sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

III Domingo do Advento

S. João da Cruz, presbítero de nossa Ordem e Doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Is 35,1-6a.10):
Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. Ser-lhe-á dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e do Saron. Verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais: Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-vos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão de chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto. Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos.
 
Salmo Responsorial: 145
R. Vinde, Senhor, e salvai-nos.
 
O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos.
 
O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos.
 
O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores.
 
O Senhor reina eternamente. o teu Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações.
 
2ª Leitura (Tg 5,7-10): Irmãos: Esperai com paciência a vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia. Sede pacientes, vós também, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns dos outros, a fim de não serdes julgados. Eis que o Juiz está à porta. Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor.
 
Aleluia. O Espírito do Senhor está sobre mim: enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 11,2-11): Naquele tempo, ora, João Batista, estando na prisão, ouviu falar das obras do Cristo e mandou alguns discípulos para lhe perguntar: «És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?». Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito!». Enquanto os enviados se afastavam, Jesus começou a falar às multidões sobre João: «Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Olhai, os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que profeta. Este é de quem está escrito: ‘Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho diante de ti’. Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele».
 
«Entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista»
 
Dr. Johannes VILAR (Köln, Alemanha)
 
Hoje, como no domingo anterior, a Igreja apresenta-nos a figura de João Baptista. Ele tinha muitos discípulos e uma doutrina clara e diferenciada: para os publicanos, para os soldados, para os fariseus e saduceus... O seu empenho consiste em preparar a vida pública do Messias. Primeiro enviou João e André, hoje envia outros para que O conheçam. Chegam com uma pergunta: «És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?» Mt 11,3) Bem sabia João quem era Jesus. Ele mesmo o testemunhava: «Eu não O conhecia, mas aquele que me mandou batizar com água disse-me: «Aquele sobre quem vires descer e permanecer o Espírito, esse é quem batiza no Espírito Santo» (Jo 1,33). Jesus responde com factos: os cegos veem e os coxos andam...
 
João tinha um caráter firme no seu modo de viver e de se manter na Verdade, o que lhe custou ser encarcerado e martirizado. Mesmo no cárcere fala eficazmente com Herodes. João ensina-nos a compaginar a firmeza de caráter com a humildade: «Não sou digno de lhe desatar as correias do calçado» (Jo 1,27); «Importa que ele cresça e que eu diminua» (Jo 3,30); alegra-se por Jesus batizar mais do que ele, pois considera-se somente “amigo do esposo”(cf Jo 3, 26).
 
Numa palavra: João ensina-nos a levar a sério a nossa missão na terra: ser cristãos coerentes, que se sabem e atuam como filhos de Deus. Devemos perguntar-nos: —Como se preparariam Maria e José para o nascimento de Jesus Cristo? Como preparou João os ensinamentos de Jesus? Como nos preparamos para o comemorar e para a segunda vinda do Senhor no final dos tempos? Pois, como dizia São Cirilo de Jerusalém: «Nós anunciamos a vinda de Cristo, não somente a primeira, mas também a segunda, muito mais gloriosa do que aquela. “Pois aquela esteve impregnada de sofrimento, mas a segunda trará o diadema da glória divina».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«João era uma voz provisória. E quando lhe perguntaram: ‘¿Quem és tu?’ Ele respondeu: ‘Eu sou a voz que grita no deserto: ¡Preparai o caminho do Senhor!’. O que significa: ‘Preparai o caminho’, senão: ‘Pensai com humildade’?» (São Agostinho)
 
«A Igreja, neste domingo, antecipa um pouco da alegria do Natal, e por isso é chamado “o domingo da alegria”. E a alegria do Natal é uma alegria especial. É uma alegria serena, tranquila, uma alegria que acompanha sempre ao cristão. Inclusive nos momentos difíceis. O cristão, quando é verdadeiro cristão, nunca perde a paz» (Francisco)
 
«Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia. Aí proclamava a Boa-Nova da vinda de Deus, nestes termos: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e acreditai na Boa-Nova!" (Mc 1,15). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos céus. Ora a vontade do Pai é “elevar os homens à participação da vida divina”. E fá-lo reunindo os homens em torno do seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, a qual é na terra ‘o germe e o princípio’ do Reino de Deus» (269) (Catecismo da Igreja Católica, nº 541)
 
“Ide contar a João o que vedes e ouvis”
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.
 
* Com esta passagem, Mateus abre a terceira secção do anúncio do Reino dos céus por Jesus em palavras e obras: o mistério do Reino (11,1-12,50).
Nela apresenta as atitudes de diferentes pessoas e grupos em relação a Jesus. O texto tem duas partes: a) a embaixada e pergunta de João Batista a Jesus (vv. 2-6); b) o juízo de Jesus sobre João (vv. 7-11).
 
* v. 2. Tendo João no cárcere ouvido falar das obras de Cristo, mandou, por meio dos seus discípulos. O episódio começa com a menção de João Batista, que está preso (14,3) na fortaleza de Maqueronte por ordem de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia (4 a.C.–39 d.C.). O motivo oficial da prisão era político. Dele afirma Flávio Josefo: “Herodes, temendo que [João Batista], pela influência que exercia sobre [as multidões], viesse a suscitar alguma rebelião, porque o povo estava sempre pronto a fazer o que João ordenasse, julgou que devia prevenir o mal, para depois não ter motivo de se arrepender por ter esperado muito para remediá-lo. Por esse motivo, mandou prender João numa fortaleza, em Maqueronte… e ali ele foi morto” (Ant. 18,5,2). Na realidade, porém, Herodes mandara prender João por este o ter advertido que não podia viver com a sua cunhada, Herodíades (14,4; cf. Lv 20,21), que ele tinha roubado a seu irmão, Herodes Filipe, em Roma.
 
* No deserto (3,1), junto ao rio Jordão, João tinha anunciado a chegada iminente de “Cristo”, o Messias (he. “ungido”), que descrevera como juiz divino (3,7-12) e reconhecera em Jesus (3,14s). Jesus, porém, só inicia a sua missão quando João é preso (4,12), sendo, por isso, só na prisão que João ouve “falar das obras de Cristo”. “De Cristo” quer aqui dizer: não só de Jesus, mas também dos seus discípulos, que Ele tinha enviado (10,8) e através dos quais age. João não duvidava de Jesus e acreditava nele. Mas os gestos, palavras e obras deste tomaram um rumo tão novo, impossível de imaginar, que até João ficou perplexo, a ponto de duvidar de si mesmo e de se perguntar se não se teria equivocado (cf. Gl 2,2). Jesus mostra, de facto, tal amor, misericórdia e proximidade em relação a todos, mesmo aos pecadores, que todos ficam surpreendidos, até João.
 
* v. 3. Dizer-lhe: «És Tu O que vem ou devemos esperar outro?» João, porém, é humilde e profeta: deixa-se interpelar pelas pessoas, factos e acontecimentos, para neles escutar a voz de Deus, que fala na história. Neste caso, ainda com mais razão. Jesus é de tal modo novo, que ninguém O pode conhecer, se O não deixar falar, dizer-se a Si mesmo, revelar Quem é e qual é a sua missão. Envia então a Jesus uns discípulos seus para Lhe perguntar se Ele é “O que vem” (3,11; 21,9; 23,39; (Sl 118,26; At 19,4; Jo 11,27; Hb 10,37; Ap 1,4), ou seja, o Messias prometido (cf. Dt 18,15; Dn 7,13; 9,26), como rei pobre, humilde, justo e salvador (21,9p; 23,39p; Zc 9,9), realizar o eterno desígnio de Deus, anunciado as Escrituras, no qual é o próprio Deus que vem (Ml 3,1) com poder (Is 40,9ss), ou se devem esperar outro.
 
v. 4. Respondendo, Jesus disse‑lhes: «Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Jesus responde, convidando os discípulos de João a ouvir e a ver. Primeiro a “ouvir”, porque a fé vem pelo ouvido (Rm 10,17; Gl 3,2.5); depois a “ver”, porque só é possível “ver” Jesus, conhecê-lo, pela fé, à luz da revelação e do desígnio do Pai (v. 27; 16,17), expresso nas Escrituras (as quais, por sua vez, só à luz de Cristo se compreendem).
 
v. 5. Cegos recuperam a vista, coxos andam, leprosos são purificados, surdos ouvem, mortos são ressuscitados e pobres são evangelizados. Primeiro, Jesus remete para as Escrituras, citando as passagens que anunciam a vinda do Reino de Deus, através do Messias,  num novo êxodo, em que se manifesta o poder divino, realizando prodígios, desta vez, não para castigar e matar os inimigos (como no caso de Moisés), mas para salvar. Depois, Jesus deixa que sejam as obras a falar (Jo 5,36): purificar leprosos (8,2; 2Rs 5,7) e dar vida a mortos (Is 26,19), o que só Deus podia fazer; fazer surdos ouvir, cegos ver e coxos andar (21,14; Is 29,18; 35,5s; 42,7.18); e evangelizar os pobres (5,3; Is 61,1; Lc 4,18s). São seis sinais, número que evoca a criação do homem (Gn 1,27.31). Jesus é o Messias que salva o homem, regenerando-o e fazendo dele uma nova criatura. Só O reconhece, porém, quem acredita no Evangelho, que é o próprio Jesus, na sua Pessoa, palavra e obras. Jesus convida, pois, João a acreditar na Boa Nova que lhe transmitirão os seus discípulos, convertidos agora em testemunhas e mensageiros seus: “Ide e anunciai a João o que ouvis e vedes” (28,8.10.19; 1Jo 1,2s).
 
v. 6. E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar comigo». Jesus, no entanto, não é um Messias à medida humana. Quem pretender instrumentalizá-lo, pô-lo ao serviço dos seus próprios interesses, conformá-lo com as suas ideias, encaixá-lo nos seus esquemas, reduzi-lo à medida da sua própria razão, ainda não se abriu à fé e acabará por se “escandalizar” com Ele (13,57; 26,31; Jo 16,1), ou seja, por tropeçar nele e cair na revolta, incredulidade ou apatia, acabando por se afastar dele e O rejeitar (cf. Jo 6,61s).
 
v. 7. Quando eles partiram, Jesus começou a falar às multidões acerca de João: «Saístes para ver o quê no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Na segunda parte, Jesus dá testemunho da figura e ação proféticas de João. Para isso, utiliza um dos recursos retóricos típicos dos rabinos: faz uma série de perguntas – aqui: “Saístes para ver o quê?”, três vezes – que convidam os ouvintes a interrogar-se sobre a realidade, para aí descobrirem o sentido mais profundo e oculto da verdade, de modo a corresponder-lhe na vida concreta. A resposta às duas primeiras perguntas é obviamente negativa: João, a quem saíram “para ver no deserto” (3,1.5p), não é “uma cana agitada pelo vento” (cf. Is 7,2; Dt 28,65; Pv 28,1; Sr 22,18; Ef 4,14; Tg 1,6), um pregador oportunista, cheio de medo, cuja mensagem segue as modas e se ajeita às conveniências para agradar aos homens e atrair a si (e não a Deus) os que o ouvem (cf. Gl 1,10; 1Ts 2,4).
 
v. 8. Mas saístes para ver o quê? Um homem vestido com roupas finas? Eis que aqueles que trajam roupas finas estão nas casas dos reis.
 
Menos ainda é uma pessoa mundana, refinada, que ambiciona comodidades, sucesso e luxo (3,4p). João é um dos pobres em espírito, dos perseguidos por causa da justiça, dos injuriados, de quem é o Reino dos Céus (cf. 5,3.10ss).
 
v. 9. Mas saístes para ver o quê? Um profeta? Sim, digo-vos, e mais do que profeta. João é o profeta (v. 13; 14,5; 21,26; 5,12; Lc 1,76) através do qual Deus pôs termo a 400 anos de silêncio profético. Mas também “é mais que profeta”, como Jesus diz.
 
v. 10. É dele que está escrito: “Eis que Eu envio o meu mensageiro diante da tua face”, “o qual preparará o teu caminho diante de ti”. Jesus explica o que acaba de dizer, apresentando João Batista a partir de duas passagens do AT, que cita: 1) Ex 23,20: ele é  “o anjo” (gr.), ou seja, o “mensageiro”, “enviado” (gr. apostéllô) por Deus como Precursor à frente de Cristo, o Messias que inaugurará o novo e definitivo êxodo, o da salvação; 2) Ml 3,1: ele é o mensageiro que vem no espírito de Elias, a preparar o caminho do Messias; ou seja, ele é o novo Elias que havia de vir (v. 14; 17,13; Ml 3,23s).
 
v. 11. Amém vos digo: entre os nascidos de mulher, não surgiu ninguém maior do que João Baptista; mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele». Os “nascidos de mulher” (Jb 14,1; 15,14; 25,4; o que não é o caso de Adão) são os membros desta “geração má e adúltera” (12,39.45; 16,4; 17,17), a humanidade pecadora, nascida de Eva depois desta ter pecado (Gn 4,1). Apesar da grandeza (Lc 1,15) que lhe advém de ser o Precursor de Cristo, João faz parte dela; ele está à porta do Reino, mas ainda não entrou nele (Lc 16,16). Já os que renasceram de Deus, pela água e pelo Espírito Santo (Jo 3,3ss) o perdão dos pecados, passaram a ser filhos de Deus, membros de Cristo e templos do Espírito Santo. Tornados participantes da natureza divina, já vivem na terra no Reino dos céus, podendo fazer pela fé as mesmas obras de Cristo, e até maiores (Jo 14,12). Por isso, em virtude deste dom da graça, que transcende por completo o regime da Lei, mesmo o menor dos filhos de Deus é “maior” (cf. 18,1; Lc 22,24) do que João, o qual, entretanto, acabará também por entrar no Reino dos céus, graças ao “batismo de sangue” que receberá no seu martírio (cf.14,3-12).
 
MEDITAÇÃO
1. Quem são os cegos, coxos, leprosos, surdos e mortos a quem somos enviados? Preocupamo-nos em levar-lhes o amor de Deus e em anunciar-lhes a Boa Nova, por palavras, obras e gestos?
2. A minha vida é testemunho profético de Jesus ou tenho medo das críticas, deixando-me vencer pelos gostos e interesses do momento?
3. Sou daqueles que nunca se enganam, que têm o monopólio da verdade, ou escuto o Senhor e os irmãos, deixando-me interpelar pela sua Palavra e procurando, na oração, discernir a sua ação na minha vida, a fim de seguir com determinação e fidelidade o Seu caminho?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

14 de dezembro

 S. João da Cruz
Presbítero de nossa Ordem e Doutor da Igreja
 

Nasceu em Fontiveros (Ávila, Espanha) no ano 1542. Em Medina del Campo, com 21 anos de idade, tomou o hábito da Ordem, na qual pediu para viver uma vida mais austera de acordo com a Regra primitiva. Foi um instrumento providencial nas mãos de Teresa de Jesus, a quem ajudou na sua obra desde a primeira fundação de religiosos contemplativos em Duruelo (28.11.1568). Morreu em Úbeda no dia 13 de dezembro de 1591. É um grande mestre dos caminhos do espírito. As suas obras Subida do Monte Carmelo, Noite Escura, Cântico Espiritual e Chama de Amor Viva, valem-lhe o título de Doutor da Igreja universal, conferido por Pio XI em 24 de agosto de 1926.
 
INVITATÓRIO
R. Vinde, adoremos o Senhor Jesus, Palavra única do pai.
 
LAUDES
Hino
Bem eu sei a fonte que mana e corre,
Embora seja noite.
Aquela eterna fonte não a vê ninguém
E bem sei onde é e donde vem,
Embora seja noite.
Não sei a fonte dela, que não há,
Mas sei que toda a fonte vem de lá,
Embora seja noite.
Não pode haver, eu sei, coisa tão bela
E céus e terra beleza bebem dela,
Embora seja noite.
Porque não pode ali o fundo achar,
Eu sei que ninguém a pode atravessar,
Embora seja noite.
A claridade sua não escurece
E sei que toda a luz dela amanhece,
Embora seja noite.
Tão caudalosas são suas correntes
Que regam céus, infernos e as gentes,
Embora seja noite.
E desta fonte nasce uma corrente
E bem sei eu que é forte e onipotente,
Embora seja noite.
E das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas a precede,
Embora seja noite.
E esta eterna fonte está escondida
Neste vivo pão a dar-nos vida,
Embora seja noite.
Aqui está a chamar as criaturas
Que bebem desta água, e às escuras,
Porque é de noite.
Esta viva fonte que desejo,
Em este pão de vida, aí a vejo,
Embora de noite.
 
Ant.1 Senhor Deus de Israel, ó Salvador, verdadeiramente sois um Deus oculto!
 
Salmos e Cântico do Domingo da I Semana
 
Ant.2 Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus.
 
Ant.3 Cantai ao Senhor, dai-lhe graças de todo coração com cânticos espirituais.
 
Leitura breve - 2Cor 3,17 -18
Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor aí está a liberdade. E nós todos, que temos a face descoberta, refletimos, como num espelho, a glória do Senhor, e somos transfigurados nesta mesma imagem cada vez mais resplandecente, vinda do Senhor que é Espírito.
 
Responsório breve
V. Então a tua luz brilhará nas trevas * e a tua escuridão
será como a luz do meio-dia. R. Então a tua luz.
V. E o Senhor inundará de luz a tua alma. * E a tua escuridão.
Glória ao Pai. R. Então a tua luz.
 
Cântico evangélico, Ant. à escolha 1) ou 2) ou 3)
Ant1. Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz.
ou
Ant2. O Senhor nascido de Maria vem para iluminar a todos os que jazem entre as trevas e estão sentados na sombra da morte, e para guiar os nossos passos no caminho da paz.
ou
Ant3. Prestai bem atenção à palavra dos Profetas, como a uma lamparina, que brilha em lugar escuro, até que desponte o dia, e a Estrela da Manhã venha raiar nos vossos corações.
 
Preces
Aclamemos o Senhor Jesus Cristo, Cabeça e Esposo da Igreja, que nos alegra hoje com a festa de São João da Cruz; e digamos:
 
R. Senhor Jesus Cristo, vós sois o Rei da Glória!
 
Palavra única do Pai pronunciada desde sempre no eterno silêncio e recebida no seio da Virgem Maria na plenitude dos tempos,
- ensinai-nos hoje a escutar a vossa palavra no íntimo do coração e guardá-la e manifestá-la pelas obras. R.
 
Sabedoria do Pai, que nos revelastes o excesso do vosso amor, quando vos humilhastes na Encarnação e na Cruz,
- concedei aos que redimistes com o vosso Sangue que vivam continuamente em íntima comunhão convosco. R.
 
Imagem perfeita do Pai, em vós nos são revelados e concedidos todos os mistérios do Amor eterno,
- fazei que, movidos pelo vosso Espírito, caminhemos de claridade em claridade até à vossa Luz inacessível. R.
 
Encanto Supremo do Pai, em vós Deus olha com ternura e carinho para todos os homens e mulheres,
- fazei que sejamos perfeitos e misericordiosos como o vosso Pai celeste. R.
 
Jesus, Primogênito de todas as criaturas, por meio de vós o Pai criou e reformou todas as coisas com o seu Amor,
- fazei que passemos das coisas visíveis para a contemplação da vossa beleza, que é invisível. R.
(intenções livres)
Pai nosso
 
Oração
Senhor, que inspirastes a São João da Cruz, a perfeita abnegação de si mesmo e o ardente amor à cruz, concedei que, imitando o seu exemplo, cheguemos à contemplação eterna da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 
VÉSPERAS
Hino
Do Céu à terra vieste,
Filho de Deus humanado,
e por meu amor quiseste
sofrer e ser desprezado.
 
De igual modo eu quisera
provar-te como és amado:
por ti, Senhor, quem me dera
sofrer e ser desprezado.
 
Tua cruz é minha cruz,
em ti vivo transformado:
na vida só me seduz
sofrer e ser desprezado.
 
Meu Cristo Crucificado!
Todos os bens encontrei
quando de ti alcancei
sofrer e ser desprezado
 
“Quem se humilha é exaltado”!
Bendito sejas, Senhor!
É grande prova de amor
sofrer e ser desprezado
 
Ant.1 Por causa do grande amor, com que nos amou, Deus nos deu a vida com Cristo.
 
Salmos e Cântico do Comum dos santos pastores (para Doutores da Igreja)
 
Ant.2 Nós reconhecemos o amor, que Deus tem por nós, e nós acreditamos no Amor.
 
Ant.3 O Amor de Deus derramou-se sobre nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado.
 
Leitura breve – 1Cor 13,8-10.12-13·14
O amor não acabará nunca! As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência acabará. Com efeito, o nosso conhecimento é limitado e a nossa profecia é imperfeita. Mas quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Agora nós vemos num espelho, confusamente, mas então veremos face a face. Agora conheço apenas de modo imperfeito, mas então conhecerei como sou conhecido. Atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança, amor. Mas a maior delas é o amor. Ambicionai o amor.
 
Responsório breve
R. Forte como a morte é o amor.
* Suas chamas são chamas de fogo, um raio de Javé. R. Forte.
V. Quem nos separará do amor de Cristo? *' Suas chamas.
Glória ao Pai. R. Forte.
 
Cântico evangélico
Ant. Pai, aqueles que me deste quero que estejam comigo onde eu estiver; o amor com que me amaste esteja neles e eu mesmo esteja neles também.
 
Preces
Demos graças a Deus Pai que, por meio do seu amado Filho, nos enviou o seu Espírito, para que participemos da natureza divina e sejamos na Igreja testemunhas do Amor; e imploremos:
 
R. Pela intercessão de São João da Cruz, ouvi-nos, Senhor!
 
Dai à vossa Igreja uma fé viva que conduza todos, homens e mulheres, para vós,
_ e os faça viver em íntima união convosco. R.
 
A todos os que vos procuram com sinceridade concedei a esperança celeste,
_ que tanto mais alcança quanto mais espera. R.
 
Derramai sobre nós o vosso amor,
- para que possamos semear amor onde ele não existir. R.
 
Fazei que, nos Carmelos, as nossas irmãs, a exemplo da Virgem Maria, sua Mãe,
-sempre sejam fiéis e dóceis às inspirações do Espírito. R.
 
(intenções livres)
 
Concedei aos nossos irmãos e irmãs falecidos que, por fim purificados no fogo do vosso Amor,
- possam quanto antes cantar-vos, com Maria e todos os Santos, o seu eterno Cântico de Amor. R.
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor, que inspirastes a São João da Cruz, a perfeita abnegação de si mesmo e o ardente amor à cruz, concedei que, imitando o seu exemplo, cheguemos à contemplação eterna da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 

Sábado II do Advento

Santa Luzia, virgem e mártir
 
1ª Leitura (Si 48,1-4.9-11):
Naqueles dias, apareceu como um fogo o profeta Elias e as suas palavras queimavam como um facho ardente. Fez vir a fome sobre os israelitas e no seu zelo reduziu-os a poucos. Com a palavra do Senhor fechou o céu e por três vezes fez descer o fogo. – Como foste admirável, Elias, pelos teus prodígios! Quem se pode gloriar de ser como tu? Foste arrebatado num turbilhão de chamas e num carro puxado por cavalos de fogo; foste preparado para, em determinado tempo, aplacares a ira divina antes que ela se inflame, para reconciliares o coração dos pais com os filhos e restabeleceres as tribos de Jacob. Felizes os que te viram e os que morreram no amor, porque também nós certamente viveremos.
 
Salmo Responsorial: 79
R. Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.
 
Pastor de Israel, escutai, Vós que estais sentado sobre os Querubins, aparecei. Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio.
 
Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha. Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós.
 
Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes; e não mais nos apartaremos de Vós: fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.
 
Aleluia. Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas e toda a criatura verá a salvação de Deus. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 17,10-13): Descendo Jesus da montanha com eles, os discípulos perguntaram a Jesus: «Por que os escribas dizem que primeiro deve vir Elias?» Ele respondeu: «Sim, Elias vem; e porá tudo em ordem. E eu vos digo mais: Elias já veio, e não o reconheceram. Pelo contrário, fizeram com ele tudo o que quiseram. Assim também o Filho do Homem será maltratado por eles». Então os discípulos compreenderam que ele lhes havia falado de João Batista.
 
«Elias já veio, e não o reconheceram. Pelo contrário, fizeram com ele tudo o que quiseram»
 
Rev. D. Xavier SOBREVÍA i Vidal (Sant Just Desvern, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Jesus conversa com os discípulos, enquanto desce da montanha, onde tinham vivido a Transfiguração. O Senhor não aceitou a proposta de Pedro para ficar aí e, desce respondendo às perguntas dos discípulos. Estes, que acabam de participar por breves instantes da glória de Deus, estão surpreendidos e não compreendem que já tenha chegado o Messias, sem que o profeta Elias tenha vindo primeiro preparar a sua vinda.
 
Acontece que a preparação já se tinha realizado: «Eu vos digo mais: Elias já veio» (Mt 17,12): João Batista preparou o caminho. Mas os homens do mundo não reconhecem os profetas de Deus, nem os poderosos da Terra reconhecem a divindade de Jesus Cristo.
 
É preciso um olhar novo e um coração novo para reconhecer os caminhos de Deus e responder com generosidade e alegria ao chamamento exigente dos seus enviados. Nem todos estão dispostos a entendê-lo e, menos ainda, a vivê-lo. Senão também, as nossas vidas e os nossos projetos podem estar em oposição à vontade de Deus. Uma oposição que pode até converter-se em luta e rejeição do nosso Pai do Céu.
 
Precisamos descobrir o amor intenso que guia os desígnios de Deus quanto a nós e, se formos consequentes com a fé e a moral que Jesus nos revela, não estranharemos os maus-tratos, as difamações e as perseguições. É que, estar no bom caminho, não nos evita as dificuldades e Ele ensina-nos a continuar, apesar do sofrimento.
 
À Mãe de Jesus, Rainha dos Apóstolos, pedimos que interceda para que a ninguém faltem amigos que, como os profetas, anunciem a Boa Nova da salvação que nos traz o nascimento de Jesus Cristo. Temos a missão, você e eu, de fazer com que este Natal seja vivido mais cristãmente pelas pessoas que encontraremos no nosso caminho.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O amor não pode ficar sem ver o que ama: por isso os santos desprezaram todos seus merecimentos, se não iam poder ver a Deus. Moises se atreve por isso a dizer: Se obteve teu favor, mostra-me tua glória» (Santo Pedro Crisólogo)
 
«A vivência de Elias no Sinai, que não viu a presença de Deus no furacão, o fogo ou o terremoto, senão numa brisa suave e silenciosa, tem cumprimento aqui. O poder de Deus se manifesta agora em sua mansidão, sua grandeza, em sua simplicidade e proximidade» (Bento XVI)
 
-«João é “Elias que deve vir” (Mt17,10-13): o fogo do Espírito habita nele e o faz correr à frente [na qualidade de “precursor”] do Senhor que vem. Em João, o Precursor, o Espírito Santo conclui a obra de “preparar um povo bem-disposto para o Senhor” (Lc 1,17)» (Catecismo da Igreja Católica, n°718)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Os discípulos acabaram de presenciar Moisés e Elias reverenciando Jesus na transfiguração sobre o Monte (Mt 17,3).
Era crença geral do povo de que Elias devia voltar para preparar a vinda do Reino. Dizia o profeta Malaquias: “Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível Dia de Javé. Ele há de fazer que o coração dos pais volte para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total. (Mal 3,23-24; cf. Eclo 48,10). Os discípulos querem saber: "O que significa o ensinamento dos doutores da Lei, quando dizem que Elias deve vir antes?" Pois Jesus, o messias, já estava aí, já tinha chegado, e Elias ainda não veio. Qual o valor desse ensinamento do retorno de Elias?
 
* Jesus responde: “Elias já veio, e eles não o reconheceram. Fizeram com ele tudo o que quiseram. E o Filho do Homem será maltratado por eles do mesmo modo”. Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista.
 
* Naquela situação de dominação romana que desintegrava o clã e a convivência familiar, o povo esperava que Elias voltasse para reconstruir as comunidades: reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais. Esta era a grande esperança do povo. Hoje, da mesma maneira, o sistema neoliberal do consumismo desintegra as famílias e promove a massificação que destrói a vida comunitária.
 
* Reconstruir e refazer o tecido social e a convivência comunitária das família é perigoso, pois mina pela base o sistema de dominação. Por isso, João Batista foi morto. Ele tinha um projeto de reforma da convivência humana (cf. Lc 3,7-14). Ele realizava a missão de Elias (Lc 1,17). Por isso foi morto.
 
* Jesus continua a mesma missão de João de reconstruir a vida em comunidade. Pois se Deus é Pai, somos todos irmãos e irmãs. Jesus reuniu os dois amores: amor a Deus e amor ao próximo e lhe deu visibilidade na nova maneira de conviver . Por isso, como João foi morto. Por isso, Jesus, o Filho do Homem será morto do mesmo jeito.
 
Faça um confronto pessoal da leitura com a vida
1) Colocando-me na posição dos discípulos: a ideologia do consumismo tem poder sobre mim?
2) Colocando-me na posição de Jesus: tenho força para reagir e criar nova convivência humana?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

12 de dezembro: Nossa Senhora de Guadalupe, Rainha das Américas


1ª Leitura: Gl 4,4-7
- Irmãos, quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que eram sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abá – ó Pai! Assim, já não és mais escravo, mas filho; e se és filho, és também herdeiro: tudo isso, por graça de Deus.
 
Salmo Responsorial Sl 96,1-2a.2b-3.10 (R: 3a)
R. Manifestai a sua glória entre as nações.
 
– Cantai ao Senhor Deus um canto novo, cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira! Cantai e bendizei seu Santo nome.
 
– Dia após dia anunciai sua salvação, manifestai a sua glória entre as nações, e entre os povos do universo seus prodígios!
 
– Publicai entre as nações: “Reina o Senhor! Ele firmou o universo inabalável, e os povos ele julga com justiça”.
 
Aleluia. Maria alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor é contigo; és bendita entre todas as mulheres da terra! Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,39-48): Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!». Maria então disse: «A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz».
 
«Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Continente Americano celebra solenemente a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, venerada como Rainha do povo americano. Toda a América a celebra como sua Padroeira. Mas ainda há mais: todo o mundo se alegra com esta festa da nossa Mãe. Não foi em vão que o Espírito Santo lhe inspirou estas palavras: «Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada» (Lc 1,48).
 
Todas as gerações e de todo o mundo! Parece exagero? Pois não é. Perguntemo-nos, por exemplo: quantas vezes hoje mesmo repetiremos no mundo inteiro “bendita és tu entre as mulheres”? Milhões e milhões de vezes. Num só dia! E assim todos os dias! Afinal, o Espírito Santo não se enganou!
 
Santa Maria é um caso único: nenhuma outra pessoa é tão recordada como ela em todos os lugares do mundo. É um “caso único”, como o é também o seu Filho Jesus, pois «debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos» (At 4,12).
 
Em relação à Virgem ainda há outro fato impressionante: Ela é venerada em tantas regiões e lugares diferentes do mundo e, por vezes, frequentemente, é representada de acordo com a fisionomia e os traços próprios do lugar. Isto acontece porque Maria é Mãe de todos e, logicamente, cada um, cada povo a representa de acordo com a sua própria imagem. Os filhos parecem-se fisicamente com a sua Mãe! Por isso, no México, a vemos morena e com traços mestiços. E também não foi por acaso que Maria tenha falado a Juan Diego na língua asteca.
 
Mas tratemos de nos parecer a Ela, sobretudo, espiritualmente. A Virgem de Guadalupe reflete nos seus olhos o seu querido filho Juan Diego. A Nossa Mãe observa-nos! Que responsabilidade tão grande temos! - Mãe, quisera que nos teus preciosos olhos só se refletissem coisas boas, como a piedade, humildade e obediência de S. Juan Diego… e as flores que tu própria lhe deste e de que tanto gostas…
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* Hoje, festa de Nossa Senhora de Guadalupe - Padroeira das Américas, o evangelho fala da visita de Maria à sua prima Isabel.
Quando Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades do seu tempo que viviam espalhadas pelas cidades do império romano e lhes oferece em Maria o modelo de como devem relacionar-se com a Palavra de Deus. Certa vez, ao ouvir Jesus falar de Deus, uma mulher do povo exclamou: "Feliz o seio que te carregou, e os seios que te amamentaram". Elogiou a mãe de Jesus. Imediatamente, Jesus respondeu: "Mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática" (Lc 11,27-28). Maria é o modelo da comunidade fiel que sabe ouvir e praticar a Palavra de Deus. Descrevendo a visita de Maria a Isabel, ele ensina como as comunidades devem fazer para transformar a visita de Deus em serviço aos irmãos e às irmãs.
 
* O episódio da visita de Maria a Isabel mostra ainda um outro aspecto bem próprio de Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o cântico de Maria, formam uma grande celebração de louvor. Parece a descrição de uma solene liturgia. Assim, Lucas evoca o ambiente litúrgico e celebrativo, em que Jesus foi formado e em que as comunidades devem viver a sua fé.
 
* Lucas 1,39-40: Maria sai para visitar Isabel. Lucas acentua a prontidão de Maria em atender às exigências da Palavra de Deus. O anjo lhe falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta para verificar o que o anjo lhe tinha anunciado, e sai de casa para ir ajudar a uma pessoa necessitada. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de 100 quilômetros! Não havia ônibus nem trem.
 
* Lucas 1,41-44: Saudação de Isabel. Isabel representa o Antigo Testamento que termina. Maria, o Novo que começa. O Antigo Testamento acolhe o Novo com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar toda a expectativa do povo. No encontro das duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz a criança estremecer de alegria no seio de Isabel. A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: é nisto que Lucas quer que as comunidades (e nós todos) percebamos e descubramos a presença do Reino. As palavras de Isabel, até hoje, fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado da América Latina, que é a Ave Maria.
 
* Lucas 1,45: O elogio que Isabel fez a Maria. "Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer". É o recado de Lucas às Comunidades: crer na Palavra de Deus, pois ela tem força para realizar aquilo que ela nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, no seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com fé.
 
* Lucas 1,46-56: O cântico de Maria. Muito provavelmente, este cântico já era conhecido e cantado nas Comunidades. Ele ensina como se deve rezar e cantar. Lucas 1,46-50: Maria começa proclamando a mudança que aconteceu na sua própria vida sob o olhar amoroso de Deus, cheio de misericórdia. Por isso, ela canta feliz: "Exulto de alegria em Deus, meu Salvador".  Lucas 1,51-53: Em seguida, canta a fidelidade de Deus para com seu povo e proclama a mudança que o braço de Javé estava realizando a favor dos pobres e famintos. A expressão "braço de Deus" lembra a libertação do Êxodo. É esta força salvadora de Deus que faz acontecer a mudança: dispersa os orgulhosos (1,51), destrona os poderosos e eleva os humildes (1,52), manda os ricos embora sem nada e aos famintos enche de bens (1,53).  Lucas 1,54-55: No fim, ela lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e expressão da sua fidelidade às promessas feitas à Abraão. A Boa Nova veio não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às promessas. É o que Paulo ensinava nas cartas aos Gálatas e aos Romanos.
 
* O segundo livro de Samuel conta a história da Arca da Aliança. Davi quis colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse. "Como virá a Arca de Javé para ficar na minha casa?" (2 Sam 6,9) Davi mandou que a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. "E a Arca de Javé ficou três meses na casa de Obed-Edom, e Javé abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família" (2 Sam 6,11). Maria, grávida de Jesus, é como a Arca da Aliança que, no Antigo Testamento, visitava as casas das pessoas trazendo benefícios. Ela vai para a casa de Isabel e fica lá três meses. E enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a sua família é abençoada por Deus. A comunidade deve ser como a Nova Arca da Aliança. Visitando a casa das pessoas, deve trazer benefícios e graça de Deus para o povo.
 
Para um confronto pessoal
1) O que nos impede de descobrir e de viver a alegria da presença de Deus em nossa vida?
2) Onde e como a alegria da presença de Deus está acontecendo hoje na minha vida e na vida da comunidade?

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Quinta-feira da 2ª semana do Advento

Sta. Maria Maravilhas de Jesus, virgem de nossa Ordem
Bto. Franco Líppi, de Siena, eremita da nossa Ordem
 
1ª Leitura (Is 41,13-20):
«Sou Eu, o Senhor, teu Deus, que te seguro pela mão direita e te digo: ‘Não temas, Eu venho em teu auxílio’. Não temas, pobre verme de Jacob, bichinho de Israel. Eu venho socorrer-te – oráculo do Senhor –, o teu redentor é o Santo de Israel. Eu te converterei em trilho aguçado, novo e bem cortante; calcarás e triturarás os montes e transformarás em palha as colinas. Hás de joeirá-los e o vento os levará, o vendaval os dispersará. Mas tu exultarás no Senhor e te gloriarás no Santo de Israel. Os infelizes e os pobres buscam água e não a encontram e a sua língua está ressequida pela sede. Eu, o Senhor, os atenderei, Eu, o Deus de Israel, não os abandonarei. Farei brotar rios nos montes escalvados e fontes por entre os vales. Transformarei o deserto em lago e a terra seca em nascentes de água. No deserto farei crescer o cedro, a acácia, a murta e a oliveira; na estepe plantarei o cipreste, o olmo e o pinheiro, para que todos vejam e saibam, considerem e compreendam que a mão do Senhor fez estas coisas, que o Santo de Israel as realizou».
 
Salmo Responsorial: 144
R. O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade.
 
Quero exaltar-Vos, meu Deus e meu Rei, e bendizer o vosso nome para sempre. O Senhor é bom para com todos e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
 
Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos;
 
Para darem a conhecer aos homens o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino. O vosso reino é um reino eterno, o vosso domínio estende-se por todas as gerações.
 
Aleluia. Desça o orvalho do alto dos céus e as nuvens chovam o justo; abra-se a terra e germine o Salvador. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 11,11-15): Naquele tempo, Jesus disse: «Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. A partir dos dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos procuram arrebatá-lo. Pois até João foi o tempo das profecias — de todos os Profetas e da Lei. E, se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir. Quem tem ouvidos, ouça».
 
«O Reino dos Céus sofre violência, e violentos procuram arrebatá-lo»
 
Rev. D. Ignasi FABREGAT i Torrents (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos fala de São João Batista, o Precursor do Messias, aquele que veio preparar os caminhos do Senhor. Também a nós, ele nos acompanhará desde hoje até o dia dezesseis, dia que acaba a primeira parte do Advento.
 
João é um homem firme, que sabe o quanto as coisas custam, é consciente de que há de se lutar para melhorar e ser santo, e por isso Jesus exclama: «A partir dos dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos procuram arrebatá-lo» (Mt 11,12). Os “violentos” são os que se fazem a si mesmos a violência: —Eu me esforço para crer que o Senhor me ama? Eu me sacrifico para ser “pequeno”? Eu me esforço para ser consciente e viver como um filho do Pai?
 
Santa Teresinha de Lisieux se refere também a estas palavras de Jesus dizendo algo que pode nos ajudar na nossa conversa pessoal e intima com Jesus: «Ó pobreza, meu primeiro sacrifício, até a morte por toda à parte me seguirás, pois eu sei que para correr no estádio, o atleta tem de despojar-se de tudo. Provai, mundanos, o remorso e a pena, esses frutos amargos da vossa vaidade; alegremente, eu acolho na arena, as palmas da Pobreza». —E eu, por que reclamo quando me dou conta de que me falta alguma coisa que considero necessária? Tomara que eu veja, nos diversos aspectos da minha vida, tão claramente como a Doutora!
 
De uma forma enigmática Jesus nos diz hoje também: «João (...) é o Elias (...). Quem tem ouvidos, ouça» (Mt 11,14-15). O que quer dizer? Quer nos aclarar que João era verdadeiramente o precursor, quem finalizou a mesma missão do Elias, conforme a crença que existia naquele então, de que o profeta Elias teria que voltar antes do Messias.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Moises foi um grande legislador e admiráveis foram igualmente, todos os profetas mas, não o foram mais que João. Não sou eu quem se atreve a comparar profeta com profeta, mas sim aquele que é seu e nosso Senhor» (São Cirilo de Jerusalém)
 
«Sempre me impressionou o encontro do Senhor com Elias. O Senhor não estava no granizo, nem na chuva, nem na tormenta... O Senhor estava numa brisa suave. Esta é a música da linguajem do Senhor. Preparando-nos para o Natal, temos que a ouvir» (Francisco)
 
«São João Baptista (...) precedendo a Jesus «com o espírito e o poder de Elias» (Lc 1, 17), dá testemunho d'Ele pela sua pregação, pelo seu batismo de conversão e, finalmente, pelo seu martírio» (Catecismo da Igreja Católica, nº523)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* No evangelho de hoje, Jesus dá uma opinião sobre João Batista.
Comparado com as pessoas do Antigo Testamento, não há ninguém maior que João. João é o maior de todos: maior que Jeremias, maior que Abraão, maior que Isaías! Mas comparado com o Novo Testamento, João é inferior a todos. O menor no Reino é maior que João. Como entender esta qualificação aparentemente contraditória que Jesus fez de João?
 
* Pouco antes, João tinha mandado perguntar a Jesus: “É o senhor, ou devemos esperar por outro?” (Mt 11,3). João parecia ter dúvidas a respeito a Jesus. Pois Jesus não correspondia à ideia de que ele, João, se fazia do messias. João imaginava o messias como um juiz severo que devia vir realizar o julgamento da condenação e da chegada da ira (Mt 3,7). Devia cortar as árvores pela raiz (Mt 3, 10), limpar a área e jogar a palha seca no fogo (Mt 3,12). Mas Jesus, em vez de ser um juiz severo, era amigo de todos, “manso e humilde de coração” (Mt 11,29), que acolhia os pecadores e comia com eles (Mc 2,16).
 
* Jesus respondeu a João citando o profeta Isaias: “Vão contar para João o que estão vendo e ouvindo: cegos veem, coxos andam, leprosos são limpos, surdos ouvem, mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a Boa Nova. E feliz quem não se escandalizar comigo!” (Mt 11,5-6; cf. Is 33,5-6;29,18). Resposta dura. Jesus manda João analisar melhor as Escrituras para ele poder mudar a visão errada que tinha do messias.
 
* João foi grande! O maior de todos! Mas o menorzinho no Reino dos céus é maior que João! João é o maior, porque ele era o último elo do AT. Foi João que, pela sua fidelidade, pôde, finalmente, apontar o messias para o povo: “Eis o cordeiro de Deus!” (Jo 1,36), e a longa história desde Abraão alcançou o seu objetivo. Mas João por si mesmo não foi capaz de entender todo o alcance da presença do Reino de Deus em Jesus. Ele estava na dúvida: “É o senhor ou devemos esperar por outro?” A história antiga, ela sozinha, não comunica luz suficiente para a pessoa poder entender toda a novidade da Boa Notícia de Deus que Jesus nos trouxe. O Novo não cabe no Antigo. Santo Agostinho dizia: “Novum in Vetere latet, Vetus in Novo patet”. Traduzido significa: “O Novo já está escondido no Antigo. Mas o Antigo só revela seu sentido pleno é no Novo”. Quem está com Jesus e convive com ele recebe dele uma luz que lhe dá olhos novos para descobrir um significado mais profundo no Antigo. E qual é esta novidade?
 
* Jesus oferece uma chave: “A lei e os profetas anunciaram o Reino até João. E se quiserem saber João é Elias que deve vir!” Jesus não explica, mas dá a dica: “Quem tem ouvidos ouça” Elias devia vir para preparar a vinda do Messias e refazer a comunidade: “Reconduzir o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais” (Mal 3,24). João anunciou o Messias e tentou refazer a comunidade (Lc 1,17). Mas o mistério mais profundo da vida em comunidade, lhe escapava. Foi só Jesus que o comunicou anunciando que Deus é Pai e, portanto, somos todos irmãos e irmãs. Este anúncio traz uma força nova que nos torna capazes de superar as divergências e criar comunidade.
 
* São estes os violentos que conseguem conquistar o Reino. O Reino não é uma doutrina, mas é um novo modo de conviver como irmãos e irmãs a partir do anúncio que Jesus fez de que Deus é Pai de todos.
 
Para um confronto pessoal
1. O Reino é dos violentos, isto é, é dos que, como Jesus, têm a coragem de criar comunidade. Você tem?
2. Jesus ajudou João a entender melhor os fatos por meio da Bíblia. A Bíblia me ajuda a entender melhor os fatos da minha vida?

11 de dezembro

 Beato Franco de Siena
Leigo eremita de nossa Ordem
 

Nasceu em Grotti (Sena, Itália), provavelmente no séc. XIII. Reconhecido pelas suas ásperas penitências, foi converso carmelitano. Sepultado em Sena, seu culto difundiu-se no séc. XVII, depois de aprovado pelo Papa Clemente X em 1670, na diocese e também na Ordem do Carmelo. Entre os conversos religiosos da Ordem no passado a devoção do B. Franco ocupou um lugar privilegiado e por isso foi por eles escolhido como protetor. Em sua honra também foram dedicados altares e nasceram confrarias, especialmente as espanholas do séc. XVII.
 
Oração
Deus eterno e todo-poderoso, concedei-nos, por intercessão do Beato Franco, a graça de nos considerarmos peregrinos neste mundo e caminhando ao vosso encontro com espírito de penitência, nos reconheçamos necessitados de vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 

11 de dezembro

 Santa Maria Maravilhas de Jesus
Virgem de nossa Ordem
       
Maria de las Maravillas de Jesus Pidal y Chico de Guzmán nasceu em Madrid no ano 1891. Entrou nas Carmelitas Descalças de El Escorial, Madrid (Espanha) no dia 12 de outubro de 1919. Em 1924, movida por uma inspiração divina, fundou um Carmelo no “Cerro de los Ángeles” (o centro geográfico de Espanha), junto ao monumento do Coração de Jesus. A esta fundação seguiram-se outras nove na sua pátria e uma na Índia. Concedeu sempre a primazia à oração e à imolação. Tinha verdadeira paixão e zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas. A partir da clausura, e vivendo uma vida pobre, socorreu os necessitados, fomentando iniciativas apostólicas e obras sociais e caritativas. Ajudou de modo particular a sua Ordem, os sacerdotes e diversas congregações religiosas. Morreu com 83 anos no mosteiro de La Aldehuela (Madrid) no dia 11 de dezembro de 1974. Foi beatificada a 10 de maio de 1998 e canonizada no dia 4 de maio de 2003 por João Paulo II.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Senhor, nosso Deus, que atraístes Santa Maria Maravilhas de Jesus aos segredos do Coração do vosso Filho, concedei-nos, pelo seu exemplo e intercessão, que, experimentando as delícias do vosso amor, trabalhemos pela salvação das almas Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.