensagem: “Não ter medo!” Em seguida, o anjo diz: “Tua oração foi ouvida!” Na vida, tudo é fruto de oração!
 
* Zacarias representa o Antigo Testamento. Ele crê, mas sua fé está fraca. Depois da visita, ele fica mudo, incapaz de comunicar-se com as pessoas. A economia anterior, revelada em Zacarias, estava no fim das suas capacidades, tinha esgotado os seus recursos. A nova economia de Deus estava para chegar em Maria.
 
* No anúncio do anjo transparece a importância da missão do menino que vai nascer e cujo nome será João: “Ele não beberá vinho, nem bebida fermentada e, desde o ventre materno, ficará cheio do Espírito Santo”, isto é, João será uma pessoa inteiramente consagrada a Deus e à sua missão. “Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem-disposto.", isto é, no menino João acontecerá o esperado retorno do profeta Elias que deverá vir realizar a reconstrução da vida comunitária: converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos.
 
* De fato, a missão de João foi muito importante. Para o povo ele era um profeta (Mc 11,32). Muitos anos depois, lá em Éfeso, Paulo ainda encontrou pessoas que tinham sido batizados no batismo de João (At 19,3)
 
* Quando Isabel, depois de velha, concebeu e ficou grávida, ela se escondeu por cinco meses. Maria, ao contrário em vez de se esconder saiu de casa e foi servir.
 
Para um confronto pessoal
1. O que mais chama a sua atenção nesta visita do anjo Gabriel a Zacarias?
2. Converter o coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais, isto é, reconstruir o tecido do relacionamento humano na base e refazer a vida em comunidade. Esta era a missão de João. Foi também a missão de Jesus e continua sendo a missão mais importante hoje. Como eu contribuo nesta missão?

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Féria Privilegiada do Advento: 18 de dezembro

1ª Leitura (Jer 23,5-8):
«Dias virão – diz o Senhor – em que farei surgir para David um rebento justo. Será um verdadeiro rei e governará com sabedoria: há-de exercer no país o direito e a justiça. Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Este será o seu nome: ‘O Senhor é a nossa justiça’. Por isso, dias virão – oráculo do Senhor – em que já não se dirá: ‘Vive o Senhor, que fez sair os filhos de Israel da terra do Egipto’; mas sim ‘Vive o Senhor, que fez sair e regressar os descendentes da casa de Israel da região do norte e de todos os países em que os tinha dispersado, para poderem habitar na sua própria terra’».
 
Salmo Responsorial: 71
R. Nos dias do Senhor, nascerá a justiça e a paz para sempre.
 
Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade.
 
Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos
 
Bendito seja o Senhor, Deus de Israel: só Ele faz maravilhas. Bendito para sempre o seu nome glorioso: toda a terra se encha da sua glória.
 
Aleluia. Ó Chefe da Casa de Israel, que no Sinai destes a Lei a Moisés: vinde resgatar-nos com o poder do vosso braço. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 1,18-24): Ora, a origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente. Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: «José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados». Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: «Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus-conosco». Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa.
 
«José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a liturgia da palavra convida-nos a considerar o maravilhoso exemplo de São José. Ele foi extraordinariamente sacrificado e delicado com sua noiva Maria.
 
Não há dúvidas de que ambos eram excelentes pessoas, apaixonados como nenhum outro casal. Mas, também temos que reconhecer que o Altíssimo quis que seu amor esponsalício passasse por circunstâncias muito exigentes.
 
O Papa são João Paulo II escreveu, que «O cristianismo é a surpresa de um Deus que saiu ao encontro da sua criatura». De fato, foi Ele quem tomou a “iniciativa”; para vir a este mundo, não esperou que tivéssemos merecimentos. Apesar de tudo, Ele propõe, não impõe: quase —diríamos — nos pede “licença”. A Santa Maria propôs — não lhe impôs!— a vocação de Mãe de Deus: «Ele, que tinha o poder de criar tudo a partir de nada, negou-se a refazer o que tinha sido profanado se Maria não participasse» (Santo Anselmo)
 
Mas Deus não só nos pede licença, mas também contribuição para seus planos, e contribuição heroica. E assim foi o que aconteceu com Maria e José. Em resumo, o Menino Jesus necessitou ter pais. Mais ainda: Necessitou o heroísmo de seus pais, que tiveram que se esforçar muito para defender a vida do “pequeno Redentor”.
 
O mais bonito é que Maria revelou poucos detalhes do seu parto: um fato tão emblemático está relatado só em dois versículos (cf. Lc 2,6-7). Porém, foi mais explícita ao falar da delicadeza que seu esposo José teve com Ela. O fato foi que «antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo» (Mt 1,18) e, para não infamá-la, José teria preferido desaparecer discretamente e renunciar ao seu amor (circunstância que a desfavorecia socialmente). Dessa maneira, antes de ter sido promulgada a lei da caridade, São José já a praticou: Maria (e o tratamento justo com ela) foi sua lei.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Ouviste, Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho; ouviste que não será por obra de homem, senão por obra do Espírito Santo. Olha que o anjo aguarda a tua resposta. Põe-se nas tuas mãos o preço da nossa salvação; seremos liberados imediatamente se tu consentires» (São Bernardo)
 
«Deixemo-nos “contagiar” pelo silêncio de São José. ¡É muito necessário para nós! Neste tempo de preparação para o Natal cultivemos o recolhimento interior» (Bento XVI)
 
«As narrativas evangélicas (157) entendem a conceição virginal como uma obra divina que ultrapassa toda a compreensão e possibilidade humanas (158): ‘O que foi gerado nela vem do Espírito Santo’, diz o anjo a José, a respeito de Maria, sua esposa (Mt 1,20). A Igreja vê nisto o cumprimento da promessa divina feita através do profeta Isaías: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho» (Is 7, 14), segundo a tradução grega de Mt 1, 23» (Catecismo da Igreja Católica, nº 497)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* No Evangelho de Lucas a história da infância de Jesus (capítulos 1 e 2 de Lucas) está centrada em torno da pessoa de Maria.
Aqui no Evangelho de Mateus a infância de Jesus (capítulos 1 e 2 de Mateus) está centrada em torno da pessoa de José, o prometido esposo de Maria. José era da descendência de Davi. Através dele Jesus pertence à raça de Davi. Assim, em Jesus se realizam as promessas feitas por Deus a Davi e à sua descendência.
 
* Como vimos no evangelho de ontem, nas quatro mulheres companheiras de Maria na genealogia de Jesus, havia algo anormal que não estava de acordo com as normas da lei: Tamar, Raab, Rute e Betsabeia. O evangelho de hoje mostra que também em Maria havia algo de anormal, contrário às leis da época. Aos olhos do povo de Nazaré ela apareceu grávida antes de conviver com José. Nem o povo nem José o futuro marido sabiam a origem desta gravidez. Se José tivesse sido justo conforme a justiça dos escribas e fariseus, ele deveria ter denunciado Maria, e a pena para ela teria sido a morte por apedrejamento.
 
* José era justo, sim! mas a sua justiça era diferente. Por antecipação ele já praticava o que Jesus haveria de ensinar mais tarde: “Se a justiça de vocês não ultrapassar a justiça dos escribas e fariseus, vocês não vão poder entrar no Reino dos Céus” (Mt 5,20). É por isso que José, não compreendendo os fatos e não querendo repudiar Maria, resolveu licenciá-la em segredo.
 
* Na Bíblia, a descoberta do apelo de Deus dentro dos fatos acontece de várias maneiras. Por exemplo, através de ruminação dos fatos (Lc 2,19.51), através da meditação da Bíblia (At 15,15-19; 17,2-3), através de anjos (a palavra anjo significa mensageiro), que ajudam a descobrir o significado dos fatos (Mt 28,5-7). José chegou a perceber o significado do que estava acontecendo em Maria através de um sonho. No sonho um anjo usou a Bíblia para esclarecer a origem da gravidez de Maria. Ela vinha da ação do Espírito de Deus.
 
* Quando tudo ficou claro para Maria, ela disse: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra!” Quando tudo ficou claro para José, ele assumiu Maria como sua esposa, e foram morar juntos. Graças à justiça de José, Maria não foi apedrejada e Jesus continuou vivo no seio dela.
 
Para um confronto pessoal
1. Aos olhos dos escribas, a justiça de José seria uma desobediência. Existe mensagem nisto para nós?
2. Como você descobre o apelo da Palavra de Deus dentro dos fatos da sua vida?

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Féria Privilegiada do Advento: 17 de dezembro

S. João da Mata, presbítero, fundador da Ordem da Santíssima Trindade
 
1ª Leitura (Gen 49,1-2.8-10):
Naqueles dias, Jacob chamou os seus filhos e disse-lhes: «Reuni-vos e escutai, filhos de Jacob. escutai Israel, vosso pai. Judá, os teus irmãos hão de louvar-te, a tua mão pesará sobre a cabeça dos teus inimigos e os filhos de teu pai hão de inclinar- se diante de ti. Judá, tu és um leão novo: voltaste, meu filho, com a tua presa. Ele dobra o joelho e deita-se como o leão, ou como a leoa: quem o fará levantar-se? O ceptro não se afastará de Judá, nem o bastão de comando de entre os seus pés, até que venha Aquele a quem pertence e a quem os povos hão de obedecer».
 
Salmo Responsorial: 71
R. Nos dias do Senhor nascerá a justiça e a paz para sempre.
 
Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade.
 
Os montes trarão a paz ao povo e as colinas a justiça. Ele fará justiça aos humildes e salvará os indigentes.
 
Florescerá a justiça nos seus dias e uma grande paz até ao fim dos tempos. Ele dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra.
 
O seu nome será eternamente bendito e durará tanto como a luz do sol; nele serão abençoadas todas as nações, todos os povos o hão de bendizer.
 
Aleluia. Ó Sabedoria do Altíssimo, que tudo governais com firmeza e suavidade: vinde ensinar-nos o caminho da salvação. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 1,1-17): Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão: Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacó, Jacó gerou Judá e seus irmãos, Judá gerou Farés e Zara, de Tamar. Farés gerou Esrom; Esrom gerou Aram; Aram gerou Aminadab; Aminadab gerou Naasson; Naasson gerou Salmon; Salmon gerou Booz, de Raab. Booz gerou Obed, de Rute. Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei Davi. Davi gerou Salomão, da mulher de Urias. Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; Asa gerou Josafá; Josafá gerou Jorão; Jorão gerou Ozias; Ozias gerou Jotão; Jotão gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias. Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia. Depois do exílio na Babilônia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel; Zorobabel gerou Abiud; Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azor; Azor gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; Eliud gerou Eleazar; Eleazar gerou Matã; Matã gerou Jacó. Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. No total, pois, as gerações desde Abraão até Davi são quatorze; de Davi até o exílio na Babilônia, quatorze; e do exílio na Babilônia até o Cristo, quatorze.
 
«Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão»
 
Rev. D. Vicenç GUINOT i Gómez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)
 
Hoje, na liturgia da missa lemos a genealogia de Jesus, e vem ao pensamento uma frase que se repete nos ambientes rurais catalães: «Josés, burros e Joões, há-os em todos os lugares». Por isso para distingui-los, se usa como motivo o nome das casas. Assim, fala-se, por exemplo: José, o da casa de Filomena; José, o da casa de Soledade… dessa maneira, uma pessoa fica facilmente identificada. O problema é que se fica marcado pela boa ou má fama dos seus antepassados. É o que sucede com o «Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão» (Mt 1,1).
 
São Mateus nos disse que Jesus é verdadeiro Homem. Dito de outro modo, que Jesus —como todo o homem e como toda a mulher que chega a este mundo — não parte do zero, mas traz já atrás de si toda uma história. Isto quer dizer que a Encarnação é a sério, que quando Deus se faz homem, o faz com todas as consequências. O Filho de Deus, ao vir a este mundo, assume também um passado familiar.
 
Rasteando os personagens da lista, podemos ver que Jesus —pelo que refere a sua genealogia familiar—não apresenta um “processo imaculado”. Como escreveu o Cardeal Nguyen van Thuan, «neste mundo, se um povo escrever a sua história oficial, falará da sua grandeza… É um caso único, admirável e esplêndido encontrar um povo cuja história oficial não esconde os pecados dos seus antepassados». Aparecem pecados como o homicídio (Davi), a idolatria (Salomão), ou a prostituição (Rahab). E junto com isso há também momentos de graça e de fidelidade a Deus, e sobretudo as figuras de José e Maria, «da qual nasceu Jesus, chamado Cristo» (Mt 1,16).
 
Definitivamente, a genealogia de Jesus nos ajuda a contemplar o mistério que estamos quase a celebrar: que Deus se fez Homem, verdadeiro Homem, que «habitou entre nós» (Jo 1,14).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«De nada serve reconhecer ao nosso Senhor como filho da bem-aventurada Virgem Maria e como home verdadeiro e perfeito, se não se lhe acredita daquela estirpe que no Evangelho se lhe atribui» (Santo Leon Magno)
 
«José é o pai legal de Jesus. Por ele pertence “legalmente” à estirpe de Davi. Mas, não obstante, vem de outra parte, de “lá acima”: só Deus é seu “Pai” em sentido próprio» (Bento XVI)
 
«José foi chamado por Deus “receber Maria, sua esposa”, grávida “daquele que nela foi gerado pelo Espírito Santo” (Mt 1,20) a fim de que Jesus “chamado Cristo” (Mt 1,16), nascesse da esposa de José, na descendência messiânica de Davi.» (Catecismo da Igreja Católica, n°437)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* A genealogia define a identidade de Jesus
. Ele é o "filho de Davi e filho de Abraão" (Mt 1,1; cf 1,17). Como filho de Davi, ele é a resposta de Deus às expectativas do povo judeu (2Sam 7,12-16). Como filho de Abraão, é uma fonte de bênção para todas as nações (Gn 12,13). Judeus e pagãos veem suas esperanças realizadas em Jesus.
 
* Na sociedade patriarcal dos judeus, as genealogias traziam nomes somente de homens. Surpreende o fato de Mateus colocar cinco mulheres entre os antepassados de Jesus: Tamar, Raab, Rute, a mulher de Urias e Maria. Por que Mateus escolhe precisamente estas quatro mulheres como companheiras de Maria? Nenhuma rainha, nenhuma matriarca, nenhuma juíza, nenhuma das mulheres lutadoras do êxodo: por quê? Esta é a pergunta que o evangelho de Mateus deixa na nossa cabeça.
 
* Na vida das quatro mulheres companheiras de Maria existe algo anormal. As quatro são estrangeiras, conceberam seus filhos fora dos padrões normais e não satisfaziam às exigências das leis da pureza do tempo de Jesus. Tamar, uma Cananéia, viúva, se vestiu de prostituta para obrigar o patriarca Judá a ser fiel à lei e dar-lhe um filho (Gn 38,1-30). Raab, uma Cananéia de Jericó, era a prostituta que ajudou os israelitas a entrar na Terra Prometida (Js 2,1-21). Rute, uma Moabita, viúva pobre, optou para ficar do lado de Noemi e aderiu ao Povo de Deus (Rt 1,16-18). Tomou a iniciativa de imitar Tamar e de ir passar a noite na eira, junto com Booz, forçando-o a observar a lei e dar-lhe um filho. Da relação entre os dois nasceu Obed, o avô do rei Davi (Rt 3,1-15; 4,13-17). Betsabea, uma Hitita, mulher de Urias, foi seduzida, violentada e engravidada pelo rei Davi, que, além disso, mandou matar o marido dela (2Sm 11,1-27). O modo de agir destas quatro mulheres estava em desacordo com as normas tradicionais. No entanto, foram estas iniciativas pouco convencionais que deram continuidade à linhagem de Jesus e trouxeram a salvação de Deus para todo o povo. Tudo isto nos faz pensar e nos questiona quando damos demasiado valor à rigidez das normas.
 
* O cálculo de 3 x 14 gerações (Mt 1,17) tem um significado simbólico. Três é o número da divindade. Quatorze é o dobro de sete. Sete é o número da perfeição. Por meio deste simbolismo Mateus exprime a convicção dos primeiros cristãos de que Jesus apareceu no tempo estabelecido por Deus. Com a sua chegada a história alcançou o seu pleno cumprimento.
 
Para um confronto pessoal
1. Qual a mensagem que você descobre na genealogia de Jesus? Você encontrou uma resposta para a pergunta que Mateus deixou na nossa cabeça?
2. As companheiras de Maria, a mãe de Jesus, são bem diferentes do que imaginávamos. Qual a conclusão que você tira disso para a sua devoção a Nossa Senhora?

domingo, 14 de dezembro de 2025

Terça-feira da 3ª semana do Advento

Beata Maria dos Anjos, virgem de nossa Ordem
 
1ª Leitura (Sof 3,1-2.9-13):
Eis o que diz o Senhor: «Ai da cidade rebelde e impura, ai da cidade opressora! Não escutou nenhum apelo, nem aceitou qualquer aviso. Não confiou no Senhor, nem se aproximou do seu Deus. Mas Eu darei aos povos lábios puros, para que todos invoquem o nome do Senhor e O sirvam de coração unânime. Do outro lado dos rios da Etiópia, os meus adoradores virão trazer-Me ofertas. Nesse dia não te envergonharás das ações com que Me ofendeste, porque afastarei do meio de ti os fanfarrões e arrogantes e não tornarás a vangloriar-te no meu santo monte. Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde e procurarão refúgio no nome do Senhor os sobreviventes de Israel. Não voltarão a cometer injustiças, não tornarão a dizer mentiras, nem mais se encontrará na sua boca uma língua enganadora. Por isso terão pastagem e repouso, sem que ninguém os perturbe».
 
Salmo Responsorial: 33
R. O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz.
 
A toda a hora bendirei o Senhor, o seu louvor estará sempre na minha boca. A minha alma gloria-se no Senhor: escutem e alegrem-se os humildes.
 
Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes, o vosso rosto não se cobrirá de vergonha. Este pobre clamou e o Senhor o ouviu, salvou-o de todas as suas angústias.
 
A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal, para apagar da terra a sua memória. Os justos clamaram e o Senhor os ouviu, livrou-os de todas as angústias.
 
O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado e salva os de ânimo abatido. O Senhor defende a vida dos seus servos, não serão castigados os que n’Ele se refugiam.
 
Aleluia. Vinde, Senhor, e não tardeis, perdoai os pecados do vosso povo. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 21,28-32): Naquele tempo, Jesus disse aos sacerdotes: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de atitude e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?” Os sumos sacerdotes e os anciãos responderam: “O primeiro.” Então Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Pois João veio até vós, caminhando na justiça, e não acreditastes nele. Mas os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes, para crer nele».
 
«‘Não quero’. Mas depois mudou de atitude e foi?»
 
Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant Jordi Desvalls, Girona, Espanha)
 
Hoje contemplamos o pai que tem dois filhos e diz ao primeiro: «Filho, vai trabalhar hoje na vinha» (Mt 21,28). O filho respondeu: «‘Não quero’. Mas depois mudou de atitude e foi» (Mt 21,29). Ao segundo lhe disse o mesmo. Este respondeu: «Sim, senhor, eu vou»; mas não foi... (cf. Mt 21,30). O importante não é dizer “sim”, mas “fazer”. Há um dito que afirma «obras são amores e não boas razões».
 
Em outro momento, Jesus dará a doutrina que ensina esta parábola: «Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus». (Mt 7,21). Como escreveu Santo Agostinho, «Existem duas vontades: a tua vontade deve ser corrigida para se identificar com a vontade de Deus; e não torcida a de Deus para se acomodar à tua». Na língua catalã se diz que um menino “creu” (“crê”), quando ele obedece: crê!, quer dizer, identificamos a obediência com a Fé, com a confiança naquilo que nos dizem.
 
Obediência vem de “ob-audire”: escutar com grande atenção. Manifesta-se na oração, em não nos fazer-nos de surdos à voz do Amor. «Os homens tendemos a nos “defender”, a nos apegar ao nosso egoísmo. Deus exige que, ao obedecer, ponhamos em exercício a Fé. As vezes o Senhor sugere seu querer em voz baixa, lá no fundo da consciência: e é necessário estarmos atentos, para distinguir essa voz e ser-lhe fiel» (São Josemaría Escrivá). Cumprir a vontade de Deus é ser santo; obedecer não é ser uma simples marionete nas mãos dos outros, mas interiorizar o que se deve cumprir: e, assim, fazê-lo porque “tenho vontade”.
 
Nossa Mãe a Virgem, mestra na “obediência da Fé”, nos ensinará a forma de aprender a obedecer a vontade do Pai.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando o pecado está no homem, este já não pode contemplar a Deus. Mas podes sarar, se quiseres. A fé e o temor de Deus devem ter a absoluta preferência do teu coração» (São Teófilo de Antioquia)
 
«Quando nós sejamos capazes de dizer ao Senhor: — ‘Senhor, estes são os meus pecados, não os de este ou os de aquele... ¡são meus! Tomai os meus pecados’, então seremos esse belo povo que confia no nome do Senhor» (Francisco)
 
«Jesus escandalizou os fariseus por comer com os publicanos e os pecadores (394) tão familiarmente como com eles (395). Contra aqueles ‘que se consideravam justos e desprezavam os demais’ (Lc 18, 9) (396) Jesus afirmou: ‘Eu não vim chamar os justos, vim chamar os pecadores, para que se arrependam’ (Lc 5, 32). E foi mais longe, afirmando, diante dos fariseus, que, sendo o pecado universal (397), cegam-se a si próprios (398) aqueles que pretendem não precisar de salvação» (Catecismo da Igreja Católica, nº 588)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O evangelho de hoje traz uma parábola
. Como de costume, Jesus conta uma história tirada da vida quotidiana das famílias; história comum que fala por si e não necessita de muita explicação. Em seguida, por meio de por meio de uma pergunta muito simples, Jesus procura envolver os ouvintes e comunicar uma mensagem para que se envolvam na história sem, por ora, se darem conta do objetivo que Jesus tinha em mente. Depois que deram a resposta à pergunta, Jesus aplica a história e os ouvintes se dão conta de que eles se condenaram a si mesmos. Vejamos:
 
* Mateus 21, 28-30: A história dos dois filhos. Jesus faz uma pergunta inicial: "O que vocês acham disto?” É para chamar a atenção das pessoas para que prestem muita atenção na história que segue. Em seguida vem a história: "Certo homem tinha dois filhos. Ele foi ao primeiro, e disse: 'Filho, vá trabalhar hoje na vinha'. O filho respondeu: 'Não quero'. Mas depois arrependeu-se, e foi. O pai dirigiu-se ao segundo, e disse a mesma coisa. Esse respondeu: 'Sim, senhor, eu vou'. Mas não foi”. Trata-se de uma história da vida familiar de cada dia. As pessoas que o escutam Jesus entendem do assunto, pois já o devem ter vivido várias vezes em sua própria casa. Por ora ainda não apareceu o que Jesus tem em mente. O que será que ele quer alcançar com esta história?
 
* Mateus 21, 31ª: O envolvimento das autoridades na história dos dois filhos. Jesus formulou a história em forma de uma pergunta. No início ele disse: “O que vocês acham disto?” e no fim ele termina perguntando: “Qual dos dois fez a vontade do pai?" Os que escutam são pais de família e eles respondem a partir do que já deve ter acontecido várias vezes com seus próprios filhos: Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: "O primeiro". Esta é a resposta que Jesus queria ouvir deles e por onde ele os pega em flagrante para comunicar sua mensagem.
 
* Mateus 21, 31b-32: A conclusão de Jesus. “Então Jesus lhes disse: "Pois eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu. Porque João veio até vocês para mostrar o caminho da justiça, e vocês não acreditaram nele. Os cobradores de impostos e as prostitutas acreditaram nele. Vocês, porém, mesmo vendo isso, não se arrependeram para acreditar nele." A conclusão de Jesus é evidente e muito dura. Na opinião dos sacerdotes e dos anciãos, os publicanos e as prostitutas eram pessoas pecadoras e impuras que não faziam a vontade do Pai. Na opinião de Jesus, publicanos e prostitutas, de fato, diziam “Não quero”, mas acabaram fazendo a vontade do Pai, pois se arrependeram diante da pregação de João Batista. Enquanto eles, os sacerdotes e publicanos que oficialmente sempre dizem “Sim, senhor, eu vou!”, mas acabaram não observando a vontade do Pai, pois não quiseram acreditar em João Batista.
 
Faça um confronto pessoal da leitura com a vida
1) Com qual dos dois filhos eu me identifico?
2) Quem são hoje as prostitutas e os publicanos que dizem “Não quero!”, mas que acabam fazendo a vontade do Pai?

sábado, 13 de dezembro de 2025

16 de dezembro

 16 de dezembro
Beata Maria dos Anjos
Virgem de nossa Ordem
 

Nasceu em Turim, no ano de 1661, onde viveu até a sua morte, ocorrida em 1717. Entrou para o Mosteiro das carmelitas descalças, em 1675, sendo várias vezes priora. Encarregada da formação das noviças, soube transmitir-lhes o autêntico espírito teresiano. Quase constantemente imersa na noite do espírito, deixou às irmãs inumeráveis exemplos de ardente amor a Deus. Vivia em contínuo estado de oração. Teve singular devoção por são José, fundando em sua honra um convento em Moncalieri
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
LAUDES
Cântico Evangélico
Ant. O amor de Deus é sabedoria digna de ser honrada: o temor de Deus é a primícia da sabedoria.
 
Oração
Ó Deus, que vos comprazeis em habitar naqueles que são puros e retos de coração, concedei-nos, por intercessão da beata Maria dos Anjos, viver de tal maneira a vida da graça que mereçamos ter-vos sempre conosco, Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
         
VÉSPERAS
Cântico evangélico
Ant. Ainda que eu caminhe por um vale tenebroso nenhum mal temerei, pois estás junto a mim.