quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

12 de dezembro: Nossa Senhora de Guadalupe, Rainha das Américas


1ª Leitura: Gl 4,4-7
- Irmãos, quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá – ó Pai! Assim, já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus.
 
Salmo Responsorial Sl 96,1-2a.2b-3.10 (R: 3a)
R. Manifestai a sua glória entre as nações.
 
– Cantai ao Senhor Deus um canto novo, cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira! Cantai e bendizei seu Santo nome.
 
– Dia após dia anunciai sua salvação, manifestai a sua glória entre as nações, e entre os povos do universo seus prodígios!
 
– Publicai entre as nações: “Reina o Senhor! Ele firmou o universo inabalável, e os povos ele julga com justiça”.
 
Aleluia. Maria alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor é contigo; és bendita entre todas as mulheres da terra! Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,39-48): Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!». Maria então disse: «A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz».
 
«Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Continente Americano celebra solenemente a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, venerada como Rainha do povo americano. Toda a América a celebra como sua Padroeira. Mas ainda há mais: todo o mundo se alegra com esta festa da nossa Mãe. Não foi em vão que o Espírito Santo lhe inspirou estas palavras: «Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada» (Lc 1,48).
 
Todas as gerações e de todo o mundo! Parece exagero? Pois não é. Perguntemo-nos, por exemplo: quantas vezes hoje mesmo repetiremos no mundo inteiro “bendita és tu entre as mulheres”? Milhões e milhões de vezes. Num só dia! E assim todos os dias! Afinal, o Espírito Santo não se enganou!
 
Santa Maria é um caso único: nenhuma outra pessoa é tão recordada como ela em todos os lugares do mundo. É um “caso único”, como o é também o seu Filho Jesus, pois «debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos» (At 4,12).
 
Em relação à Virgem ainda há outro fato impressionante: Ela é venerada em tantas regiões e lugares diferentes do mundo e, por vezes, frequentemente, é representada de acordo com a fisionomia e os traços próprios do lugar. Isto acontece porque Maria é Mãe de todos e, logicamente, cada um, cada povo a representa de acordo com a sua própria imagem. Os filhos parecem-se fisicamente com a sua Mãe! Por isso, no México, a vemos morena e com traços mestiços. E também não foi por acaso que Maria tenha falado a Juan Diego na língua asteca.
 
Mas tratemos de nos parecer a Ela, sobretudo, espiritualmente. A Virgem de Guadalupe reflete nos seus olhos o seu querido filho Juan Diego. A Nossa Mãe observa-nos! Que responsabilidade tão grande temos! - Mãe, quisera que nos teus preciosos olhos só se refletissem coisas boas, como a piedade, humildade e obediência de S. Juan Diego… e as flores que tu própria lhe deste e de que tanto gostas…
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* Hoje, festa de Nossa Senhora de Guadalupe - Padroeira das Américas, o evangelho fala da visita de Maria à sua prima Isabel.
Quando Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades do seu tempo que viviam espalhadas pelas cidades do império romano e lhes oferece em Maria o modelo de como devem relacionar-se com a Palavra de Deus. Certa vez, ao ouvir Jesus falar de Deus, uma mulher do povo exclamou: "Feliz o seio que te carregou, e os seios que te amamentaram". Elogiou a mãe de Jesus. Imediatamente, Jesus respondeu: "Mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11,27-28). Maria é o modelo da comunidade fiel que sabe ouvir e praticar a Palavra de Deus. Descrevendo a visita de Maria a Isabel, ele ensina como as comunidades devem fazer para transformar a visita de Deus em serviço aos irmãos e às irmãs.
 
* O episódio da visita de Maria a Isabel mostra ainda um outro aspecto bem próprio de Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o cântico de Maria, formam uma grande celebração de louvor. Parece a descrição de uma solene liturgia. Assim, Lucas evoca o ambiente litúrgico e celebrativo, em que Jesus foi formado e em que as comunidades devem viver a sua fé.
 
* Lucas 1,39-40: Maria sai para visitar Isabel. Lucas acentua a prontidão de Maria em atender às exigências da Palavra de Deus. O anjo lhe falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta para verificar o que o anjo lhe tinha anunciado, e sai de casa para ir ajudar a uma pessoa necessitada. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de 100 quilômetros! Não havia ônibus nem trem.
 
* Lucas 1,41-44: Saudação de Isabel. Isabel representa o Antigo Testamento que termina. Maria, o Novo que começa. O Antigo Testamento acolhe o Novo com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar toda a expectativa do povo. No encontro das duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz a criança estremecer de alegria no seio de Isabel. A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: é nisto que Lucas quer que as comunidades (e nós todos) percebamos e descubramos a presença do Reino. As palavras de Isabel, até hoje, fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado da América Latina, que é a Ave Maria.
 
* Lucas 1,45: O elogio que Isabel fez a Maria. "Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer". É o recado de Lucas às Comunidades: crer na Palavra de Deus, pois ela tem força para realizar aquilo que ela nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, no seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com fé.
 
* Lucas 1,46-56: O cântico de Maria. Muito provavelmente, este cântico já era conhecido e cantado nas Comunidades. Ele ensina como se deve rezar e cantar. Lucas 1,46-50: Maria começa proclamando a mudança que aconteceu na sua própria vida sob o olhar amoroso de Deus, cheio de misericórdia. Por isso, ela canta feliz: "Exulto de alegria em Deus, meu Salvador".  Lucas 1,51-53: Em seguida, canta a fidelidade de Deus para com seu povo e proclama a mudança que o braço de Javé estava realizando a favor dos pobres e famintos. A expressão "braço de Deus" lembra a libertação do Êxodo. É esta força salvadora de Deus que faz acontecer a mudança: dispersa os orgulhosos (1,51), destrona os poderosos e eleva os humildes (1,52), manda os ricos embora sem nada e aos famintos enche de bens (1,53).  Lucas 1,54-55: No fim, ela lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e expressão da sua fidelidade às promessas feitas à Abraão. A Boa Nova veio não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às promessas. É o que Paulo ensinava nas cartas aos Gálatas e aos Romanos.
 
* O segundo livro de Samuel conta a história da Arca da Aliança. Davi quis colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse. "Como virá a Arca de Javé para ficar na minha casa?" (2 Sam 6,9) Davi mandou que a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. "E a Arca de Javé ficou três meses na casa de Obed-Edom, e Javé abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família" (2 Sam 6,11). Maria, grávida de Jesus, é como a Arca da Aliança que, no Antigo Testamento, visitava as casas das pessoas trazendo benefícios. Ela vai para a casa de Isabel e fica lá três meses. E enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a sua família é abençoada por Deus. A comunidade deve ser como a Nova Arca da Aliança. Visitando a casa das pessoas, deve trazer benefícios e graça de Deus para o povo.
 
Para um confronto pessoal
1) O que nos impede de descobrir e de viver a alegria da presença de Deus em nossa vida?
2) Onde e como a alegria da presença de Deus está acontecendo hoje na minha vida e na vida da comunidade?

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Quinta-feira da 2ª semana do Advento

Sta. Maria Maravilhas de Jesus, virgem de nossa Ordem
Bto. Franco Líppi, de Siena, eremita da nossa Ordem
 
1ª Leitura (Is 41,13-20):
«Sou Eu, o Senhor, teu Deus, que te seguro pela mão direita e te digo: ‘Não temas, Eu venho em teu auxílio’. Não temas, pobre verme de Jacob, bichinho de Israel. Eu venho socorrer-te – oráculo do Senhor –, o teu redentor é o Santo de Israel. Eu te converterei em trilho aguçado, novo e bem cortante; calcarás e triturarás os montes e transformarás em palha as colinas. Hás de joeirá-los e o vento os levará, o vendaval os dispersará. Mas tu exultarás no Senhor e te gloriarás no Santo de Israel. Os infelizes e os pobres buscam água e não a encontram e a sua língua está ressequida pela sede. Eu, o Senhor, os atenderei, Eu, o Deus de Israel, não os abandonarei. Farei brotar rios nos montes escalvados e fontes por entre os vales. Transformarei o deserto em lago e a terra seca em nascentes de água. No deserto farei crescer o cedro, a acácia, a murta e a oliveira; na estepe plantarei o cipreste, o olmo e o pinheiro, para que todos vejam e saibam, considerem e compreendam que a mão do Senhor fez estas coisas, que o Santo de Israel as realizou».
 
Salmo Responsorial: 144
R. O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade.
 
Quero exaltar-Vos, meu Deus e meu Rei, e bendizer o vosso nome para sempre. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
 
Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos;
 
Para darem a conhecer aos homens o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino. O vosso reino é um reino eterno, o vosso domínio estende-se por todas as gerações.
 
Aleluia. Desça o orvalho do alto dos céus e as nuvens chovam o justo; abra-se a terra e germine o Salvador. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 11,11-15): Naquele tempo, Jesus disse: «Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. A partir dos dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos procuram arrebatá-lo. Pois até João foi o tempo das profecias — de todos os Profetas e da Lei. E, se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir. Quem tem ouvidos, ouça».
 
«O Reino dos Céus sofre violência, e violentos procuram arrebatá-lo»
 
Rev. D. Ignasi FABREGAT i Torrents (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos fala de São João Batista, o Precursor do Messias, aquele que veio preparar os caminhos do Senhor. Também a nós, ele nos acompanhará desde hoje até o dia dezesseis, dia que acaba a primeira parte do Advento.
 
João é um homem firme, que sabe o quanto as coisas custam, é consciente de que há de se lutar para melhorar e ser santo, e por isso Jesus exclama: «A partir dos dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos procuram arrebatá-lo» (Mt 11,12). Os “violentos” são os que se fazem a si mesmos a violência: —Eu me esforço para crer que o Senhor me ama? Eu me sacrifico para ser “pequeno”? Eu me esforço para ser consciente e viver como um filho do Pai?
 
Santa Teresinha de Lisieux se refere também a estas palavras de Jesus dizendo algo que pode nos ajudar na nossa conversa pessoal e intima com Jesus: «Ó pobreza, meu primeiro sacrifício, até a morte por toda à parte me seguirás, pois eu sei que para correr no estádio, o atleta tem de despojar-se de tudo. Provai, mundanos, o remorso e a pena, esses frutos amargos da vossa vaidade; alegremente, eu acolho na arena, as palmas da Pobreza». —E eu, por que reclamo quando me dou conta de que me falta alguma coisa que considero necessária? Tomara que eu veja, nos diversos aspectos da minha vida, tão claramente como a Doutora!
 
De uma forma enigmática Jesus nos diz hoje também: «João (...) é o Elias (...). Quem tem ouvidos, ouça» (Mt 11,14-15). O que quer dizer? Quer nos aclarar que João era verdadeiramente o precursor, quem finalizou a mesma missão do Elias, conforme a crença que existia naquele então, de que o profeta Elias teria que voltar antes do Messias.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Moises foi um grande legislador e admiráveis foram igualmente, todos os profetas mas, não o foram mais que João. Não sou eu quem se atreve a comparar profeta com profeta, mas sim aquele que é seu e nosso Senhor» (São Cirilo de Jerusalém)
 
«Sempre me impressionou o encontro do Senhor com Elias. O Senhor não estava no granizo, nem na chuva, nem na tormenta... O Senhor estava numa brisa suave. Esta é a música da linguajem do Senhor. Preparando-nos para o Natal, temos que a ouvir» (Francisco)
 
«São João Baptista (...) precedendo a Jesus «com o espírito e o poder de Elias» (Lc 1, 17), dá testemunho d'Ele pela sua pregação, pelo seu batismo de conversão e, finalmente, pelo seu martírio» (Catecismo da Igreja Católica, nº523)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* No evangelho de hoje, Jesus dá uma opinião sobre João Batista.
Comparado com as pessoas do Antigo Testamento, não há ninguém maior que João. João é o maior de todos: maior que Jeremias, maior que Abraão, maior que Isaías! Mas comparado com o Novo Testamento, João é inferior a todos. O menor no Reino é maior que João. Como entender esta qualificação aparentemente contraditória que Jesus fez de João?
 
* Pouco antes, João tinha mandado perguntar a Jesus: “É o senhor, ou devemos esperar por outro?” (Mt 11,3). João parecia ter dúvidas a respeito a Jesus. Pois Jesus não correspondia à ideia de que ele, João, se fazia do messias. João imaginava o messias como um juiz severo que devia vir realizar o julgamento da condenação e da chegada da ira (Mt 3,7). Devia cortar as árvores pela raiz (Mt 3, 10), limpar a área e jogar a palha seca no fogo (Mt 3,12). Mas Jesus, em vez de ser um juiz severo, era amigo de todos, “manso e humilde de coração” (Mt 11,29), que acolhia os pecadores e comia com eles (Mc 2,16).
 
* Jesus respondeu a João citando o profeta Isaias: “Vão contar para João o que estão vendo e ouvindo: cegos veem, coxos andam, leprosos são limpos, surdos ouvem, mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a Boa Nova. E feliz quem não se escandalizar comigo!” (Mt 11,5-6; cf. Is 33,5-6;29,18). Resposta dura. Jesus manda João analisar melhor as Escrituras para ele poder mudar a visão errada que tinha do messias.
 
* João foi grande! O maior de todos! Mas o menorzinho no Reino dos céus é maior que João! João é o maior, porque ele era o último elo do AT. Foi João que, pela sua fidelidade, pôde, finalmente, apontar o messias para o povo: “Eis o cordeiro de Deus!” (Jo 1,36), e a longa história desde Abraão alcançou o seu objetivo. Mas João por si mesmo não foi capaz de entender todo o alcance da presença do Reino de Deus em Jesus. Ele estava na dúvida: “É o senhor ou devemos esperar por outro?” A história antiga, ela sozinha, não comunica luz suficiente para a pessoa poder entender toda a novidade da Boa Notícia de Deus que Jesus nos trouxe. O Novo não cabe no Antigo. Santo Agostinho dizia: “Novum in Vetere latet, Vetus in Novo patet”. Traduzido significa: “O Novo já está escondido no Antigo. Mas o Antigo só revela seu sentido pleno é no Novo”. Quem está com Jesus e convive com ele recebe dele uma luz que lhe dá olhos novos para descobrir um significado mais profundo no Antigo. E qual é esta novidade?
 
* Jesus oferece uma chave: “A lei e os profetas anunciaram o Reino até João. E se quiserem saber João é Elias que deve vir!” Jesus não explica, mas dá a dica: “Quem tem ouvidos ouça” Elias devia vir para preparar a vinda do Messias e refazer a comunidade: “Reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais” (Mal 3,24). João anunciou o Messias e tentou refazer a comunidade (Lc 1,17). Mas o mistério mais profundo da vida em comunidade, lhe escapava. Foi só Jesus que o comunicou anunciando que Deus é Pai e, portanto, somos todos irmãos e irmãs. Este anúncio traz uma força nova que nos torna capazes de superar as divergências e criar comunidade.
 
* São estes os violentos que conseguem conquistar o Reino. O Reino não é uma doutrina, mas é um novo modo de conviver como irmãos e irmãs a partir do anúncio que Jesus fez de que Deus é Pai de todos.
 
Para um confronto pessoal
1. O Reino é dos violentos, isto é, é dos que, como Jesus, têm a coragem de criar comunidade. Você tem?
2. Jesus ajudou João a entender melhor os fatos por meio da Bíblia. A Bíblia me ajuda a entender melhor os fatos da minha vida?

11 de dezembro

 Beato Franco de Siena
Leigo eremita de nossa Ordem
 

Nasceu em Grotti (Sena, Itália), provavelmente no séc. XIII. Reconhecido pelas suas ásperas penitências, foi converso carmelitano. Sepultado em Sena, seu culto difundiu-se no séc. XVII, depois de aprovado pelo Papa Clemente X em 1670, na diocese e também na Ordem do Carmelo. Entre os conversos religiosos da Ordem no passado a devoção do B. Franco ocupou um lugar privilegiado e por isso foi por eles escolhido como protetor. Em sua honra também foram dedicados altares e nasceram confrarias, especialmente as espanholas do séc. XVII.
 
Oração
Deus eterno e todo-poderoso, concedei-nos, por intercessão do Beato Franco, a graça de nos considerarmos peregrinos neste mundo e caminhando ao vosso encontro com espírito de penitência, nos reconheçamos necessitados de vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 

11 de dezembro

 Santa Maria Maravilhas de Jesus
Virgem de nossa Ordem
       
Maria de las Maravillas de Jesus Pidal y Chico de Guzmán nasceu em Madrid no ano 1891. Entrou nas Carmelitas Descalças de El Escorial, Madrid (Espanha) no dia 12 de outubro de 1919. Em 1924, movida por uma inspiração divina, fundou um Carmelo no “Cerro de los Ángeles” (o centro geográfico de Espanha), junto ao monumento do Coração de Jesus. A esta fundação seguiram-se outras nove na sua pátria e uma na Índia. Concedeu sempre a primazia à oração e à imolação. Tinha verdadeira paixão e zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas. A partir da clausura, e vivendo uma vida pobre, socorreu os necessitados, fomentando iniciativas apostólicas e obras sociais e caritativas. Ajudou de modo particular a sua Ordem, os sacerdotes e diversas congregações religiosas. Morreu com 83 anos no mosteiro de La Aldehuela (Madrid) no dia 11 de dezembro de 1974. Foi beatificada a 10 de maio de 1998 e canonizada no dia 4 de maio de 2003 por João Paulo II.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Senhor, nosso Deus, que atraístes Santa Maria Maravilhas de Jesus aos segredos do Coração do vosso Filho, concedei-nos, pelo seu exemplo e intercessão, que, experimentando as delícias do vosso amor, trabalhemos pela salvação das almas Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Quarta-feira da 2ª semana do Advento

Virgem Santa Maria de Loreto.
Sta. Joana Francisca de Chantal, viúva e religiosa.
 
1ª Leitura (Is 40,25-31):
«A quem Me comparareis que seja semelhante a Mim? – diz o Deus Santo – Erguei os olhos para o alto e olhai. Quem criou estas estrelas? Aquele que as conta e as faz marchar como um exército e as chama a todas pelos seus nomes. Tal é a sua força e tão grande é o seu poder, que nenhuma falta à chamada. Jacob, porque dizes; Israel, porque afirmas: ‘O meu destino está oculto ao Senhor e a minha causa passa despercebida ao meu Deus’? Não o sabes, não o ouvistes dizer? O Senhor é um Deus eterno, criador da terra até aos seus confins. Ele não Se cansa nem Se fatiga e a sua inteligência é insondável. Dá força ao que anda exausto e vigor ao que anda enfraquecido. Os jovens cansam-se e fatigam-se e os adultos tropeçam e vacilam. Mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, formam asas como as águias. Correm sem se fatigarem, caminham sem se cansarem».
 
Salmo Responsorial: 102
R. Ó minha alma, louva o Senhor.
 
Bendiz, ó minha alma, o Senhor e todo o meu ser bendiga o seu nome santo. Bendiz, ó minha alma, o Senhor e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
 
Ele perdoa todos os teus pecados e cura as tuas enfermidades; salva da morte a tua vida e coroa-te de graça e misericórdia.
 
O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade; não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas.
 
Aleluia. O Senhor vem salvar o seu povo; felizes os que estão preparados para ir ao seu encontro. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 11,28-30): Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: «Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve».
 
«Meu jugo é suave e o meu fardo é leve»
 
P. Jacques PHILIPPE (Cordes sur Ciel, França)
 
Hoje; Jesus leva-nos a repousar em Deus. Ele, certamente, é um Pai exigente, porque nos ama e nos convida a dar-lhe tudo, não é um verdugo. Quando nos exige alguma coisa é para nos fazer crescer no seu amor. O único mandamento é o de amar. Pode-se sofrer por amor, mas também nos podemos alegrar e descansar por amor...
 
A docilidade de Deus libera e enaltece o coração. Por isso Jesus, convida-nos a renunciar a nós mesmos para tomarmos a nossa cruz e segui-lo, diz-nos: «O meu jugo é suave e o meu fardo é leve» (Mt 11,30). Mesmo que por vezes nos custe obedecer à vontade de Deus, cumpri-la com amor acaba por nos encher de gozo: «Dirige-me na senda dos teus mandamentos, porque nela está minha alegria» (Sal 119,35).
 
Gostava de vos contar uma coisa. Por vezes, quando depois de um dia bastante esgotante, me vou deitar, percebo uma ligeira sensação dentro de mim que me diz: —Não entrarias um momento na capela para me fazeres companhia? Após uns instantes de desconcerto e resistência, termino por consentir e passar uns momentos com Jesus. Depois vou dormir em paz e tão contente, no dia seguinte não acordo mais cansado que de costume.
 
Não obstante, por vezes sucede-me o contrário. Perante um problema grave que me preocupa, penso: —Esta noite, durante uma hora, na capela, rezarei para que se resolva. E ao dirigir-me para a dita capela, uma voz diz-me no fundo do meu coração: —Sabes? Conformava-me mais que te fosses deitar imediatamente e confiasses em mim; eu ocupo-me do teu problema. E recordando a minha feliz condição de “servidor inútil”, vou dormir em paz, abandonando tudo nas mãos do Senhor...
 
Com tudo isto quero dizer que a vontade de Deus está onde existe o máximo amor mas não forçosamente onde está o máximo sofrimento... Há mais amor em descansar, graças à confiança do que em nos angustiarmos pela inquietude!
 
«Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso»
 
Rev. D. Jaume GONZÁLEZ i Padrós (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, acaba o ciclo de leituras semanais que tem como protagonista o profeta Isaías. Ele nos faz ver que a atualidade da vinda do Messias foi anunciada profeticamente.
 
Esperar o regresso do Senhor, seu “adventus”, exige do crente um claro propósito de não desfalecer, aconteça o que acontecer até então. Porque não podemos ignorar que a espera nem sempre resulta ligeira, e se pode chegar a pensar que, de fato, considerando a própria fraqueza, não se alcançará a perseverança de uma vida cristã com tenacidade. A tentação do desânimo está sempre perto dos que somos fracos por natureza.
 
Também pode nos trair o esquecimento de que o Reino vai abrindo passagem, sobretudo pela vontade de Deus, apesar das resistências dos que não temos uma “determinação determinada”, suficientemente decidida, para buscá-lo acima de tudo e com absoluta prioridade. Muitas vezes nos lamentamos do nosso cansaço: refletimos um pouco e damo-nos conta dos poucos resultados obtidos e, sem o poder evitar, sai-nos da alma uma queixa dirigida ao Senhor, mais ou menos explicita, perguntando-lhe como é que não nos ajudou o suficiente, como é possível que não tenha reparado no trabalho que realizamos. Aqui está nosso pecado! Convertemos Deus em nosso ajudante, ao invés de compreender que a iniciativa é sempre dele e que é dele o esforço principal.
 
Isaías, nesta perspectiva escatológica que marca as primeiras semanas do Advento, nos lembra quanto é grande e irresistível o poder do Senhor.
 
Em Jesus Cristo vemos cumprirem-se estas palavras do Profeta. «Vinde a mim (...) e encontrareis descanso» (Mt 11,28). No Senhor, no seu coração amoroso, todos encontramos o descanso necessário e a força para não desfalecer e, assim, poder esperá-lo com uma renovada caridade, enquanto nossa alma não cessa de O bendizer e nossa memória não esquece seus favores.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Tão leve é a carga de Cristo, que não só não oprime, senão que alivia. Convém que leves esta carga para sentir-te aligeirado; se a tiras de cima de ti, encontrar-te-ás oprimido» (São Agostinho)
 
«Quando Deus põe o seu braço sobre o nosso ombro, como “seu jugo suave”, não se trata de um peso que nos faz sentir carregados, senão do gesto de aceitação cheio de amor. o “jugo” de este braço não é um peso, mas é a prenda do amor que nos sustém e nos converte em filhos» (Bento XVI)
 
«O Verbo fez-Se carne, para ser o nosso modelo de santidade: ‘Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim [...]’ (Mt 11,29)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 459)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Certos textos dos Evangelhos só revelam todo o seu sentido quando colocados diante do pano de fundo do Antigo Testamento.
Assim é este texto tão breve e tão bonito do evangelho de hoje. Nele ressoam dois temas muito amados e lembrados do Antigo Testamento, um de Isaías e outro dos livros chamados sapienciais.
 
* Isaías fala do Messias-Servo e o apresenta como um discípulo que está sempre em busca de uma palavra de conforto para poder animar os desanimados: “O Senhor me concedeu o dom de falar como seu discípulo, para eu saber dizer uma palavra de conforto a quem está desanimado. Cada manhã, ele me desperta, para que eu o escute, de ouvidos abertos, como o fazem os discípulos”. (Is 50,4) E o Messias servo faz um convite: “Vocês que estão com sede, venham buscar água. Venham também os que não têm dinheiro: comprem e comam sem dinheiro e bebam vinho e leite sem pagar” (Is 55,1). Estes textos povoavam a memória do povo. Eram como os cânticos da nossa infância. Quando a gente os escuta dá uma nostalgia, uma saudade! Assim, a palavra de Jesus: “Venham a mim!” despertava a memória e trazia para perto o eco longínquo daqueles textos bonitos de Isaías.
 
* Os livros sapienciais apresentam a sabedoria divina sob a figura de uma mulher, uma mãe, que transmite aos filhos a sua sabedoria e lhes diz: "Comprem a sabedoria sem dinheiro. Coloquem o pescoço debaixo do seu jugo e acolham a sua instrução. A sabedoria está próxima, e pode ser encontrada. Vejam com seus próprios olhos como trabalhei pouco, e acabei encontrando profundo repouso”.(Eclo 51,25-27). Jesus repete quase a mesma frase: “Vocês encontrarão repouso!”
 
* Por esta sua maneira de falar ao povo, Jesus despertava a memória do povo e fazia com que o coração se alegrasse e dissesse: “Chegou o messias que tanto esperamos!” Jesus transformava a saudade em esperança. Fazia o povo dar um passo. Em vez de agarrar-se à imagem de um messias glorioso, rei e dominador, ensinadas pelos escribas, o povo mudava de visão e aceitava Jesus como o messias servidor. Messias humilde e manso, acolhedor e cheio de ternura, que fazia os pobres se sentirem em casa junto de Jesus.
 
Para um confronto pessoal
1. A lei de Deus é para mim um jugo leve que me anima, ou é um peso que me cansa?
2. Já senti alguma vez a alegria e a leveza do jugo da lei de Deus que Jesus nos revelou?

domingo, 7 de dezembro de 2025

Terça-feira da 2ª semana do Advento

São João Diogo Cuauhtlatoatzin, leigo
 
1ª Leitura (Is 40,1-11):
Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa, porque recebeu da mão do Senhor duplo castigo por todos os seus pecados. Uma voz clama: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senhor e todo o homem verá a sua magnificência, porque a boca do Senhor falou». Uma voz dizia: «Clama». E eu respondi: «Que hei de clamar?» – «Todo o ser humano é como a erva, toda a sua glória é como a flor do campo. A erva seca e as flores murcham, quando o vento do Senhor sopra sobre elas. A erva seca e as flores murcham, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente» –. Sobe ao alto dum monte, arauto de Sião; grita com voz forte, arauto de Jerusalém; levanta sem temor a tua voz e diz às cidades de Judá: «Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará. Com Ele vem o seu prémio, precede-O a sua recompensa. Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».
 
Salmo Responsorial: 95
R. O nosso Deus virá com poder e majestade.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome, anunciai dia a dia a sua salvação.
 
Publicai entre as nações a sua glória, em todos os povos as suas maravilhas. Dizei entre as nações: O Senhor é Rei. Governa os povos com equidade.
 
Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores dos bosques.
 
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra: julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade.
 
Aleluia. Está próximo o dia do Senhor; Ele vem salvar-nos. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 18,12-14): Naquele tempo, Jesus disse aos discípulos: «Que vos parece? Se alguém tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará as noventa e nove nos morros, para ir à procura daquela que se perdeu? E se ele a encontrar, em verdade vos digo, terá mais alegria por esta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequenos».
 
«O Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequenos»
 
Fr. Damien LIN Yuanheng (Singapore, Singapura)
 
Hoje, Jesus nos lança um desafio: «´´O que você acha”? (Mt 18,12); que tipo de misericórdia você pratica? Talvez nós, “católicos praticantes”, tendo muitas vezes gostado da misericórdia de Deus em seus sacramentos, estamos tentados a pensar que já estamos justificados diante dos olhos de Deus. Corremos o perigo de converter-nos inconscientemente no fariseu que menospreza ao publicano (cf. Lc 18,9-14). Mesmo que não o digamos em voz alta, talvez pensemos que estamos livres de culpa ante Deus. Alguns sintomas de que este orgulho farisaico cria raízes em nós podem ser a impaciência ante os defeitos dos demais, ou pensar que as advertências nunca vão para nós.
 
O “desobediente” profeta Jonas, um judeu, se manteve inflexível quando Deus mostrou pena pelos habitantes de Nínive. Javé rejeitou a intolerância de Jonas (cf. Jon 4,10-11). Aquela olhada humana punha limites à misericórdia. Por acaso também nós pomos limites à misericórdia de Deus? Devemos prestar atenção à lição de Jesus: «Seja misericordioso como vosso Pai é misericordioso» (Lc 6,36). Com toda probabilidade, ainda nos falta um longo caminho por percorrer para imitar a misericórdia de Deus!
 
Como deveríamos entender a misericórdia de nosso Pai celestial? O Papa Francisco disse que «Deus não perdoa mediante um decreto, e sim com um abraço». O abraço de Deus para com cada um de nós se chama “Jesus Cristo”. Cristo manifesta a misericórdia paternal de Deus. No capítulo quarto do Evangelho de São João, Cristo não ventila os pecados da mulher samaritana. Em lugar de disso, a divina misericórdia cura à Samaritana ajudando-a a afrontar plenamente a realidade de seu pecado. A misericórdia de Deus é totalmente coerente com a verdade. A misericórdia não é uma desculpa para rebaixar-se moralmente. No entanto, Jesus devia ter provocado seu arrependimento com muito mais ternura do que a mulher sentiu mulher adúltera “ferida pelo amor” (cf. Jn 8,3-11). Nós também devemos aprender como ajudar aos demais a encarar seus erros sem envergonhá-los, com grande respeito para com eles como irmãos em Cristo, e com ternura. No nosso caso, também com humildade, sabendo que nós mesmos somos “vasilhas de barro”.
 
«O Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequenos»
 
Rev. D. Joaquim MONRÓS i Guitart (Tarragona, Espanha)
 
Hoje, Jesus faz-nos saber que Deus quer que todos os homens se salvem e que não deseja «que se perca nenhum desses pequenos» (Mt 18,4). Junto à parábola do pastor que procura a ovelha perdida, nos apresenta uma personagem que comoveu os primeiros cristãos. Na capa do Catecismo da Igreja Católica está gravada esta figura de Jesus Bom Pastor, que já nas catacumbas de Roma está presente entre as primeiras imagens do Senhor.
 
É tão forte a vontade do Senhor de salvar-nos, que desde essas palavras até sua entrega incondicional na Cruz, é Cristo quem nos procura a cada um para que —livremente— voltemos à amizade com Ele.
 
Do mesmo jeito que Jesus, os cristãos devemos ter esse mesmo sentimento: que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade! Como dizia São Josemaria Escrivá, «todos somos ovelha e pastor». Há algumas pessoas —o próprio esposo ou a esposa, os filhos, os parentes, os amigos, etc.— para os quais nós talvez sejamos a única oportunidade para poderem recuperar a alegria da fé e da vida da graça.
 
Sempre podemos deixar noventa e nove por cento das coisas que estamos fazendo, para rezar e ajudar as pessoas que temos perto de nós, que amamos e que sabemos que padecem de alguma necessidade em sua alma.
 
Com a nossa oração e mortificação, e nossa fé amorosa, podemos dar-lhes a graça da conversão, como Santa Mônica conseguiu que seu filho Agostinho, se convertesse no “primeiro homem moderno” que sabe explicar em “Confissões” como a graça atuou nele até chegar à santidade.
 
Peçamos à Mãe do Bom Pastor muitas alegrias de conversões.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Onde você pasta, Pastor bom, tu que cargas sobre teus ombros o rebanho todo? Me mostra o lugar de repouso, me guia até o pasto nutritivo, chamamé por meu nome para que eu, ovelha tua, escute tua voz» (Santo Gregório de Nisa)
 
«Uma pessoa é consolada quando sente a misericórdia e o perdão do Senhor. A alegria da Igreja é “dar a Luz”, sair de si mesma para dar vida, ir a buscar às ovelhas que estão extraviadas» (Francisco)
 
« Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote cumpre o ministério do bom pastor, que busca a ovelha perdida; do bom samaritano, que cura as feridas; do Pai, que espera o filho pródigo e o acolhe ao voltar; do justo juiz, que não faz acepção de pessoa e cujo julgamento é, ao mesmo tempo, justo e misericordioso. Em suma, o sacerdote é o sinal e o instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador» (Catecismo da Igreja Católica, n° 1465)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Uma parábola não é um ensinamento a ser recebido passivamente e a ser decorado de memória, mas é um convite para participar na descoberta da verdade.
Jesus começa perguntando: “O que vocês acham?” Uma parábola é uma pergunta com resposta não definida. A resposta vai depender da nossa reação e participação como ouvintes. Então, vamos buscar a resposta desta parábola da ovelha perdida.
 
* Jesus conta uma história muito breve e muito simples: um pastor tem 100 ovelhas, perde uma, deixa as 99 nas montanhas e vai em busca da ovelha perdida. E Jesus pergunta: “O que vocês acham?” Ou seja: “Vocês fariam o mesmo?” Qual terá sido a resposta dos pastores e das outras pessoas que ouviram Jesus contar esta história? Fariam a mesma coisa? Qual a minha resposta à pergunta de Jesus? Pense bem antes de responder.
 
* Se você tivesse 100 ovelhas e perdesse uma, o que faria? Não esqueça de que as montanhas são lugares de difícil acesso, cheios precipícios, onde rondam animais perigosos e onde ladrões e assaltantes se escondem. E lembre-se que você perdeu apenas uma única ovelha. Você continua na posse de 99 ovelhas. Perdeu pouco! Você iria abandonar as 99 naquelas montanhas? Será que uma pessoa com um pouco de bom senso faria o que fez o pastor da parábola de Jesus? Pense bem!
 
* Os pastores que escutaram a história de Jesus, devem ter pensado e comentado: “Só um pastor sem juízo age desse jeito!” Eles devem ter perguntado a Jesus: “Jesus, desculpe, mas quem é esse pastor de que o senhor está falando? Fazer o que ele fez é uma loucura total!”
 
* Jesus responde: “Esse pastor é Deus, nosso Pai, e a ovelha perdida é você!” Com outras palavras, esta loucura, quem a comete é Deus por causa do seu grande amor para com os pequenos, os pobres, os excluídos! Só mesmo um amor muito grande é capaz de cometer uma loucura assim. O amor com que Deus nos ama é maior que a prudência e o bom senso humano. O amor de Deus comete loucuras. Graças a Deus! Senão fosse assim, estaríamos perdidos!.
 
Para um confronto pessoal
1. Coloque-se na pele da ovelha perdida e anime a sua fé e sua esperança. Você é essa ovelha!
2. Coloque-se na pele do pastor e verifique se o seu amor para com os pequenos é verdadeiro.

8 de dezembro: Imaculada Conceição da Virgem Maria

1ª Leitura (Gen 3,9-15.20):
Leitura do Livro do Génesis Depois de Adão ter comido da árvore, o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?». Ele respondeu: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me». Disse Deus: «Quem te deu a conhecer que estavas nu? Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?». Adão respondeu: «A mulher que me destes por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi». O Senhor Deus perguntou à mulher: «Que fizeste?» E a mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi». Disse então o Senhor Deus à serpente: «Por teres feito semelhante coisa, maldita sejas entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Hás de rastejar e comer do pó da terra todos os dias da tua vida. Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta te esmagará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar». O homem deu à mulher o nome de ‘Eva’, porque ela foi a mãe de todos os viventes.
 
Salmo Responsorial: 97
R. Cantai ao Senhor um cântico novo: o Senhor fez maravilhas.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo, pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.
 
O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel.
 
Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai.
 
2ª Leitura (Ef 1,3-6.11-12): Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios: Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade, a fim de sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo, para louvor da sua glória e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho. Em Cristo fomos constituídos herdeiros, por termos sido predestinados, segundo os desígnios d’Aquele que tudo realiza conforme a decisão da sua vontade, para sermos um hino de louvor da sua glória, nós que desde o começo esperámos em Cristo.
 
Aleluia. Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: «Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse: «Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao anjo: «Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?». O anjo respondeu: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível». Maria disse: «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo retirou-se».
 
«Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo»
 
Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho toca um acorde de três notas. Três notas, nem sempre bem afinadas na nossa sociedade: a do fazer, a da amizade e a da coerência de vida. Hoje em dia, fazemos muitas coisas, mas, temos um projeto? Hoje, que navegamos na sociedade da comunicação, cabe nos nossos corações a solidão? Hoje, na era da informação, esta permite-nos formar a nossa personalidade?
 
Um projeto. Maria, uma mulher «prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi» (Lc 1,28). Maria tem um projeto. Evidentemente, de proporções humanas. Porém, Deus irrompe na sua vida para apresentar-lhe outro projeto... de proporções divinas. Também hoje, quer entrar em nossa vida e dar proporções divinas ao nosso dia a dia humano.
 
Uma presença. «Não tenhas medo, Maria!» (Lc 1,30). Não construamos de qualquer jeito! Não seja que a adição ao “fazer” esconda um vazio. O matrimônio, a vida de serviço, a profissão não têm de ser uma fuga para diante. «Cheia de graça! O Senhor está contigo» (Lc 1,28). Presença que acompanha e dá sentido. Confiança em Deus, que — por conseguinte— nos leva à confiança com os outros. Amizade com Deus que revigora a amizade com os outros.
 
Formar-nos. Hoje, recebemos tantos estímulos muitas vezes opostos, que é preciso dar forma e unidade à nossa vida. Maria, diz São Luís Maria Grignion, «é o molde vivo de Deus». Existem duas maneiras de fazer uma escultura, expõe Grignion: uma, a mais difícil, à base de batidas de cinzel. A outra, usando um molde. Esta é mais simples do que a primeira. Mas o sucesso depende de que a matéria seja maleável e o molde desenhe com perfeição a imagem. Maria é o molde perfeito. Procuramo-la, sendo matéria maleável?
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Deus é o pai das coisas criadas; e Maria é a mãe das cosas recriadas. Pois Deus engendrou àquele por quem tudo foi feito; e Maria deu à luz àquele por quem tudo foi salvo» (São Anselmo)
 
«O cumprimento do anjo está entretecido com os fios do Antigo Testamento. Maria é o rebento que, na escura noite invernal da história, floresce do tronco abatido de David: de Ela germina a árvore da redenção. Deus não tem fracassado, como podia parecer no início da história: Deus salvou e salva o seu povo» (Bento XVI)
 
«Este esplendor de uma santidade de todo singular, com que foi enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição (141), vem-lhe totalmente de Cristo: foi remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho (142)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 492)
 
«Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo».
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.
 
* v. 26. Ao sexto mês, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré.
O episódio da “anunciação do Senhor” (chamado pelos gregos “evangelização”), próprio de Lucas, é uma “narrativa da infância” de Jesus. O “sexto mês” é o da gravidez de Isabel (v. 36). Evoca o apelo de Ageu (1,1.15) à reconstrução do Templo, em 520 a.C. O anjo (gr. “mensageiro”: v. 11) Gabriel (he. “força de Deus”) é o mesmo que tinha sido “enviado por Deus” a anunciar a Daniel  o tempo do fim (Dn 8,16; 9,21; cf. 8,19; 12,4.9) e, seis meses antes, a Zacarias, a anunciar a conceção de João Batista (v. 19). Chegou o momento destinado por Deus para cumprir as suas promessas, enviando o Messias.
 
* A Galileia (he. “circuito”, “distrito”) é a região norte de Israel, considerada pelos judeus uma terra afastada, contaminada pelo contacto com os gentios. É aí que se acha Nazaré (he. “rebento”: Is 11,1; Mt 2,23), lugar até então desconhecido, quer no AT, quer pelas autoridades judaicas e romanas, sendo, por isso, considerada à margem dos caminhos de Deus pelos círculos religiosos de então (cf. Jo 1,46).
 
v. 27. A uma virgem, desposada com um homem chamado José, que era da casa de David; e o nome da virgem era Maria. Maria (Miriam: do egípcio “muito amada”, cf. Nm 26,59) é “virgem”, ou seja, é uma moça em idade núbil, entre os 12 e os 16 anos (cf. Gn 24,16). O termo, aqui usado duas vezes, evoca Is 7,14 (cf. Mt 1,23).
 
* “Estava desposada” com José (he. “Ele acrescente”), da linhagem real de David. Esta achava-se na época reduzida à humilde condição de uma pobreza honrada que vivia do trabalho das suas mãos (cf. Eus., Hist.eccl. 3,19-20,6). O casamento hebraico decorria em duas fases: 1) os esponsais ou desposório em que os noivos se prometiam um ao outro e, sem coabitarem ainda, se preparavam para o 2) casamento. O vínculo do desposório era tão sério que só podia ser dissolvido pelo divórcio (Mt 1,19), sendo uma infidelidade da noiva reputada como adultério (Dt 22,23s). Se os noivos, entretanto, gerassem um filho, este seria considerado legítimo (Mt 1,24s). José “era da casa de David”, ou seja, descendente de David. Será por seu intermédio, não segundo a carne, mas segundo a promessa, que se vai cumprir a profecia feita por Deus a David de que da sua linhagem haveria de nascer o Messias (cf. v. 32 c).
 
* v. 28. Entrando onde ela estava, o Anjo disse: «Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo». Enquadrada a cena, apresenta-se o diálogo entre o anjo e Maria, tecido de passagens do AT, ligadas a relatos de vocação e às profecias messiânicas. Nele ressoa, pela primeira vez, o querigma cristão.
 
* O anjo “entra onde ela está”, ou seja, em casa dela (At 28,8), e interpela-a com uma fórmula de vocação. A saudação “alegra-te” (gr. kairé) é o cumprimento habitual entre os gregos. Caracteriza a mensagem do anjo logo desde início como sendo “boa-nova”, ou seja, em grego, “Evangelho” (v. 19; Jr 20,15). Ela evoca a tradicional saudação hebraica: "A paz esteja contigo". Esta saudação, porém, não é aqui um mero cumprimento humano, mas é o anúncio que a salvação outrora prometida à “filha de Sião” (Sf 3,14s; Zc 2,14; Jr 4,31; é Jerusalém: cf. 2Rs 19, 21; Is 1,8; 12,6) e destinada a todas as nações, está a chegar e vai começar a realizar-se agora.
 
* O epíteto “cheia de graça” (cf. Rt 2,10) é inédito e exclusivamente aplicado a Maria em toda a Sagrada Escritura. Não tem artigo, pelo que não é propriamente um nome novo. O particípio perfeito passivo indica apenas que Maria, em toda a sua pessoa e existência é objeto singular, constante e sempre renovado da predileção e do amor eternos de Deus. A Vulgata, a tradução latina da Sagrada Escritura, traduziu este adjetivo verbal por uma expressão: "gratia plena", "cheia de graça", explicitando depois os autores eclesiásticos que se Maria estava "cheia de graça" é porque nada havia nela que não estivesse na graça de Deus, ou seja, isento de pecado. Como o pecado atinge o género humano desde a nossa conceção, então Maria é isenta também do pecado original desde o primeiro instante da sua conceção, ou seja, é "imaculada" (cf. Ct 4,7; Ef 1,4; 5,27; Cl 1,22; 2Pd 3,14; Jd 1,24). Foi por esta razão que a liturgia escolheu o presente texto para a solenidade que celebramos neste dia: a Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria. A fórmula “o Senhor contigo”, sem verbo (Rt 2,4), é típica dos relatos de vocação (cf. Jz 6,12; Ex 3,12; Jr 1,8; Dn 10,19): o anjo assegura a Maria a presença, direção e assistência de Deus em tudo na execução da missão e da obra divina que lhe são confiadas e ultrapassam as forças humanas.
 
* v. 29. Ela ficou muito perturbada com a palavra e perguntava-se que saudação seria aquela. vv. 29-35: Mt 1,20s. Perante uma irrupção tão íntima, próxima e inesperada do transcendente, Maria fica deveras perturbada (gr. diatarássô, só aqui na Bíblia: cf. Jz 6,22; Dn 8,17s). “Pela palavra”: “palavra” com artigo, no singular, é sinónimo de querigma, “Evangelho” (vv. 2.19; 8,15; At 1,1). Maria, virgem humilde, sábia e prudente, medita (Sl 119,59) no seu íntimo (3,15) sobre “a Palavra” que acaba de lhe ser anunciada, procurando compreender o sentido e o alcance de tão inaudita saudação que lhe é dirigida.
 
v. 30. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, pois encontraste graça junto de Deus. “Não temas”: o Anjo tranquiliza-a (v. 13; 2,10; Gn 15,1; 26,24; Jz 6,23; Dn 10,12.19) e logo lhe explica o que o título que lhe dirigiu, a modo dum nome novo, significa que ela “achou graça diante de Deus” (2,52; Gn 6,8; 18,3; Ex 33,13.16; Rt 2,10; Pv 12,2; 18,22!; At 7,46), tendo sido por Ele escolhida entre todas as mulheres (Est 2,9.15.17!; 5,8; 7,3; 8,5) para ser a mãe do Messias (v. 43). É esta a Primeira boa-nova: em Maria despontará uma nova era, o tempo da graça (cf. Rm 5,20; Ef 2,5-8; Tt 2,11; 3,7; 1Pd 5,12).
 
v. 31. Conceberás no seio e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. v. 31: Mt 1,21. Revelado o amor de Deus por ela, o Anjo pede-lhe que aceite que nela se realize a promessa divina de Is 7,14: “conceberás” (Jz 13,3) “no seio” (Jz 13,5.7) e “darás à luz um Filho” (cf. Is 9,5) “a quem darás o nome” que indica a missão que Deus lhe confiará (v. 13; Gn 16,11; 17,19), a saber: “Jesus” (aram. Ieshuá, “Deus salva”, em he. “salvação”, o nome de Josué, que introduziu Israel na Terra prometida: Dt 1,31,7s.23; Js 1,6). Segunda boa nova: anúncio da conceção e nascimento dum filho (Jr 20,15), que será o salvador (cf. Is 25,9; 35,4; 43,3.11; 45,15.21; 49,26; 60,16; Os 13,4; Zc 9,16; 12,7; Sl 69,36; 72,4.13).
 
* v. 32. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus dar-lhe-á o trono de David, seu pai. v. 32: Is 9,5s. O Anjo revela-lhe então, a partir das profecias do AT, que este filho é o Messias: a) “Ele será grande” (v. 15; Sl 89,19-30); b) “Filho do Altíssimo” (8,28; cf. 6,35; Sl 2,7; 89,27), ou seja, Deus (vv. 35.76; Sl 91,1.9; Dn 7,18.27); c) será o Messias prometido, descendente de David, que herdará o seu trono (2Sm 7,12s; Sl 132,11; Is 16,5; Jr 23,5s; 33,15ss; Am 9,11s; Ez 34,23s; 37,24-28).
 
v. 33. Reinará para sempre sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». d) Reinará “sobre a casa de Jacob”, ou seja, sobre as doze tribos de Israel, separadas desde Salomão e dispersas no exílio, reunindo-as (Ez 34,23; 37,22ss); e) “e o seu reinado não terá fim” (2Sm 7,16; Is 9,6; Mq 4,7; Sl 89,35-38; Dn 7,14; Hb 7,24). Terceira boa-nova: o seu Filho, Jesus, é o Messias prometido, que vem para cumprir as profecias (24,25s.44).
 
v. 34. Maria disse então ao Anjo: «Como será isso, uma vez que eu não conheço homem?» Maria replica ao anjo, não para levantar uma objeção (cf. Ex 3,11; Jr 1,6), mas para lhe perguntar “como” (8,18; 10,26) quer Deus que ela cumpra a Sua vontade, pois “não conhece homem” (gr. ginósko, com syllambáno, “ter relações sexuais”: vv. 31.24: Gn 4,1.17.25), ou seja, ainda não coabita conjugalmente com José (Mt 1,25). Que devo fazer, como devo agir? é a pergunta que faz quem escuta o querigma cristã e lhe quer aderir plenamente, de corpo e alma, mente e coração (cf. At 2,37; 16,30; 22,10).
 
* v. 35. Respondendo, o Anjo disse-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. v. 35: Mt 1,18. Superando todas as profecias do AT, o anjo responde a Maria, anunciando-lhe a Quarta e inaudita boa-nova: Jesus não será concebido por um homem, mas pelo poder do Espírito Santo, o amor em ação de Deus, que, em nova criação (cf. Gn 1,2; Is 32,15; Sl 104,30), “virá sobre” ela, Maria (Is 32,15; At 1,8; Jz 3,10; 11,29; 1Sm 19,20) e a “cobrirá com a sua sombra” (9,34; Ex 40,35; Sl 91,4), uma alusão à shekinah (he. “habitação” de Deus), a nuvem em que Deus se escondia para habitar entre o seu povo (Ex 13,21s; 33,9s; Nm 9,18-23; 1Rs 8,12). O Espírito Santo vai consagrar desta forma Maria como tabernáculo vivo de Deus (Ex 40,35; Sl 91,1s; Lc 9,34), por Ele defendido (cf. Sl 17,8; Sl 36,8; 63,8; 121,5; Ct 2,3; Is 4,6). Jesus é o Messias, não só porque foi ungido pelo Espírito Santo (v. 15; Is 11,2; Lc 4,18; At 10,38), mas também porque por Ele foi concebido. Em Jesus, tudo é obra do Espírito Santo, desde o princípio (cf. Gn 1,1), desde a sua origem (Mt 1,1).
 
* Quinta boa-nova: Maria vai “dar à luz” (Is 9,5) um "santo”, assim chamado porque: a) será consagrado a Deus desde o seu nascimento (2,23!; 4,34; At 2,27; 4,26s), mas não da mesma forma que João Batista, ou seja, não como um nazireu (os quais não podiam beber bebidas alcoólicas: Lc 1,15; Nm 6,2-4; Jz 13,4-6; Jesus, porém, é chamado "beberrão": 7,34; cf. 5,29)  b) e "será chamado Filho de Deus”, aqui sem artigo, numa clara alusão às principais profecias messiânicas (Sl 2,7; 2Sm 7,14p; cf. Sb 2,18; Jo 10,36), cuja expectativa ultrapassa, pois é "o Filho" de Deus, com artigo, em sentido absoluto e pessoal (assim declarado pelo Pai: 3,22; 9,35; afirmado por Cristo: 10,22; 22,70; confessado pelos espíritos impuros: 4,41), ou seja, "o Santo", Filho do Deus “Santo” (v. 49; Lv 19,2; 1Sm 2,2; Is 6,3; 41,14.16.20; 43,3; Ez 39,7).
 
* v. 36. E eis que Isabel, a tua parenta, também concebeu um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela que era chamada estéril. Dos relatos de vocação faz parte um “sinal”, que é pedido pelo destinatário a fim de se certificar que o anúncio é verdadeiro (v. 18; Ex 3,12; Jz 6,17). Maria, porém, não o pede, porque acreditou na palavra do Anjo (cf. v. 45). Mas Deus dá-lho! Porque se trata aqui de uma evangelização, na qual "o testemunho" ilustra a verdade e eficácia da palavra anunciada. É a Sexta boa-nova: a gravidez de Isabel, sua parenta, que era estéril e já está no sexto mês da gravidez (v. 26).
 
* v. 37. Porque ‘para Deus nada será impossível’». O anjo conclui, afirmando: “porque a Deus nenhuma coisa (lit. “palavra”) será impossível” (Zc 8,6; cf. Gn 18,14; Jr 32,27; Jb 42,2). O verbo está no futuro, indicando que não só aconteceu a gravidez de Isabel, graças ao anúncio divino, como também acontecerá a Maria o que ele, anjo, acabou de lhe anunciar, bem como também muitas outras coisas totalmente inauditas, que verá serem realizadas pela palavra e poder de Deus!
 
* v. 38. Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra». E o Anjo deixou-a. Esclarecida sobre o conteúdo da mensagem e o que deve fazer, Maria, ao invés de Eva, escuta a Palavra de Deus, crê nela, medita-a, aprofunda-a e obedece-lhe, aderindo a ela de mente e coração, erigindo Deus como único Senhor da sua vida, a quem se entrega inteiramente, dando-lhe o seu total consentimento em dez palavras (no texto grego, original: Ex 34,28): “Eis a escrava do Senhor”. “Escrava” (gr. doulé, he. ‘amah: v. 48) indica não apenas a humilde e total submissão de Maria a Deus (1Sm 1,11; 25,24s.28.31), mas incute à sua entrega e adesão a Deus um amor todo ele imbuído de caráter esponsal (cf. Rt 3,9.16; 1Sm 25,41).
 
* “Faça-se em mim segundo a tua Palavra” exprime: a) a fé e confiança de Maria no cumprimento integral das promessas divinas (v. 45; 2Sm 7,21.25); b) a aceitação plena da vontade de Deus para ela, numa aliança pessoal com Ele que abarca toda a sua existência e vida (2,29; Gn 24,51; 47,30; 1Rs 12,24); c) a sua entrega incondicional a Deus (Gn 24,51; Jz 11,10; Rt 3,5; 1Rs 17,13), aceitando cooperar com Ele na realização da sua obra.
 
* E o anjo “parte” (9,60), retirando-se da cena, e deixando Maria só a sós com Deus… e com um Filho no ventre (v. 43; Mt 1,18s).
 
MEDITAÇÃO
1. Sinto-me amado, agraciado por Deus? Já pensei que é através de mim que Deus quer agir no mundo para o transformar?
2. Que tempo encontro no meu dia a dia para escutar a Deus, discernir a sua presença na minha vida e alimentar a minha comunhão com Ele?
3. Que atitude assumo perante os projetos de Deus: acolho-os sem reservas, com amor e disponibilidade ou tenho medo e adoto uma atitude de defesa dos meus próprios desejos, planos e interesses?