INTRODUÇÃO
ÀS OBRAS MAIORES
Capítulo
3
SANTA
TERESA DE JESUS E A VIRGEM MARIA
Frei Jesus Castellano Cervera, OCD
Na
vasta produção de estudos doutrinais sobre Santa Teresa de Jesus não abundam
obras que coloquem em realce a relação entre Teresa de Jesus e a Virgem Maria.
Ao contrário, existe a suspeita que este tema seja pouco emergente no conjunto
da experiência e da doutrina teresiana, quando absolutamente inexistente. A
centralidade da Humanidade de Cristo, o senso de Deus, a experiência da oração
teriam, na melhor das hipóteses, deixado pouco espaço ao mistério de Maria na
experiência Mística e na doutrina espiritual de Santa Teresa.
A
suspeita pode ser válida se for convite a realizar uma pesquisa sobre o argumento.
É verdade: a primeira vista o tema mariano não parece emergir nos escritos
teresianos. Não lhe foi dedicada de propósito nenhuma tratação. Sabe-se que ao
comentário do Pai nosso feito por Teresa no caminho de Perfeição deveria ter
seguido um comentário também da Ave Maria: “Tinha pensado dizer-vos algo também
sobre o modo de recitar a Ave Maria, mas renuncia por ter-me estendida muito
sobre o Pater” (CE 42,4). Teresa expressou este desejo que nos teria talvez
fornecido aquelas páginas de devoção vivida que lhe ficaram no coração.
Mas
desgraçadamente o comentário da Ave Maria nunca foi feito nas redações
sucessivas e nas correções do Caminho de Perfeição.
Resta-nos
o pesar e o empenho. O pesar por não termos uma tratação sistemática sobre o
argumento e o empenho de recolher todos os fragmentos de experiência e de
doutrina sobre a Virgem que nos ajudem a compor, com a ajuda de muitas
tesselas, o mosaico da espiritualidade mariana de Teresa de Jesus.
Mas
a pesquisa não é vã. Sem entrarmos numa análise exaustiva de todos os textos
marianos das obras teresianas, é fácil colher alguns elementos fundamentais: a
devoção pessoal a Maria, a imagem ideal de suas virtudes que Teresa apresenta
para a imitação da Virgem, a consciência de que Maria acompanha todo o caminho
do cristão rumo à perfeição, como modelo e mãe. Mas, sobretudo - e é este
talvez o aspecto mais original da espiritualidade mariana de Santa Teresa - o
fato que nos oferece o testemunho de uma autêntica experiência mística da
Virgem Maria sobre dois lados característicos: presença de Maria no mistério de
Cristo e participação que Maria oferece a Teresa no seus mesmos sentimentos
para reviver o mistério de Cristo e da Igreja.
Eis
em síntese os dados mais eloquentes que emergem da pesquisa. Eis, portanto, o
interesse que o tema pode ter quer no campo geral da espiritualidade mariana,
quer no setor mais específico da experiência mística mariana.
Se,
como foi posto em realce, a mística de Santa Teresa de Jesus é uma mística
mistérica, isto é, uma experiência mística do mistério e dos mistérios da
salvação, certamente não falta ao lado da específica experiência do mistério de
Cristo, a do mistério da Virgem de Nazaré, com aspectos e acentos que tem
singular originalidade no vasto campo da mística mariana.
1. Uma
vida sob o cunho da Virgem Maria
Toda
a vida de Teresa possui tom mariano. Está enraizada numa época em que os
elementos da religiosidade popular - das imagens às devoções, dos santuários às
peregrinações - reservam lugar especial a Nossa Senhora. Seria longo aqui explicitar esta temática que
constitui o humus de uma devoção mariana amplamente enraizada no espírito de
Teresa. Recordamos que são inúmeras as imagens, “de boa feitura”, da Virgem
Maria ligadas à devoção de Teresa o os títulos marianos dados aos mosteiros por
ela fundados. Não falta na sua autobiografia a lembrança de uma peregrinação ao
célebre mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe nas terras de Extremadura. Entre
as devoções marianas emergem, como se dirá logo, o rosário e a devoção pelo
escapulário do Carmo, o hábito da Ordem e, portanto, o hábito de Nossa Senhora
como diz Teresa.
A. A
primeira lembrança da infância
A
primeira página da autobiografia teresiana é marcada pela presença de Maria.
Duas lembranças fundamentais emergem na consciência de Teresa ao revisitar a
própria infância como uma história de salvação na qual Deus já atua.
A
primeira lembrança é ligada à devoções aprendida com a mãe, Dona Beatriz de
Ahumada: “Minha mãe tinha um grande cuidado em nos ensinar a rezar, e nos
recomendava sermos devotos de Maria...” (V 1,10). Trata-se em concreto da
devoção a Maria que se exprime na recitação do Terço: “Procurava a solidão para
rezar as minhas orações que eram muitas, especialmente o terço do qual minha
mãe era grande devota e procurava que também nós o fôssemos” (V 1,6). Assim a
devoção a Nossa Senhora e o terço permanecem como herança de Dona Beatriz para
a filha naquele período da infância do qual Teresa recorda com saudades “as
verdades que quando era criança”, antes de mergulhar na crise da adolescência.
Na
morte da mãe, Teresa que já tem 13 anos completos - embora ela diga que tinha
pouco menos de 12 anos - e exprime a consciência de tornar-se órfã como o
recurso à Virgem, a qual se entrega totalmente: “Recordo que, ao morrer minha
mãe, tinha pouco menos de 12 anos.
Apenas
compreendi a grande perda, fui aflita aos pés de uma estátua de Nossa Senhora e
suplique-a com muitas lágrimas que quisesse ser minha mãe. Parece-me que essa
oração, feita com muita simplicidade, tenha sido acolhida favoravelmente,
porque não houve coisa em que me tenha encomendado à esta Virgem sem que tenha
sido logo atendida. Ela enfim fez-me voltar a ela” (V 1,7). A lembrança é
importante. Permaneceu viva na memória de Teresa o momento em que fora ajoelhar-se
diante da imagem de Nossa Senhora da Caridade, que naquele tempo estava na uma
capela-eremitério de São Lázaro e hoje se encontra na Catedral de Ávila. Quando,
em plena maturidade, escreve essas páginas, Teresa está consciente não tanto de
sua fidelidade àquele ato espontâneo quanto do empenho de fidelidade de Maria
para com ela, até sugerir seu “retorno” a Deus, a sua “conversão” é, como
muitas outras graças, um dom da Virgem que se tornou de veras “sua Mãe”.
B. No
lar da Virgem: o Carmelo da Encarnação.
Desde
a idade dos 20 anos Teresa viveu numa casa religiosa que por duplo título podia
ser chamada de lar da Virgem: o convento da Encarnação de Ávila. O Carmelo,
genuinamente mariano, oferecia-lhe a cada passo, na iconografia conventual, nas
devoções, carmelitanas, na liturgia jerosolimitana seguida então pela ordem com
muitas referências `a Virgem, uma densa presença mariana. Ademais, a casa era
dedicada ao mistério da Encarnação, como outros Carmelos da época, e no
retábulo do altar mor era bem visível o mistério da Anunciação.
A
grande tradição mariana do Carmelo marcou Teresa desde os primeiros anos da sua
vida religiosa com as óbvias referências às verdades histórias e as legendas
que então se entrelaçavam com ingenuidade para frisar a especial predileção da
Virgem Maria pelo Carmelo. Nessa nota mariana, que é talvez a mais
característica da Ordem nos primeiros séculos de vida, alicerça-se o amor de
Teresa pela sua Ordem com as suas tradições e a sua história. No momento em que
empreenderá a reforma do Carmelo achará óbvio o referimento mariano em tudo o
que constitui a vida religiosa - a casa, o hábito, a Regra; verá o seu trabalho
como especial serviço à Virgem.
Do
longo período de vida passado na Encarnação, antes de empreender a reforma do
Carmelo, restam-nos na autobiografia teresiana que narra os eventos desse
período, algumas referência específicas.
Antes
de tudo permanece imutado o apego à devoção do terço, aprendida com a mãe
Beatriz. (cfr V 29,7; 38,1). Ademais Teresa fica marcada pela devoção à
Anunciação de Maria - a festa mais solene da Virgem na época - entre outras
razões porque a essa data está unida a lembrança da doença misteriosa que levou
Teresa ficar como morta por três dias, algum ano depois da entrada no mosteiro
(V 5,9).
É
pois desse período as duas referências marianas que encontramos nos capítulos
autobiográficos que relatam a sua experiência de vida antes da grande crise e
da sucessiva “conversão”. Do sacerdote pecador de Becedas, com que entre em
contato e que conduz à conversão, recorda: Nossa Senhora devia ajudá-lo muito,
porque era muito devoto da sua Conceição e nesse celebrava uma grande festa...”
(V 5,6). A outra alusão diz relação à sua devoção pessoal a São José, a quem
atribui a própria cura e, de algum modo, o progresso na vida de oração: “Não
sei como se possa pensar na Rainha dos Anjos e ao muito por ela sofrido com o
Menino Jesus, sem agradecer a São José, que lhes foi de grande ajuda” (V 6.8).
C. Da
conversão ao serviço
Ao
seguirmos passo a passo a experiência de Teresa, devemos logo notar a passagem
da conversão ao serviço eclesial que se realiza sob o patrocínio da Virgem. Já
citamos o testemunho de Teresa que atribui à Maria a sua “conversão”, o seu
“retorno a Ela”. Ao tracejar as etapas ideais da conversão e da perseverança,
Teresa faz alusão a esta indispensável devoção mariana: “o momento em que se
torna devota da rainha do céu para que vos aplaque” (V 19,5; 1M 2,12).
O
fato é que no fim deste tormentoso período, quando o Cristo já tomou posse da vida
de Teresa e a enriqueceu com incontáveis graças místicas, no momento em que se
trata de passar da vida em Cristo ao serviço eclesial por Cristo, aparece com
toda a nitidez a presença de Maria na vida de Teresa e assistimos à primeira
graça mística tipicamente mariana da autobiografia.
Estamos
em Ávila, na igreja dos dominicanos do convento de Santo Tomás, É a festa da
Assunção de Maria do ano 1561 ou 1562. Teresa já se encontra mergulhada na
fundação de São José, o pequeno mosteiro que o próprio Senhor quis que fosse
fundado e para o qual, entre outras coisas, prometeu: “Uma porta seria guardada
por São José e a outra por Nossa Senhora e Ele (Cristo) teria caminhado no meio
de nós” (V 32,11). Esta graça mariana do dia da Assunção confirma estas promessas
e acrescenta outras.
Trata-se
antes de tudo de uma graça pessoal que Teresa recebe como uma “investidura” de
graça, uma comunicação de pureza através de um sinal visível. Eis a narração:
“Enquanto me encontrava naquele estado, tive a impressão de que me cobriam com
uma roupa de grande brancura e esplendor. No início, eu não via quem o fazia,
tendo percebido depois Nossa Senhora do meu lado direito e meu pai São José do
esquerdo adornando-me com aquelas vestes. Eles me deram a entender que eu
estava purificada dos meus pecados. Depois que acabaram de me vestir, estando
eu com enorme deleite e glória, tive a impressão de que Nossa Senhora tomava-me
as mãos, dizendo-me que lhe dava muito contentamento ver-me servir o glorioso
São José e que eu estivesse certa de que o mosteiro se faria de acordo com o
meu desejo, sendo o Senhor e eles dois muito bem servidos ali. Eu não devia
temer que nisso viesse a haver quebra, embora a obediência não fosse bem do meu
gosto, porque eles nos guardariam, e o seu Filho já nos prometera andar ao
nosso lado. Como sinal de verdade, ela me dava uma joia. Tive a impressão que
ela me colocava no pescoço um colar de ouro muito formoso do qual pendia uma
cruz de muito valor” (V 33,14).
Essa
graça mariana, que inaugura uma série de experiências místicas marianas conexas
com a fundação do primeiro Carmelo teresiano, é interessante pela data e pelo
conteúdo. Já notamos que acontece no dia da Assunção, num período carregado de experiências
místicas cristológicas já orientadas para o serviço eclesial de Teresa com a
fundação de São José de Ávila.
O
primeiro aspecto, relativo à experiência salvífica da graça, é, pois
referimento à pureza que recebe no sinal da veste branca e esplendente que
ordinariamente é interpretada como o manto branco da Ordem com o qual é
revestida. Em segundo lugar, trata-se de uma confirmação da graça recebida de
Cristo sobre a fundação do primeiro Carmelo, à qual Maria também se associa
repetindo as promessas do Filho e ratificando um entendimento que torna a obra do
Filho também uma obra da Virgem Maria.
Esta
narração conclui-se com um momento de contemplação - que poderemos chamar de
litúrgica - do mistério de Maria na sua glória: “Era grandíssima a beleza que
vi em Nossa Senhora, embora não tenha podido observar nenhum traço particular
seu, mas o conjunto do rosto, estando ela vestida de branco, com enorme
resplendor, não do tipo que deslumbra, mas algo suave... Nossa Senhora
pareceu-me muito jovem (“ muy niña”)... Veio-me um veemente ímpeto de
desfazer-me por Deus, ímpeto que teve tais efeitos em mim que nunca pude
duvidar da verdade de que todo o ocorrido era coisa de Deus. Fiquei
consoladíssima e com muita paz” (V 33,15).
Nessas
palavras além do conteúdo misterioso da visão temos um simples discernimento
dos efeitos. De um lado, os dons da consolação e da paz; do outro os desejos de
serviço do Senhor e de Santa Maria. E tudo com grande certeza, análoga a por
ela outras vezes experimentada quando as graças vêm do Senhor.
Encontramos
aqui uma linha especifica das experiências místicas marianas de Santa Teresa
que teremos em seguida modo de ilustrar: a contemplação dos mistérios da Virgem
Maria com a mesma sobriedade com que nos são apresentados pela fé da Igreja e
celebrados pela liturgia.
As
promessas de Maria se cumprem. A fundação de São José se realiza; não faltam
porém dificuldades desde o dia da fundação. Aquele dia, 24 de agosto de 1562,
não termina para Teresa no conventinho de São José, mas na cela do Mosteiro da
Encarnação, aonde foi convocada bruscamente para dar explicações do ocorrido.
Passarão ainda alguns meses antes de poder retornar. Mas ao retornar encontrará
confirmação por parte de Cristo e de sua Mãe.
Enquanto
se dirige ao mosteiro, passando pela igreja detém-se em oração. Então:
‘enquanto rezava na Igreja antes de entrar no mosteiro... vi o Cristo que com
grande amor me parecia acolher-me e cingir-me com uma cora e agradecer-me por
quanto tinha feito por sua Mãe” (V 36,24). Em outro momento vai ser a Virgem
quem fará as honras da casa e frisará a sua presença no meio da comunidade em
oração: “Outra vez, enquanto todas estavam no coro rezando completas, vi Nossa
Senhora com grandíssima glória, com um manto branco, sob o qual parecia
proteger-nos a todas; compreendi que alto grau de gloria o Senhor teria dado às
monjas desta casa” (Ibi).
Essa
última visão inspira-se na tradicional iconografia da Ordem: Maria acolhe e
protege maternamente sob o seu manto branco todos os filhos e filhas da Ordem.
É manifestação de uma presença e de proteção. E constitui uma graça que Teresa
reviverá em outras ocasiões.
Quando
já está iniciada a experiência do Carmelo de São José, Teresa reconhece nela
uma graça e um serviço de Maria: “para mim foi como encontrar-me numa glória o
ver... atuada uma obra que tinha compreendido que era para o serviço do Senhor
e em honra do hábito da sua gloriosa Mãe” (V 36,6). Ao fazer o balanço das
graças e do empenho da primeira fundação exclama: “Praza ao Senhor que tudo
seja para a honra e o louvor seu e da gloriosa Virgem Mãe, cujo hábito
trazemos” (V 36,28).
Seria
longo seguir Teresa na descrição da presença de Maria em todo o seu serviço à Virgem
nas fundações que virão até à sua morte em Alba de Tormes, no mosteiro dedicado
à Anunciação de Maria. Teremos ainda modo de documentar muitas experiências
místicas marianas. Agora nos basta citar alguns textos dos seus últimos anos de
vida, quando recorda com invariável fidelidade que todas as suas fadigas foram
a serviço de Cristo e da sua Mãe: “Ficamos felizes por poder servir em algo a
Nossa Mãe e Senhora e Padroeira” (F 29,23; 29,28).
Até
a almejada separação da Província dos Descalços é vista por Teresa como uma
graça da Virgem: “Nosso Senhor levou a bom termo uma cosia muito importante...
à honra e glória da sua gloriosa Mãe, visto que é coisa da sua Ordem como nossa
Senhora e Padroeira” (F 29,31).
Serviço
prestado até o fim; uma resposta a uma graça materna que cobre toda a vida de Teresa.
2. A
Virgem Maria modelo de toda a virtude
Nos
escritos de cunho pedagógico, como no Caminho de Perfeição e em certas páginas acéticas
do Castelo Interior, Teresa recorda especialmente as virtudes de Maria e as
propões para serem imitadas.
Imitação,
portanto, é a palavra de ordem da espiritualidade mariana que antes se torna contemplação
e depois identificação naquelas atitudes características que Teresa sabe
colocar em realce na vida de Maria.
A.
Exemplar no seguimento de Cristo
É
conhecido que na primeira redação do Caminho de Perfeição Teresa de Jesus
redigiu uma página ardente e polêmica, veiada de feminismo cristão, que o
censor, aborrecido, cancelou.
Essa
página continha uma referência à Maria; como se dissesse: na base da
reivindicação de feminismo cristão feita por Teresa, para uma liberdade no
serviço de Cristo pelas mulheres, havia uma alusão à Nova Eva. A tese desse
parágrafo incriminado era muito simples: hoje os teólogos e os homens em geral,
confiam pouco nas mulheres cristãs, “não há virtude de mulheres que não
apresente suspeitas” (C 3, 7 nota). Todavia Jesus não pensava assim; uma atenciosa
leitura do evangelho confirma que se Jesus tomou a defesa das mulheres de seu tempo...
também as mulheres foram mais fiéis no seguimento do Mestre. Compreende-se então
a zanga teresiana: “Não ficastes chateado, Senhor, quando estáveis no mundo,
com as mulheres, ao contrário, vós as favorecestes sempre com muita piedade e
encontraste nelas tanto amor e mais fiel do que nos homens, porque havia a
vossa Santíssima Mãe por cujos méritos merecemos, quando desmerecemos por nossa
culpa...” (Ibi).
Em
Maria Nova Eva, primeira cristã, Teresa encontra o brio de ser mulher e de
seguir o Cristo num serviço à Igreja com a oração e com o testemunho, num
momento em que outros caminhos para outros serviços apostólicos eram proibidos
às mulheres consagradas daquele tempo.
Seguimento
até os pés da cruz, constituído de fortaleza e de fidelidade, como releva em outro
lugar: ”O que teve de passar a gloriosa Virgem aos pés da cruz” (C 26,8).
Compaixão pelo Filho num momento em que “estava de pé e não dormia, mas sofria
na sua santíssima alma e morria de dura morte” (Conceitos sobre o amor de Deus
CAD 3,11).
B.
Virgem humilde e pobre, modelo dos contemplativos.
Duas
são as virtudes que Teresa destaca na Virgem Maria: a pobreza e a humildade.
Pobre
é a Virgem Maria que acompanha o Filho ao templo de Jerusalém: “O justo Simeão também
não via do glorioso Menino pobrezinho senão aquilo que O envolvia e as poucas pessoas
que iam com Ele em procissão, sendo mais possível que O julgasse, diante disso
antes filho de pobres do que do Pai celestial” (C 31,2). Assim graciosamente
comenta Teresa o episódio da apresentação no templo.
Humilde
é Maria com uma virtude genuína que atraiu o amor do Senhor e O encantou, como
a dama é capaz de pôr em xeque o rei no jogo de xadrez: “Não há dama que o faça
render-se como a humildade; esta o atraiu do céu ao seio da Virgem” (C 13,3).
Humilde
e sábia é Maria de Nazaré em sua atitude no momento do anúncio do Anjo. Numa página
do livrinho Conceitos do amor de Deus frisa este aspecto colocando em realce o comportamento
de Maria diante do mistério: Convém nos lembrar do que fez a Virgem Nossa Senhora,
com toda a sua sabedoria perguntado ao anjo: Como se fará isso? E quando o anjo
lhe disse: O Espírito Santo virá sobre ti; a virtude do altíssimo te cobrirá
com a sua sombra, ela não tratou mais de disputas. Como que tinha grande fé e
sabedoria, percebeu algo que diante da intervenção dessas duas coisas, nada
mais havia para saber ou de que duvidar” (CAD 6,7).
E
aqui Teresa acrescenta uma frase um pouco polêmica contra os que de tanto
raciocinar não são capazes de acolher as maravilhas de Deus: “Não como certos
‘letrados’ que parece devam com suas letras, compreender as grandezas de Deus.
Ah se aprendessem um pouco com a humildade da Virgem Santíssima!” (Ibi).
É
ainda a humildade o caminho real pelo qual o Senhor faz o seu ingresso nas
almas; é o caminho da exaltação dos humildes naquela bem-aventurança em que são
concordes o Cristo e Maria: a verdadeira Sabedoria e a Rainha dos anjos” (CE
19,3).
Na
atitude orante de Maria Santa Teresa recorda com frequência o seu canto do Magnificat,
a propósito do qual, como veremos, tem certa experiência de identificação
mística com os sentimentos da Virgem de Nazaré. Há, porém uma referência
iluminadora da primeira redação do Caminho de Perfeição a propósito da oração
de recolhimento que faz de Maria a imagem, o ícone do orante cristão. A tese de
Teresa, e, portanto a sua pedagogia da oração, baseia-se na convicção de que
Deus vive dentro de nós e que é necessário recolher-se para encontrar a sua
presença no coração do homem que se tornou templo e palácio do Rei. O cristão
sente-se habitado: “Nada de mais admirável do que ver aquele que pode encher
com a sua grandeza mil e mais mundos, fechar-se em algo tão pequeno... como lhe
agradou encerrar-se no seio da sua santíssima Mãe! Ele é o Senhor do mundo e
traz consigo a liberdade e por isso no amor que tem por nós acomoda-se à nossa
medida” (CE 28,11). A referência mariana é importante. Maria é o modelo do
orante cristão. Deus habita em nós porque nela tomou a sua morada; o cristão é
templo vivo de Deus à imagem e à semelhança de Maria, templo vivo, arca da
Aliança. Na Virgem de Nazaré o cristão encontra o modelo da interioridade
contemplativa que lhe permite encontrar Deus dentro de si na oração e o traz
consigo na vida.
C. A
Esposa dos Cânticos
O
Cântico dos cânticos é familiar a Teresa. Apesar de ser um livro perigoso no
seu tempo, a nossa Santa arriscou um comentário espiritual de alguns
versículos. Escreveu assim os
Conceitos
sobre o amor de Deus que hoje os autores e alguns leitores preferem chamar de Meditações
sobre o Cântico dos cânticos. Poucas mas significativas as referências
marianas.
Maria
é a esposa do Cântico. Teresa intui-o e prova-o a seu modo com o uso que a
liturgia fazia dele naquele tempo no Ofício de Nossa Senhora. “Ó minha Senhora
- exclama Teresa numa rara oração dirigida diretamente à Maria - como se pode
perfeitamente compreender por vós o que acontece entre Deus e a Esposa, tendo
presente o que nos diz o Cântico! Assim podeis constatar, ó filhas, no ofício
de Nossa Senhora que rezamos cada semana pela abundância das citações que temos
do Cântico nas antífonas e nas lições” (CAD 6,7). A referência ao ofício de Santa
Maria no Sábado é evidente.
Essa
alusão é importante. Na tipologia da vida espiritual, a Esposa do Cântico é a
imagem da alma esposa que percorre as últimas etapas da vida espiritual até o
matrimônio místico. A tipologia da Esposa do Cântico recorre com frequência no
Castelo Interior da IV à VII Morada.
Em
Maria tudo se realizou à perfeição.
De
fato, ao comentar o versículo “Estou sentada à sombra daquele que desejei” (Ct
2,3), Teresa oferece uma interpretação tipicamente mariana referida à Encarnação;
mistério que ajuda a compreender analogicamente o estado de uma alma à sombra
do Espírito Santo. Eis o comentário teresiano: “Oh que sombra celestial, e quem
dera eu soubesse dizer o que sobre isso dá o Senhor a entender! Lembro-me de
quando o anjo disse à Virgem sacratíssima, Senhora nossa: A virtude do
Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Quão amparada se vê uma alma quando o
Senhor a eleva a essa grandeza. Ela com razão pode sentar-se e sentir-se segura”
(CAD 5,2).
D. No
vértice da santidade, unida ao mistério de Cristo.
Há
outro aspecto característico da apresentação do mistério de Maria na doutrina teresiana.
Aspecto ligado a duas convicções profundas, a dois eixos da espiritualidade teresiana.
O primeiro é a sua tese, defendida ao extremo, da absoluta necessidade de estar
em profunda comunhão com a Humanidade de Cristo em todos os estados da vida
cristã, compreendidos também os mais altos graus da união com Deus. O segundo
tema é a convicção profunda que a santidade cristã alcança o seu vértice na
identificação com Cristo, no amor e no serviço, na cruz que representa o dom
total de si. Nos dois casos a referência à Maria é iluminadora.
A
propósito do primeiro tema, deve recordar-se que a Santa expôs a sua tese em
dois textos paralelos do Livro da Vida (capítulo 22) e no Castelo Interior (6M
7). Nos dois textos recorre pontual o exemplo de Maria que Teresa considera
critério absoluto de discernimento, apesar das interpretações dadas por alguns
com citação de textos.
A
tese é clara: Maria, modelo de santidade e de comunhão com Cristo, não conhece absolutamente
um grau de santidade no qual deva privar-se da comunhão com o seu Filho.
Portanto
é ela o verdadeiro modelo da santidade vivida através da contemplação dos
mistérios da Humanidade de Cristo.
Eis
o primeiro texto teresiano, escrito numa nota marginal da redação definitiva do
Livro da Vida: “Parece-me que se tivessem tido fé, crendo que era Homem e Deus,
como tiveram depois da vinda do Espírito Santo, não os impediria, pois não se
disse isso (“Convém que eu me vá”: Jo 16,7) à Mãe de Deus, embora ela o tenha
amado mais que todos” (V 22,1).
O
segundo texto é semelhante: “Aduzem quanto o Senhor disse aos seus discípulos: convém
que eu me vá. Mas eu não posso tolerar essa interpretação! Certamente não o
disse à sua Mãe Santíssima, porque era firme na fé. Ela sabia que era Deus e
Homem e, também se o amava mais que todos, fazia-o com tanta perfeição que a
própria Humanidade ajudava-a...” (6M 7,14).
Assim,
com traços vigorosos, a Santa reivindica para o cristão quanto viveu Maria: não
cansar-se jamais da contemplação do mistério do Verbo Encarnado, Crucificado,
Glorificado.
Na
plenitude do amor e da fé Maria acha-se imersa no mistério do Filho que gerou e
permanece modelo de uma santidade cristã que não pode jamais privar-se da referência
à Humanidade sacratíssima do Cristo, fonte de todo o bem.
Pois
bem, esse princípio, do qual Teresa oferece válida confirmação através da
própria experiência, enquanto que as alturas da vida mística são marcadas pela
presença e pela companhia do Ressuscitado, alarga-se também a presença do
mistério de Maria no cume da vida espiritual. Frisa-o neste texto: “É ótima
companhia a do bom Jesus para que jamais nos afastemos dela, como também a da
sua Sacratíssima Mãe...” (6M 8,6). Com agudeza Teresa acrescenta um argumento
eclesial: não se pode passar sem a comunhão com estes mistérios, ”sobretudo
quando a Igreja Católica os celebra” (6M 7,11). É um perspicaz argumento que recorda
a fé e a liturgia da Igreja.
O
outro aspecto da santidade cristã no seu vértice é a convicção teresiana
expressa numa luminosa página densa de teologia e de espiritualidade no final
do Castelo Interior (6M 4,4 e ss.) A mensagem fundamental é esta: a santidade
consiste na conformação a Cristo e esta é medida especialmente pela conformação
ao seu amor e ao seu serviço que resplandecem no sacrifício da cruz. A
referência Mariana resulta, neste caso, exemplar: “Temos visto sempre que
aqueles que acompanharam Cristo Nosso Senhor mais de perto foram os que mais padeceram.
Vejamos os sofrimentos de sua gloriosa Mãe, bem como de seus santos apóstolos...”.
A
maior identificação com Cristo é a suprema santidade. Ser “espirituais de
verdade” significa ser como Cristo, o Servo que dá a vida por amor... E não se
deve esquecer que ao lado de Cristo aos pés da cruz estava presente Maria, no
cume de sua conformação com o Senhor, “não adormecida mas sofrendo na sua alma
e morrendo dura morte” (CAD 2,11).
Maria
é, portanto modelo de toda a virtude, mas também incomparável modelo do cristão
que quer percorrer todas as etapas da vida espiritual com os olhos fixos na
humanidade de Cristo até a identificação com o seu amor e a sua dor.
3.
Experiências místicas marianas
A
Devoção à Virgem e a imitação das virtudes da Mãe de Cristo alcançam vértices
de experiência mística em Santa Teresa. Como já relevamos, no arco de
experiências do mistério da salvação que são características da mística
teresiana, incorretamente chamada de subjetivismo místico, tem o seu discreto
fascínio a comunhão com o mistério ou os mistérios de Maria.
Apesar
de nestas experiências não faltarem palavras dirigidas a Teresa, não são as
palavras o conteúdo místico específico. Além do conhecimento ou contemplação do
mistério de Maria em si mesmo, nessas experiências místicas podemos colher uma
graça particular de participação, de identificação, de transmissão dos
sentimentos de Maria para que Teresa possa experimentar algo do mistério da
Virgem. Essa última observação parece-me que possa caracterizar a originalidade
da mística mariana de Santa Teresa.
A. Com
Maria nos mistérios da infância de Jesus.
Dos
mistérios da Virgem vividos por Teresa com uma penetração que podemos
qualificar como mística, relevamos três momentos fundamentais.
Já
recordamos a intuição mística do mistério da Encarnação quando a sombra do
Espírito cobre Maria; desta experiência que Teresa recebe a paz doada pelo
espírito Santo brota um conhecimento do mistério da Virgem de Nazaré tornada
morada de Deus, templo do Espírito.
Por
duas vezes, ao invés, Teresa recorda ter tido uma experiência das palavras do Magnificat:
“Certo dia, enquanto estava em oração, senti que a alma estava tão imersa em Deus
que me parecia que o mundo não mais existia, mas embebida nele, me fez
compreender o versículo do Magnificat et exultavit spiritus , de tal modo que
jamais o pude esquecer” (R 61).
Em
outra ocasião tive a compreensão destas palavras de Maria e pude compreender
“que o espírito era a parte superior da vontade” (R 29,1; cfr Exclamação 7).
Com razão, pois, Santa Teresa demonstrava predileção pelas palavras do
Magnificat ao repeti-las frequentemente em língua vulgar, como recorda a sua
companheira Maria de São José: “Esta testemunha viu muitas vezes a dita Madre
Teresa que com voz bem baixa e cheia de devoção louvava nosso Senhor repetindo
o primeiro versículo do cântico do Magnificat em língua castelhana”.
A
contemplação do mistério do Natal foi cantada por Teresa com ingênuas poesias
de circunstância, os “vilancicos”, que acompanhava com castanholas e com alguma
dança conventual. Essas poesias chamam com frequência a tensão para a Virgem
Mãe, mas não possuímos algum testemunho de experiência mística verdadeira,
própria deste mistério.
Torna-se
mais recorrente o mistério da apresentação de Jesus no templo. Numa das ocasiões
o próprio Senhor lhe oferece estas palavras de revelação: “Não penses, ao veres
minha mãe apertando-me entre os braços, que ela goze dessas alegrias livre de
penoso tormento. Desde que Simeão lhe disse aquelas palavras, meu Pai deu-lhe
clara luz para compreender quanto eu teria de sofrer” (R 36,1).
A
mesma fuga para o Egito consola Teresa tornando-se ponto referencial do seu
vagabundear no início das fundações: “Lembre-se de como caminhava Nossa Senhora
quando fugiu para o Egito e do nosso Pai São José”, escreve a Da Luísa de La
Cerda em carta de 27 de maio de 1568.
C. No
mistério pascal com Maria, a Mãe de Jesus.
Por
Teresa é mais sentido o mistério de Maria na sua desolação aos pés da Cruz.
Participa dele de modo especial na Semana Santa de 1571 em Salamanca. Sente a
própria desolação como afastamento de Deus e vem-lhe espontânea a lembrança da
dor de Maria aos pés da cruz: “Este ser transpassados chegou ao extremo; agora
compreendo melhor o que sofreu a Virgem nossa Senhora, porque até hoje, como
digo, não tinha compreendido este traspassamento...” (R 15,1).
Todavia
esta dor da Virgem, apesar de dilacerante, intui-a como vivida por Maria numa experiência
serena e nobre. Por isso não gostava da devoção, toda barroca, do Frei Jerônimo
Graciano que com frequência gostava de celebrar a missa votiva das dores da
Virgem Maria aos pés da Cruz. Em 1575, quando mais intensa se faz a perseguição
e a Inquisição espanhola intervêm na vida de Teresa pedindo informações, ela
recebe uma graça em sintonia com o mistério da desolação de Maria. Desta vez é
assim narrada: “O próprio Senhor colocou-se em meus braços, como se representa
nos quadros a quinta dor da Virgem” (R 18). Encontramo-nos claramente diante de
uma participação nos mistérios da Mãe de Cristo.
Todavia,
neste contexto ainda, na Páscoa de 1571, Teresa recebe uma luz especial sobre um
mistério que a nós permanece escondido e do qual não falam os evangelistas: a
aparição de Cristo à sua Mãe, que os autores medievais de bom grado imaginavam
nas diversas “Vidas” de Cristo. Eis as palavras de Jesus sobre este fato:
“Disse-me que após a ressurreição tinha feito visita a Nossa Senhora, porque
tinha extrema necessidade, visto que a dor mantinha-a tão absorvida que não
conseguiu retornar logo em si para gozar daquela alegria. Assim pude compreender
o meu traspassamento, muito diferente do experimentado pela Virgem! Disse-me também
que ficara bastante tempo com ela por que tinha sido necessário para
consolá-la” (R 15,6). Não faltam ingenuidade e realismo nessa narração que Teresa
faz do mistério de Maria na dor da sua desolação e na gloria da Ressurreição do
Filho; mistérios que ele intui com o coração da Mãe.
D.
Exaltada no céu e presente na comunidade orante da Igreja
Um
raio de luz é-nos oferecido na experiência mística de Santa Teresa a respeito
da glória de Maria no céu e da sua presença na Igreja orante.
Do
primeiro aspecto, isto é a glória de Maria na sua Assunção gloriosa, já
ofertamos um testemunho, que é agora confirmado com esta outra graça recebida
no dia da Assunção de Maria ao céu. Trata-se de uma contemplação mística de
quanto a Igreja celebra neste dia. Eis a descrição sóbria e eficaz: “No dia da
Assunção da Rainha dos Anjos e Senhora nossa... representaram-se a mim a sua subida
ao céu, a alegria e a solenidade com que foi acolhida e o lugar onde se
encontra... Foi grandíssima a alegria do meu espírito ao ver tanta glória...
Foi-me extremamente proveitoso para desejar sofrer mais e restou-me o grande
desejo de servir esta Senhora que tanto mereceu” (V 39,26).
A
glória de Maria não a torna distante, ou melhor permite-lhe estar sempre
próxima de todos na Igreja. Teresa teve pelo menos duas experiências místicas
desta presença de Maria no meio da comunidade orante. Já recordamos uma ao
falarmos da fundação de São José de Ávila. A outra aconteceu em janeiro de 1572
no mosteiro da Encarnação do qual Teresa tinha sido nomeada priora e onde as
monjas a tinham recebido contra a vontade. Alí, no pequeno coro presidido por
Nossa Senhora da Clemência que Teresa tinha colocado com Priora, teve esta
visão: “A vigília de São Sebastião, no primeiro ano de seu priorado na
Encarnação, ao iniciar o canto da Salve, vi na cadeira prioral, em que fora
colocada Nossa Senhora, descer a Mãe de Deus cercada por grande multidão de
anjos e ali ficar... Permaneceu durante quase todo o canto da Salve e me disse:
Fizeste muito bem em colocar-me aqui. Estarei presente aos louvores que
elevareis ao meu Filho e apresentar-lhos-ei” (R 25).
Desse
modo Maria se torna presente na comunidade orante e manifesta a sua intercessão
viva para nós. Também essa graça contém claro conteúdo teológico.
Recordemos
finalmente uma graça mística na qual Maria aparece muito próxima do mistério
trinitário. Sabemos que a mística teresiana é cristocêntrica e trinitária e que
o vértice das experiências místicas é exatamente a revelação deste mistério de
Deus, ao qual Teresa tem acesso para contemplar Deus Uno e Trino. Numa destas
experiências trinitárias ela acolhe a palavra do Pai que lhe faz compreender os
dons recebidos quase lhes mostrando uma a uma as realidades presentes: “Eu
doei-te o meu Filho, o Espírito Santo e esta Virgem. E tu, o que me podes dar?”
(R 25). “Esta Virgem!” Ao lado do dom trinitário eis o dom de Maria, próxima do
mistério trinitário, dom do Pai a Teresa, de cujo mistério ela contemplou a
profundidade e a ternura.
Conclusão
Traçamos
os pontos fundamentais da experiência espiritual mariana de Santa Teresa de Jesus.
Deles
emerge a figura evangélica de Maria nas suas virtudes características, nos episódios
da sua vida ao lado do Cristo Senhor.
A
experiência teresiana é sóbria, mas é rica de significado visto que oferece o
testemunho da própria experiência do mistério, de uma sóbria mística mariana
ligada fundamentalmente à contemplação dos mistérios da Virgem.
O
caminho espiritual de Teresa é marcado pela presença de Maria como Mãe
espiritual. A nota talvez mais bonita desta experiência seja o indissolúvel
nexo que une Maria ao mistério de Cristo e que proporciona à experiência
mística cristocêntrica tornar-se por lógica consequência, experiência mística
mariana.
Assim,
apesar de no contexto da mística mariana não ter sido colocado em especial
realce esta nota, pode considerar-se que o contributo de Santa Teresa à
compreensão do mistério de Maria é límpido, sóbrio, evangélico; acha-se
enraizado no mistério de Cristo e conduz a uma experiência da presença de Maria
no mistério de Cristo e de uma vida com Maria onde mais intensa se torna a vida
em Cristo com a participação nos seus mistérios.
Bibliografia
Boyero, M., Maria en la experiência mística
teresiana, em Ephemerides Mariologicae 31 (1981) 9-33;
Id., La Madonna di Teresa d’Avila, Roma
Edizioni OCD, 1988. LLAMAS, E., La Virgem Maria en la vida y en
la experiencia mística de santa Teresa de Jesús, em Marianum 44(1982)48-87.
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