Textos: Ex 22, 20-26; 1 Tess 1, 5-10; Mateus
22, 34-40
Evangelho
(Mt 22,34-40): Os fariseus ouviram dizer
que Jesus tinha feito calar os saduceus, (…) e um deles, (…) perguntou-lhe (…):
«Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Ele respondeu: «‘Amarás o Senhor,
teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu
entendimento!’. Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é
semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os Profetas
dependem desses dois mandamentos»
D. António Couto
Aí
está, neste XXX Domingo do Tempo Comum, mais uma pergunta armadilhada posta a
Jesus, por um fariseu. A pergunta armadilhada que o “legista” fariseu coloca a
Jesus soa assim: “Mestre, qual é o maior mandamento da lei?”. A pergunta parece
inofensiva, mas, na verdade, destina-se a tentar arrastar Jesus para o plano
inclinado da interminável discussão acadêmica. De fato, os mestres judeus,
lendo minuciosamente a lei, ou seja, os cincos primeiros livros da Bíblia
(Genesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), e reduzindo-a a preceitos,
tinham contado lá 613 preceitos, sendo 365, tantos quantos os dias do ano,
negativos, e 248, tantos quantos assim se pensava então, os membros do corpo,
positivos.
«Mestre,
qual é o maior mandamento da Lei?»
A
questão que entretinha os mestres e as suas escolas era agora a de estabelecer
uma ordem nesses 613 preceitos ou mandamentos, dizendo qual consideravam o
primeiro ou o mais importante ou o maior, e assim por diante. Discussão
interminável e natural fonte de conflitos, pois cada mestre sua sentença. Qual
seria então a posição de Jesus nesta matéria, e como a defenderia?
“Ele
respondeu: «‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua
alma e com todo o teu entendimento!’. Esse é o maior e o primeiro mandamento.
Jesus
responde ao “legista” fariseu, não caindo, porém, na apertada ratoeira que este
lhe arma, mas abrindo portas, janelas e… corações engessados! Na verdade, e
como sempre costuma fazer, a resposta de Jesus excede, rebentando-a, a pergunta
feita. Jesus cita, em primeiro lugar, o Livro do Deuteronômio 6,5: «AMARÁS o
Senhor, teu Deus, com todo o coração, toda a alma, todas as forças». Dito isto,
Jesus opera um inesperado, para o “legista”, salto de trapézio, e acrescenta:
“O segundo, porém, é semelhante a este, e cita agora o Livro do Levítico 19,18:
«AMARÁS o teu próximo como a ti mesmo».
Ora, o
segundo lhe é semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo”.
Ora,
o “legista” estava apenas interessado em saber qual era, segundo o Mestre
Jesus, o primeiro mandamento. Jesus respondeu, mas fez logo saber ao “legista”
também o segundo. Mas não disse simplesmente que era o segundo. Disse que este
segundo era semelhante ao primeiro. Ora, se é semelhante (e só Mateus usa aqui
este semelhante), já não é apenas segundo, mas faz corpo com o primeiro. Sendo
assim, então o AMOR a Deus é verificável no AMOR ao próximo, no nosso
dia-a-dia.
“Toda a
Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos”
Mas
Jesus rebenta outra vez a pergunta do “legista”, na conclusão que tira, e em
que refere que «destes dois mandamentos se suspende», isto é, depende, «toda a
Lei e os Profetas» (Mt 22,40). A locução «a Lei e os Profetas» é uma forma de
dizer toda a Escritura. A pergunta do “legista” visava apenas a Lei, mas Jesus
diz, na Sua resposta, que é a inteira escritura que está atravessada pelo fio
de ouro do AMOR a Deus e ao próximo.
Como
quem diz: o grau do teu AMOR a Deus verifica-se pela qualidade do teu AMOR ao
próximo. Diretamente de Jesus para o “legista”: se olhas para mim de lado, se
vens cheio de más intenções, se colocas um laço, uma armadilha, diante dos meus
pés, então estás longe de todos os mandamentos. Do 1º, do 2º, do 3º e do 613º!
Tudo
somado, aquele “legista”, perguntador traiçoeiro, não se situava corretamente
em face de Deus e ao seu próximo. Não era o AMOR que o fazia mover. Não estava
no centro da Escritura Santa. Anda muito pela periferia. Ocupava muito do seu
tempo, não a AMAR, mas a tentar tramar os outros!
O primeiro mandamento é
amar a Deus. O segundo, amar o próximo.
Pe. Antonio Rivero L. C.
Síntese
da mensagem: a pergunta que o doutor da lei faz para Jesus no evangelho de hoje
sobre qual é o maior mandamento da lei é muito oportuna, pois os judeus tinham
centenários de preceitos: exatamente 365 “negativos” (começam com um “não...”)
e 248 “positivos” (começam com um “deves...”). Toda sociedade tende a
multiplicar com o tempo as suas leis e normas, e às vezes sem necessidade. E
hoje Jesus nos dá a chave para ser cristãos: dois mandamentos que se reduzem no
amor; amar a Deus e amar o próximo.
Em
primeiro lugar, o amor de Deus não consiste em sentir a vertigem do divino: um
gosto espiritual na comunhão, duas emoções que estremecem, três Ave-Marias
noturnas, quatro lágrimas, cinco procissões...
e nove primeiras sextas-feiras de mês. Não. Amar a Deus é centrar a
minha vida em Deus: o que pensa Deus, o que diz Deus, o que Deus quer... E eu,
a mesma coisa. O que Deus está me pedindo, não o que está pedindo para o
vizinho! Agora, sem dar voltas ao assunto! Já, sem fingir de surdo! E aqui
está, obras, que isso é o amor. Amar a Deus é abandonar os ídolos e nos
converter ao Deus vivo e verdadeiro, para servi-lo (segunda leitura).
Em
segundo lugar, amar os demais é centrar a minha vida nos demais: uma aceitação
(são como são), um respeito (são o que são), uma transigência (são como podem),
uma tolerância (não dão mais de si), um compromisso foragido pelo seu pão, pela
sua justiça, sua escola, seus seguros, a sua liberdade. Obras, e o que não são
obras é pecado, egoísmo, fábula. Trata-se, pois, de dar e dar-se, de negar-se e
abnegar-se, de sair do eu e passar ao você. Chegar ao ponto de poder dizer com
honradez: “amo muito você”. Não é dizer “gosto de você”, cuja tradução honrada
é “te desejo”, “te necessito”,” você é boa gente”, “você faz conta de mim”, etc.
que pertencem à linguagem zoológica e instintiva. Amar os demais é cuidar das
viúvas e dos órfãos, dar dinheiro ao pobre, cobrir o nu (primeira leitura).
Finalmente,
tudo o que não seja interpretar assim o mandamento do duplo amor é um erro, um
egoísmo e um pecado. Isto é, assinar com a assinatura de pagão durante toda a
vida. Se amarmos nestas duas vertentes, poderemos dizer com santo Agostinho:
“Ama e faze o que quiseres. Se calas, cala por amor; se perdoas, perdoa por
amor; tem a raiz do amor no fundo do teu coração: desta maneira somente pode
sair o que é bom” (Comentário a Primeira Epístola de São João, 7). E para
aprender a amar temos que olhar a Cristo, expressão viva deste preceito do
amor. Com a sua própria vida nos ensinou o mandamento único da caridade que
tem, como uma moeda, as duas caras que explicamos: o amor a Deus e o amor ao
próximo. Cristo amou antes de tudo o seu Pai, na aceitação e cumprimento
perfeito da sua vontade, entregando a sua vida para reparar a glória de Deus
pisoteada pelos homens e assim saldar a nossa dívida contraída, que era bem
alta. E amou os homens, fazendo-se carne para nos salvar e perdoando deste modo
os nossos pecados: “Não existe outra causa da Encarnação que somente uma: Ele
nos viu derrubados na terra e viu que íamos sofrer, oprimidos pela tirania da
morte, e se compadeceu de nós” (São João Crisóstomo).
Para
refletir:
1.
posso dizer que amo a Deus sobre todas as coisas? Como demonstro: só com
palavras ou também com obras, “pois obras são amores e não boas razões”?
2.
Posso dizer que amo o próximo, mínimo como eu me amo? Posso dizer que amo o
próximo como Cristo o ama?
3.
Demonstro isto com a minha paciência, bondade, misericórdia, doação,
preocupação sincera por ele, uma ajuda concreta?
Para
rezar:
Senhor,
que me deixe amar por Vós, para que depois possa amar-Vos como mereceis e amar
o próximo, como Vós o amais. Perdoai-me tanto egoísmo na minha vida, o
contrário do amor. Que nunca esqueça que “ao final da vida serei examinado do
amor e pelo Amor”.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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