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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Sábado XXI do Tempo Comum


S. Raimundo Nonato. 
Presbítero e Cardeal
1ª Leitura (1Tes 4,9-11): Irmãos: Sobre o amor fraterno, não precisais que vos escreva, porque vós mesmos aprendestes de Deus a amar-vos uns aos outros. E assim fazeis com todos os irmãos na Macedónia. Nós vos exortamos, irmãos, a progredir cada vez mais, tendo como ponto de honra viver em paz, ocupando-vos dos vossos assuntos e trabalhando com as vossas próprias mãos, como vos ordenamos.

Salmo Responsorial: 97
R. O Senhor julgará os povos com justiça.

Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.

Ressoe o mar e tudo o que ele encerra, a terra inteira e tudo o que nela habita; aplaudam os rios e as montanhas exultem de alegria.

Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra: julgará o mundo com justiça e os povos com equidade.

Aleluia. Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Aleluia.

Evangelho (Mt 25,14-30): «O Reino dos Céus é também como um homem que ia viajar para o estrangeiro. Chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens: a um, cinco talentos, a outro, dois e ao terceiro, um — a cada qual de acordo com sua capacidade. Em seguida viajou. O servo que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só, foi cavar um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.  Depois de muito tempo, o senhor voltou e foi ajustar contas com os servos. Aquele que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. O senhor lhe disse: ‘Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!’. Chegou também o que havia recebido dois talentos e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O senhor lhe disse: ‘Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!’. Por fim, chegou aquele que havia recebido um só talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ajuntas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O senhor lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu colho onde não plantei e que ajunto onde não semeei. Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’. Em seguida, o senhor ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai àquele que tem dez! Pois a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. E quanto a este servo inútil, lançai-o fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!’»

«Um homem que ia viajar para o estrangeiro, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens»

Rev. D. Albert SOLS i Lúcia (Barcelona, Espanha)

Hoje contemplamos a parábola dos talentos. Em Jesus apreciamos uma mudança do estilo na sua mensagem: o anúncio do Reino, já não se limita tanto em assinalar a sua proximidade, mas a descrever seu conteúdo através de narrações: é hora das parábolas!

Um grande homem decide empreender uma longa viagem, e confia todo seu patrimônio a seus servos. Podia tê-lo distribuído em partes iguais, mas não o fez assim. Deu a cada um conforme a sua capacidade (cinco, dois e um talentos). Com aquele dinheiro, cada criado podia capitalizar o início de um bom negócio. Os dois primeiros se lançaram à administração de seus depósitos, mas o terceiro —por medo ou por preguiça— preferiu guardá-lo, eludindo todo investimento: se fechou na comodidade de sua própria pobreza.

O senhor regressou e exigiu a prestação de contas (cf. Mt 25,19). Premiou a valentia dos dois primeiros, que duplicaram o depósito confiado. O trato com o criado “prudente” foi muito diferente.

Dois mil anos depois, a mensagem da parábola continua tendo atualidade. As modernas democracias caminham para uma separação progressiva entre a Igreja e os Estados. Isto não é mau, pelo contrário. Não obstante, esta mentalidade global e progressiva esconde um efeito secundário, perigoso para os cristãos: ser a imagem viva daquele terceiro servo a quem o amo (figura bíblica de Deus Pai) repreendeu com grande severidade. Sem malícia, por mera comodidade ou medo, corremos o perigo de esconder e reduzir a nossa fé cristã ao meio familiar e amigos íntimos. O Evangelho não pode ficar numa leitura e estéril contemplação. Devemos administrar com valentia e risco a nossa vocação cristã no próprio ambiente social e profissional, proclamando a figura de Cristo com as palavras e o testemunho.

Santo Agostinho comenta: «Quem predica a palavra de Deus aos povos, não está tão longe da condição humana e da reflexão apoiada na fé, que não possa advertir os perigos. Porém, “consola saber que onde resida o perigo por causa do ministério, aí temos a ajuda de vossas orações».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz o conflito em torno da observância do sábado. A observância do sábado era uma lei central, um dos Dez Mandamentos. Lei muito antiga que foi revalorizada na época do cativeiro. No cativeiro, o povo devia trabalhar sete dias por semana de sol a sol, sem condições de se reunir para ouvir e meditar a Palavra de Deus, para rezar juntos e para partilhar sua fé, seus problemas e sua esperança. Daí apareceu a necessidade urgente de parar ao menos um dia por semana para reunir e animar-se mutuamente naquela condição tão dura do cativeiro. Do contrário, perderiam a fé. Foi aí que renasceu e foi restabelecida com vigor a observância do sábado.

* Lucas 6,1-2: A causa do conflito
Num dia de sábado, os discípulos passam pelas plantações e abrem caminho arrancando espigas. Mateus 12,1 diz que eles estavam com fome (Mt 12,1). Os fariseus invocam a Bíblia para dizer que isto é transgressão da lei do Sábado: "Por que vocês estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?" (cf Ex 20,8-11).

* Lucas 6,3-4: A resposta de Jesus
Imediatamente, Jesus responde lembrando que o próprio Davi também fez coisas proibidas, pois tirou os pães sagrados do templo e os deu de comer aos soldados que estavam com fome (1 Sm 21,2-7). Jesus conhecia a Bíblia e a invocava para mostrar que os argumentos dos outros não tinham fundamento. Em Mateus, a resposta de Jesus é mais completa. Ele não só invoca a história de Davi, mas cita também a Legislação que permitia aos sacerdotes de trabalhar no sábado e cita ainda a frase do profeta Oséias: “Quero misericórdia e não sacrifício”. Citou um texto histórico, um texto legislativo e um texto profético (cf. Mt 12,1-18). Naquele tempo, não havia Bíblias impressas como temos hoje em dia. Em cada comunidade só havia uma única Bíblia, escrita à mão, que ficava na sinagoga. Se Jesus conhecia tão bem a Bíblia, é sinal de que ele, durante os 30 anos da sua vida em Nazaré, deve ter participado intensamente da vida da comunidade, onde todo sábado se liam as escrituras. Ainda falta muito para nós termos a mesma familiaridade com a Bíblia e a mesma participação na comunidade.

* Lucas 6,5: A conclusão para todos nós
E Jesus termina com esta frase: O Filho do Homem é dono até do sábado!  Jesus, como Filho do Homem que vive na intimidade com Deus, descobre o sentido da Bíblia não de fora para dentro, mas de dentro para fora, isto, ele descobre o sentido a partir da raiz, a partir da sua intimidade com o autor da Bíblia que é o próprio Deus. Por isso, ele se diz dono do sábado. No evangelho de Marcos, Jesus relativiza a lei do sábado dizendo: “O ser humano não existe para o sábado, mas o sábado existe para o ser humano” (Mc 2,27).

Para um confronto pessoal
1) Como você passa o Domingo, nosso “Sábado”? Você vai à missa por obrigação para evitar pecado ou para poder estar com Deus?
2) Jesus conhecia a Bíblia quase de memória. E eu, o que a Bíblia representa para mim?

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