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sábado, 31 de agosto de 2019

Domingo XXII do Tempo Comum


1ª Leitura (Si 3,17-18.20.28-29): Filho, em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam a sua glória. A desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade criou nele raízes. O coração do sábio compreende as máximas do sábio e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria.

Salmo Responsorial: 67
R. Na vossa bondade, Senhor, preparastes uma casa para o pobre.

Os justos alegram-se na presença de Deus, exultam e transbordam de alegria. Cantai a Deus, entoai um cântico ao seu nome; o seu nome é Senhor: exultai na sua presença.

Pai dos órfãos e defensor das viúvas, é Deus na sua morada santa. Aos abandonados Deus prepara uma casa, conduz os cativos à liberdade.

Derramastes, ó Deus, uma chuva de bênçãos, restaurastes a vossa herança enfraquecida. A vossa grei estabeleceu-se numa terra que a vossa bondade, ó Deus, preparara ao oprimido.

2ª Leitura (Heb 12,18-19.22-24a): Irmãos: Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível, como os israelitas no monte Sinai: o fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som da trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais. Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, de muitos milhares de Anjos em reunião festiva, de uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu, de Deus, juiz do universo, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição e de Jesus, mediador da nova aliança.

Aleluia. Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração. Aleluia.

Evangelho (Lc 14,1.7-14): Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor!’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado». E disse também a quem o tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes podem te convidar por sua vez, e isto já será a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos! Então serás feliz, pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos».

«Os convidados escolhiam os primeiros lugares»

Rev. D. Enric PRAT i Jordana (Sort, Lleida, Espanha)

S Teresa Margarida do Coração de Jesus
Virgem de nossa Ordem
Hoje, Jesus nos dá uma lição magistral: Não busqueis o primeiro lugar. «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar» (Lc 14,8). Jesus Cristo sabe que gostamos de situar-nos no primeiro lugar: nos atos públicos, nas reuniões, em casa, na mesa… Ele conhece da nossa tendência a sobrevalorizar-nos por vaidade e, ainda pior, por orgulho mal dissimulado. Estejamos prevenidos com as honrarias, Já que «o coração fica encadeado aí onde encontra possibilidade de fruição» (São Leão Magno).

Quem nos disse que, não existem colegas com mais méritos ou categoria pessoal? Não se trata, pois, de algo esporádico, mas de uma atitude assumida de nos sentir melhores, mais importantes, com mais méritos, os que sempre temos razão; isso é uma pretensão que supõe uma visão estreita sobre nós e sobre o que nos rodeia. De fato, Jesus convida-nos a praticar uma humildade perfeita, que consiste em não nos julgar nem julgar aos outros e, de conscientizar-nos sobre a nossa insignificância individual respeito ao cosmos e à vida.

Então, o Senhor, propõe que, por precaução, escolhamos o último lugar, porque se bem desconhecemos a realidade íntima dos outros, sabemos que nós somos irrelevantes se comparados com o espetáculo do universo. Por conseguinte, situar-nos no último lugar, é atuar com certeza. Não seja que o Senhor, que nos conhece a todos desde nossa intimidade, deva dizer-nos: «‘Cede o lugar a ele’. ‘Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar´» (Lc 14,9).

Na mesma linha de pensamento, o Mestre convida-nos a colocar-nos com humildade ao lado dos preferidos de Deus: pobres, inválidos, coxos, cegos, e a nos igualar com eles até nos encontrar no meio de aqueles que Deus ama com especial ternura e, a superar toda repugnância e vergonha em compartir a mesa e amizade com eles.

Com esta parábola, contada por ocasião duma refeição, Jesus não se limita a encarecer simplesmente uma atitude a ter no momento de escolher o lugar à mesa de um banquete, mas, acima de tudo, o que pretende com este exemplo é dar uma lição de humildade, válida para sempre, pois «quem se humilha será exaltado» (v. 11), entenda-se, por Deus, de acordo com o costume judaico seguido por Jesus, que evitava deliberadamente pronunciar o nome de Deus, recorrendo a uma forma passiva impessoal, que os gramáticos chamam o passivum divinum.

Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração.

Geraldo Morujão

Setembro - Mês da Bíblia
10 «Aquele que te convidou dirá». Tradução muito livre do original, com o fim de tornar menos chocante a leitura: «para que te diga».
De facto, se o convidado escolhesse o último lugar com a secreta intenção de vir a ser «honrado aos olhos dos outros convidados», não estaria a viver a humildade, mas sim um refinado orgulho. Ora sucede que aqui a intenção expressa no texto não é a do convidado, mas sim a de Jesus que dá o conselho. Sendo assim, a tradução litúrgica facilita uma correta interpretação. Um belo comentário a este ensinamento de Jesus podem ser as palavras da Imitação de Cristo: «Deseja que não te conheçam e te reputem por nada… Não perdes nada, se te consideras inferior a todos, mas prejudicas-te muito, se te considerares superior a um só que seja» (I, 2.7).

12-14 Jesus não quer dizer que se podem convidar só aqueles que não nos possam retribuir.
Esta maneira taxativa de falar, tão característica de Jesus, à maneira semítica, visa produzir impacto e chamar a atenção; o Senhor quer ensinar-nos que não devemos andar atrás de compensações humanas, mas daquilo que merece a aprovação e recompensa de Deus no Céu, aqui designado por «ressurreição dos justos» (que os maus também ressuscitam consta doutras passagens, como Jo 5, 29; At 24, 15…).

Humildade, virtude fundamental
Fernando Silva

• Humildade, virtude fundamental
A humildade é indispensável
A humildade abre-nos os olhos
A humidade torna-nos simpáticos

• O caminho da humildade
O modelo da pessoa humilde
Ser pequeno e aceitar-se como tal
Sejamos verdadeiros sobre nós mesmos

1. Humildade, virtude fundamental
No início do século II antes de Cristo, quando a cultura helénica invadia a Palestina, e começava a minar a cultura e os valores tradicionais do Povo de Deus, muitos judeus incluindo membros de famílias de origem sacerdotal, deixavam-se seduzir pelo brilho desta cultura pagã, com todos os seus erros e corrupção, e abandonavam os valores em que tinham sido educados.
Ben-Sirá, orgulhoso da sua fé, e consciente do perigo que o Povo de Deus enfrentava, escreve o texto proclamado na primeira leitura.
Esta tentação é de sempre. Hoje, como ontem, muitos cristãos são tentados a julgar que a Lei de Deus está antiquada, fora de moda, e afastam-se da fidelidade ao Senhor.
Ser moderno, atual, proceder como os outros, é uma tentação perigosa, inspirada no orgulho. É também uma tentação dos cristãos de hoje. Deixam-se arrastar pela soberba de parecerem modernos..., e ressuscitam vícios antigos da Grécia e da Roma pagã.
Quem é fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo – ensinados pela Igreja – não é um desatualizado.
A arma para combater esta tentação de soberba está na humildade, como indica o autor sagrado.

a) A humildade é indispensável. «Filho, em todas as tuas obras procede com humildade.»
A humildade é a verdade. Leva-nos a aceitarmo-nos como somos e a viver felizes na nossa condição. Somos pequenos e, fundamentalmente, todos iguais. Não há super-pessoas. Todas são iguais em dignidade, responsabilidade e liberdade. Os que receberam mais talentos para administrar terão de dar contas da sua administração.
Tudo o que temos, desde a vida às outras possibilidades que ela nos proporciona, é um puro dom de Deus. Por isso, pergunta-nos S. Paulo: «Que tens que não hajas recebido? E se o recebeste, por que te orgulhas, como se não o tivesses recebido?»

O demónio faz às pessoas como o vento aos papéis e às folhas secas das plantas: levanta-as no ar e leva-as, depois, para onde quer, arrastando-as pelo chão.

b) A humildade abre-nos os olhos. «Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te.»
O orgulho cega-nos, contra toda a evidência. Leva-nos a ver ofensas à nossa pessoa em toda a parte.
Alimentamos imagens falsas, ilusórias, acerca de nós mesmos. Presumimos sabedoria e qualidades que não temos. É como se andássemos com uns óculos cujas lentes fossem espelhos. Só nos veríamos a nós mesmos e sempre maiores do que somos, porque nos vemos ao perto.
O orgulho cega as pessoas de tal modo que, às vezes, toda gente vê que uma pessoa segue por um caminho errado, no qual encontrará a ruína, menos ela.

c) A humidade torna-nos simpáticos. Se fores humilde, «serás mais estimado do que o homem generoso.»
A soberba afasta as pessoas e ela mesma acha que é mais importante quando está em destaque. Aliás, a pessoa dominada pelo orgulho coloca-se num pedestal tão alto – julga assim que é! – que ninguém a alcança.
Recorre-se a meios exteriores à pessoa para firmar uma superioridade que não existe: um carro de marca, um modo de vestir, alarde de façanhas ou lugares em que se passam férias, etc.
A humildade é naturalidade. Como está perfeitamente no seu lugar, não chama nem quer chamar a atenção dos outros.

2. O caminho da humildade
Temos diante de nós um trabalho para toda a vida, porque – no dizer de um santo – só deixaremos de ser orgulhosos depois de tomarmos um banho de terra fria. Nunca poderemos dizer, durante a vida, que já somos profundamente humildes e, por isso, não precisamos de fazer mais esforços.

A soberba alimenta-se:
• dos êxitos – atribuindo-os a nós, e não às ajudas das outras pessoas e, principalmente, a Deus;
• das vitórias sobre a soberba. Pensamos: «que humilde sou já!»
• dos fracassos, porque, se os aceitamos bem, convencemo-nos de que já somos humildes.

a) O modelo da pessoa humilde. É o próprio Jesus Cristo que nos lança este desafio: «Aprendei de Mim, que sou manso e humilde do coração.» De facto, Ele vive a sua existência terrena com:
Naturalidade. Como qualquer criança, entra no mundo permanecendo nove meses no seio virginal de Maria, sem qualquer sinal extraordinário que manifeste a Sua presença. Cresce com toda a naturalidade como qualquer ser humano. Tudo isto é uma exigência de verdade na vida.
Dignidade. Uma pessoa humilde não é o mesmo que apagada, diminuída, abdicando constantemente dos seus direitos e deveres. Jesus Cristo veste bem, com gosto – a tal ponto que os soldados recusam-se a dividir a Sua túnica, porque é muito digna – e chama a atenção quando não cumprem para com Ele as atenções que Lhe são devidas. Pense-se no episódio passado no banquete em casa de Simão leproso.

b) Ser pequeno é aceitar-se como tal. «Por isso, quando fores convidado (para um banquete), vai sentar-te no último lugar.»
Na maior parte dos banquetes, os lugares estão já marcados previamente e foram abandonadas muitas formalidades de outros tempos. No entanto, a recomendação de Jesus continua a ser atual, pois temos muitas ocasiões em que podemos e devemos escolher o último lugar, sem falsa humildade, e sem que os outros se apercebam disso.

• Na conversa, sabendo dar lugar a que os outros contém as suas experiências. Só devemos falar obrigatoriamente quando é preciso defender a verdade.

• Na mesa, ao servirmo-nos da comida e da bebida. Não se trata de ficar sempre para o último lugar, mas de reservar para os ouros aquilo que já sabemos que é mais apreciado por eles.

• Na opinião acerca de um assunto: Se se trata de um assunto que pode ser abordado de diversos ângulos, com diversas opiniões, todas elas válidas, por que havemos de fazer da nossa opinião um dogma de fé?

Aconselha-se a que à mesa se evitem conversas sobre futebol ou partidos políticos, a não ser quando se trata de um programa de governo que é irreconciliável com a fé e a moral. Quantas teimosias e amuos desnecessários podem ser evitados!

c) Sejamos verdadeiros sobre nós mesmos. Às vezes sofremos inutilmente, porque nos imaginamos muito grandes e importantes, e achamos sempre que não nos dão a importância que merecemos.
Daí, os melindres, amuos, zangas, e pessoas e famílias desavindas.
Também na nossa relação dom Deus, na oração, devemos proceder com humildade, reconhecendo, desde o início, a nossa pequenez.
Quando ficamos em crise de fé, zangados com Deus ou com os santos, porque não nos concedem determinada graça, está a soberba por detrás: julgamo-nos merecedores, pela nossa vida; e queremos impor o nosso querer ao de Deus que nos ama e sabe infinitamente mais do que nós o que nos convém.
Maria Santíssima ajuda-nos a compreender melhor o que é a humildade, passando em silêncio pela vida. Não aparece nas horas de triunfo de Jesus, tomando para si um pouco da glória que Lhe é tributada, mas não falta nas horas em que Jesus é humilhado, na Sua Paixão e Morte.

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