terça-feira, 30 de dezembro de 2025

1º de janeiro Santa Maria, Mãe de Deus

1ª Leitura (Num 6,22-27):
O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e aos seus filhos e diz-lhes: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo: ‘O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz’. Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei».
 
Salmo Responsorial: 66
R. Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção.
 
Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os seus caminhos e entre os povos a sua salvação.
 
Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra.
 
Os povos Vos louvem, ó Deus, todos os povos Vos louvem. Deus nos dê a sua bênção e chegue o seu temor aos confins da terra.
 
2ª Leitura (Gal 4,4-7): Irmãos: Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adoptivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus.
 
Aleluia. Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais pelos Profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por seu Filho. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 2,16-21): Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Quando o viram, contaram as palavras que lhes tinham sido ditas a respeito do menino. Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam. Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração. Os pastores retiraram-se, louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito. No oitavo dia, quando o menino devia ser circuncidado, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido no ventre da mãe.
 
«Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura»
 
Rev. D. Manel VALLS i Serra (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a Igreja contempla agradecida a maternidade da Mãe de Deus, modelo de sua própria maternidade para com todos nós. Lucas nos apresenta o “encontro” dos pastores “com o Menino”, o qual está acompanhado de Maria, sua Mãe, e de José. A discreta presença de José sugere a importante missão de ser custódio do grande mistério do Filho de Deus. Todos juntos, pastores, Maria e José, «Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura» (Lc 2,16) é como uma imagem preciosa da Igreja em adoração.
 
“A Manjedoura”: Jesus já está na manjedoura, numa noite alusiva à Eucaristia. Foi Maria quem o colocou lá! Lucas fala de um “encontro”, de um encontro dos pastores com Jesus. Em efeito, sem a experiência de um “encontro” pessoal com o Senhor, a fé não acontece. Somente este “encontro”, o qual se entende um “ver com os próprios olhos”, e em certa maneira um “tocar”, faz com que os pastores sejam capazes de chegar a ser testemunhas da Boa Nova, verdadeiros evangelizadores que podem dar a conhecer o que lhes haviam dito sobre aquela Criança. «Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino» (Lc 2,17).
 
Aqui vemos o primeiro fruto do “encontro” com Cristo: «Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores» (Lc 2,18). Devemos pedir a graça de saber suscitar este “maravilhamento”, esta admiração naqueles a quem anunciamos o Evangelho.
 
Ainda há um segundo fruto deste encontro: «Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito» (Lc 2,20). A adoração do Menino lhes enche o coração de entusiasmo por comunicar o que viram e ouviram, e a comunicação do que viram e ouviram os conduz até a pregaria de louvor e de ação de graças, à glorificação do Senhor.
 
Maria, mestra de contemplação —«Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração» (Lc 2,19)— nos dá Jesus, cujo nome significa “Deus salva”. Seu nome é também nossa Paz. Acolhamos coração este sagrado e doce Nome e tenhamo-lo frequentemente nos nossos lábios!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Todo o povo da cidade de Éfeso ficou ansioso à espera da resolução [do Sínodo sobre a Maternidade de Maria]... Quando se soube que o autor das blasfêmias [Nestório] tinha sido deposto, todos em uma só voz começaram a glorificar a Deus» (São Cirilo de Alexandria)
 
«Jesus é o Filho de Deus e, ao mesmo tempo, é filho de uma mulher: Maria. Vem dela. É de Deus e de Maria. É por isso que a Mãe de Jesus pode e deve ser chamada de Mãe de Deus, “Theotókos” (Concílio de Éfeso, ano 431)» (Bento XVI)
 
«O Concílio de Éfeso proclamou, no ano 431, que Maria se tornou, com toda a verdade Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio: “Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque é Dela” (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 466)
 
“Maria é a porta pela qual Cristo entrou neste mundo” (Santo Ambrósio, Epístola 42, 4: PL, VII).
 
Fr. Pedro Bravo, ocarm
 
* O texto de hoje, exclusivo de Lucas, tem duas partes:
a visita dos pastores, que conclui o relato do nascimento de Jesus (vv. 15-20); e a notícia da circuncisão de Jesus (v. 21).
 
v. 15. Depois do anúncio do nascimento de Jesus aos pastores (vv. 8-14), os anjos “afastaram-se” (1,38; 7,24; At 10,7) “dos pastores para o céu” (o domínio de Deus: cf. 24,51; Ne 9,6; 2Rs 2,1.11; 1Pd 3,22). Os pastores, que guardavam o rebanho fora de Belém, nos campos (v. 8), obedecem à palavra do anjo e dizem: “Vamos, pois, a Belém e vejamos esta palavra”. “Palavra” (gr. rema) traduz aqui o hebraico dabar, que significa não só “palavra”, mas também “acontecimento”. “Ver a palavra” significa constatar, “vendo” com os próprios olhos (v. 17), “a grande coisa que o Senhor realizou” (1Sm 12,16).
 
* “Que aconteceu”: os pastores acreditam na palavra do anjo (cf. At 13,12), que é verdadeira (v. 20; 1,38; Dt 18,22), e vão a Belém, para receber “o que o Senhor” lhes “deu a conhecer”. Através dos anjos, é Deus que fala. É uma alusão ao Sl 98,2: “O Senhor deu a conhecer a sua salvação e aos olhos dos gentios revelou a sua justiça”. Tidos pelos rabinos como “ladrões”, “mentirosos” e “impuros”, considerados os últimos de todos (9,48; cf. 1Sm 16,11), os pastores são os primeiros a receber a Boa Nova do nascimento do Messias e a acreditar nela. Boa nova que se dirige antes de mais aos pobres, aos fracos e pecadores e só se revela aos humildes e pequeninos (5,32; 11,21; 1Cor 1,25-29).
 
v. 16. Do “Campo dos Pastores” (tradicionalmente identificado com Beit Sahour, “Casa do sentinela da noite”, a 2,5 km de Belém, cerca de uma hora a pé), eles dirigem-se para Belém (he. “Casa do pão”), “apressadamente” (Lc, 3x: 19,5s; Gn 18,6; Mq 4,1), impelidos pela alegria da fé na Boa Nova (cf. 1,39), pelo amor (cf. Gn 24,18.20.46) e o desejo de ver o Senhor. Para encontrar Jesus, há que pô-lo em primeiro lugar. Em Belém não terá sido difícil encontrar “um bebé, deitado (gr. queimenos: 23,53) na manjedoura (lat. praesepium)” de uma gruta situada fora das portas da cidade, que servia de estábulo e nessa noite estava iluminada.
 
* Ao entrarem, os pastores veem primeiro “Maria e José”, e só depois Jesus. Maria representa a comunidade cristã, a Igreja, e José, a fé na Palavra de Deus, transmitida pelo Povo de Deus (Mt 1,24; 2,13.19). Só é possível encontrar Jesus na Igreja, pela fé na Palavra (cf. At 9,5s).
 
* v. 17. “Vendo, deram a conhecer a palavra”. São duas ações: primeiro, os pastores veem o Menino e contemplam-no, atentamente. “Ver” (gr. oraô) indica aqui o olhar da fé que nasce do encontro com Deus em Cristo e se traduz na experiência da salvação (At 4,20). Só depois é que dão a conhecer o que lhes tinha sido anunciada pelo anjo “acerca do menino”. “Menino” (gr. paidíon, não bréphos, vv. 12.16). evoca Is 7,16; 9,5, o anúncio do nascimento do Messias. De evangelizados, os pastores tornam-se evangelizadores: primeiro, de Maria e José (que não sabiam dos anjos); depois, dos que encontram pelo caminho.
 
v. 18. Lucas anota três tipos de reações à palavra dos pastores. 1) A dos ouvintes, “admirados” (Lc, 12 x: 1,21.63; 2,33) com a notícia que eles lhes anunciam. Lucas não diz se foram ver Jesus ou não.
 
* v. 19. 2) A de Maria, que, de protagonista dos acontecimentos, passa a ser discípula do Evangelho, recebendo-o quase só da boca de testemunhas e dos discípulos do seu Filho (cf. 2,33s; 8,19ss; 11,27s; At 9,6).
Dela refere Lucas:a) “Maria, porém, conservava” (v. 51; 1,66; Gn 37,11; Sr 2,15). Como verdadeira filha de Abraão, Maria crê nas promessas de Deus (cf. Dn 7,28) e em “todas as palavras” (palavras e acontecimentos) que os pastores lhe anunciam, b) “conserva-as” no seu íntimo (Sr 2,15; 39,2), para as pôr em prática (cf. 8,21; 11,28; Sr 15,15; 35,1; 37,12, 44,20),; c) “meditando-as” (gr. symbalein), isto é, refletindo sobre elas (14,31), ligando as palavras aos acontecimentos, confrontando-os com a Palavra de Deus, para perceber à luz desta o seu sentido, que supera a compreensão humana (2,50s), e saber como deve agir (Sr 6,26); d) “em seu coração” (cf. Dn 7,28): “Deus deseja o coração” (Sanh 106b). É aí que há que escutar, meditar e penetrar a Palavra de Deus, para a pôr em prática, dando muito fruto (cf. 6,45; 8,15; 10,27; 12,34; 24,32).
 
* v. 20. 3) A dos pastores que, apesar de não verem um rei, mas apenas um menino pobre, deitado numa manjedoura, nele reconhecem, pela fé na palavra do anjo, o Messias Senhor (v. 11). E “voltam”, cheios de alegria, anunciando a Boa Nova a todos (10,17; 24,33), e, como Lucas gosta sempre de notar após uma intervenção divina – “louvando e glorificando a Deus” (1,46; 4,15; 5,25.26; 7,16; 13,13; 17,15; 18,43; 23,47; At 4,21; 11,18; 13,48; Sl 22,24; Dn 4,34.37). O louvor dos homens une-se ao dos anjos do céu (v. 13), fazendo-o ressoar na terra (Sl 56,11; 148; 150).
 
* “Por tudo o que tinham ouvido e visto” (cf. At 4,20). A escuta precede a visão, porque a fé nasce da escuta da Palavra de Deus (Rm 10,17; Gl 3,5), sendo só a fé que possibilita “ver” a salvação (2,30; cf. Jo 11,40).
 
* «Tal como lhes fora dito» (1,55.70; 2Sm 7,25; Sl 48,9; 1Rs 2,24; 5,19.26; 8,12.20; 9,5; Tb 14,5; Jon 3,3). Deus é fiel e verdadeiro: a sua Palavra e as suas promessas cumprem-se sempre. Os pastores acreditam nela, obedecem-lhe e veem «o Salvador, o Cristo Senhor» (v. 11). Completa-se assim o ciclo da fé, típico de Lucas: 1) anúncio; 2) escuta; 3) obediência; 4) caminhada; 5) experiência; 6) anúncio; 7) louvor a Deus.
 
* v. 21. A narrativa do nascimento de Jesus encerra-se com a nota da sua circuncisão (he. berit milah, “aliança da circuncisão”), que é feita ao oitavo dia do nascimento do filho (Gn 17,12; Lv 12,3; Fl 3,5). Este é posto ao colo do padrinho (he. sandák), sentado na cadeira do profeta Elias (“o anjo da Aliança”: Ml 3,1; 1Rs 19,10), ali presente como convidado e testemunha. O circuncidador (mohel) pronuncia a bênção, corta o prepúcio do bebé, de modo a provocar-lhe dor e derramamento de sangue (pois sem derramamento de sangue não há Aliança: Hb 9,18ss) e remove-o. Pela circuncisão, o menino: 1) entra na Aliança de Deus com Abraão (Gn 17,10-14); 2) passa a fazer parte do Povo eleito; 3) fica obrigado a: a) submeter-se ao jugo da Lei (Sf 3,9; Lm 3,27; Jr 2,20; 5,5; Sr 51,26); b) cumprir todos os mandamentos de Deus (Rm 2,25s; Gl 5,2s); c) praticar boas obras; d) e dar uma descendência a Abraão.
 
* Circuncidado o menino, é recitada a bênção e o pai impõe-lhe o nome (1,59-63), assumindo-se legalmente como seu pai, seja ele seu filho carnal ou apenas adotivo. O nome da criança compõe-se do nome próprio (geralmente escolhido pela mãe: 1,60), e do apelido, indicando de quem é filho, neste caso: Ieshuah bar-Iosef (“Jesus, filho de José”: 3,23; Mt 1,16; Jo 1,45; 6,42).
 
* “Jesus” (Mt 1,21) é a versão grega de “Josué” (he. Ioshuah, “Deus salva”), o sucessor de Moisés que introduziu o povo eleito na Terra prometida. Em aramaico diz-se Ieshuah, a palavra hebraica “salvação”. Era o nome indicado (lit. “o chamado”) pelo Anjo a Maria (1,31), antes dela ter concebido. Indicando na Sagrada Escritura o nome a missão da pessoa, indica-se assim que Jesus é o Salvador, enviado por Deus ao homem, para lhe dar a salvação (vv. 10.14).
 
MEDITAÇÃO
1. Tenho consciência de que a salvação está em Jesus e não nas ideologias, no poder, no dinheiro, na posição social ou no prazer?
2. Como reajo diante da boa nova: acredito ou desconfio? Agradeço ou esqueço-a? Caminho ou fico parado? Difundo-a ou calo-me?
3. Dedico algum tempo diário à oração para, com Maria, em diálogo com Jesus, meditar e aprofundar a Palavra de Deus, a fim de discernir a vontade de Deus e a pôr em prática?

Oitava do Natal: 31 de dezembro

São Silvestre I, papa
Sta. Catarina Labouré, virgem
 
1ª Leitura (1Jo 2,18-21):
Meus filhos, esta é a última hora. Ouvistes dizer que há-de vir o Anticristo. Pois bem, surgiram já muitos anticristos e por isso sabemos que é a última hora. Eles saíram do meio de nós, mas não eram dos nossos. Se fossem dos nossos, teriam ficado conosco. Assim sucedeu para ficar bem claro que nem todos eram dos nossos. Vós, porém, tendes a unção que vem do Santo e todos possuís a ciência. Não vos escrevo por ignorardes a verdade, mas porque a conheceis e porque nenhuma mentira provém da verdade.
 
Salmo Responsorial: 95
R. Alegrem-se os céus, exulte a terra.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira. Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome, anunciai dia a dia a sua salvação.
 
Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o que ele contém. Exultem os campos e quanto neles existe alegrem-se as árvores dos bosques.
 
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra. Julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade.
 
Aleluia. O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Àqueles que O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 1,1-18): No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. Veio um homem, enviado por Deus; seu nome era João. Ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos pudessem crer, por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram. A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os que creem no seu nome. Estes foram gerados não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho dele e proclama: «Foi dele que eu disse: ‘Aquele que vem depois de mim passou à minha frente, porque antes de mim ele já existia». De sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça. Pois a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer».
 
«E a Palavra se fez carne»
 
Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona, Espanha)

Hoje é o último dia do ano. Frequentemente, uma mistura de sentimentos —incluso contraditórios— sussurram nos nossos corações nesta data. É como se uma amostra dos diferentes momentos vividos, e dos que gostaríamos de ter vivido, se tornassem presentes na nossa memória. O Evangelho de hoje pode ajudar-nos a decantá-los para podermos começar o novo ano com um empurrão.
 
«A palavra era Deus (…). Tudo foi feito por meio dela» (Jo 1,1.3). No momento de fazer o balanço do ano, devemos ter presente que cada dia vivido é um dom recebido. Por isso, seja qual for o aproveitamento realizado, hoje devemos agradecer cada minuto do ano.
 
Mas o dom da vida não é completo. Estamos necessitados. Por isso o Evangelho de hoje aporta-nos uma palavra-chave: “acolher”. «E a Palavra se fez carne» (Jo 1,14). Acolher o próprio Deus! Deus, feito homem, fica ao nosso alcance. “Acolher” significa abrir-lhe as nossas portas, deixar que entre nas nossas vidas, nos nossos projetos, nos atos que enchem as nossas jornadas. Até que ponto acolhemos a Deus e lhe permitimos que entre em nós?
 
«Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina» (Jo 1,9). Acolher a Jesus quer dizer deixar-se guiar por Ele. Deixar que os seus critérios deem luz tanto aos nossos pensamentos mais íntimos como a nossa atuação social e de trabalho. Que as nossas ações se relacionem com as suas!
 
«A vida era a luz» (Jo 1,4). Mas a fé é algo mais que uns critérios. É a nossa vida enxertada na Vida. Não é apenas esforço — que também —. É, sobretudo, dom e graça. Vida recebida no seio da Igreja, sobretudo mediante os sacramentos. Que lugar têm eles na minha vida cristã?
 
«A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo 1,12). Todo um projeto apaixonante para o ano que vamos estrear!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Em tudo devemos proceder não segundo o nosso arbítrio, nem segundo os nossos próprios sentimentos, mas segundo os caminhos que o próprio Senhor nos deu a conhecer nas santas Escrituras» (Santo Hipólito)
 
«Ao concluir este ano, ao dar graças e pedir perdão, faz-nos bem pedir a graça de caminhar corretamente na liberdade» (Francisco)
 
«Jesus revelou que Deus é «Pai» num sentido inédito: não o é somente enquanto Criador: é Pai eternamente em relação ao seu Filho único. É por isso que os Apóstolos confessam que Jesus é `o Verbo que, no princípio, estava junto de Deus e que era Deus´ (Jn 1,1)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 240-241)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O Prólogo é a primeira coisa que se vê ao abrir o evangelho de João.
Mas foi a última a ser escrita. É o resumo final, colocado no início. Nele João descreve a caminhada da Palavra de Deus. Ela estava junto de Deus desde antes da criação e por meio dela tudo foi criado. Tudo que existe é expressão da Palavra de Deus. Como a Sabedoria de Deus (Prov 8,22-31), a Palavra quis chegar mais perto de nós e se fez carne em Jesus. Viveu no meio de nós, realizou a sua missão e voltou para Deus. Jesus é esta Palavra de Deus. Tudo que ele diz e faz é comunicação que nos revela o Pai.
 
* Dizendo "No princípio era a Palavra", João evoca primeira frase da Bíblia que diz: "No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gn 1,1). Deus criou tudo por meio da sua Palavra. "Ele falou e as coisas começaram a existir" (Sl 33,9; 148,5). Todas as criaturas são uma expressão da Palavra de Deus. Esta Palavra viva de Deus, presente em todas as coisas, brilha nas trevas. As trevas tentam apagá-la, mas não conseguem. A busca de Deus, sempre de novo, renasce no coração humano. Ninguém consegue abafá-la. Não conseguimos viver sem Deus por muito tempo!
 
* João Batista veio para ajudar o povo a descobrir e saborear esta presença luminosa e consoladora da Palavra de Deus na vida. O testemunho de João Batista foi tão importante, que muita gente pensava que ele fosse o Cristo (Messias). (At 19,3; Jo 1,20) Por isso, o Prólogo esclarece dizendo: "João não era a luz! Veio apenas para dar testemunho da luz!"
 
* Assim como a Palavra de Deus se manifesta na natureza, na criação, da mesma maneira ela se manifesta no "mundo", isto é, na história da humani­dade e, de modo particular, na história do povo de Deus. Mas o "mundo" não reconheceu nem recebeu a Palavra. Ela "veio para o que era seu, mas os seus não a receberam". Aqui, quando fala mundo, João quer indicar o sistema tanto do império como da religião da época, ambos fechados sobre si e, por isso mesmo, incapazes de reco­nhecer e de receber a Boa Nova (Evangelho) da presença luminosa da Palavra de Deus.
 
* Mas as pessoas que se abrem aceitando a Palavra, tornam-se filhos e filhas de Deus. A pessoa se torna filho ou filha de Deus não por mérito próprio, nem por ser da raça de Israel, mas pelo simples fato de confiar e crer que Deus, na sua bondade, nos aceita e nos acolhe. A Palavra entra na pessoa e faz com que ela se sinta acolhida por Deus como filha, como filho. É o poder da graça de Deus.
 
* Deus não quer ficar longe de nós. Por isso, a sua Palavra chegou mais perto ainda e se fez presente no meio de nós na pessoa de Jesus. O Prólogo diz literalmente: "A Palavra se fez carne e montou sua tenda no meio de nós!" Antigamente, no tempo do êxodo, lá no deserto, Deus vivia numa tenda no meio do povo (Ex 25,8). Agora, a tenda onde Deus mora conosco é Jesus, "cheio de graça e de verdade!" Jesus veio revelar quem é este nosso Deus que está presente em tudo, desde o começo da criação.
 
Para um confronto pessoal
1. Tudo que existe é uma expressão da Palavra de Deus, uma revelação da sua presença. Será que sou suficientemente contemplativo para poder perceber e experimentar esta presença universal da Palavra de Deus?
2. O que significa para mim poder ser chamado filho de Deus?

domingo, 28 de dezembro de 2025

Oitava do Natal: 30 de dezembro

Sta. Anísia de Tessalônica, virgem e mártir
 
1ª Leitura (1Jo 2,12-17):
Escrevo-vos, meus filhos, porque os vossos pecados foram perdoados, pelo nome de Jesus. Escrevo-vos, pais, porque conheceis Aquele que existe desde o princípio. Escrevo-vos, jovens, porque vencestes o Maligno. Escrevo-vos, meus filhos, porque conheceis o Pai. Escrevo-vos, pais, porque conheceis Aquele que existe desde o princípio. Escrevo-vos, jovens, porque sois fortes e a palavra de Deus permanece em vós e vencestes o Maligno. Não ameis o mundo nem o que existe no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo. Ora o mundo passa com as suas concupiscências, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece eternamente.
 
Salmo Responsorial: 95
R. Alegrem-se os céus, exulte a terra.
 
Dai ao Senhor, ó família dos povos, dai ao Senhor glória e poder, dai ao Senhor a glória do seu nome.
 
Levai-Lhe oferendas e entrai nos seus átrios, adorai o Senhor com ornamentos sagrados, trema diante d’Ele a terra inteira.
 
Dizei entre as nações: «O Senhor é Rei», sustenta o mundo e ele não vacila, governa os povos com equidade.
 
Aleluia. Santo é o dia que nos trouxe a luz. Vinde adorar o Senhor. Hoje, uma grande luz desceu sobre a terra. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 2,36-40): Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galileia. O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele.
 
«Se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos »
 
Rev. D. Joaquim FLURIACH i Domínguez (St. Esteve de P., Barcelona, Espanha)
 
Hoje, José e Maria acabam de celebrar o rito da apresentação do primogênito, Jesus, no Templo de Jerusalém. Maria e José não se poupam para cumprir detalhadamente tudo o que a Lei prescreve, porque cumprir aquilo que Deus quer é sinal de fidelidade, de amor a Deus.
 
Desde que nasceu o seu filho —e filho de Deus —, José e Maria experimentam maravilha atrás de maravilha: os pastores, os magos do Oriente, anjos… Não somente acontecimentos exteriores extraordinários, mas também interiores, no coração das pessoas que têm algum contato com este Menino.
 
Hoje, aparece Ana, uma senhora de idade, viúva, que num determinado momento tomou a decisão de dedicar toda a sua vida ao Senhor, com jejuns e oração. Não nos equivocamos se dissermos que esta mulher era uma das “virgens prudentes” da parábola do Senhor (cf. Mt 25,1-13): zelando sempre fielmente por tudo o que lhe parece ser a vontade de Deus. E, é claro: quando chega o momento, o Senhor encontra-a preparada. Todo o tempo que dedicou ao Senhor é recompensado com juros por aquele Menino. — Perguntai-lhe, perguntai a Ana se valeu a pena tanta oração e tanto jejum, tanta generosidade!
 
Diz o texto que «louvava Deus e falava do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém» (Lc 2,38). A alegria transforma-se em apostolado determinado: ela é o motivo e a raiz. O Senhor é imensamente generoso com os que são generosos com Ele.
 
Jesus, Deus Encarnado, vive a vida de Família em Nazaré, como todas as famílias: crescer, trabalhar, aprender, rezar, brincar… “Santa normalidade”, bendita rotina onde crescem e se fortalecem, quase sem dar por isso, as almas dos homens de Deus! Como são importantes as coisas pequenas de cada dia!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Acorda: Deus se fez homem por ti. Acorda, tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo será a tua luz. Foi por ti precisamente, que Deus se fez homem» (Santo Agostinho)
 
«Ana é “profetisa”, mulher sabia e piedosa. Sua larga viuvez, dedicada ao culto no Templo e a sua participação na espera do resgate de Israel concluem no encontro com o Menino Jesus» (Bento XVI)
 
«Com Simeão e Ana, é toda a expectativa de Israel que vem ao encontro do seu Salvador (a tradição bizantina designa por encontro este acontecimento). Jesus é reconhecido como o Messias tão longamente esperado» (Catecismo da Igreja Católica, nº 529)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Nos primeiros dois capítulos de Lucas, tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus.
Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta a misericórdia de Deus: os cânticos de Maria (Lc 1,46-55), de Zacarias (Lc 1,68-79), dos anjos (Lc 2,14), de Simeão (Lc 2,29-32). Finalmente, Deus chegou para cumprir suas promessas, e Ele as cumpre em favor dos pobres, dos anawim, dos que souberam perseverar e esperar pela sua vinda: Isabel, Zacarias, Maria, José, Simeão, Ana, os pastores.
 
* Os capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas são muito conhecidos, mas pouco aprofundados. Lucas escreve imitando os escritos do AT. É como se os primeiros dois capítulos do seu evangelho fossem o último capítulo do AT que abre a porta para a chegada do Novo. Estes dois capítulos são a dobradiça entre o AT e o NT. Lucas quer mostrar como as profecias estão se realizando. João e Jesus cumprem o Antigo e iniciam o Novo.
 
* Lucas 2,36-37: A vida da profetisa Ana. “Havia também uma profetisa chamada Ana, de idade muito avançada. Ela era filha de Fanuel, da tribo de Aser. Tinha-se casado bem jovem, e vivera sete anos com o marido. Depois ficou viúva, e viveu assim até os oitenta e quatro anos. Nunca deixava o Templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações”. Como Judite (Jd 8,1-6), Ana é viúva. Como Débora (Jz 4,4), ela é profetisa. Isto é, pessoa que comunica algo de Deus e que tem uma abertura especial para as coisas da fé a ponto de poder comunicá-las aos outros. Ana se casou jovem, viveu em casamento durante sete anos, ficou viúva e continuou dedicada a Deus até oitenta e quatro anos. Hoje, em quase todas as nossas comunidades, no mundo inteiro, você encontra um grupo de senhoras de idade, muitas delas viúvas, cuja vida se resume em rezar e marcar presença nas celebrações e em servir ao próximo.
 
* Lucas 2,38: Ana e o menino Jesus. “Ela chegou nesse instante, louvava a Deus, e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”. Chegou ao templo no momento em que Simeão abraçava o menino e conversava com Maria sobre o futuro do menino (Lc 2,25-35). Lucas sugere que Ana participou neste gesto. O olhar de Ana é um olhar de fé. Ela vê um menino nos braços de sua mãe, e descobre nele o Salvador do mundo.
 
* Lucas 2,39-40: A vida de Jesus em Nazaré. ”Quando acabaram de cumprir todas as coisas, conforme a Lei do Senhor, voltaram para Nazaré, sua cidade, que ficava na Galileia. O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. Nestas poucas palavras, Lucas comunica algo do mistério da encarnação. “A Palavra de fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). O Filho de Deus tornou-se igual a nós em tudo e assumiu a condição de servo (Filp 2,7). Foi obediente até a morte e morte de cruz (Filp 2,8). Dos trinta e três anos que viveu entre nós, trinta foram vividos em Nazaré. Se você quiser saber como foi a vida do Filho de Deus durante os anos que ele viveu em Nazaré, procure conhecer a vida de qualquer nazareno daquele época, mude o nome, coloque Jesus e você terá a vida do Filho de Deus durante trinta dos trinta e três anos da sua vida, igual a nós em tudo, menos no pecado (Hb 4,15). Nestes trinta anos da sua vida, “o menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. Em outro lugar Lucas afirma a mesma coisa com outras palavras. Ele diz que o menino “crescia em sabedoria, idade e tamanho diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Crescer em Sabedoria significa assimilar os conhecimentos, a experiência humana acumulada ao longo dos séculos: os tempos, as festas, os remédios, as plantas, as orações, os costumes etc. Isto se aprende vivendo e convivendo na comunidade natural do povoado. Crescer em Tamanho significa nascer pequeno, crescer aos poucos e ficar adulto. É o processo de cada ser humano com suas alegrias e tristezas, descobertas e frustrações, raivas e amores. Isto se aprende vivendo e convivendo na família com os pais, os irmãos e irmãs, os tios, os parentes. Crescer em Graça significa: descobrir a presença de Deus na vida, a sua ação em tudo que acontece, a vocação, o chamado dele. A carta aos hebreus diz que: “Embora fosse filho de Deus, Jesus teve que aprender a ser obediente através dos seus sofrimentos” (Hb 4,8).
 
Para um confronto pessoal
1. Conhece pessoas como Ana, que tem um olhar de fé sobre as coisas da vida?
2. Crescer em sabedoria, tamanho e graça: como isto acontece em minha vida?

sábado, 27 de dezembro de 2025

Oitava do Natal: 29 de dezembro

São Tomás Becket, bispo e mártir
São David, rei e profeta
 
1ª Leitura (1Jo 2,3-11):
Caríssimos: Nós sabemos que conhecemos Jesus Cristo, se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz conhecê-lo mas não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele. Mas se alguém guarda a sua palavra, nesse o amor de Deus é perfeito. Nisto reconhecemos que estamos n’Ele. Quem diz que permanece n’Ele deve também proceder como Ele procedeu. Caríssimos, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o princípio. Este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. No entanto, é um mandamento novo que vos escrevo – o que é verdadeiro n’Ele e em vós –, porque as trevas estão a passar e já brilha a luz verdadeira. Quem diz que está na luz e odeia o seu irmão ainda se encontra nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na luz e não há nele ocasião de pecado. Mas quem odeia o seu irmão encontra-se nas trevas, caminha nas trevas e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.
 
Salmo Responsorial: 95
R. Alegrem-se os céus, exulte a terra.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra inteira, cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.
 
Anunciai dia a dia a sua salvação, publicai entre as nações a sua glória, em todos os povos as suas maravilhas.
 
Foi o Senhor quem fez os céus: diante d’Ele a honra e a majestade, no seu templo o poder e o esplendor.
 
Aleluia. Luz para se revelar às nações e glória do vosso povo Israel. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 2,22-35): E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo». O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: «Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição — e a ti, uma espada traspassará tua alma! — e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações».
 
«Agora, Senhor, deixas (...) teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação»
 
Chanoine Dr. Daniel MEYNEN (Saint Aubain, Namur, Bélgica)
 
Hoje, 29 de dezembro, celebramos o santo Rei Davi. Mas, é a toda a família de Davi que a Igreja quer honrar e especialmente ao mais ilustre de todos eles: a Jesus, o Filho de Deus, Filho de Davi! Hoje, nesse eterno “hoje” do Filho de Deus, a Antiga Aliança do tempo do Rei Davi realiza-se e cumpre-se em toda sua plenitude. Pois, como relata o Evangelho de hoje, o Menino Jesus é apresentado ao Templo por seus pais para cumprir com a Antiga Lei: «E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor (Lc 2,22-23).
 
Hoje, eclipsa-se a velha profecia para dar passo à nova: Aquele, a quem o Rei Davi tinha anunciado ao entonar seus salmos messiânicos, entrou por fim no Templo de Deus! Hoje é o grande dia em que aquele que São Lucas chama Simeão logo abandonará este mundo de obscuridade para entrar na visão da Luz eterna: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo» (Lc 2,29-32).
 
Também nós, que somos o Santuário de Deus em que seu Espírito habita (cf. 1Cor 3,16), devemos ficar atentos para receber a Jesus no nosso interior. Se hoje temos a fortuna de comungar, peçamos a Maria, a Mãe de Deus que interceda por nós ante seu Filho: que morra o homem velho e que novo homem (cf. Col 3,10) nasça em todo nosso ser, a fim de converter-nos nos novos profetas, os que anunciem ao mundo inteiro a presença de Deus três vezes, Pai, Filho e Espírito Santo!
 
Como Simão, sejamos profetas pela morte do “homem velho”! Como disse o Papa João Paulo II «a plenitude do Espírito de Deus vem acompanhada (...) antes que nada pela disponibilidade interior que provém da fé. Disso, o ancião Simeão “homem justo e piedoso”, teve a intuição no momento da apresentação de Jesus no Templo».
 
«Meus olhos viram a tua salvação»
 
Rev. D. Joaquim MONRÓS i Guitart (Tarragona, Espanha)
 
Hoje, contemplamos a Apresentação do Menino Jesus no Templo, cumprindo a prescrição da Lei de Moisés: purificação da mãe e apresentação e resgate do primogénito.
 
São Josemaria descreve esta situação no quarto mistério gozoso do seu livro O Santo Rosário, convidando-nos a fazer parte da cena: «E desta vez, meu amigo, hás de ser tu a levar a gaiola das rolas. – Estás a ver? Ela – a Imaculada! – submete-se à Lei como se estivesse imunda. Aprenderás com este exemplo, menino tonto, a cumprir a Santa Lei de Deus, apesar de todos os sacrifícios pessoais?
 
«Purificação! Tu e eu, sim, que realmente precisamos de purificação! – Expiação e, além da expiação, o Amor. – Um amor que seja cautério: que abrase a sujidade da nossa alma, que incendeie, com chamas divinas, a miséria do nosso coração».
 
Vale a pena aproveitar o exemplo de Maria para “limpar” a nossa alma neste tempo do Natal, fazendo uma confissão sacramental sincera, para poder receber o Senhor com as melhores disposições. Assim, José apresenta a oferenda de um par de rolas, mas oferece principalmente a sua capacidade de realizar, com o seu trabalho e com o seu amor castíssimo, o plano de Deus para a Sagrada Família, modelo de todas as famílias.
 
Simeão recebeu do Espírito Santo a revelação de que não morreria sem ver Cristo. Vai ao Templo e, ao receber o Messias nos seus braços, cheio de alegria, diz-lhe: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação» (Lc 2,29-30). Neste Natal, contemplemos, com olhos de fé, Jesus que vem salvar-nos com o seu nascimento. Assim como Simeão entoou um cântico de ação de graças, alegremo-nos cantando diante do presépio, em família, e no nosso coração, pois sabemo-nos salvos pelo Menino Jesus.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Terias morrido para sempre, se ele não tivesse nascido no tempo. Comemoremos com alegria o advento de nossa salvação e redenção» (Santo Agostinho)
 
«Simeão reconhece naquele Menino ao Salvador, mas intui –graças ao Espírito- que em torno a Ele girará o destino da humanidade... Tendo “tocado” a salvação, o entusiasmo de Simeão é tão grande, que para ele viver e morrer são o mesmo» (Bento XVI)
 
«A apresentação de Jesus no Templo o mostra como o Primogênito pertencente ao Senhor. Com Simeão e Ana (...) Jesus é reconhecido como o Messias tão esperado, “luz das nações” e glória de Israel”, mas é também “sinal de contradição”. A espada de dor predita a Maria anuncia esta outra oblação, perfeita e única, da cruz, que dará a salvação que Deus “preparou diante de todos os povos”» (Catecismo da Igreja Católica, n° 529)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Os primeiros dois capítulos do Evangelho de Lucas, escrito na metade dos anos 80, não são história no sentido em que nós hoje entendemos a história.
Funcionam muito mais como espelho, onde os cristãos convertidos do paganismo descobriam que Jesus tinha vindo realizar as profecias do Antigo Testamento e atender às mais profundas aspirações do coração humano. São também símbolo e espelho do que estava acontecendo entre os cristãos do tempo de Lucas. As comunidades vindas do paganismo tinham nascido das comunidades dos judeus convertidos, mas eram diferentes. O Novo não correspondia ao que o Antigo imaginava e esperava. Era "sinal de contradição" (Lc 2,34), causava tensões e era fonte de muita dor. Na atitude de Maria, imagem do Povo de Deus, Lucas apresenta um modelo de como perseverar no Novo, sem ser infiel ao Antigo.
 
* Nestes dois primeiros capítulos do evangelho de Lucas tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus. Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta, pois, finalmente, a misericórdia de Deus se revelou e, em Jesus, ele cumpriu as promessas feitas aos pais. E Deus as cumpriu em favor dos pobres, dos anawin, como Isabel e Zacarias, Maria e José, Ana e Simeão, os pastores. Estes souberam esperar pela sua vinda.
 
* A insistência de Lucas em dizer que Maria e José cumpriram tudo aquilo que a Lei prescreve evoca o que Paulo escreveu na carta aos Gálatas: “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gal 4,4-5).
 
* A história do velho Simeão ensina que a esperança, mesmo demorada, um dia se realiza. Ela não se frustra nem se desfaz. Mas a forma de ela realizar-se nem sempre corresponde à maneira como a imaginamos. Simeão esperava o Messias glorioso de Israel. Chegando ao templo, no meio de tantos casais que trazem seus meninos ao templo, ele vê um casal pobre lá de Nazaré. É neste casal pobre com seu menino ele vê a realização da sua esperança e da esperança do povo: “Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel."
 
* No texto do evangelho deste dia, aparecem os temas preferidos de Lucas, a saber, uma grande insistência na ação do Espírito Santo, na oração e no ambiente orante, uma atenção contínua à ação e à participação das mulheres, e uma preocupação constante com os pobres e com a mensagem a ser dada aos pobres.
 
Para um confronto pessoal
1. Você seria capaz de perceber numa criança pobre a luz para iluminar as nações?
2. Você seria capaz de aguentar uma vida inteira esperando a realização da sua esperança?
 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Mensagem do Prior Geral da Ordem do Carmo

 


Estimados irmãos e irmãs da Família Carmelita:
desejo-vos um Santo Natal e um Próspero Ano Novo de 2026!
Que o Menino Jesus vos encha de bênçãos e vos dê a paz.
 
1. Há alguns anos, o Papa emérito Bento XVI explicou o significado desta Noite Santa, que vamos celebrar, lembrando-nos que quem pretende entrar na Igreja da Natividade de Jesus, em Belém, descobre que o portão de entrada foi em grande parte muralhado. Só ficou uma pequena abertura de um metro e meio. Como observou, “a intenção era provavelmente a de proteger melhor a igreja contra eventuais assaltos, mas, sobretudo, para impedir que se entrasse a cavalo na casa de Deus”. É providencial, porque “quem quiser entrar no lugar do nascimento de Jesus tem que se inclinar... se queremos encontrar o Deus que nos apareceu como Menino, temos que desmontar do cavalo da nossa razão ‘iluminada’. Devemos depor as nossas falsas certezas, a nossa soberba intelectual, que às vezes nos impede de perceber a proximidade de Deus”. O que é a humildade senão abaixar-se para entrar pela porta da fé e encontrar a Deus? Que o Deus-Menino nos ensine a inclinar-nos perante o mistério de Deus. Peçamos também, neste Natal por todos aqueles que têm que viver na pobreza, na dor, na doença e no abandono, para que também a eles chegue, através das nossas mãos, a bondade que Deus, com o nascimento do seu Filho, quis trazer ao mundo.

2. A música do silêncio. Entrar no espaço sagrado, de David Steindl-Rast e Sharon Lebell, é um livro que uma amiga me ofereceu. Os autores deste livro lembram-nos que os relatos bíblicos do Natal estão repletas de ‘anjos? De facto, eles são omnipresentes nas nossas vidas. Voltaire, bastante incrédulo, chegou a escrever em tom irónico que “não se sabia exatamente onde viviam os anjos”. A nossa época, felizmente liberta de interpretações literais da realidade, já não se preocupa com a envergadura das asas dos anjos, com o seu sexo ou com quantos deles cabem na cabeça de um alfinete. Nós concentramo-nos no significado do seu nome: anjo, que originalmente significa, como sabemos,  ‘mensageiro, arauto’. ‘Seres de luz’, ‘totalmente dedicados ao serviço de Deus’ e definidos, acima de tudo, pela missão que desempenham. Maria e José, por meio de um anjo, puderam encontrar-se com o Senhor. Também nas nossas comunidades há muitos ‘anjos’. Para os descobrir, é preciso parar, entrar em contacto com Deus e olhar à nossa volta. Aqueles que acompanham os nossos irmãos doentes ao médico; aqueles que silenciosamente fecham ou abrem as portas todos os dias; aqueles que levam o lixo para ser recolhido; aqueles que trazem o correio...; aqueles que sorriem gentilmente cada manhã... Todos eles são inspirados por um anjo. O que Voltaire talvez ignorava é que a morada dos anjos está na comunidade. É aí que eles vivem!

Que o Menino Jesus nos abençoe, ampare as nossas famílias e todos aqueles que são obrigados a esta longe dos seus entes queridos, dos seus amigos e da sua terra. Que Ele fortaleça os nossos governantes no seu compromisso de defender a vida e os mais vulneráveis. Que as nossas comunidades sejam a nova morada dos anjos.

Fraternalmente no Carmelo
Desiderio García Martínez, O.Carm.
Prior Geral

A Sagrada Família

Santos Inocentes, mártires
 
1ª Leitura (Si 3,2-6.12-14):
Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.
 
Salmo Responsorial: 127
R. Felizes os que esperam no Senhor e seguem os seus caminhos.
 
Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
 
Tua esposa será como videira fecunda, no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira, ao redor da tua mesa.
 
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém, todos os dias da tua vida.
 
2ª Leitura (Col 3,12-21): Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em ação de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.
 
Aleluia. Reine em vossos corações a paz de Cristo, habite em vós a sua palavra. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 2,13-15.19-23): Depois que os magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo». José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito; e lá ficou até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: «Do Egito chamei o meu filho». Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e lhe disse: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois já morreram aqueles que queriam matar o menino». Ele levantou-se, com o menino e a mãe, e entrou na terra de Israel. Mas quando soube que Arquelau reinava na Judéia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Depois de receber em sonho um aviso, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: «Ele será chamado nazareno».
 
«Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel»
 
Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (Tremp, Lleida, Espanha)
 
Hoje contemplamos o mistério da Sagrada Família. O Filho de Deus inicia sua andança entre os homens no seio de uma família. São os desígnios do Pai. A família será sempre o habitat humano insubstituível. Jesus tem um pai legal que o “leva” e uma Mãe que não se separa Dele. Deus se serviu em todo momento de São José, homem justo, esposo fiel e pai responsável para defender à Família de Nazaré: «Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo.» (Mt 2,13).
 
Hoje, mais que nunca, a Igreja está chamada a proclamar a boa nova do Evangelho da Família e a vida. Hoje más que nunca, uma cultura profundamente inumana tenta impor um anti-evangelho de confusão e de morte. João Paulo II nos lembrava em sua exortação Ecclesia in Europa: «A Igreja deve propor com fidelidade a verdade sobre o matrimonio e a família. É uma necessidade que sente de maneira urgente, porque sabe que esta tarefa lhe compete pela missão evangelizadora que seu Esposo e Senhor lhe confiou e que hoje se expressa com especial urgência. O valor da indissolubilidade matrimonial se corrompe cada vez mais; se reclamam formas de reconhecimento legal das convivências de fato, equiparando-as ao matrimonio legítimo...».
 
«Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo.» (Mt 2,13). Herodes ataca novamente, mas não temamos, porque a ajuda de Deus não nos faltará. Vamos a Nazaré! Redescubramos a verdade da família e da vida. Vivamos gozosamente e anunciemos aos nossos irmãos sedentos de luz e esperança. O Papa nos convoca a isso: «É preciso reafirmar tais instituições [o matrimonio e a família] como provenientes da vontade de Deus. Além disso, é necessário servir ao Evangelho da vida».
 
Novamente, «Com a morte de Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egito, e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e retorna à terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.» (Mt 2,19-20). O retorno de Egito é iminente!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando os magos anunciam a Herodes que há nascido um Rei, ele se turba, e, para não perder seu reino, lhe quer matar. Se tivesse crido em Ele, estaria seguro aqui na terra e reinaria sem fim na outra vida» (São Quodvultdeus)
 
«Que importante é que cada criança, ao vir ao mundo, seja acolhido pelo calor duma família! Não importam as comodidades exteriores: Jesus nasceu num celeiro e como primeiro berço teve uma manjedoura, mas o amor de Maria e de Jose lhe fez sentir a ternura e a beleza de ser amados» (Bento XVI)
 
«A fuga para o Egito e o massacre dos Inocentes manifestam a oposição das trevas à luz: “Ele veio para o que era seu e os seus não O receberam” (Jo 1,11)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 530)
 
A Sagrada Família peregrina na esperança
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
* O Evangelho de Mateus foi chamado o “Evangelho do Reino”.
Mateus convida-nos a refletir acerca da vinda do Reino dos Céus. Na estrutura do seu relato evangélico alguns viram um drama em sete atos, que trata da realidade da vinda deste Reino. O drama começa com a preparação para esta vinda do Reino na pessoa do Messias menino e termina com a vinda do Reino no sofrimento e no triunfo com a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, Filho de Deus.
 
* A passagem do Evangelho proposta para nossa reflexão, faz parte, por assim dizer, do primeiro ato, no qual Mateus nos apresenta a pessoa de Jesus que cumpre as Escrituras. Mateus é o evangelista que cita mais vezes o Antigo Testamento para demonstrar que em Cristo se cumprem a Lei e os Profetas. Jesus, a realização e a perfeição das Escrituras, veio ao mundo para restabelecer o Reino dos Céus, já anunciado na aliança de Deus com o seu povo. Com a vinda de Cristo, esta aliança não se limita unicamente ao povo hebreu mas alarga-se a todos os povos. Mateus orienta uma comunidade de hebreus cristãos, perseguida pela sinagoga, e convida-a a abrir-se aos gentios. Ele é o escriba sábio que sabe tirar do seu tesouro o que é antigo e o que é novo. O Evangelho foi escrito originariamente em arameu e depois redigido em grego.
 
* Mateus 2, 13-23 faz parte da secção que trata do nascimento e da infância de “Jesus Cristo filho de David, filho de Abraão” (Mt 1, 1). Jesus é filho do seu povo mas também é filho de toda a humanidade. Na sua genealogia encontram-se influências estrangeiras (Mt 1, 3-6). Os primeiros a serem chamados para homenagearem o recém-nascido, além de Maria sua Mãe (Mt 2, 11), são os Magos. O Messias atrai os sábios com a sua luz oferecendo-lhes a salvação (Mt 2, 1-12). Os Magos recebem esta salvação em contraste com Herodes e uma Jerusalém perturbada (Mt 2, 3). Desde o seu nascimento, Jesus é perseguido pelos chefes do seu povo e ao mesmo tempo revive as experiências dolorosas desse mesmo povo.
 
* Já desde o seu nascimento revive as várias experiências de exílio e de humilhação do seu povo. O Evangelho mostra-nos isto com o relato da fuga para o Egipto e a matança dos inocentes. O drama destes acontecimentos desenrola-se diante de nós nestas secções:
- O anjo que aparece em sonhos a José depois da partida dos Magos e a fuga para o Egipto (Mt 2, 13-15).
- Herodes dá-se conta de que foi enganado pelos Magos e mata todos os meninos de Belém (Mt 2, 16-18).
- A morte de Herodes e o regresso “clandestino” da Sagrada Família, não a Belém mas à Galileia (Mt 2, 19-23).
 
* O tema do rei que mata os temidos adversários é comum na história de toda a dinastia real. Na literatura bíblica, além desta cena de Herodes que procura o Menino Jesus para o matar, encontramos no Antigo Testamento alguns relatos parecidos. No primeiro livro de Samuel, Saul rejeitado pelo Senhor, tem medo de David e procura matá-lo (1Sam 15; 18; 19; 20). Mical e Jónatas  ajudam-no a escapar (1Sam 19, 20). No primeiro livro dos Reis, o rei Salomão, na sua velhice, infiel a Deus e aos seus pais, com o coração pervertido, cometeu o que é mal aos olhos do Senhor (1Re 11, 3-13). Por isso o Senhor suscita um adversário, Hadad, contra ele (1Re 11, 14), que durante o reinado de David foge e refugia-se no Egipto (1Re 11, 17). Outro adversário de Salomão é Jeroboão, que também se refugia no Egipto para se livrar do rei que o quer matar (1Re 11, 40). Este era o período da decadência do reino. No segundo livro dos Reis, desta vez no contexto do assalto a Jerusalém, que acontece “no ano nono do seu reinado (Nabucodonosor), no dia dez do décimo mês” (2Re 25, 1) do ano 589, encontramos o saque de Jerusalém e a segunda deportação do povo no ano 587 (2Re 25, 8-21). O povo “que permaneceu no país de Judá” (2Re 25, 22) submete-se a Godolias colocado como governador por Nabucodonosor. “Ismael (…) com dez homens (…) deram a morte a Godolias, aos Judeus e aos Caldeus que estavam com ele”. Imediatamente, com medo dos Caldeus fugiram para o Egipto (2Re 25-26). No livro do profeta Jeremias encontramos também o relato de Urias “um homem que profetizava em nome do Senhor” (Jer 26, 20). Este foge para o Egipto porque o rei Joaquim procurava matá-lo. O rei conseguiu encontrá-lo no Egipto e matou-o (Jer 25, 20-24).
 
* Mateus, através destes acontecimentos que aclaram a fuga da Sagrada Família para o Egito, faz-nos ver que Jesus logo desde criança participa da sorte do seu povo. O Egipto converte-se para Jesus um refúgio como o tinha sido para os patriarcas:
- Abraão “desceu ao Egipto para aí viver porque a fome pairava sobre o país” (Gen 12, 1).
- José ameaçado pelos irmãos que procuram matá-lo por inveja e é depois vendido aos mercadores que o levam para o Egipto e o entregam a Putifar (Gen 37, 12-36).
- Israel (Jacob) que vai para o Egipto chamado pelo seu filho José (Gen 46, 1-7).
- A família de Israel (Jacob) que vai para o Egipto e estabelece-se aí (Gen 46-50; Ex 1, 1-6).
 
* Mateus altera o sentido da citação tomada de Oseias 11, 1: “Do Egipto chamei o meu filho” e interpreta-a como se Deus chamasse o seu Filho Jesus para fugir para o Egipto (Mt 2, 15). O sentido original de Oseias era que o Senhor chamou o seu filho Israel para fugir para o Egipto para formar um povo. A fuga de Jesus para o Egipto e o extermínio dos inocentes de Belém recorda-nos a opressão de Israel no país do Egipto e o extermínio dos recém-nascidos masculinos (Ex 1, 8-22). A profecia aplicada à matança dos inocentes é tomada do livro da consolação composto pelos capítulos 30 e 31 do livro do profeta Jeremias. A lamentação está relacionada com a promessa do Senhor que consola Raquel, a mulher de Jacob (Israel), mãe de José, que foi sepultada, segundo a tradição, perto de Belém, e que lhe promete que ela será recompensada pela sua tristeza, pelos seus filhos que nunca mais voltarão (Jer 31, 15-18).
 
* Voltando do Egipto depois da morte de Herodes, José decide estabelecer-se na Galileia numa cidade chamada Nazaré. Jesus será chamado Nazareno. Mais tarde, também os seus discípulos serão reconhecidos como Nazarenos (Act 24, 5).

quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

27 de dezembro: São João, apóstolo e evangelista

1ª Leitura (1Jo 1,1-4):
Caríssimos: O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos, o que tocámos com as nossas mãos acerca do Verbo da Vida, é o que nós vos anunciamos. Porque a Vida manifestou-Se e nós vimos e damos testemunho dela. Nós vos anunciamos a Vida eterna, que estava junto do Pai e nos foi manifestada. Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos, para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. E vos escrevemos tudo isto, para que a vossa alegria seja completa.
 
Salmo Responsorial: 96
R. Alegrai-vos, justos, no Senhor.
 
O Senhor é Rei: exulte a terra, rejubile a multidão das ilhas. Ao seu redor, nuvens e trevas; a justiça e o direito são a base do seu trono.
 
Derretem-se os montes como cera, diante do Senhor de toda a terra. Os céus proclamam a sua justiça e todos os povos contemplam a sua glória.
 
A luz resplandece para o justo e a alegria para os corações retos. Alegrai-vos, ó justos, no Senhor, e louvai o seu nome santo.
 
Aleluia. Nós Vos louvamos, ó Deus; nós Vos bendizemos, Senhor. O coro glorioso dos Apóstolos canta os vossos louvores. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 20,2-8): Maria Madalena saiu correndo e foi se encontrar com Simão Pedro e com o outro discípulo, aquele que Jesus mais amava. Disse-lhes: «Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o colocaram». Pedro e o outro discípulo saíram e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, e o outro discípulo correu mais depressa, chegando primeiro ao túmulo. Inclinando-se, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Simão Pedro, que vinha seguindo, chegou também e entrou no túmulo. Ele observou as faixas de linho no chão, e o pano que tinha coberto a cabeça de Jesus: este pano não estava com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. O outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, entrou também, viu e creu.
 
«Viu e creu»
 
Rev. D. Manel VALLS i Serra (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a liturgia celebra a solenidade de são João, apóstolo e evangelista. Ao dia seguinte de Natal, a Igreja celebra a festa do primeiro mártir da fé cristã: são Estevão. E ao dia seguinte, a festa de são João, aquele que melhor e mais profundamente penetra no mistério do Verbo encarnado, o primeiro "teólogo" e modelo de tudo verdadeiro “teólogo”. A passagem do seu Evangelho que hoje se propõe ajuda-nos a contemplar o Natal desde a perspectiva da Ressurreição do Senhor. Por isso, João, ao chegar até o túmulo vazio, «viu e creu» (Jo 20,8). Confiados na testemunha dos Apóstolos, nos vemos movidos em cada Natal a "ver" e "crer".
 
Cada um pode reviver esses "ver" e "crer" a propósito do nascimento de Jesus, o Verbo encarnado. João movido pela intuição do seu coração —e, deveríamos acrescentar pela "graça"— "vê mais além do que seus olhos naquele momento podem contemplar. Na realidade, se ele crê, vê sem "ter visto" ainda a Cristo, com o qual já tem implícita a louvação para aqueles que «não viram, e creram!» (Jo 20,29), com o qual acaba o capítulo do seu Evangelho.
 
Pedro e João "correm" juntos até o túmulo, mais o texto nos diz que João «o outro discípulo correu mais depressa, chegando primeiro ao túmulo» (Jo 20,4). Parece como se João desejasse mais estar ao lado de Aquele que amava —Cristo— do que estar fisicamente ao lado de Pedro, ante o qual, porém —com um gesto de esperá-lo e que seja ele quem entre primeiro ao túmulo— demonstra que é Pedro quem tem a primazia no Colégio Apostólico. Com tudo, o coração ardente, cheio de zelo, fervoroso de amor por João, é o que o leva a "correr" e "avançar", convidando-nos a viver igualmente a nossa fé com este desejo ardente de encontrar ao Ressuscitado.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«João, junto da manjedoura, diz-nos: vede o que se concede a quem se entrega a Deus de coração puro. Eles participarão da total e inesgotável plenitude da vida humano-divina de Cristo como recompensa real» (Santa Teresa Benedita da Cruz)
 
«Que melhor comentário sobre o `mandamento novo´, do que aquele de que nos fala São João? Peçamos ao Pai que o vivamos, mesmo que seja sempre de forma imperfeita, de modo tão intenso que contagie aqueles que encontramos no nosso caminho» (Bento XVI)
 
«Retomando a expressão de São João («o Verbo fez-Se carne»: Jo 1, 14), a Igreja chama “Encarnação” ao facto de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana, para nela levar a efeito a nossa salvação (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº461)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* O evangelho de hoje traz o trecho do Evangelho de João, que fala do Discípulo Amado.
Provavelmente, escolheram este texto para ser lido e meditado no dia de hoje, festa de São João Evangelista, por causa da identificação espontânea que todos fazemos do discípulo amado com o apóstolo João. O curioso é que, em canto algum do evangelho de João, se diz que o discípulo amado é João. Mas desde o mais remoto início da Igreja sempre se insistiu na identificação dos dois. Porém, insistindo demais na semelhança entre os dois corremos o risco de perder um aspecto muito importante da mensagem do Evangelho a respeito do discípulo amado.
 
* No evangelho de João o discípulo amado representa a nova comunidade que nasce ao redor de Jesus. O Discípulo Amado está ao pé da Cruz junto com Maria, a mãe de Jesus (Jo 19,26). Maria representa o Povo da antiga aliança. No fim do primeiro século, época em que foi feita a redação final do Evangelho de João, havia o conflito crescente entre a sinagoga e a igreja. Alguns cristãos queriam abandonar o Antigo Testamento e ficar só com o Novo Testamento. Ao pé da Cruz Jesus diz: “Mulher, eis aí teu filho!” e ao discípulo amado: “Filho, eis aí tua mãe!” Os dois devem permanecer unidos, como mãe e filho. Separar o Antigo Testamento do Novo Testamento era naquele tempo o mesmo que hoje chamamos de separação entre fé (NT) e vida (AT).
 
* No evangelho de hoje, Pedro e o Discípulo Amado, alertados pelo testemunho de Maria Madalena, correm juntos para o Santo Sepulcro. O jovem é mais veloz que o velho e chega primeiro. Ele olha para dentro do sepulcro, observa tudo, mas não entra. Ele deixa Pedro entrar primeiro. Pedro entrou. É sugestiva a maneira como o evangelho descreve a reação dos dois homens diante do que ambos viram: “Então Pedro, que vinha correndo atrás, chegou também e entrou no túmulo. Viu os panos de linho estendidos no chão e o sudário que tinha sido usado para cobrir a cabeça de Jesus. Mas o sudário não estava com os panos de linho no chão; estava enrolado num lugar à parte. Então o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, entrou também. Ele viu e acreditou”. Ambos viram a mesma coisa, mas só se diz do Discípulo Amado que ele acreditou: “Depois entrou o discípulo: olhou e acreditou!” Por quê? Será que Pedro não acreditou?
 
* O discípulo amado tem um olhar diferente que percebe mais que os outros. Tem um olhar amoroso que percebe a presença da novidade de Deus. Na madrugada depois daquela noite de pescaria e depois da pesca milagrosa, é ele, o discípulo amado, que percebe a presença de Jesus e diz: “É o Senhor!” (Jo 21,7). Naquela ocasião, Pedro, alertado pela afirmação do discípulo amado também reconheceu e começou a enxergar. Pedro aprendeu do discípulo amado. Em seguida, Jesus perguntou três vezes; “Pedro, você me ama?” (Jo 21,15.16.17). Por três vezes, Pedro respondeu: “Tu sabes que eu te amo!” Depois da terceira vez, Jesus confiou as ovelhas aos cuidados de Pedro, pois neste momento também Pedro se tornou “Discípulo Amado”.
 
Para um confronto pessoal
1. Todos que acreditamos em Jesus somos hoje o Discípulo Amado. Será que tenho o mesmo olhar amoroso para perceber a presença de Deus e crer na sua ressurreição?
2. Separar o Antigo do Novo Testamento é o mesmo que separar Vida e Fé. Como faço e vivo isto?