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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

"O Tratado do Purgatório"

Parte 2 - Culpa, Pena e Sabedoria de Deus

5. CULPA: Deus mostra Sua bondade até mesmo com os condenados.
A pena dos condenados não é infinita na quantidade, porque a doce bondade de Deus derrama os raios de sua misericórdia até no Inferno. O homem, morto em pecado mortal, merece uma pena infinita num tempo infinito; porém, a misericórdia de Deus fez infinita somente o tempo da pena, e fez a pena limitada em quantidade, embora justamente pudesse ter lhe dado maior pena que lhe deu. Oh! Quão perigoso é o pecado cometido com malícia! Porque dificilmente o homem se arrepende dele e, não se arrependendo, permanece com a culpa; ela persevera durante o tempo em que o homem permanece na vontade do pecado cometido ou na vontade de cometê-lo.

6.PENA: Purificadas do pecado, as almas sofrem alegremente as penas.
As almas do Purgatório têm a sua vontade totalmente de acordo com a de Deus, por isso, Deus lhe corresponde com Sua bondade; assim, elas ficam contentes no que se refere à vontade e se encontram purificadas do pecado original e atual, no que concerne à culpa. Estas almas ficam purificadas como no momento em que Deus as criou. Por terem se arrependido, por terem confessado todos os pecados cometidos e com a vontade não mais cometê-los, Deus perdoa imediatamente a sua culpa e então, não lhes resta senão a escória do pecado, da qual vão se purificando no fogo com a pena. E assim, purificadas de toda a culpa e unidas a Deus pela vontade, veem a Deus claramente, segundo grau de conhecimento que Ele lhes concede. Veem também quanto importa a posse de Deus e veem que as almas foram criadas para este fim.

7. ÂNSIAS DE UNIÃO - exemplo do pão e do faminto
As almas do Purgatório encontram-se numa conformidade tão unitiva com o seu Deus - uniformidade que as atrai até Ele pelo instinto natural da alma para Deus - que não podem conceber motivos, comparações ou exemplos que sejam suficientes para esclarecer essa coisa tal como a mente a sente e só compreende por sentimento interior. Contudo, darei um exemplo que tenho em mente. Suponhamos que em todo o mundo não houvesse mais que um só pão, o qual servisse para matar a fome de todos os homens, bastando apenas vê-lo. Tendo o homem, por natureza, quando está sadio, instinto de comer, se não comesse e não pudesse ficar doente, nem morrer, aquela fome sempre cresceria, porque o instinto de comer nunca lhe faltaria. Sabendo então, o homem que só este pão poderia saciá-lo, se o tivesse, não poderia satisfazer a sua fome, e, por isso, sofreria uma pena intolerável. Quanto mais se aproximasse daquele pão, sem poder vê-lo, tanto mais se acenderia nele o desejo que, instintivamente, se dirigiria para este pão, já que encontraria nele toda a sua satisfação. Se o homem estivesse certo de que nunca mais tornaria a ver o pão, naquele momento, teria o seu inferno realizado, à semelhança das almas, que estão privadas de toda a esperança de ver o pão - Deus - seu Salvador verdadeiro. Porém, as almas do Purgatório têm a esperança de ver esse pão e de saciar-se plenamente dele. Por isso, padecerão e estarão em sofrimento até o momento em que possam saciar-se daquele pão, Jesus Cristo, verdadeiro Deus e Salvador, amor nosso.

8. SABEDORIA DE DEUS: O Inferno e o Purgatório revelam-nos a admirável sabedoria de Deus
Assim como o espírito limpo e purificado não encontra lugar senão em Deus para seu descanso, por ter sido criado para este fim, assim a alma em pecado não encontra lugar adequado senão no inferno, tendo-lhe Deus preparado aquele lugar para o seu fim. Por isso, no mesmo instante em que se separa do corpo, a alma vai sozinha ao lugar que lhe foi determinado, sem que ninguém a guie, enquanto que a alma, que conserva a natureza do pecado mortal, vai para o Inferno.
Se a alma condenada não encontrasse, naquele momento, aquela determinação procedente da justiça de Deus, ficaria num inferno muito pior do que o outro, porque se encontraria fora daquela determinação a qual participa da misericórdia que não dá à alma condenada tanta pena quanto merece.
Por isso, não encontrando lugar mais conveniente, com menor sofrimento, empurrada pela divina determinação, lança-se dentro, encontrando nele seu lugar próprio.
Assim, também a respeito do Purgatório, diremos que a alma, separada do corpo, não encontrando em si aquela pureza na qual foi criada e vendo-se no impedimento que pode ser tirado no purgatório, de bom grado, imediatamente nele se lança.
Se não encontrasse aquela determinação capaz de tirar-lhe o impedimento, naquele instante surgiria nela um inferno pior que o purgatório, ao ver que não pode alcançar seu fim divino por causa do impedimento. Este tem tanta importância que em comparação a ele o Purgatório não é nada, ainda que, como disse, seja semelhante ao Inferno. Esta comparação, porém, é quase nada

9. Necessidade do Purgatório
Quero dizer ainda mais: Vejo que, no que diz respeito a Deus, o paraíso não tem portas, de sorte que quem quiser entrar, entra, porque Deus é todo misericórdia e tem os braços abertos para nós, a fim de receber-nos em sua glória. Contudo, vejo também que aquela Divina Essência é de tanta pureza e nitidez (e muito mais do que se possa imaginar) que se a alma encontrar em si uma imperfeição, por insignificante que seja, imediatamente se lançaria em mil infernos a se colocar na presença da Divina Majestade com aquela mancha.
Por isso, ao ver que o purgatório está preparado para tirar-lhe essas manchas, a alma lança-se dentro dele e parece-lhe encontrar grande misericórdia, para poder livrar-se daquele impedimento.

10. Natureza terrível do Purgatório
A importância do Purgatório não pode ser expressa por palavras nem ser concebida pela mente. Ao mesmo tempo que se observa nele tanto sofrimento como no Inferno, nota-se também que a alma, se percebe em si uma mínima mancha de imperfeição, recebe o purgatório como misericórdia, como já se disse e, em comparação com aquela mancha impeditiva do amor, de certo modo não dá importância ao sofrimento.
Parece-me que a pena das almas do Purgatório é maior, por verem em si mesmas alguma coisa desagradável a Deus e por a terem-na cometido, voluntariamente, contra tanta bondade, que por qualquer outro tormento experimentado no purgatório. O motivo é este: estando em graça, aquelas almas vêm a verdade e a importância do impedimento que não as deixa aproximar-se de Deus.
Todas essas realidades que tentei descrever e se comparadas com o que está gravado em minha mente - enquanto pude compreender nesta vida - são de tão grande elevação que toda a visão, toda palavra, todo o sentimento, toda a imaginação, toda a justiça, toda a verdade... parecem-me mentiras e bagatelas e sinto-me confusa por não encontrar palavras mais profundas.

Continua amanhã...

SEXTA-FEIRA DA XXX SEMANA DO TEMPO COMUM

EVANGELHO (Lucas 14,1-6) - Jesus entrou num sábado em casa de um fariseu notável, para uma refeição; eles o observavam. Havia ali um homem hidrópico.  Jesus dirigiu-se aos doutores da lei e aos fariseus: "É permitido ou não fazer curas no dia de sábado?" Eles nada disseram. Então Jesus, tomando o homem pela mão, curou-o e despediu-o. Depois, dirigindo-se a eles, disse: "Qual de vós que, se lhe cair o jumento ou o boi num poço, não o tira imediatamente, mesmo em dia de sábado?" A isto nada lhe podiam replicar.

1. Uma resposta linda
Diácono José da Cruz 

Um amigo muito espirituoso comentou comigo, sobre este evangelho, que Jesus parecia que gostava de “Cutucar a onça com vara curta”. Entrou na casa de um Fariseu notável em dia de sábado, para tomar uma refeição, estava sob a vigilância severa do grupo de Fariseus, e eis que ali estava um Homem Hidrópico. Há que se desconfiar até que os próprios Fariseus levaram este homem lá, para ver a reação de Jesus, achando que ele não teria o “topete” de fazer uma cura em dia de sábado, justo na casa de um Fariseu importante.

Não se sabe se foi armação dos Fariseus, pode até ser que sim, pois não era novidade que eles estavam “doidinhos” para pegar o Mestre em uma armadilha. Jesus, como sempre, manteve a serenidade e ainda perguntou se era permitido ou não, fazer curas em dia de Sábado. Os Fariseus nada disseram mas certamente com os olhares “fuzilaram” Jesus.

Se não fossem tão cegos e cabeça dura, se não tivessem um coração tão endurecido e fechado á Graça de Deus, e reconhecessem a Jesus como o Messias esperado e prometido, que viera para Salvar a Humanidade, poderiam dar uma linda resposta.

“Olha mestre, ao Senhor tudo é permitido, pois hoje nós celebramos o repouso, o Dia em que nosso Deus Eterno e Poderoso criou todas as coisas, como o Senhor é o Filho Dele e Aquele que nós todos esperamos, tens o poder de restaurar e refazer todas as coisas, inclusive devolver a saúde a este nosso irmão, para nós será motivo de muita alegria e iremos dar Glórias a Deus. O Senhor nem precisava perguntar, és o Senhor da Vida e da História...”

Esta é a resposta que qualquer um de nós daria, se lá estivéssemos. Então mudemos a pergunta, em lugar dos Fariseus está um grupo de zelosos agentes da pastoral do Batismo, com uma larga caminhada e que sabem de cor cada regra ou norma da Igreja “Deve-se batizar o filho de uma mãe solteira, ou não?”. “Pode um casal em segunda união receber a Comunhão?” “Pode um evangélico visitar a Igreja Católica e vir em uma celebração?” Pode um católico ter amizade com um Espírita ou de outra religião, que não seja Cristã”? Tem outras perguntinhas iguais a essa, que a gente se engasga quando vai responder.

Uma coisa é darmos uma resposta linda, estando lá, em lugar do Fariseu, outra é estarmos aqui, diante de situações onde, na maioria das vezes priorizamos a Lei, a Linha Pastoral, a norma, e esquecemos do mais importante: de acolher as pessoas, de ouvir suas histórias, de anunciarmos também a elas o Santo Evangelho que Liberta e dá a verdadeira Vida!

Jesus curou o homem enfermo e ainda fez uma pergunta muito provocante “Se o trabalho a ser feito, como tirar um Jumento do poço, for de interesse próprio, será que alguém vai pensar no Preceito Sabático?”. Ou seja, todo rigor e austeridade quando se aplica a Lei ao outro, quando for para o meu interesse, a lei sempre é mais branda.
A classe dos Fariseus há muito já se foi, mas o Espírito Farisaico está mais vivo do que nunca, principalmente nas comunidades que se dizem Cristãs.

2. Olhar com misericórdia
Carlos Alberto Contieri, sj

É a terceira vez que Jesus é convidado para uma refeição na casa de um fariseu (7,36; 11,37). Esta repetição do encontro de Jesus com os fariseus em suas respectivas casas mostra que entre Jesus e os fariseus há uma mescla de simpatia e resistência. Essa proximidade relativa não impede Jesus de alertá-los. Os fariseus, efetivamente, desejam viver fielmente sua religião e creem servir a Deus através de suas práticas, sobretudo, uma determinada prática da Lei. Mas a rigidez quase obsessiva os cega, liga-os de modo estreito à letra do texto; a Lei de Deus é para eles um conjunto de regras e preceitos. Esse modo de cumprir a Lei, que eles julgavam ser o correto, fazia com que se esquecessem do essencial da Lei: o amor a Deus e o amor fraterno. Esse modo de interpretar a Lei os impedia de olhar para os outros com misericórdia e compreender: "É misericórdia que eu quero, não sacrifícios" (Os 6,6).

Nosso texto de hoje mostra uma refeição na casa de um dos chefes dos fariseus, durante o descanso sabático, dia dado pelo Senhor para celebrar o dom da vida, através da obra da criação, e a libertação do país da escravidão. Aproveitando-se da presença de um hidrópico, Jesus provoca a compreensão dos fariseus sobre o sentido da Lei de Deus: "Em dia de sábado, é permitido curar ou não? […] Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo daí, mesmo em dia de sábado?" (vv. 3.6). Eles não responderam a nenhuma pergunta porque, efetivamente, não tinham nada a responder.

3. Sobre o Sábado
Pe. Jaldemir Vitório sj.

A maneira como os fariseus praticavam a Lei mosaica levava-os, muitas vezes, a tomarem atitudes insensatas. Jesus não comungava com o exagero deles; antes, submetia a obediência à Lei às exigências do amor e da misericórdia. Diante de uma situação em que a misericórdia se torna um imperativo, os preceitos da Lei ficam em segundo lugar.

Partindo deste princípio, Jesus não teve receio de curar o homem que padecia de hidropisia, embora fosse sábado e tivesse diante de si o chefe dos rigorosos fariseus. Entre agradar seu anfitrião e agradar a Deus, ele não hesitou. Contudo, não desagradou os fariseus simplesmente com o intuito de chocá-los e causar mal-estar naquele ambiente de fraternidade, pois se tratava de uma refeição. A ação de Jesus tinha sido uma obra da misericórdia. Ele não entreviu outro caminho possível, a não ser enviar, para casa, o homem já curado.

Jesus ofereceu aos fariseus um argumento que justificava sua ação: é sempre permitido defender a vida, seja ela qual for. Ninguém pergunta se é permitido tirar um boi ou um jumento, caído num poço em dia de sábado. E por que não, em se tratando de um ser humano, mergulhado na dor e no sofrimento de uma doença? A atitude de Jesus primou pela sensatez inspirada pelo Pai. Ninguém pode ser dispensado de praticar a misericórdia, que é característica do Pai. Tudo o mais deve estar submetido a ela.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais um episódio de discussão entre Jesus e os fariseus, acontecido durante a longa viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém. É muito difícil de situar este fato no contexto da vida de Jesus. Existem semelhanças com um fato narrado no evangelho de Marcos (Mc 3,1-6). Provavelmente, trata-se de uma das muitas histórias transmitidas oralmente e que, na transmissão oral, foram sendo adaptadas de acordo com a situação, as necessidades e as esperanças do povo das comunidades.

* Lucas 14,1: O convite em dia de sábado
“Num dia de sábado aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus, que o observavam”. Esta informação inicial sobre refeição na casa de um fariseu é o gancho para Lucas contar vários episódios que falam da refeição: cura do homem doente (Lc 14,2-6), escolha dos lugares à mesa (Lc 14,7-11), escolha dos convidados (Lc 14,12-14), convidados que recusam o convite (Lc 14,15-24). Muitas vezes Jesus é convidado pelos fariseus para participar das refeições. No convite deve ter havido também um motivo de curiosidade e um pouco de malícia. Querem observar Jesus de perto para ver se ele observa em tudo as prescrições da lei.

* Lucas 14,2: A situação que vai provocar a ação de Jesus
“Havia um homem hidrópico diante de Jesus”. Não se diz como um hidrópico pôde entrar na casa do chefe dos fariseus. Mas se ele está diante de Jesus é porque quer ser curado. Os fariseus que o observam Jesus. Era dia de sábado, e em dia de sábado é proibido curar. O que fazer? Pode ou não pode?

* Lucas 14,3: A pergunta de Jesus aos escribas e fariseus
“Tomando a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: "A Lei permite ou não permite curar em dia de sábado?"  Com a sua pergunta Jesus explicita o problema que estava no ar: pode ou não pode curar em dia de sábado? A lei permite, sim ou não? No evangelho de Marcos, a pergunta é mais provocadora: “Em dia de sábado pode fazer o bem ou o mal, salvar ou matar?” (Mc 3,4)

* Lucas 14,4-6: A cura
Os fariseus não responderam e ficaram em silêncio. Diante do silêncio de quem não aprova nem desaprova, Jesus tomou o homem pela mão, o curou, e o despediu. Em seguida, para responder a uma possível crítica, explicitou o motivo que o levou a curar: "Se alguém de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?"  Com esta pergunta Jesus mostra a incoerência dos doutores e dos fariseus. Se qualquer um deles, em dia de sábado, não vê problema nenhum em socorrer a um filho ou até a um animal, Jesus também tem o direito de ajudar e curar o hidrópico. A pergunta de Jesus evoca o salmo, onde se diz que o próprio Deus socorre a homens e animais (Sl 36,8). Os fariseus “não foram capazes de responder a isso” . Pois diante da evidência não há argumento que a negue.

Para um confronto pessoal
1) A liberdade de Jesus diante da situação. Mesmo observado por quem não o aprova, ele não perde a liberdade. Qual a liberdade que existe em mim?
2) Há momentos difíceis na vida, em que somos obrigados a escolher entre a necessidade imediata de um próximo e a letra da lei. Como agir?

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Trado do Purgatório - 1ª parte


1. APRESENTAÇÃO


Catariana Fieschi, chamada ”a santa do puro amor”, nasceu em 1447. Desejava, ainda adolescente, ingressar na vida religiosa consagrada, mas as imposições sociais e familiares prevaleceram e ela casou-se com Juliano Adorno.
Foram cinco anos de abandono, decepções e sofrimento. Por estranha reação decidiu lançar-se nas frivolidades da vida. Diz seu biógrafo: "Para compensar as tribulações que lhe causava o marido e para diminuir tantos afãs, Catarina entregou-se aos prazeres e às vaidades do mundo e neles se comprazia". Assim, viveu cinco anos.
Aos vinte e seis anos, triste e abatida, não sabia o que fazer. Foi então que Deus irrompeu em sua alma com torrentes de graças que a fizeram exclamar: "Não mais o mundo! Não mais pecados! Ó Amor, não mais pecados". O fogo do amor transformou rapidamente aquele coração generoso. Arrebatada por atração divina, disse: Oh! amor, eu não posso compreender que tenha de amar outra coisa fora de Ti...- Este amor causa tanta alegria que qualquer outra alegria, em comparação, é tristeza.
Catarina viveu o amor e ensinou o amor. Dela afirma São Francisco de Salles: "Santa Catarina é mestra na ciência do Amor" e São Luiz Gonzaga: "As chamas que reverberaram do incêndio de amor de Santa Catarina abrasaram minha alma". Consumida pelo amor Catarina foi ao encontro definitivo com Deus aos 15 de setembro de 1510. Tinha 63 anos.

O TRATADO DO PURGATÓRIO é fruto de suas experiências místicas de 1501. Tais experiências são o paradigma do Purgatório. O leitor não estranhe se no TRATADO encontre colocações que pareçam discordar do que há lido sobre o Purgatório, pois, como dissemos o TRATADO resulta de experiências da Santa. Isto não exclui outros modos de ver aquela realidade.
A doutrina de Santa Catarina a respeito do Purgatório pode ser resumida em alguns pontos-chave que apresentamos para facilitar a compreensão do TRATADO:
Amor-egoismo - O amor é Deus e o egoísmo é o pecado. O amor é felicidade e merece prêmio. O pecado é infelicidade e merece castigo eterno no inferno ou provisório no Purgatório.
Vida-Morte - O homem é protagonista de sua história, define seu destino tanto para o bem como para o mal. A morte fixa-o definitivamente conforme sua escolha.
Dinâmica da graça e do pecado: A graça tende a assemelhar-nos a Deus. O pecado tende a separar-nos de Deus levando à auto destruição.
Fim da graça: O Paraíso. Fim do pecado: O inferno
A santidade de Deus: Ela não admite manchas. A alma com a menor imperfeição, afasta-se da presença de Deus por uma intrínseca repugnância entre o pecado e a graça, a fealdade e a beleza.
Purgatório: É uma mescla de sofrimento e gozo. São as duas faces do amor: amor purificador e amor unitivo.
Inferno: É a privação do Amor. Tortura total.
O TRATADO insiste na expiação, no sofrimento: Porem, é sobretudo, um ato ao Amor e à felicidade.

2. PERFEITA CONFORMIDADE DAS ALMAS SOFREDORAS COM A VONTADE DE DEUS

As almas que estão no purgatório, segundo me parece compreender, não podem ter nenhuma outra escolha a não ser de estar nesse lugar. Isto acontece pela disposição de Deus. Não podem essas almas voltar-se sobre si mesmas, nem dizer: "Eu cometi esses pecados, pelos quais mereço estar aqui". Nem pode dizer: "Quisera não tê-los cometido, porque agora estaria no paraíso". Nem sequer exclamar: "Esta alma sairá daqui antes de mim?, ou, “sairei antes dela?".
Não podem ter lembrança de si mesmas nem dos outros (de bem ou de mal) que possam causar-lhe maior aflição da que já têm. Ao contrário, tem tal contentamento de se encontrarem na disposição e do que Deus nelas realiza quanto quer e como quer que não podem pensar em ter pena maior para si mesmas.
Vêm somente as operações da divina bondade que, com tanta misericórdia, conduzem o homem para Deus: Por isso, não podem ver nem os sofrimentos, nem os bens que possam acontecer ao homem como coisa dele. Se pudessem ver isto, não estariam em caridade pura. Não podem ver que estão nestas penas por seus pecados nem podem ter esta ideia na mente, porque isso seria uma imperfeição ativa, a qual não pode existir nesse lugar, porque atualmente não se pode ali pecar.
A causa de estarem no purgatório, essas almas a vêm uma só vez, quando passam desta vida. Já não podem vê-la mais, pois, caso contrário, haveria uma posse. Portanto, estando essas almas em caridade e, não podendo desviar-se dela com nenhum defeito atual, não podem querer nem desejar senão o puro querer da pura caridade. Estando no fogo do purgatório, estão dentro da disposição divina, a qual é caridade pura, e não podem desviar-se o mínimo em nenhuma outra coisa, porque estão também igualmente impossibilitadas de pecar como de merecer.

3- O MAIOR SOFRIMENTO DAS ALMAS NO PURGATÓRIO É A SEPARAÇÃO DE DEUS.

Por outro lado, aquelas almas sofrem um pena tão extrema que não há língua que a possa expressar, nem inteligência que possa compreender sequer a mínima parte dela, se Deus, por uma graça especial, não a mostrar. O mínimo desta pena, Deus, por esta graça especial, a mostrou à minha alma; porém, não posso expressá-la com minhas palavras. E esta visão que me mostrou o Senhor nunca mais se apagou da minha mente. Eu lhes direi, da melhor forma possível, porém, o compreenderão só aqueles a quem o Senhor se digne abrir-lhes o entendimento.
O fundamento de todas as penas é o pecado original e o atual. Deus criou a alma pura, simples e limpa de toda a mancha de pecado, e com certo impulso feliz para Ele. O pecado original, na pessoa em quem ele se encontra, afasta a alma deste impulso; ao acrescentar-se o pecado atual, a alma afasta-se ainda mais. E quanto mais a alma se separa de Deus, tanto mais se torna má, porque menos se assemelha a Deus.
Todas as bondades que possam existir, existem por participação de Deus, o que acontece às criaturas irracionais como Deus quer e ordenou. A alma racional assemelha-se a Ele, mais ou menos, à medida que a encontre purificada do impedimento do pecado.
Por isso, quando uma alma se aproxima da sua primeira criação, pura e limpa, esse impulso feliz se lhe vai descobrindo e crescendo tanto, com tal ímpeto e com tal veemente fogo da caridade - o que o atrai ao seu último fim basta um que lhe pareça uma coisa insuportável ser impedida; e quanto mais claramente a alma vê isto, mais padece um sofrimento extremo.

4. DIFERENÇA ENTRE OS CONDENADOS E AS ALMAS DO PURGATÓRIO

Como as almas que estão no purgatório, já não têm culpa de pecado, não há outro impedimento, entre Deus e elas a não ser essa pena que as retêm. Assim, o impulso não consegue ainda sua perfeição.
Ao ver claramente quanto lhes custa o menor impedimento e que este impulso é lento por necessidade de justiça, nasce, então, nelas aquele extremo fogo, parecido ao do inferno, diferente, porém, por não existir a culpa nas almas sofredoras, que é a culpa que perverte a vontade dos condenados ao inferno, aos quais Deus não corresponde com Sua bondade. Por isso, os condenados permanecem naquela desesperada e maligna vontade contrária à vontade de Deus.
Disto se vê, claramente, que é a perversa vontade, contrária à vontade de Deus que faz a culpa e que, perseverando na má vontade, persevera a culpa.
Por haver passado desta vida com aquela má vontade, a culpa dos que estão no inferno não está perdoada nem pode ser perdoada. Já não podem mudar a vontade com a qual saiam desta vida.
Naquela passagem se estabiliza a alma, no bem ou no mal, com a deliberação da vontade em que então se encontra, conforme está escrito: “Onde te encontrarei na hora da morte e com que vontade - de pecar ou de pesar e arrependimento dos pecados - ali te julgarei”.
Para este julgamento não há possibilidade de remissão, porque, após a morte, a liberdade do livre arbítrio não sofre mudanças porque está determinada naquilo em que se encontra no momento da hora da morte.
Os do inferno, por terem se encontrado, no momento da morte, com a vontade de pecar, levam consigo a culpa infinita e com ela a pena. Esta pena não é tanta como mereciam, embora a que têm seja infinita.
Os do purgatório têm somente a pena, já que a culpa foi apagada na hora da morte, por terem elas se arrependido de seus pecados.
Oh! Que miséria das misérias a nossa e tanto maior quanto a cegueira humana nem sequer a vê.

... Continua amanhã

Quinta-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 13,31-35): Naquela hora, alguns fariseus aproximaram-se e disseram a Jesus: Sai daqui, porque Herodes quer te matar. Ele disse: Ide dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia chegarei ao termo. Entretanto, preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, pois não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste! Vede, vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo: não mais me vereis, até que chegue o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

Comentário: Rev. D. Àngel Eugeni PÉREZ i Sánchez (Barcelona, Espanha)

Jerusalém, Jerusalém! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, mas não quiseste!

Hoje podemos admirar a firmeza de Jesus no cumprimento da missão encomendada pelo Pai do céu. Ele não se deteve por nada: Eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã (Lc 13,32). Com esta atitude, o Senhor marcou a pauta de conduta que ao longo dos séculos seguiriam os mensageiros do Evangelho ante as persecuções: não dobrar-se ante o poder temporário. Santo Agostinho disse que, em tempo de persecuções, os pastores não devem abandonar os fiéis: nem os que sofrerão o martírio nem os que sobreviverão como o Bom Pastor, que quando vê que vem o lobo, não abandona o rebanho, senão que o defende. Mas visto o fervor com que todos os pastores da Igreja se dispunham a derramar o seu sangue, indica que o melhor será jogar a sorte quem dos clérigos se entregarão ao martírio e quais se porão a salvo para logo cuidarem dos sobreviventes.

Na nossa época, com frequência, nos chegam notícias de persecuções religiosas, violências tribais ou revoltas étnicas em países do Terceiro Mundo. As embaixadas ocidentais aconselham aos seus concidadãos que abandonem a região e repatriem o seu pessoal. Os únicos que permanecem são os missioneiros e as organizações de voluntários, porque para eles pareceria uma traição abandonar os seus em momentos difíceis.

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste! (Lc 13,34-35). Esse lamento do Senhor produz em nós, os cristãos do século XXI, uma tristeza especial, devido ao sangrento conflito entre judeus e palestinos. Para nós, essa região do Próximo Oriente é a Terra Santa, a terra de Jesus e de Maria. E o clamor pela paz em todos os países deve ser mais intenso e sentido pela paz em Israel e Palestina.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje nos faz sentir o contexto ameaçador e perigoso no qual Jesus vivia e trabalhava. Herodes, o mesmo que tinha matado João Batista, quer matar Jesus.

* Lucas 13,31: O aviso dos fariseus a Jesus
“Nesse momento, alguns fariseus se aproximaram, e disseram a Jesus: "Deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar". É importante notar que Jesus recebeu o aviso da parte dos fariseus. Algumas vezes, os fariseus estão juntos com o grupo de Herodes querendo matar Jesus (Mc 3,6; 12,13). Mas aqui, eles são solidários com Jesus e querem evitar a morte dele. Naquele tempo, o poder do rei era absoluto. Ele não prestava conta a ninguém da sua maneira de governar. Herodes já tinha matado a João Batista e agora está querendo acabar também com Jesus.

* Lucas 13,32-33: A resposta de Jesus
“Jesus disse: "Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho”. A resposta de Jesus é muito clara e corajosa. Ele chama Herodes de raposa. Para anunciar o Reino Jesus não depende da licença das autoridades políticas. Ele até manda um recado informando que vai continuar seu trabalho hoje e amanhã e que só vai embora depois de amanhã, isto é, no terceiro dia. Nesta resposta transparece a liberdade de Jesus frente ao poder que queria impedi-lo da realizar a missão recebida do Pai. Pois quem determina os prazos e a hora é Deus e não Herodes! Ao mesmo tempo, na resposta transparece certo simbolismo relacionado com a morte e a ressurreição ao terceiro dia em Jerusalém. E para dizer que não vai ser morto na Galileia, mas sim em Jerusalém, capital do seu povo, e que vai ressuscitar no terceiro dia.

* Lucas 13,34-35: Lamento de Jesus sobre Jerusalém
"Jerusalém, Jerusalém, você que mata os profetas e apedreja os que lhe foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis!” Este lamento de Jesus sobre a capital do seu povo evoca a longa e triste história da resistência das autoridades aos apelos de Deus que chegavam a elas através de tantos profetas e sábios. Em outro lugar Jesus fala dos profetas perseguidos e mortos desde Abel até Zacarias (Lc 11,51). Chegando a Jerusalém pouco antes da sua morte, olhando a cidade do alto do Monte das Oliveiras, Jesus chora sobre ela, porque ela não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la." (Lc 19,44).

Para um confronto pessoal
1) Jesus qualifica o poder político como raposa. O poder político do seu país merece esta qualificação?
2) Jesus tentou muitas vezes converter o povo de Jerusalém, mas as autoridades religiosas resistiram. E eu, quanto vezes resisti?

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Quarta-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 13,22-30): Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Ele respondeu: ”Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta! ’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças! ’. Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniqüidade! ’ E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora. Virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão último».

Comentário: Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona, Espanha)

Hoje, a caminho de Jerusalém, Jesus se detém um momento e alguém aproveita para perguntar: «Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?» (Lc 13,23). Talvez, ao escutar a Jesus, aquele homem se inquietou. Realmente, o que Jesus ensina é maravilhoso e atrativo, mas as exigências que admite já não são tão de seu agrado. Mas, e se vivesse o Evangelho à sua vontade, com una “moral a la carte”?, que probabilidades teria de se salvar?

Assim pois, pergunta: «Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?» Jesus não aceita esta sugestão. A salvação é uma questão muito séria como para ser resolvida mediante um cálculo de probabilidades. DEUS «não quer que ninguém se perca, e sim que todos se convertam» (2Pe 3,9).

Jesus responde: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. ‘Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta! ’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’.» (Lc 13,24-25). Como podem ser ovelhas de seu rebanho se não seguem ao Bom Pastor, nem aceitam o Magistério da Igreja? «Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade! E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora.» (Lc 13,27-28).

Nem Jesus, nem a Igreja temem que a imagem de Deus Pai seja manchada ao revelar o mistério do inferno. Como afirma o Catecismo da Igreja, «as afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a propósito do inferno são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve usar sua liberdade em relação com seu destino eterno. Constituem ao mesmo tempo um rápido chamado à conversão» (n. 1036).

“Deixemos de brincar de espertos” e de fazer cálculos. Preocupemo-nos por entrar pela porta estreita, voltando a começar tantas vezes quantas sejam necessária, confiados em sua misericórdia «Todo isso, que te preocupa de momento — diz são Josemaria — importa más o menos — O que importa absolutamente é que seja feliz, que te salves».

Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais um episódio acontecido durante a longa caminhada de Jesus desde a Galileia até Jerusalém, cuja descrição ocupa mais de uma terça parte do evangelho de Lucas (Lc 9,51 a 19,28).

* Lucas 13,22: A caminho de Jerusalém
“Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém”. Mais uma vez Lucas menciona que Jesus está a caminho de Jerusalém. Durante os dez capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas, constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). O que é claro e definido, desde o começo, é o destino da viagem: Jerusalém, a capital, onde Jesus será preso e morto (Lc 9,31.51). Raramente, informa o percurso e os lugares por onde Jesus passava. Só no começo da viagem (Lc 9,51), no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc18,35; 19,1), ficamos sabendo algo a respeito do lugar por onde Jesus estava passando. Deste modo, Lucas sugere o seguinte ensinamento: temos que ter claro o objetivo da nossa vida, e assumi-lo decididamente como Jesus fez. Devemos caminhar. Não podemos parar. Nem sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o objetivo: Jerusalém, onde nos aguarda o “êxodo” (Lc 9,31), a paixão, morte e ressurreição.

* Lucas 13,23: A pergunta sobre os número dos que se salvam
Nesta caminhada para Jerusalém acontece de tudo: informações sobre massacres e desastres (Lc 13,1-5), parábolas (Lc13,6-9.18-21), discussões (Lc13,10-13) e, no evangelho de hoje, perguntas do povo: "Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?" Sempre a mesma pergunta em torno da salvação!

* Lucas 13,24-25: A porta estreita
Jesus diz que a porta é estreita: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão”. Será que Jesus diz isto só para encher-nos de medo e obrigar-nos a observar a lei como ensinavam os fariseus? O que significa esta porta estreita? De que porta se trata?
No Sermão da Montanha Jesus sugere que a entrada para o Reino tem oito portas. São as oito categorias de pessoas das bem-aventuranças:
(1) pobres em espírito,
(2) mansos,
(3) aflitos,
(4) famintos e sedentos de justiça,
(5) misericordiosos,
(6) puros de coração,
(7) construtores da paz e
(8) perseguidos por causa da justiça (Mt 5,3-10).
Lucas as reduziu para quatro:
(1) pobres,
(2) famintos,
(3) tristes e
(4) perseguidos (Lc 6,20-22).
Só entra no Reino quem pertence a uma destas categorias enumeradas nas bem-aventuranças. Esta é a porta estreita. É o novo olhar sobre a salvação que Jesus nos comunica. Não há outra porta! Trata-se da conversão que Jesus pede de nós. Ele insiste: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: Senhor, abre a porta para nós! E ele responderá: Não sei de onde são vocês”. Enquanto a hora do julgamento não chegar, é tempo favorável para a conversão, para mudar nossa visão sobre a salvação e entrar em uma das oito categorias.

* Lucas 13,26-28: O trágico mal-entendido
Deus responde aos que batem na porta: “Não sei de onde são vocês”. Mas eles insistem e argumentam: Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças! Não basta ter convivido com Jesus, de ter participado da multiplicação dos pães e de ter escutado seus ensinamentos nas praças das cidades e povoados. Não basta ter ido à igreja e de ter participado das instruções do catecismo. Deus responderá: Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!”. Mal-entendido trágico e falta total de conversão, de compreensão. Jesus declara injustiça aquilo que os outros consideram ser coisa justa e agradável a Deus. É uma visão totalmente nova sobre a salvação. A porta é realmente estreita.

* Lucas 13,29-30: A chave que explica o mal-entendido
“Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos". Trata-se da grande mudança que se operou com a vinda de Deus até nós em Jesus. A salvação é universal e não só do povo judeu. Todos os povos terão acesso e poderão passar pela porta estreita.

Para um confronto pessoal
1) Ter o objetivo claro e caminhar para Jerusalém: Será que tenho objetivos claros na minha vida ou deixo-me levar pelo vento do momento da opinião pública? 
2) A porta é estreita. Qual a visão que tenho da Deus, da vida, da salvação?

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Terça-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 13,18-21): Naquele tempo, Jesus dizia: A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? É como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu jardim: cresceu, tornou-se um arbusto, e os pássaros do céu foram fazer ninhos nos seus ramos. Jesus disse ainda: Com que mais poderei comparar o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha, até tudo ficar fermentado.

Comentário: Rev. D. Lucas Francisco MATEO Seco (Pamplona, Navarra, Espanha)

A que é semelhante o Reino de Deus

Hoje, os textos da liturgia, mediante duas parábolas, põem diante de nossos olhos uma das características próprias do Reino de Deus: é algo que cresce lentamente - como um grão de mostarda - mas que chega a ser grande ao ponto de oferecer refúgio às aves do céu. Assim o manifestava Tertuliano: Somos de ontem e enchemos tudo! Com essa parábola, Nosso Senhor exorta à paciência, à fortaleza e à esperança. Essas virtudes são particularmente necessárias a aqueles que se dedicam à propagação do Reino de Deus. É necessário saber esperar a que a semente plantada, com a graça de Deus e com a cooperação humana, vá crescendo, aprofundando suas raízes na boa terra e elevando-se pouco a pouco até converter-se em árvore. Faz falta, em primeiro lugar, ter fé na virtualidade -fecundidade-contida na semente do Reino de Deus. Essa semente é a Palavra; é também a Eucaristia, que se semeia em nós mediante a comunhão. Nosso Senhor Jesus Cristo se comparou a si mesmo com : verdade, em verdade vos digo; se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer produz muito fruto;(Jo 12,24).

O Reino de Deus prossegue Nosso Senhor, é semelhante, é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha e toda a massa ficou levedada (Lc 13,21). Também aqui se fala da capacidade que tem a levedura de fazer fermentar toda a massa. Assim sucede com : o resto de Israel, de que se fala no Antigo Testamento: o resto salvará e fermentará a todo o povo. Seguindo com a parábola, só é necessário que o fermento esteja dentro da massa, que chegue ao povo, que seja como o sal capaz de preservar da corrupção e de dar bom sabor a todo alimento (cf. Mt 5,13). Também é necessário dar tempo para que a levedura realize seu labor.

Parábolas que animam a paciência e a esperança; parábolas que se referem ao Reino de Deus e à Igreja, e que se aplicam também ao crescimento deste mesmo Reino em cada um de nós.


Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm

 * A caminho de Jerusalém, Jesus alertou os discípulos a respeito do que estavam para enfrentar, servindo-se de duas pequenas parábolas. Assim, oferecia a seus seguidores elementos para interpretarem a paixão e a morte de cruz, e, também, os convidava a não nutrir falsas expectativas a respeito do Mestre.

* O grão de mostarda que, de insignificante, se torna uma árvore frondosa serve como símbolo das dimensões iniciais modestas do Reino anunciado e vivido por Jesus e o destino glorioso que lhe está reservado. Não é possível, portanto, atingir a glória, sem experimentar a derrota, a cruz e a morte. Seria ilusório esperar que Jesus implantasse o Reino de Deus, fazendo-o entrar na história humana de maneira esplendorosa, sem passar pelo crivo do sofrimento. Mas, também, a cruz não deveria levar os discípulos a perder suas esperanças. Ela era uma etapa necessária de um processo muito maior.

* A pitada de fermento usada por uma mulher para fermentar uma grande quantidade de farinha apontava para o modo como o Reino atuava na História. Sua dimensão pequenina e seu escondimento seriam compensados pela intensidade de seu efeito. O pré-requisito para atuar consistia em perder-se. Aí o Reino revelaria sua verdadeira grandeza. Não a que vem da imposição de si mesmo sobre as pessoas, mas a que as transforma por dentro.

Para um confronto pessoal
1.  O pré-requisito para atuar consistia em perder-se. Aí o Reino revelaria sua verdadeira grandeza.
2.  Não a que vem da imposição de si mesmo sobre as pessoas, mas a que as transforma por dentro.

domingo, 27 de outubro de 2013

28 de Outubro: São Simão e São Judas, apóstolos.

Evangelho (Lc 6,12-19): Naqueles dias, Jesus foi à montanha para orar. Passou a noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou o traidor. Jesus desceu com eles da montanha e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e uma grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, e do litoral de Tiro e Sidônia. Vieram para ouvi-lo e serem curados de suas doenças. Também os atormentados por espíritos impuros eram curados. A multidão toda tentava tocar nele, porque dele saía uma força que curava a todos.

Comentário: + Rev. D. Albert TAULÉ i Viñas (Barcelona, Espanha)

Jesus foi à montanha para orar

Hoje contemplamos um dia inteiro da vida de Jesus. Uma vida que tem duas vertentes claras: a oração e a ação. Se a vida do cristão há de imitar a vida de Jesus, não podemos prescindir de ambas as dimensões. Todos os cristãos, inclusive aqueles que têm se consagrado à vida contemplativa, temos de dedicar uns momentos à oração e outros à ação, ainda que varie o tempo que dediquemos a cada uma. Até os monges e as freiras de clausura dedicam bastante tempo de sua jornada a um trabalho. Em contrapartida, os que somos mais seculares, se desejamos imitar Jesus, não deveríamos nos mover numa ação desenfreada sem ungi-la com a oração. Ensina-nos São Jerônimo: «Embora o Apóstolo mandou-nos que orássemos sempre, (...) convém que destinemos umas horas determinadas a esse exercício».

É que Jesus precisava de longos momentos de oração em solitário quando todos dormiam? Os teólogos estudam qual era a psicologia de Jesus homem: até que ponto tinha acesso direto à divindade e até que ponto era «homem semelhante em tudo a nós, menos no pecado» (He 4,5). Na medida em que o consideremos mais perto de nós, sua prática de oração será um exemplo evidente para nós.

Assegurada já a oração, só nos fica imitá-lo na ação. No fragmento de hoje, vemo-lo organizando a Igreja, quer dizer, escolhendo os que serão os futuros evangelizadores, chamados a continuar sua missão no mundo. «Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos» (Lc 6,13). Depois encontramo-lo curando todo tipo de doença. «A multidão toda tentava tocar nele porque dele saía uma força que curava a todos» (Lc 6,19), diz-nos o evangelista. Para que nossa identificação com Ele seja total, unicamente nos falta que também saia de nós uma força que cure a todos, o que só será possível se estamos inseridos Nele, para que demos muitos frutos (cf. Jo 15,4).


LADAINHA DE SÃO JUDAS TADEU
S. Judas e S. Simão
Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, ouvi-nos.
Cristo, escutai-nos.
Deus, Pai celestial, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus, Espírito Santo, tende piedade de nós.

Santa Maria, rogai por nós

São Judas Tadeu, consanguíneo de Jesus, Maria e José...
Apóstolo glorioso...
Apóstolo perseverante...
Verdadeiro imitador de Jesus...
Amante da pobreza...
Modelo de humildade...
Símbolo da paciência...
Lírio da castidade...
Chama do amor divino...
Estrela da santidade...
Vaso da graça divina...
Testemunho da fé...
Terror dos infernos...
Grande taumaturgo...
Coluna da Igreja...
Consolador dos aflitos...
Refúgio dos pecadores...
Amparo dos necessitados e atribulados...
Especial padroeiro nos casos desesperados...
Abrigo seguro e patrono dos vossos devotos...

São Judas Tadeu, elevado a dignidade de Apostolo, rogai por nós
São Judas Tadeu, que tivestes a honra de contemplar o Divino Mestre humilhar-se a lavar vossos pés,
São Judas Tadeu, que na última ceia recebestes a sagrada Eucaristia das mãos de Jesus,
São Judas Tadeu, que depois da profunda dor que vos causou a morte de vosso querido Mestre, tivestes a alegria de contempla-lo ressuscitado de entre os mortos e de assistir a sua gloriosa ascensão,
São Judas Tadeu, que fostes cheio do Espírito Santo no dia de Pentecostes,
São Judas Tadeu, que pregastes o Evangelho na Pérsia,
São Judas Tadeu, que fizestes grandes milagres com o poder do Espírito Santo,
São Judas Tadeu, que devolvestes a saúde da alma e corpo a um rei idólatra,
São Judas Tadeu, que fizestes calar aos demônios e confundistes seus oráculos,
São Judas Tadeu, que conduzistes a um príncipe débil uma paz honrosa com seu poderoso inimigo,
São Judas Tadeu, que tirastes das serpentes mortíferas o poder de prejudicar o homem,
São Judas Tadeu, que desprezando as ameaças dos ímpios pregastes valorosamente a doutrina de Cristo,
São Judas Tadeu, que sofrestes gloriosamente o martírio por amor a vosso Divino Mestre,
São Judas Tadeu, defensor contra as falsas doutrinas,

Pelos merecimentos de São Judas Tadeu,
Nós vos rogamos, ouvi-nos Senhor.
Pela sua humildade e paciência...
Pelo seu zelo no apostolado e pregações...
Pelos seus milagres...
Pelo seu glorioso martírio...

Que pela intercessão de São Judas Tadeu, os sacerdotes como o povo fiel da Igreja recebam um zelo ardente pela a fé de Jesus Cristo.
Nós vos rogamos, ouvi-nos Senhor.
Que pela intercessão de São Judas Tadeu defendais o Soberano Pontífice 
Que pela intercessão de São Judas Tadeu conserveis a paz e unidade na Igreja Santa.
Que pela intercessão de São Judas Tadeu os pagãos e incrédulos se convertam na verdadeira fé.
Que pela intercessão de São Judas Tadeu a fé, a esperança e a caridade aumentem em nossos corações.
Que pela intercessão de São Judas Tadeu nos vejamos livres de todas as tentações do demônio.
Que pela intercessão de São Judas Tadeu sejamos preservados de toda doutrina contrária ao vosso Evangelho,
Que pela intercessão de São Judas Tadeu nos guardeis de todo pecado e de toda ocasião de pecar.
Que pela intercessão de São Judas Tadeu nos defendais na hora da morte contra o demônio,
Que pela intercessão de São Judas Tadeu, antes da morte, expiemos todos os nossos pecados com sincero arrependimento e a recepção digna dos Santos Sacramentos.
Que pela intercessão de São Judas Tadeu alcancemos de vós um juízo favorável.
Que pela intercessão de São Judas Tadeu sejamos admitidos na companhia dos bem-aventurados,

Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos Senhor.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos Senhor.
Cordeiro de Deus que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.

Rogai por nós, São Judas Tadeu
Para que sejamos dignos das promessas de Jesus Cristo.

Oremos:
Glorioso Apostolo e Mártir de Jesus, S. Judas Tadeu, que difundistes a Fé no seio das mais bárbaras e mais longínquas nações, e que gerastes inúmeros povos para Jesus Cristo pela virtude da vossa palavra santa, fazei, eu vos suplico, que renuncie desde este dia todo pecado, que seja preservado dos maus pensamentos e falsas doutrinas, que obtenha sempre o vosso auxílio nas situações desesperadas, e que chegue, por fim, a essa Pátria Celeste onde é adorada a Santíssima Trindade, um Único Deus em Três Pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

sábado, 26 de outubro de 2013

XXX Domingo do Tempo Comum

«Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador»

A parábola de hoje, do fariseu e do publicano que sobem ao templo para orar, pretende desautorizar quem se acha suficientemente bom diante de Deus e despreza os outros. O fariseu recorda a Deus as suas obras meritórias e o publicano não pode mencionar nada mais que o seu pecado. O fariseu, de pé, orgulhoso, está diante de Deus, mas ouve-se apenas a ele próprio. Vem falar e não ouvir. O publicano, pelo contrário, arrependido, sabe-se em dívida para com Deus e os irmãos e, confiando na bondade do Senhor, descerá justificado a sua casa. De mãos vazias, sai do templo de coração cheio, disposto a acolher o dom de Deus. A sua vida, certamente, jamais será a mesma.
Sérgio Paulo Pinto

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 18,9-14) - Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros: «Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’. O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’. Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não. Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».

MEDITAÇÃO

Naquele tempo, Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros:
Como recordamos do evangelho do domingo passado (18,1-8), Jesus falava aos seus discípulos da necessidade de orar sempre, sem cessar, servindo-se das palavras da viúva para com certo juiz: “Faz-me justiça com o meu adversário”. Que justiça posso exercer no meu dia-a-dia se desprezo os outros? Como posso considerar-me justo se me sirvo da minha piedade com Deus para ser rude com o irmão? A nossa vida de oração, que exige conhecermos o coração de Deus, não pode negar o nosso coração ao próximo, ainda que ele não seja tão “bom” como nós. Não podemos esperar as atenções de Deus sem atender às necessidades do irmão. Essa atitude não é digna dos discípulos de Jesus.

«Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano.
Não poucas vezes os evangelistas apresentam-nos Jesus em momentos de oração, sobretudo antes de acontecimentos marcantes. Do mesmo modo, a vida dos seus discípulos fortalece-se na oração. Descuidar a oração, escutar a Deus, será o primeiro passo para começar a “desprezar os outros”, pois só nos ouviremos a nós próprios, calando a voz de Deus. Ao apresentar-nos estas duas personagens, tão extremadas da sociedade de então, Jesus reforça esta necessidade contínua de orar: o fariseu, observador rigoroso da Lei; e o publicano, um cobrador de impostos muitas vezes indevidos, rejeitado por isso por todos, um homem pecador… Assim, qualquer que seja a nossa situação, de justos ou de pecadores, a oração é o lugar de comunhão com Deus e com o irmão.

O fariseu, de pé, orava assim: ‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos’.
O fariseu, homem de Deus, era realmente bom. Mas a sua segurança não estava na bondade de Deus, mas nas suas próprias ações; não esperava apenas a recompensa de Deus, como a exigia, consciente de ser melhor que os outros. Não poucas vezes subimos ao templo de Deus para lhe recordar o ‘bom’ que somos e fazemos, de maneira que Ele nos ‘pague’ pelo nosso esforço… Não vá Ele ‘esquecer-se’ e permitir que nos aconteçam desgraças! E de pé, orgulhosos, cheios de nós próprios, esquecemos o sentido da gratuidade de Deus e esquecemos o sentido da gratuidade do discípulo, que não pode amar o Pai se desprezar os irmãos.

O publicano ficou a distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; Mas batia no peito e dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’.
O publicano, ao contrário de fariseu, ‘ficou à distância’, tão longe de Deus andava a sua vida; não necessitava aproximar-se mais, Deus podia ver claramente o seu coração. ‘Nem muito menos se atrevia a erguer os olhos ao céu’, pois as suas ações não eram do céu, mas da terra, do mundo, onde tinha cravados os olhos. ‘E batia no peito’, batia no coração, batia no profundo de si mesmo, como que a despertá-lo para uma nova vida! E arrependido dizia: ‘Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador’; diante de Deus abriu-lhe o coração e confiou; cheio de humildade e realismo, sabia que só o amor de Deus era capaz de valer-lhe. Que atitude bela de filho, que pouco tinha amado, diante do Pai, que muito ama! Que sucederá?

Eu vos digo que este desceu justificado para sua casa e o outro não.
O publicano, o pecador, regressou a casa em paz com Deus. Reconheceu que a sua vida não estava à altura do que Deus queria para ele. Não deixou de dizer a Deus que não era digno d’Ele e o quanto se sentia arrependido. E desceu justificado a sua casa. Saber que estamos em dívida com Deus, por muito boas que sejam as nossas ações, saber o quanto nos falta a sua graça, permitir-nos-á que Deus não nos falte, nem a sua graça. O fariseu enganou-se a si próprio, comparando-se com o pecado dos outros e não com a bondade de Deus. Também nós corremos o risco de descer as nossas casas, longe de Deus, se continuarmos a desprezar o irmão. O caminho de Deus é o caminho do irmão.

Porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
O resultado das nossas atitudes de fariseu ou de publicano, são estas que Jesus acaba de enunciar: “Todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”. O fariseu, que agora se exalta, será humilhado porque pensa comprar a salvação, comprar a Deus com os seus méritos. Não espera nada mais de Deus (aliás, exige!) do que a salvação como prêmio pelo seu bom comportamento… e no fim, será humilhado! Pelo contrário, o pecador, que se humilha, que se apoia unicamente em Deus, na sua graça, no seu perdão, será justificado, será exaltado, porque aceita a salvação como dom, como dom imerecido. Estas palavras são hoje para nós.