Salmo Responsorial: Lc
1
R. Bendito seja o Senhor, Deus de
Israel, que visitou e redimiu o seu povo.
O Senhor
nos deu um Salvador poderoso, na casa de David, seu servo, como prometeu pela
boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos;
Para nos
libertar dos nossos inimigos e das mãos daqueles que nos odeiam; para mostrar a
sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança:
O juramento
que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: de O
servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, em santidade
e justiça na sua presença, todos os dias da nossa vida.
Aleluia. Deus amou
tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito; quem acredita n’Ele tem a vida
eterna. Aleluia.
Evangelho (Mc
4,35-41): Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus
disse aos discípulos: «Passemos para a outra margem!”» Eles despediram as
multidões e levaram Jesus, do jeito como estava, consigo no barco; e outros
barcos o acompanhavam. Veio, então, uma ventania tão forte que as ondas se
jogavam dentro do barco; e este se enchia de água. Jesus estava na parte de
trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram-lhe:
«Mestre, não te importa que estejamos perecendo?» Ele se levantou e repreendeu
o vento e o mar: «Silêncio! Cala-te!» O vento parou, e fez-se uma grande
calmaria. Jesus disse-lhes então: «Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes
fé?». Eles sentiram grande temor e comentavam uns com os outros: «Quem é este,
a quem obedecem até o vento e o mar?»
«Por que sois tão
medrosos? Ainda não tendes fé?»
Rev. D. Joaquim FLURIACH i Domínguez (St. Esteve de P.,
Barcelona, Espanha)
Em outro
lugar do Evangelho, ante uma situação onde os Apóstolos duvidam, se diz que
ainda não podiam acreditar porque não haviam recebido o Espírito Santo. O
senhor deverá ter muita paciência para continuar ensinando aos primeiros aquilo
que eles mesmos nos mostrarão depois, e do que serão firmes e valentes
testemunhas.
Estaria
muito bem que nós também nos sentíssemos “repreendidos”. Com mais motivo ainda!
Recebemos o Espírito Santo que nos faz sentir capazes de entender como
realmente o Senhor está conosco no caminho da vida, se realmente buscamos fazer
sempre a vontade do Pai. Objetivamente, não temos nenhum motivo para a
covardia. Ele é o único Senhor do Universo, porque «Eles ficaram penetrados de
grande temor e cochichavam entre si: Quem é este, a quem até o vento e o mar
obedecem?» (Mc 4,41), como afirmam admirados os discípulos.
Então, o
que é o que me dá medo? São motivos tão graves como para pôr em dúvida o poder
infinitamente grande como é o do Amor que o Senhor nos tem? Esta é a pergunta
que nossos irmãos mártires souberam responder, não com palavras, mas com sua
própria vida. Como tantos irmãos nossos que, com a graça de Deus, cada dia
fazem de cada contradição um passo mais no crescimento da fé e da esperança.
Nós, por que não? É que não sentimos dentro de nós o desejo de amar ao Senhor
com todo o pensamento, com todas as forças, com toda a alma?
Um dos
grandes exemplos de valentia e de fé, temos em Maria, Auxilio dos cristãos,
Rainha dos confessores. Ao pé da Cruz soube manter em pé a luz da fé... que se
fez resplandecente no dia da Ressurreição!
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
* Marcos 4,35-36: O ponto de
partida: “Vamos para o outro lado”.
Foi um dia
pesado de muito trabalho. Terminado o discurso das parábolas (Mc 4,1-34), Jesus
diz: “Vamos para o outro lado!” Do jeito que Jesus estava, eles o levam no
barco, de onde tinha feito o discurso das parábolas. De tão cansado, Jesus
deita e dorme em cima de um travesseiro. Este é o quadro inicial que Marcos
pinta. Quadro bonito, bem humano.
* Marcos 4,37-38: A situação
desesperadora: “Não te importa que pereçamos?”
O lago da Galileia
é cercado de altas montanhas. Às vezes, por entre as fendas das rochas, o vento
cai em cima do lago e provoca tempestades repentinas. Vento forte, mar agitado,
barco cheio de água! Os discípulos eram pescadores experimentados. Se eles acham
que vão afundar, então a situação é perigosa mesmo! Jesus nem sequer acorda e
continua dormindo. Este sono profundo não é só sinal do grande cansaço. É
também expressão da confiança tranquila que ele tem em Deus. O contraste entre
a atitude de Jesus e a dos discípulos é grande!
* Marcos 4,39-40: A reação de Jesus:
“Vocês ainda não têm fé?”
Jesus
acorda, não por causa das ondas, mas por causa do grito desesperado dos
discípulos. Primeiro, ele se dirige ao mar e diz: “Fique quieto!” E logo o mar
se acalma. Em seguida, se dirige aos discípulos e diz: “Por que vocês têm medo?
Ainda não têm fé?” A impressão que se tem é que não era preciso acalmar o mar,
pois não havia nenhum perigo. É como quando você chega numa casa e o cachorro,
ao lado do dono, late muito. Aí não precisa ter medo, pois o dono está aí e
controla a situação. O episódio do mar acalmado evoca o êxodo, quando o povo,
sem medo, passava pelo meio das águas do mar (Ex 14,22). Evoca o profeta Isaías
que dizia ao povo: “Quando passares pelas águas eu estarei contigo!” (Is 43,2)
Jesus refaz o êxodo e realiza a profecia anunciada pelo Salmo 107(106),25-30.
* Marcos 4,41: O não saber dos
discípulos: “Quem é este homem?”
Jesus
acalmou o mar e disse: “Então, vocês não têm fé?” Os discípulos não sabem o que
responder e se perguntam: “Quem é este homem a quem até o mar e o vento
obedecem?” Jesus parece um estranho para eles! Apesar da longa convivência, não
sabem direito quem ele é. Quem é este homem? Com esta pergunta na cabeça, as
comunidades continuavam a leitura do evangelho. E até hoje, é esta mesma
pergunta que nos leva a continuar a leitura dos Evangelhos. É o desejo de
conhecer sempre melhor o significado de Jesus para a nossa vida.
* Quem é Jesus?
Marcos
começa o seu evangelho dizendo: “Início da Boa Nova de Jesus Cristo, Filho de
Deus” (Mc 1,1). No fim, na hora da morte de Jesus, um soldado pagão declara:
“Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus!” (Mc 15,39) No começo e no fim
do Evangelho, Jesus é chamado Filho de Deus. Entre o começo e o fim, aparecem
muitos outros nomes de Jesus. Eis a lista: Messias ou Cristo (Mc 1,1; 8,29;
14,61; 15,32); Senhor (Mc 1,3; 5,19; 11,3); Filho amado (Mc 1,11; 9,7); Santo
de Deus (Mc 1,24); Nazareno (Mc 1,24; 10,47; 14,67; 16,6); Filho do Homem (Mc 2,10.28;
8,31.38; 9,9.12.31; 10,33.45; 13,26; 14,21.21.41.62); Noivo (Mc 2,19); Filho de
Deus (Mc 3,11); Filho do Deus altíssimo (Mc 5,7); Carpinteiro (Mc 6,3); Filho
de Maria (Mc 6,3); Profeta (Mc 6,4.15; 8,28); Mestre (frequente); Filho de Davi
(Mc 10,47.48; 12,35-37); Bendito (Mc 11,9); Filho (Mc 13,32); Pastor (Mc
14,27); Filho do Deus bendito (Mc 14, 61); Rei dos judeus (Mc 15,2.9.18.26);
Rei de Israel (Mc 15,32),
Cada nome, título ou atributo é uma
tentativa de expressar o que Jesus significava para as pessoas. Mas um nome, por mais bonito que
seja, nunca chega a revelar o mistério de uma pessoa, muito menos da pessoa de
Jesus. Além disso, alguns destes nomes dados a Jesus, inclusive os mais
importantes e os mais tradicionais, são questionados e colocados em dúvida pelo
próprio Evangelho de Marcos. Assim, na medida em que avançamos na leitura do
evangelho, Marcos nos obriga a rever nossas ideias e a nos perguntar, cada vez
de novo: “Afinal, quem é Jesus para mim, para nós?” Quanto mais se avança na
leitura do evangelho de Marcos, tanto mais se quebram os títulos e os
critérios. Jesus não cabe em nenhum destes nomes, em nenhum esquema, em nenhum
título. Ele é maior! Aos poucos, o leitor, a leitora, vai se entregando e
desiste de querer enquadrar Jesus em algum conceito conhecido ou ideia já
pronta, e o aceita do jeito que ele mesmo se apresenta. O amor capta, a cabeça,
não!
Para um confronto pessoal
1. As águas do mar da vida, alguma vez, já ameaçaram
afogar você? O que o salvou?
2. Qual era o mar agitado no tempo de Jesus? Qual era o
mar agitado na época em que Marcos escreveu o seu evangelho? Qual é, hoje, o
mar agitado para nós?
3. Leia Isaías 43,2 e também Salmo 107(106),25-30, e
compare-os com o episódio da tempestade acalmada. Qual a conclusão que você
tira?
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