segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Quarta-feira da 33ª semana do Tempo Comum

S. Rafael de S. José Kalinowski, presbítero de nossa Ordem
Ss. Roque González, Afonso Rodríguez e João del Castillo, presbíteros e mártires
 
1ª Leitura (2Mac 7,1.20-31):
Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de azorragues e nervos de boi, a comer carne de porco, proibida pela Lei. Eminentemente admirável e digna de memória foi a mãe, que, vendo morrer num só dia os seus sete filhos, tudo suportou com firme serenidade, pela esperança que tinha no Senhor. Exortava cada um deles na sua língua pátria e, cheia de nobres sentimentos, juntava uma coragem varonil à ternura de mulher. Ela dizia-lhes: «Não sei como aparecestes no meu seio, porque não fui eu que vos dei o espírito e a vida, nem fui eu que ordenei os elementos de cada um de vós. Por isso, o Criador do mundo, que é o autor do nascimento e origem de todas as coisas, vos restituirá, pela sua misericórdia, o espírito e a vida, porque vos desprezais agora a vós mesmos por amor das suas leis». Então o rei Antíoco julgou-se insultado e suspeitou que aquelas palavras o ultrajavam. Como o filho mais novo ainda estava vivo, não só começou a exortá-lo com palavras, mas também lhe prometeu com juramento que o tornaria rico e feliz, se ele abandonasse as tradições dos seus antepassados. Faria dele seu amigo, confiando-lhe altas funções. Como o jovem não lhe deu a menor atenção, o rei chamou a mãe à sua presença e exortou-a a aconselhar o jovem para lhe salvar a vida. Depois de muita insistência do rei, ela consentiu em persuadir o filho. Inclinou-se para ele e, ludibriando o tirano, assim lhe falou na língua pátria: «Filho, tem compaixão de mim, que te trouxe nove meses no meu seio, te amamentei durante três anos, te criei e eduquei até esta idade, provendo sempre ao teu sustento. Peço-te, meu filho, olha para o Céu e para a terra, contempla tudo o que neles existe e reconhece que Deus os criou do nada, assim como a todo o género humano. Não temas este carrasco, mas sê digno dos teus irmãos e aceita a morte, para que eu te possa encontrar com eles no dia da misericórdia divina». Apenas ela acabou de falar, o jovem exclamou: «Por que esperais? Eu não obedeço às ordens do rei. Obedeço aos mandamentos da Lei que foi dada por Moisés aos nossos antepassados. E tu, inventor de todos os males contra os hebreus, não escaparás às mãos de Deus».
 
Salmo Responsorial: 16
R. Senhor, ficarei saciado, quando surgir a vossa glória.
 
Ouvi, Senhor, uma causa justa, atendei a minha súplica. Escutai a minha oração, feita com sinceridade.
 
Firmai os meus passos nas vossas veredas, para que não vacilem os meus pés. Eu Vos invoco, ó Deus, respondei-me, ouvi e escutai as minhas palavras.
 
Protegei-me à sombra das vossas asas, longe dos ímpios que me fazem violência. Senhor, mereça eu contemplar a vossa face e ao despertar saciar-me com a vossa imagem.
 
Aleluia. Eu vos escolhi do mundo, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça, diz o Senhor. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 19,11-28): Naquele tempo, enquanto estavam escutando, Jesus acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e eles pensavam que o Reino de Deus ia se manifestar logo. Disse: «Um homem nobre partiu para um país distante, a fim de ser coroado rei e depois voltar. Chamou então dez dos seus servos, entregou a cada um uma bolsa de dinheiro e disse: Negociai com isto até que eu volte. Seus concidadãos, porém, tinham aversão a ele e enviaram uma embaixada atrás dele, dizendo: Não queremos que esse homem reine sobre nós. Mas o homem foi nomeado rei e voltou. Mandou chamar os servos, aos quais havia dado o dinheiro, a fim de saber que negócios cada um havia feito. O primeiro chegou e disse: Senhor, a quantia que me deste rendeu dez vezes mais. O homem disse: Parabéns, servo bom. Como te mostraste fiel nesta mínima coisa, recebe o governo de dez cidades. O segundo chegou e disse: Senhor, a quantia que me deste rendeu cinco vezes mais. O homem disse também a este: Tu, recebe o governo de cinco cidades. Chegou o outro servo e disse: Senhor, aqui está a quantia que me deste: eu a guardei num lenço, pois eu tinha medo de ti, porque és um homem severo. Recebes o que não deste e colhes o que não semeaste. O homem disse: Servo mau, eu te julgo pela tua própria boca. Sabias que sou um homem severo, que recebo o que não dei e colho o que não semeei. Então, por que não depositaste meu dinheiro no banco? Ao chegar, eu o retiraria com juros. Depois disse aos que estavam aí presentes: Tirai dele sua quantia e dai àquele que fez render dez vezes mais. Os presentes disseram: Senhor, esse já tem dez vezes a quantia! Ele respondeu: Eu vos digo: a todo aquele que tem, será dado, mas àquele que não tem, até mesmo o que tem lhe será tirado. E quanto a esses meus inimigos, que não queriam que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os na minha frente». Depois dessas palavras, Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém.
 
«Negociai com isto até que eu volte»
 
P. Pere SUÑER i Puig SJ (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho propõe-nos a parábola das minas: uma quantidade de dinheiro que aquele nobre repartiu entre seus servos, antes de partir de viagem. Primeiro fixemo-nos na ocasião que provoca a parábola de Jesus. Ele ia subindo para Jerusalém, onde o esperava a paixão e a consequente ressurreição. Os discípulos «pensavam que o Reino de Deus ia se manifestar logo» (Lc 19,11). É nessas circunstâncias que Jesus propõe esta parábola. Com ela, Jesus ensina-nos que temos que fazer render os dons e qualidades que Ele nos deu, isto é, que nos deixou a cada um. Não são nossos de maneira que possamos fazer com eles o que queiramos. Ele deixou-nos esses dons para que os façamos render. Os que fizeram render as minas - mais ou menos - são louvados e premiados pelo seu Senhor. É o servo preguiçoso, que guardou o dinheiro num lenço sem o fazer render, é o que é repreendido e condenado.
 
O cristão, pois, tem que esperar, claro está, o regresso do seu Senhor, Jesus. Mas com duas condições, se quer que o encontro seja amigável. A primeira condição é que afaste a curiosidade doentia de querer saber a hora da solene e vitoriosa volta do Senhor. Virá, diz em outro lugar, quando menos o pensemos. Fora, por tanto, as especulações sobre isto! Esperamos com esperança, mas numa espera confiada sem doentia curiosidade. A segunda condição, é que não percamos o tempo. A esperança do encontro e do final gozoso não pode ser desculpa para não tomarmos a sério o momento presente. Precisamente, porque a alegria e o gozo do encontro final serão tanto melhores quanto maior for a colaboração que cada um tiver dado pela causa do reino na vida presente.
 
Não falta, também aqui, a grave advertência de Jesus aos que se revelam contra Ele: «E quanto a esses meus inimigos, que não queriam que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os na minha frente» (Lc 19,27)
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando o cristão mata o seu tempo na terra, põe-se em perigo de matar o seu céu» (São Josemaria)
 
«Qualquer ambiente, mesmo o mais distante e impraticável, pode tornar-se um lugar onde os talentos podem atuar. Não há situações ou lugares excluídos da presença e do testemunho cristão» (Francisco)
 
«(…) Cada homem é constituído 'herdeiro', recebe 'talentos' que enriquecem a sua identidade e cujos frutos deve desenvolver (3). Com toda a razão, cada um é devedor de dedicação às comunidades de que faz parte (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.880)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz a Parábola dos Talentos, na qual Jesus fala dos dons que as pessoas recebem de Deus.
Toda pessoa tem alguma qualidade, recebe algum dom ou sabe alguma coisa que ela pode ensinar aos outros. Ninguém é só aluno, ninguém é só professor. Aprendemos uns dos outros.
 
* Lucas 19,11: A chave para entender a história da parábola. Para introduzir a parábola Lucas diz o seguinte: “Tendo eles ouvido isso, Jesus acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém, e eles pensavam que o Reino de Deus ia chegar logo”. Nesta informação inicial, Lucas destaca três motivações que levaram Jesus a contar a parábola: (1) A acolhida a ser dada aos excluídos, pois, dizendo “tendo eles ouvido isso”, ele se refere ao episódio de Zaqueu, o excluído, que foi acolhido por Jesus. (2) A proximidade da paixão, morte e ressurreição, pois dizia que Jesus estava perto de Jerusalém  onde seria preso e morto em breve. (3) A chegada iminente do Reino de Deus, pois as pessoas que acompanhavam Jesus pensavam que o Reino de Deus ia chegar logo.
 
* Lucas 19,12-14: O início da Parábola.  “Um homem nobre partiu para um país distante a fim de ser coroado rei, e depois voltar. Chamou então dez dos seus empregados, entregou cem moedas de prata para cada um, e disse: 'Negociem até que eu volte”. Seus concidadãos, porém, o odiavam, e enviaram uma embaixada atrás dele, dizendo: 'Não queremos que esse homem reine sobre nós'. Alguns estudiosos acham que, nesta parábola, Jesus se refere a Herodes que, setenta anos antes (40 aC), tinha ido para Roma a fim de receber o título e o poder de Rei da Palestina. O povo não gostava de Herodes e não queria que ele se tornasse rei, pois a experiência que tiveram com ele como comandante para reprimir as rebeliões na Galileia contra Roma foi trágica e dolorosa. Por isso diziam: “Não queremos que esse homem reine sobre nós”. A este mesmo Herodes se aplicaria a frase final da parábola: “E quanto a esses inimigos, que não queriam que eu reinasse sobre eles, tragam aqui, e matem na minha frente”.  De fato, Herodes matou muita gente.
 
* Lucas 19,15-19: Prestação de conta dos primeiros empregados que receberam cem moedas de prata. A história informa ainda que Herodes recebeu a realeza e voltou para a Palestina para assumir o poder. Na parábola, o rei chamou os empregados aos quais tinha dado cem moedas de prata, a fim de saber quanto haviam lucrado. O primeiro chegou, e disse: 'Senhor, as cem moedas renderam dez vezes mais'. O homem disse: 'Muito bem, empregado bom. Como você foi fiel em coisas pequenas, receba o governo de dez cidades'. O segundo chegou, e disse: 'Senhor, as cem moedas renderam cinco vezes mais'. O homem disse também a este: 'Receba também você o governo de cinco cidades”. De acordo com a história, tanto Herodes Magno como seu filho Herodes Antipas, ambos sabiam lidar com dinheiro e promover as pessoas que os ajudavam. Na parábola, o rei deu dez cidades ao empregado que multiplicou por dez as cem moedas que tinha recebido, e cinco cidades a quem as multiplicou por cinco.
 
* Lucas 19,20-23: Prestação de conta do empregado que não lucrou nada. O terceiro empregado chegou e disse: 'Senhor, aqui estão as cem moedas que guardei num lenço. Pois eu tinha medo de ti, porque és um homem severo. Tomas o que não deste, e colhes o que não semeaste'. Nesta frase transparece uma ideia errada de Deus que é criticada por Jesus. O empregado vê Deus como um patrão severo. Diante de um Deus assim, o ser humano sente medo e se esconde atrás da observância exata e mesquinha da lei. Ele pensa que, agindo assim, não será castigado pela severidade do legislador. Na realidade, uma pessoa assim já não crê em Deus, mas crê apenas em si mesma, na sua própria observância da lei. Ela se fecha em si, desliga de Deus e já não consegue preocupar-se com os outros. Torna-se incapaz de crescer como pessoa livre. Esta imagem falsa de Deus isola o ser humano, mata a comunidade, acaba com a alegria e empobrece a vida. O rei responde: 'Empregado mau, eu julgo você pela sua própria boca. Você sabia que eu sou um homem severo, que tomo o que não dei, e colho o que não semeei. Então, por que você não depositou meu dinheiro no banco? Ao chegar, eu o retiraria com juros'. O empregado não foi coerente com a imagem que tinha de Deus. Se ele imaginava Deus tão severo, deveria ao menos ter colocado o dinheiro no banco. Ele é condenado não por Deus, mas pela ideia errada que tinha de Deus e que o deixou mais medroso e mais imaturo do que devia ser. Uma das coisas que mais influi na vida da gente é a ideia que nós fazemos de Deus. Entre os judeus da linha dos fariseus, alguns imaginavam Deus como um Juiz severo que os tratava de acordo com o mérito conquistado pelas observâncias. Isto produzia medo e impedia as pessoas de crescer. Sobretudo, impedia que elas abrissem um espaço dentro de si para acolher a nova experiência de Deus que Jesus comunicava.
 
* Lucas 19,24-27: Conclusão para todos. “Depois disse aos que estavam aí presentes: Tirem dele as cem moedas, e deem para aquele que tem mil. Os presentes disseram: Senhor, esse já tem mil moedas! Ele respondeu: Eu digo a vocês: a todo aquele que já possui, será dado mais ainda. Mas daquele que nada tem, será tirado até mesmo o que tem”. O senhor mandou tirar dele as cem moedas e dar àquele que já tinha mil, pois “a todo aquele que já possui, será dado mais ainda. Mas daquele que nada tem, será tirado até mesmo o que tem. Nesta frase final está a chave que esclarece a parábola. No simbolismo da parábola, as moedas de prata do rei são os bens do Reino de Deus, isto é, tudo aquilo que faz a pessoa crescer e revela a presença de Deus: amor, serviço, partilha. Quem se fecha em si com medo de perder o pouco que tem, este vai perder até o pouco que tem. A pessoa, porém, que não pensa em si mas se doa aos outros, esta vai crescer e receber de volta, de maneira inesperada, tudo que entregou e muito mais: “cem vezes mais, com perseguições” (Mc 10,30). “Perde a vida quem quer segurá-la, ganha a vida quem tem coragem de perdê-la” (Lc 9,24; 17,33; Mt 10,39;16,25;Mc 8,35). O terceiro empregado teve medo e não fez nada. Não quis perder nada e, por isso, não ganhou nada. Perdeu até o pouco que tinha. O Reino é risco. Quem não quer correr risco, perde o Reino!
 
* Lucas 19,28: Voltando à tríplice chave inicial. No fim, Lucas encerra o assunto com esta informação: Depois de dizer essas coisas, Jesus partiu na frente deles, subindo para Jerusalém. Esta informação final evoca a tríplice chave dada no início: acolhida a ser dada aos excluídos, proximidade da paixão, morte e ressurreição de Jesus em Jerusalém e a ideia da chegada iminente do Reino. Aos que pensavam que o Reino de Deus estivesse para chegar, a parábola manda mudar os olhos. O Reino de Deus chega sim, mas através da morte e ressurreição de Jesus que vai acontecer em breve em Jerusalém. E o motivo da morte foi a acolhida que ele, Jesus, dava aos excluídos como Zaqueu e tantos outros. Incomodou os grandes e eles o eliminaram condenando-o à morte de cruz,
 
Para um confronto pessoal
1. Na nossa comunidade, procuramos conhecer e valorizar os dons de cada pessoa? Às vezes, os dons de uns geram inveja e competição nos outros. Como reagimos?
2. Nossa comunidade é um espaço, onde as pessoas podem desenvolver seus dons?

19 de novembro

 São Rafael de São José (Kalinowski)
Presbítero de nossa Ordem
 
Oriundo de uma família polaca, nasceu em Vilna em 1835. Por ter participado no movimento de libertação da Polônia, foi condenado a dez anos de trabalhos forçados na Sibéria. Em 1877 ingressou nos Carmelitas Descalços, onde se ordenou sacerdote em 1882. Distinguiu-se no zelo pela unidade da Igreja e pela incansável dedicação ao ministério de confessor e diretor espiritual. Restaurou a Ordem na Polônia, desempenhando lá vários cargos de governo. Morreu em Wadovice em 1907. Foi beatificado em 22 de junho de 1983 e canonizado em 17 de novembro de 1991.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.

Oração
Senhor, que concedestes a São Rafael o espírito de fortaleza nas adversidades e um extraordinário zelo de caridade em benefício da unidade da Igreja, concedei, por sua intercessão, que, sendo fortes na fé e amando-nos uns aos outros, colaboremos generosamente na unidade de todos os fiéis em Cristo. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 

domingo, 16 de novembro de 2025

Terça-feira da 33ª semana do Tempo Comum

1ª Leitura (2Mac 6,18-31):
Naqueles dias, Eleazar, um dos principais doutores da Lei, homem de idade avançada e de aspecto muito distinto, era forçado a abrir a boca para comer carne de porco. Mas ele, preferindo a morte gloriosa à vida desonrada, caminhou espontaneamente para o instrumento de suplício, depois de ter cuspido fora a carne, como devem proceder os que têm a coragem de repelir o que não é lícito comer, nem sequer por amor à própria vida. Então os encarregados dessa iníqua refeição ritual, que conheciam aquele homem de velha data, chamaram-no à parte e tentaram persuadi-lo a trazer carne da que lhe fosse lícito servir-se, preparada por ele próprio, e assim fingisse comer a carne prescrita pelo rei, isto é, proveniente do sacrifício. Procedendo assim, escaparia à morte, aproveitando a benevolência com que o tratavam em consideração da amizade entre eles. Mas ele optou por uma nobre decisão, digna da sua idade, do prestígio da sua velhice, dos seus cabelos tão ilustremente embranquecidos, do seu excelente modo de proceder desde a infância e, o que é mais, da santa Lei estabelecida por Deus. Com toda a coerência, respondeu prontamente: «Prefiro que me envieis para a morada dos mortos. Na nossa idade não é conveniente fingir; aliás muitos jovens ficariam persuadidos de que Eleazar, aos noventa anos, se tinha passado para os costumes pagãos; e com esta dissimulação, por causa do pouco tempo de vida que me resta, viriam a transviar-se também por minha culpa e eu ficaria com a minha velhice manchada e desonrada. Além disso, ainda que eu me furtasse de momento à tortura dos homens, não fugiria, contudo, nem vivo nem morto, às mãos do Omnipotente. Por isso, renunciando agora corajosamente a esta vida, mostrar-me-ei digno da minha velhice e deixarei aos jovens o nobre exemplo de morrer com beleza, espontânea e gloriosamente, pelas veneráveis e santas leis». Dito isto, Eleazar dirigiu-se logo para o instrumento de suplício. Aqueles que o conduziam mudaram em aversão a benevolência que pouco antes mostraram para com ele, por causa das palavras que acabava de dizer e que eles consideravam uma loucura. Prestes a morrer sob os golpes, exclamou entre suspiros: «Para o Senhor, que possui a santa ciência, é bem claro que, podendo escapar à morte, estou a sofrer cruéis tormentos no meu corpo; mas na alma suporto-os com alegria, porque temo o Senhor». Foi assim que Eleazar perdeu a vida, deixando, com a sua morte, não só aos jovens, mas também à maioria do seu povo, um exemplo de coragem e um memorial de virtude.
 
Salmo Responsorial: 3
R. O Senhor me sustenta e ampara.
 
Senhor, são tantos os meus inimigos, tão numerosos os que se levantam contra mim! Muitos são os que dizem a meu respeito: «Deus não o vai salvar».
 
Vós, porém, Senhor, sois o meu protetor, a minha glória e Aquele que me sustenta. Em altos brados clamei ao Senhor, Ele respondeu-me da sua montanha sagrada.
 
Deito-me e adormeço, e me levanto: sempre o Senhor me ampara. Não temo a multidão, que de todos os lados me cerca.
 
Aleluia. Deus amou-nos e enviou o seu Filho, como vítima de expiação pelos nossos pecados. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 19,1-10): Naquele tempo, Jesus tinha entrado em Jericó e estava passando pela cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos publicanos e muito rico. Ele procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era baixinho. Então ele correu à frente e subiu numa árvore para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: «Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa. Ele desceu depressa, e o recebeu com alegria. Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: «Foi hospedar-se na casa de um pecador!». Zaqueu pôs-se de pé, e disse ao Senhor: «Senhor, a metade dos meus bens darei aos pobres, e se prejudiquei alguém, vou devolver quatro vezes mais». Jesus lhe disse: “Hoje aconteceu a salvação para esta casa, porque também este é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido».
 
«O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido»
 
Rev. D. Enric RIBAS i Baciana (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Zaqueu sou eu. Esse personagem era rico e chefe dos publicanos; eu tenho mais do que necessito e também muitas vezes atuo como um publicano e esqueço-me de Cristo. Jesus, entre a multidão, procura Zaqueu; hoje, no meio deste mundo, precisamente procura-me a mim: «Desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa»(Lc 19,5).
 
Zaqueu deseja ver a Jesus; não o conseguirá sem esforçar-se e sobe a árvore. Quisera eu ver tantas vezes a ação de Deus! Mas não sei se estou verdadeiramente disposto a fazer o ridículo obrando como Zaqueu. A disposição do chefe de publicanos de Jericó é necessária para que Jesus possa agir; se não se apressa, pode perder a única oportunidade de ser tocado por Deus e assim, ser salvado. Possivelmente, eu tive muitas ocasiões de encontrar-me com Jesus, e talvez vendo que já era hora de ser corajoso, de sair de casa, de encontrar-me com Ele e de convidá-lo a entrar no meu interior, para que Ele possa dizer também de mim: «Hoje aconteceu a salvação para esta casa, porque também este é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido» (Lc 19,9-10).
 
Zaqueu deixa entrar a Jesus na sua casa e no seu coração, ainda que não se sente digno dessa visita. Nele a conversão é total: começa pela renúncia à ambição de riquezas, continua com o propósito de partilhar os seus bens e termina com uma vontade firme de fazer justiça, corrigir os pecados que cometeu. Pode que Jesus me este pedindo algo parecido desde faz tempo, mas eu não quero escutar e faço ouvidos surdos; necessito converter-me.
 
Dizia São Máximo: «Nada há mais querido e agradável a Deus como a conversão dos homens a Ele com um arrependimento sincero». Que Ele me ajude hoje a fazê-lo realidade.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O que se faz com uma disposição de ânimo triste e forcado não merece gratidão nem nobreza. Assim, quando façamos o bem, devemos fazê-lo, não tristes, mas com alegria» (São Gregório de Nissa)
 
«” Vida eterna” tenta de dar um nome a essa “desconhecida realidade conhecida”. Seria o momento de se submergir no oceano do Amor infinito. Podemos unicamente tentar de pensar que este momento é a vida em sentido pleno. Temos que pensar nesta línea se nós quisermos entender o objetivo da esperança Cristiana» (Bento XVI)
 
«A Comunhão afasta-nos do pecado. O corpo de Cristo que recebemos na Comunhão é “entregue por nós” e o sangue que nós bebemos é “derramado pela multidão, para remissão dos pecados”. É por isso que a Eucaristia não pode unir-nos a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados cometidos, e nos preservar dos pecados futuros» (Catecismo da Igreja Católica, n° 1393)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* No evangelho de hoje, estamos chegando ao fim da longa viagem que começou no capítulo 9 (Lc 9,51).
Durante a viagem, não se sabia bem por onde Jesus andava. Só se sabia que ele ia em direção a Jerusalém. Agora, no fim, a geografia fica clara e definida. Jesus chegou em Jericó, a cidade das palmeiras, no vale do Jordão. Última parada dos peregrinos, antes de subir para Jerusalém! Foi em Jericó, que terminou a longa caminhada do êxodo de 40 anos pelo deserto. O êxodo de Jesus também está terminando. Na entrada de Jericó, Jesus encontrou um cego que queria vê-lo (Lc 18,35-43). Agora, na saída da cidade, ele encontra Zaqueu, um publicano, que também queria vê-lo. Um cego e um publicano. Os dois eram excluídos. Os dois incomodavam o povo: o cego com seus gritos, o publicano com seus impostos. Os dois são acolhidos por Jesus, cada um a seu modo.
 
* Lucas 19,1-2: A situação . Jesus entrou em Jericó e atravessava a cidade. "Havia ali um homem, chamado Zaqueu, muito rico, chefe dos publicanos". Publicano era a pessoa que cobrava o imposto público sobre a circulação da mercadoria. Zaqueu era o chefe dos publicanos da cidade. Sujeito rico e muito ligado ao sistema de dominação dos romanos. Os judeus mais religiosos argumentavam assim: “O rei do nosso povo é Deus. Por isso, a dominação romana sobre nós é contra Deus. Quem colabora com os romanos peca contra Deus!” Assim, soldados que serviam no exército romano e cobradores de impostos, como Zaqueu, eram excluídos e evitados como pecadores e impuros.
 
* Lucas 19,3-4: A atitude de Zaqueu. Zaqueu quer ver Jesus. Sendo pequeno, corre na frente, sobe numa árvore e aguarda Jesus passar. É muita vontade de ver Jesus! Anteriormente, na parábola do pobre Lázaro e do rico sem nome (Lc 16,19-31), Jesus mostrava como é difícil um rico se converter e abrir a porta de separação para acolher o pobre Lázaro. Aqui aparece o caso de um rico que não se fecha na sua riqueza. Zaqueu quer algo mais. Quando um adulto, pessoa de destaque na cidade, trepa numa árvore, é porque já nem liga para a opinião dos outros. Algo mais importante o move por dentro. Ele está querendo abrir a porta para o pobre Lázaro.
 
* Lucas 19,5-7: Atitude de Jesus, reação do povo e de Zaqueu. Chegando perto e vendo Zaqueu na árvore, Jesus não pergunta nem exige nada. Apenas responde ao desejo do homem e diz: "Zaqueu, desça depressa! Hoje devo ficar em sua casa!" Zaqueu desceu e recebeu Jesus em sua casa, com muita alegria. Todos murmuravam: "Foi hospedar-se na casa de um pecador!" Lucas diz que todos murmuravam! Isto significa que Jesus estava ficando sozinho na sua atitude de dar acolhida aos excluídos, sobretudo aos colaboradores do sistema. Mas Jesus não se importa com as críticas. Ele vai na casa de Zaqueu e o defende contra as críticas. Em vez de pecador, o chama de “filho de Abraão” (Lc 19,9).
 
* Lucas 19,8: Decisão de Zaqueu. "Dou a metade dos meus bens aos pobres e restituo quatro vezes o que roubei!" Esta é a conversão, produzida em Zaqueu pela acolhida que Jesus lhe deu. Restituir quatro vezes era o que a lei mandava em alguns casos (Ex 21,37; 22,3). Dar a metade dos bens aos pobres era a novidade que o contato com Jesus nele produziu. Era a partilha acontecendo de fato!
 
* Lucas 19,9-10: Palavra final de Jesus. "Hoje, a salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão!" A interpretação da Lei pela Tradição antiga excluía os publicanos da raça de Abraão. Jesus diz que veio procurar e salvar o que estava perdido. O Reino é para todos. Ninguém pode ser excluído. A opção de Jesus é clara, seu apelo também: não é possível ser amigo de Jesus e continuar apoiando um sistema que marginaliza e exclui tanta gente. Denunciando as divisões injustas, Jesus abre o espaço para uma nova convivência, regida pelos novos valores da verdade, da justiça e do amor.
 
* Filho de Abraão. "Hoje, a salvação entrou nesta casa, porque ele também é um filho de Abraão!" Através da descendência de Abraão, todas as nações da terra serão benditas (Gn 12,3; 22,18). Para as comunidades de Lucas, formadas por cristãos tanto de origem judaica como de origem pagã, a afirmação de Jesus chamando Zaqueu de “filho de Abraão”, era muito importante. Nela encontravam a confirmação de que, em Jesus, Deus estava cumprindo as promessas feitas a Abraão, dirigidas a todas as nações, tanto judeus como gentios. Estes são também filhos de Abraão e herdeiros das promessas. Jesus acolhe os que não eram acolhidos. Oferece lugar aos que não tinham lugar. Recebe como irmão e irmã as pessoas que a religião e o governo excluíam e rotulavam como:
*  imorais: prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11),
*  hereges: pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42),
*  impuras: leprosos e possessos (Mt 8,2-4; Lc 17,12-14; Mc 1,25-26),
*  marginalizadas: mulheres, crianças e doentes (Mc 1,32; Mt 8,16;19,13-15; Lc 8,2-3),
*  pelegos: publicanos e soldados (Lc 18,9-14;19,1-10);
*  pobres: o povo da terra e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,20; Mt 11,25-26).
 
Para um confronto pessoal
1. Como nossa comunidade acolhe as pessoas desprezadas e marginalizadas? Somos capazes, como Jesus, de perceber os problemas das pessoas e dar atenção a elas?
2. Como percebemos a salvação entrando hoje na nossa casa e na nossa comunidade? A ternura acolhedora de Jesus provocou uma mudança total na vida de Zaqueu. A ternura acolhedora da nossa comunidade está provocando alguma mudança no bairro? Qual?

sábado, 15 de novembro de 2025

Segunda-feira da 33ª semana do Tempo Comum

Santa Isabel da Hungria, viúva
 
1ª Leitura (1Mac 1,10-15.41-43.54-57.62-64):
Naqueles dias, da descendência de Alexandre da Macedónia, brotou aquela raiz de pecado, Antíoco Epífânio, filho do rei Antíoco, que, depois de ter estado como refém em Roma, começou a reinar no ano cento e trinta e sete do império grego. Nesses dias, apareceram em Israel homens infiéis à Lei, que seduziram muitas pessoas, dizendo: «Vamos fazer uma aliança com os povos que nos rodeiam, pois desde que nos separámos deles sucederam-nos muitas desgraças». Estas palavras agradaram a muita gente e alguns de entre o povo apressaram-se a ir ter com o rei, que lhes deu autorização para seguirem os costumes dos gentios. Construíram um ginásio em Jerusalém, segundo os usos pagãos; disfarçaram os sinais da circuncisão e afastaram-se da santa aliança; coligaram-se com os estrangeiros e tornaram-se escravos do mal. O rei Antíoco ordenou por escrito que em todo o seu reino formassem todos um só povo e cada qual renunciasse aos próprios costumes. Todas as nações aceitaram as ordens do rei e também muitos homens de Israel adoptaram o seu culto, ofereceram sacrifícios aos ídolos e profanaram o sábado. No dia quinze do nono mês do ano cento e quarenta e cinco, o rei mandou construir sobre o altar dos holocaustos a «abominação da desolação» e também nas cidades circunvizinhas de Judá se ergueram altares. Queimaram incenso às portas das casas e nas praças, rasgavam e deitavam ao fogo os livros da Lei que encontravam e todo aquele que tivesse em seu poder o livro da aliança, ou se mostrasse fiel à Lei, era condenado à morte em virtude do decreto real. No entanto, muitos em Israel permaneceram firmes e irredutíveis no seu propósito de não comerem alimentos impuros. Antes quiseram a morte do que mancharem-se com esses alimentos e profanarem a santa aliança; e, de facto, morreram. Foi realmente grande a ira que se abateu sobre Israel.
 
Salmo Responsorial: 118
R. Dai-me a vida, Senhor, e guardarei os vossos mandamentos.
 
Fico indignado à vista dos ímpios, que desertam da vossa lei.
 
Cercaram-me os laços dos ímpios, mas não esqueci a vossa lei.
 
Livrai-me da violência dos homens, para que eu guarde os vossos preceitos.
 
Aproximam-se os meus iníquos perseguidores, que estão longe da vossa lei.
 
Longe dos ímpios está a salvação, porque não observam os vossos preceitos.
 
Ao ver os pecadores, sinto-me triste, porque não guardam a vossa promessa.
 
Aleluia. Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor; quem Me segue terá a luz da vida. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 18,35-43): Naquele tempo, quando Jesus se aproximou de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmola. Ouvindo a multidão passar, perguntou o que estava acontecendo. Disseram-lhe: «Jesus Nazareno está passando». O cego então gritou: «Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!» As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele gritava mais ainda: «Filho de Davi, tem compaixão de mim!» Jesus parou e mandou que lhe trouxessem o cego. Quando ele chegou perto, Jesus perguntou: «Que queres que eu te faça?» O cego respondeu: «Senhor, que eu veja». Jesus disse: «Vê! A tua fé te salvou». No mesmo instante, o cego começou a enxergar de novo e foi seguindo Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo deu glória a Deus».
 
«A tua fé te salvou»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje o cego Bartimeu (cf. Mc 10,46) dá-nos toda uma lição de fé, manifestada com franca simplicidade perante Cristo. Quantas vezes nos seria útil repetir a mesma exclamação de Bartimeu!: «Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!» (Lc 18,37). É tão proveitoso para a nossa alma sentir-nos indigentes! O fato é que o somos, mas, infelizmente, poucas vezes o reconhecemos de verdade. E..., claro está: fazemos o ridículo. São Paulo adverte-nos: «Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido?» (1Cor 4,7).
 
Bartimeu não tem vergonha de se sentir assim. Em não poucas ocasiões, a sociedade, a cultura do politicamente correto querem fazer-nos calar: com Bartimeu não o conseguiram. Ele não se encolheu. Apesar de o «mandarem ficar calado, (...) ele gritava mais ainda: Filho de Davi, tem compaixão de mim!» (Lc 18,39). Que maravilha! Apetece dizer: —Obrigado, Bartimeu, por esse exemplo.
 
E vale a pena fazê-lo como ele, porque Jesus ouve. E ouve sempre!, Por mais confusão que alguns organizem à nossa roda. A confiança simples -sem preconceitos- de Bartimeu desarma Jesus e rouba-lhe o coração: «Mandou que lhe trouxessem o cego e (...) perguntou-lhe: «Que queres que eu te faça?» (Lc 18,40-41). Perante tanta fé, Jesus não anda com rodeios! E Bartimeu também não: «Senhor, que eu veja!». (Lc 18,41). Dito e feito: «Vê! A tua fé te salvou» (Lc 18,42). Assim, pois, —a fé, se é forte, defende toda a casa— (Santo Ambrósio), quer dizer, tudo pode.
 
Ele é tudo; Ele dá-nos tudo. Então, que outra coisa podemos fazer perante Ele, se não lhe dar uma resposta de fé? E esta resposta de fé equivale a deixar-se encontrar por este Deus que —movido pelo afeto de Pai— nos procura sempre. Deus não se impõe, mas passa frequentemente muito perto de nós: aprendamos a lição de Bartimeu e ... Não o deixemos passar ao largo!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Através da oração podemos estar com Deus. A oração é segurança para os navegadores» (S. Gregório de Nisa)
 
«Quando o grito da humanidade, como o de Bartimeu, se repete ainda mais alto, não há outra opção senão tornar nossas as palavras de Jesus e, sobretudo, imitar o seu coração. Hoje é tempo de misericórdia» (Francisco)
 
«A fé faz que saboreemos, como que de antemão, a alegria e a luz da visão beatifica, termo da nossa caminhada nesta Terra. Então veremos Deus face a face´ (1 Cor 13, 12),tal como Ele é´ (1 Jo 3, 2). A fé, portanto, é já o princípio da vida eterna (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 163)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje descreve a chegada de Jesus em Jericó.
É a última parada antes da subida para Jerusalém, onde será realizado o “êxodo” de Jesus conforme tinha sido anunciado na sua Transfiguração (Lc 9,31) e nos avisos ao longo da caminhada até Jerusalém (Lc 9,44; 18,31-33).
 
* Lucas 18,35-37: O cego à beira da estrada “Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo. Disseram-lhe que Jesus Nazareno passava por ali”. No evangelho de Marcos, o cego se chama Bartimeu (Mc 10,46). Por ser cego, ele não podia participar da procissão que acompanhava Jesus. Naquele tempo, havia muitos cegos na Palestina, pois o sol forte que bate na terra pedregosa embranquecida fazia mal aos olhos sem proteção.
 
* Lucas 18,38-39: O grito do cego e a reação do povo “Então o cego gritou: "Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!" Ele invoca Jesus sob o título de “Filho de Davi”. O catecismo daquela época ensinava que o messias seria da descendência de Davi, “filho de Davi”, messias glorioso. Jesus não gostava deste título. Citando o salmo messiânico, ele chegou a perguntar: “Como é que o messias pode ser filho de Davi se até o próprio Davi o chama de “meu Senhor”? (Lc 20,41-44) O grito do cego incomodava o povo que acompanhava Jesus. Por isso, “as pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse quieto. Elas tentavam abafar o grito. Mas ele gritava mais ainda: "Filho de Davi, tem piedade de mim!" Até hoje, o grito dos pobres incomoda a sociedade estabelecida: migrantes, aidéticos, mendigos, refugiados, tantos!
 
* Lucas 18,40-41: A reação de Jesus diante do grito do cego. E Jesus, o que faz? “Parou, e mandou que levassem o cego até ele. Os que queriam abafar o grito incômodo do pobre, agora, a pedido de Jesus, são obrigados a ajudar o pobre a chegar até Jesus. O evangelho de Marcos acrescenta que o cego largou tudo e foi até Jesus. Não tinha muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para cobrir o seu corpo (cf. Ex 22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Também hoje Jesus escuta o grito calado dos pobres que nós, às vezes, não queremos escutar. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: "O que quer que eu faça por você?" Não basta gritar. Tem que saber por que grita!  O cego respondeu: "Senhor, eu quero ver de novo."
 
*  Lucas 18,42-43: “Veja! Sua fé curou você!”. ”Jesus disse: "Veja. A sua fé curou você." No mesmo instante, o cego começou a ver e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo louvou a Deus”. O cego tinha invocado Jesus com ideias não inteiramente corretas, pois o título “Filho de Davi” não era muito bom. Mas ele teve mais fé em Jesus, do que nas suas próprias ideias sobre Jesus. Assinou em branco. Não fez exigências como Pedro (Mc 8,32-33). Soube entregar sua vida aceitando Jesus sem impor condições. A cura é fruto da sua fé em Jesus. Curado, ele segue Jesus e sobe com ele para Jerusalém. Deste modo, tornou-se discípulo modelo para todos nós que queremos “seguir Jesus no caminho” em direção a Jerusalém: acreditar mais em Jesus do que nas nossas ideias sobre Jesus! Nesta decisão de caminhar com Jesus está a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a cruz não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a consequência do compromisso de Jesus, em obediência ao Pai, de servir aos irmãos e de recusar o privilégio.
 
*  A fé é uma força que transforma as pessoas. A Boa Nova do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus. A cura do cego esclarece um aspecto muito importante da nossa fé. Mesmo invocando Jesus com ideias não inteiramente corretas, o cego teve fé e foi curado! Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário! A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galileia até Jerusalém. Quem insiste em manter a ideia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender de Jesus e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Quem souber crer em Jesus e fazer a entrega de si (Lc 9,23-24), aceitar ser o último (Lc 22,26), beber o cálice e carregar sua cruz (Mt 20,22; Mc 10,38), este, como o cego, mesmo tendo ideias não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e “seguirá Jesus no caminho” (Lc 18,43). Nesta certeza de caminhar com Jesus está a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz.
 
Para um confronto pessoal
1) Como vejo e sinto o grito dos pobres: migrantes, negros, aidéticos, mendigos, refugiados, tantos?
2) Como é a minha fé: fixo-me mais nas minhas ideias sobre Jesus ou em Jesus?

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

16 de novembro

Terceiro carmelita, penitente
 

Louis passou quase toda a sua vida em Bolonha onde nasceu em 1433. Até aos 30 anos foi grande jogador e bebedor, muito licencioso - mesmo após o seu casamento - e a sua "liberdade de vida" escandalizava a muitos. Uma doença séria fê-lo pensar e levou-o a converter-se radicalmente. Separou-se da sua mulher, vestiu-se de uma roupa de penitência e começou a percorrer a cidade, praticando rudes austeridades e convidando os seus concidadãos a pensar na morte e no seu encontro eterno com Deus, pregando o arrependimento, a penitência e mortificação. Tornou-se terceiro carmelita, ocupou-se do ensino dos jovens e distribuiu aos pobres tudo o que recebeu em esmolas. Morreu em Bolonha em 9 de novembro de 1485 e foi enterrado na catedral de são Pedro de Bolonha. Martirológio Romano diz: deixando o caminho dos vícios, voltou-se -se para Deus, escolheu uma vida muito dura de penitente e levou os seus concidadãos à piedade com a sua palavra e o seu exemplo. O seu culto começou imediatamente após a sua morte devido à devoção popular de que estava rodeado em Bolonha e foi confirmado em 1842.
 
Oração
Deus de misericórdia, que nos fortaleceis com o exemplo e a proteção dos vossos Santos para avançarmos no caminho da salvação, humildemente Vos pedimos que, celebrando a memória do Beato Luís Morbioli, imitemos a sua vida de contrição e penitência para chegarmos à glória do vosso reino. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

OMITE-SE ESTA MEMÓRIA, NESTE ANO, POR COINCIDIR COM A PÁSCOA SEMANAL.

XXXIII Domingo do Tempo Comum

Beato Luís Morbioli, terceiro carmelita, penitente
Sta. Gertrudes, virgem
Sta. Margarida da Escócia, viúva
 
1ª Leitura (Mal 3,19-20a):
Há de vir o dia do Senhor, ardente como uma fornalha; e serão como a palha todos os soberbos e malfeitores. O dia que há de vir os abrasará – diz o Senhor do Universo – e não lhes deixará raiz nem ramos. Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol de justiça, trazendo nos seus raios a salvação.
 
Salmo Responsorial: 97
R. O Senhor virá governar com justiça.
 
Cantai ao Senhor ao som da cítara, ao som da cítara e da lira; ao som da tuba e da trombeta, aclamai o Senhor, nosso Rei.
 
Ressoe o mar e tudo o que ele encerra, a terra inteira e tudo o que nela habita; aplaudam os rios e as montanhas exultem de alegria.
 
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos com equidade.
 
2ª Leitura (2Tes 3,7-12): Irmãos: Vós sabeis como deveis imitar-nos, pois não vivemos entre vós na ociosidade, nem comemos de graça o pão de ninguém. Trabalhámos dia e noite, com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não é que não tivéssemos esse direito, mas quisemos ser para vós exemplo a imitar. Quando ainda estávamos convosco, já vos dávamos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não deve comer. Ouvimos dizer que alguns de vós vivem na ociosidade, sem fazerem trabalho algum, mas ocupados em futilidades. A esses ordenamos e recomendamos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que trabalhem tranquilamente, para ganharem o pão que comem.
 
Aleluia. Erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 21,5-19): Naquele tempo, algumas pessoas comentavam a respeito do templo, que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas. Jesus disse: «Admirais essas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído». Mas eles perguntaram: «Mestre, quando será, e qual o sinal de que isso está para acontecer?» Ele respondeu: «Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu!, e ainda: O tempo está próximo. Não andeis atrás dessa gente! Quando ouvirdes falar em guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que essas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». E Jesus continuou: «Há de se levantar povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terremotos, fome e pestes em vários lugares; acontecerão coisas pavorosas, e haverá grandes sinais no céu. Antes disso tudo, porém, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e jogados na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. Será uma ocasião para dardes testemunho. Determinai não preparar vossa defesa, porque eu vos darei palavras tão acertadas que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. A alguns de vós matarão. Sereis odiados por todos, por causa de meu nome. Mas nem um só fio de cabelo cairá da vossa cabeça. É pela vossa perseverança que conseguireis salvar a vossa vida!».
 
«Cuidado para não serdes enganados»
 
Rev. D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí, Girona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho fala-nos da última vinda do Filho do homem. Aproxima-se o final do ano litúrgico e a Igreja apresenta-nos a Parusia e, ao mesmo tempo, quer que pensemos nos novíssimos: morte, juízo, inferno ou paraíso. O fim de uma viagem condiciona a sua realização. Se queremos ir para o inferno, podemos comportar-nos de determinada maneira, de acordo com o termo da nossa viagem. Se escolhermos o céu, devemos ser coerentes com a Glória que queremos conquistar. Sempre, livremente. Ninguém vai para o inferno à força; nem para o céu. Deus é justo e dá a cada pessoa o que ganhou, nem mais nem menos. Não castiga nem recompensa arbitrariamente, movido por simpatias ou antipatias. Respeita a nossa liberdade. No entanto, devemos considerar que ao sair deste mundo a liberdade já não poderá escolher. A árvore permanecerá caída do lado em que tombou.
 
«Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus, significa permanecer separado d’Ele para sempre, por nossa própria livre escolha» (Catecismo da Igreja nº 1033).
 
Imaginamos a grandiosidade do espetáculo? Perante homens e mulheres de todas as raças e de todos os tempos, com o nosso corpo ressuscitado e a nossa alma compareceremos diante de Jesus Cristo, que presidirá com grande poder e majestade. Virá julgar-nos na presença de todo o mundo. Se a entrada não fosse gratuita, valeria a pena... Então se conhecerá a verdade de todos os nossos atos interiores e exteriores. Então veremos de quem são os dinheiros, os filhos, os livros, os projetos e demais coisas: «Dias virão em que de tudo isto que estais a contemplar não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído» (Lc 21,6). Dia de alegria e de glória para uns; dia de tristeza e de vergonha para outros. O que não queremos que apareça publicamente, é possível eliminá-lo agora com uma confissão bem-feita. Não se pode improvisar um ato tão solene e comprometedor. Jesus adverte-nos: «Cuidado para não serdes enganados.» (Lc 21,8). Estamos preparados agora?
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Toda fidelidade deve passar pela prova mais exigente: a da duração. É fácil ser consistente durante um dia ou alguns dias. Difícil e importante é ser coerente durante toda a vida inteira» (S. João Paulo II)
 
* «Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas´. Quanta esperança nestas palavras! São um chamamento à esperança e à paciência. O Senhor, mestre da história, leva tudo ao seu cumprimento. Apesar das desordens e desastres que perturbam o mundo, o plano de bondade e misericórdia de Deus será cumprido» (Francisco)
 
* «As virtudes humanas, adquiridas pela educação, por atos deliberados e por uma sempre renovada perseverança no esforço, são purificadas e elevadas pela graça divina. Com a ajuda de Deus, forjam o carácter e facilitam a prática do bem. O homem virtuoso sente-se feliz ao praticá-las» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.810)
 
É pela vossa perseverança que ganhareis as vossas vidas
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.
 
* Estamos em Jerusalém, no átrio do Templo (v. 1; Mt 24,3 e Mc 13,3:
“monte das Oliveiras”) a poucos dias da paixão de Jesus. Tal como em Mt 24-25 e Mc 13, também Jesus conclui a sua pregação em Lucas com um “discurso escatológico” (do gr. éscaton, “último”), ou seja, relativo ao “tempo do fim” (Dn 8,17.19; 11,35; 12,4.9.13), o “tempo da realização” do desígnio de Deus, inaugurado pela paixão, morte e ressurreição de Cristo.
 
* Neste discurso escatológico conjugam-se três momentos da história da salvação: 1) a tomada do Templo e de Jerusalém; 2) o tempo da missão da Igreja e 3) a Vinda do Filho do Homem na glória, “o Dia" (“Dia do Senhor/de Cristo”) em que o tempo dará lugar à plenitude final.
 
 
v. 5. Estando alguns a comentar que o Templo estava ornado com belas pedras e ofertas votivas. (vv. 5-6: Mt 24,1-2; Mc 13,1-2). Restaurado de forma magnífica, por mandato de Herodes I, a partir do ano 19 a.C. e ornado “com ofertas votivas” dos fiéis (cf. 2Ma 2,13; 3Ma 3,17), o templo de Jerusalém – cujas obras foram oficialmente concluídas em 9 d.C., mas só terminaram em 63 d.C. –, encantava pela grandiosidade e beleza das suas construções.
 
v. 6. Jesus disse: «Dias virão em que, destas coisas que estais a contemplar, não ficará pedra sobre pedra que não venha a ser destruída». Aproveitando a conversa de “alguns” (subentende-se: 'dos seus discípulos'), Jesus profetiza a destruição do templo (o que acontecerá no ano 70 d.C.). Para os profetas, Jerusalém é o lugar onde deve irromper a salvação divina (cf. Is 4,5s; 54,12-17; 62; 65,18-25) e para onde hão de convergir as nações que dela quiserem participar (cf. Is 2,2s; 56,6ss; 60,3; 66,20ss). Mas ao rejeitar a oferta de salvação que Deus lhe fez em Jesus (cf. 13,34s), ela deixou de ser o lugar definitivo da salvação, sendo sinal disso a destruição do Templo. Dele assevera Jesus que não ficará “pedra sobre pedra” (19,44). Começa então uma nova etapa da história da salvação, “o tempo da Igreja”, durante o qual ela se deverá estender a toda a terra, levando a Boa-nova da salvação, o Evangelho, a todas as nações (cf. 24,47; At 1,8).
 
v. 7. Interrogaram-no então, dizendo: «Mestre, quando sucederão estas coisas e qual será o sinal de que elas estão para acontecer?» (vv. 7-19: Mt 24,3-14; 10,17-22; Mc 13,3-13). Os discípulos interrogam então Jesus sobre a ocasião em que isso deverá acontecer e sobre “o sinal” divino (vv. 11.25; 2,12.34; cf. Gn 9,17; Ex 3,12; 2Cr 32, 24; Sl 65,9; Sb 8,8; Is 7,14; 11,12; 66,19; Dn 4,37) que lho dará a conhecer.
 
v. 8. Ele disse: «Vede que não vos deixeis enganar. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘sou Eu’; e: ‘o momento está próximo’. Não vades atrás deles.
Jesus responde-lhes com uma exortação profética sobre “o tempo da Igreja” que culminará com a sua “Vinda” (gr. parusía, lat. adventus: 1Ts 3,13; 1Cor 15,23) na glória (v. 27). Como será este tempo e como vivê-lo?
 
Jesus começa por os exortar a não se deixarem “enganar”. O verbo grego aqui utilizado (gr. planáô, “seduzir”, “transviar”) é típico da literatura apocalíptica: tanto alude às seduções messiânicas ou dos falsos profetas (cf. Mt 24,4s.11.24; 2Pe 2,15; Ap 2,20), como às diabólicas, pecaminosas ou políticas (cf. Sr 15,12; Sb 11,15; 14,22; 2Tm 3,13; Ap 12,9; 13,14; 20,3.8.10) e às doutrinais (cf. Sb 5,6; Tg 5,19; 1Jo 2,26; 3,7).
 
Jesus adverte-os, dizendo que surgirão falsos messias – “sou Eu!” – e falsos profetas – “o momento (gr. kaipós, "momento/tempo oportuno") está próximo!” – (cf. At 5,36; 1Jo 2,18; 4,1s; Ap 19,20), que predirão o fim do mundo como estando iminente (cf. Ez 7,7; Sf 1,14; 2Ts 2,2), com discursos sensacionalistas, manipuladores (o que é típico de épocas de crise e de catástrofes), e exorta-os a não se deixarem transviar pelas palavras deles (cf. 1Cor 15,33), nem a andar atrás deles ou segui-los (17, 23; 2Tm 4,3; 2Pd 2,1).
 
v. 9. Quando ouvirdes falar de guerras e de tumultos, não fiqueis aterrorizados: pois é necessário que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim». Feita a advertência, Jesus anuncia o que deverá acontecer neste tempo de espera em que vivemos, “os últimos dias” (Dn 2,28). Não se trata de uma profecia depois dos acontecimentos (prophetia ex post facto), mas de um anúncio profético em que Jesus que recorre a imagens bíblicas apocalípticas (do gr. apokálypsis, “revelação”), muito usadas na época, para falar da queda do mundo velho (o mundo do pecado) e o despontar de uma nova era.
 
* Haverá “guerras e tumultos” (gr. akatastasía: 1Cor 14,33; 2Cor 6,5), ao longo da história e em diversos lugares, como Deus previamente anunciou (gr. deĩ). “Mas não será logo o fim” (gr. tó télos, “a realização”, a plenitude final: Dn 9,26; cf. Dn 12,13 LXX; Mt 28,20). O cerco de Jerusalém poderia levar alguns cristãos a ver aí o prenúncio da última vinda de Jesus. Mas Ele adverte-os que não se devem alarmar com as convulsões da história e as revoluções sociais, pensando que o fim de tudo é com elas que vai chegar.
 
v. 10. Disse-lhes então: «Levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino. Jesus continua, fazendo uma resenha de passagens bíblicas: “Levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino” (Is 19,2; 2 Cr 15,6).
 
v. 11. Haverá grandes terramotos e, por toda a parte, fomes e pestes; haverá fenómenos aterradores e também grandes sinais vindos do céu. Haverá “grandes terramotos” (Ez 38,19.22), “coisas aterradoras” (Is 19,17) e “grandes sinais” (Dn 3,32s; 4,34=4,2s.37 LXX) “vindos do céu” (cf. Is 7,11; Dn 6,28; Br 6,66).
 
* Com esta sequência de citações bíblicas, Jesus não quer dar uma ante prima do fim do mundo, mas ensinar os discípulos a fazer uma leitura profética dos acontecimentos, à luz da Palavra de Deus (12,56; Mt 16,3), de modo a aí eles poderem perceber o desígnio de Deus, a fim de viver neste mundo com esperança, fazendo a vontade do Pai.
 
v. 12. Mas antes de tudo isto, hão de deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às sinagogas e às prisões, levando-vos à presença de reis e de governadores, por causa do meu nome.
 
v. 12: cf. Dn 7,25; 8,24. Em terceiro lugar, Jesus adverte os discípulos das dificuldades e perseguições que assinalarão a caminhada da Igreja desde o início do seu percurso até ao fim dos tempos. Para isso, Lucas usa termos que serão repetidos nos Atos dos Apóstolos: “hão de deitar-vos as mãos”, ou seja, hão de prender-vos (20,19; At 4,3; 5; 12,1; Mt 26,30; Jo 7,30.44); “e perseguir-vos” (11,49; Jo 15,20; At 8,1.3), começando por Israel, “entregando-vos às sinagogas” – nas quais se reunia um pequeno sinédrio de vinte elementos para julgar os casos menores (cf. Mt 5,22; 10,17) –, “e às prisões”, quer de Israel, quer dos gentios (At 5,18; 12,4; 16,23), fazendo-vos comparecer perante “reis e governadores”, para serdes julgados por eles (At 23,24.26.33s; 24.1.10.25s; 26,1-30), não por algum crime que tenhais feito, mas “por causa do meu nome” (v. 16; At 9,16; Jo 15,21; 1Pd 4,14), da vossa fé em mim.
 
v. 13. Isto será para vós ocasião de dar testemunho. A atitude dos discípulos perante as perseguições não deve ser de uma resignação passiva, mas proativa. Em vez de se amedrontar com elas e desanimar perante as adversidades, eles deverão ver aí o apelo de Deus a exercer a missão que Jesus lhes confiou: dar testemunho (gr. martyrion: Mt 8,4) dele e do Evangelho (24,48; At 1,8; 23,11; 26,22; 28,23; 2Tm 4,17).
 
v. 14. Assentai, pois, nos vossos corações: não preparareis a vossa defesa.
v. 14: 12,11s; Mt 10,17-20. Jesus assegura-lhes (9,44) que nunca os deixará sós. Eles não deverão preparar a sua defesa, porque Ele estará sempre com eles, assistindo-os (At 18,9; 2Tm 4,17).
 
v. 15. Porque Eu vos darei uma boca e uma sabedoria a que nenhum dos vossos adversários poderá resistir ou contradizer. Jesus assisti-los-á com a sabedoria (At 6,10) e a força do seu Espírito (Jo 14,26; 15,26s), para poderem enfrentar os adversários, falar em Seu nome (cf. Ef 6,19) e resistir à prisão, à tortura e à morte.
 
v. 16. Sereis entregues até pelos pais, irmãos, parentes e amigos e matarão alguns de entre vós. Nesses tempos difíceis, que são os últimos, até as relações pessoais e as amizades mais sagradas serão violadas (12,52s; Jr 9,4; 12,6; Mq 7,5s), devendo alguns discípulos ser mortos (11,49; At 7,60; 9,24; 12, 2; 26,10s; 1Ts 2,15).
 
v. 17. E sereis odiados por todos por causa do meu nome. Serão “odiados por todos” (6,22; Jo 15, 19; 17,14) “por causa do Seu nome” (v. 12), ou seja, por serem “cristãos” (cf. At 11,26).
 
v. 18. Mas nem um só cabelo da vossa cabeça se perderá. Os seus discípulos não deverão, porém, temer os adversários, porque Deus os guardará e “nem um só cabelo da vossa cabeça se perderá” (cf. 12,7; Dn 3,27).
 
v. 19. É pela vossa perseverança que ganhareis as vossas vidas». E conclui: “É pela vossa perseverança que ganhareis as vossas vidas”. A perseverança (cf. 8,15; Sl 27,13; Rm 2,7; 2Ts 1,4; 3,5; Hb 10, 36; 12,1) é a firmeza, paciência e constância nas dificuldades, sofrimentos e perseguições. Nasce da esperança (cf. Rm 5,3s; 8,25; 15,4; 1Ts 1,3). Quem permanecer fiel até ao fim “ganhará a sua vida” (gr. psyquê, “alma”), pois alcançará a verdadeira vida, a vida eterna, que ninguém lhe poderá arrebatar (cf. Jo 12,24s; Rm 6,8; 2Tm 2,11; Sb 3,1-9).
 
MEDITAÇÃO
1. Tenho medo do fim do mundo? Por quê? Que significa ele para mim? Que ganho ou perco com ele?
2. Que sinais de esperança diviso nos nossos dias, anunciando-me a irrupção do Reino? Que posso eu (que podemos nós) fazer no meu (no nosso) dia a dia para apressar a sua vinda sobre a terra?

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

15 de novembro

 Comemoração de todos os Defuntos da nossa Ordem
 
O amor de Cristo e a comum vocação ao serviço da Virgem Maria, que unem os carmelitas entre si, nesta terra em que peregrinamos, levam-nos a interceder com amor fraterno pelos carmelitas que terminaram a sua peregrinação nesta vida e ainda esperam a gloriosa visão do Senhor. A oração comum da Ordem implora do Senhor a misericórdia para todos os seus membros, para que, por intercessão de Maria, sinal de esperança segura e de consolação, se associem nos Céus à restante família carmelita que já contempla a Deus face a face. Esta comemoração foi introduzida em 1683.
 
Tudo como no dia 2 de novembro, exceto:
 
Oração
Senhor, glória dos fiéis, concedei o descanso eterno aos nossos irmãos e irmãs defuntos, a quem nos une o mesmo Batismo e a mesma vocação no Carmelo, para que, tendo seguido a Cristo e sua Mãe, possam contemplar-Vos para sempre como seu Criador e Redentor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.