EVANGELHO
(Lucas 14,1-6) - Jesus entrou num sábado
em casa de um fariseu notável, para uma refeição; eles o observavam. Havia ali
um homem hidrópico. Jesus dirigiu-se aos
doutores da lei e aos fariseus: "É permitido ou não fazer curas no dia de
sábado?" Eles nada disseram. Então Jesus, tomando o homem pela mão,
curou-o e despediu-o. Depois, dirigindo-se a eles, disse: "Qual de vós
que, se lhe cair o jumento ou o boi num poço, não o tira imediatamente, mesmo
em dia de sábado?" A isto nada lhe podiam replicar.
1. Uma resposta linda
Diácono José da Cruz
Um
amigo muito espirituoso comentou comigo, sobre este evangelho, que Jesus
parecia que gostava de “Cutucar a onça com vara curta”. Entrou na casa de um
Fariseu notável em dia de sábado, para tomar uma refeição, estava sob a
vigilância severa do grupo de Fariseus, e eis que ali estava um Homem
Hidrópico. Há que se desconfiar até que os próprios Fariseus levaram este homem
lá, para ver a reação de Jesus, achando que ele não teria o “topete” de fazer
uma cura em dia de sábado, justo na casa de um Fariseu importante.
Não
se sabe se foi armação dos Fariseus, pode até ser que sim, pois não era
novidade que eles estavam “doidinhos” para pegar o Mestre em uma armadilha.
Jesus, como sempre, manteve a serenidade e ainda perguntou se era permitido ou
não, fazer curas em dia de Sábado. Os Fariseus nada disseram mas certamente com
os olhares “fuzilaram” Jesus.
Se
não fossem tão cegos e cabeça dura, se não tivessem um coração tão endurecido e
fechado á Graça de Deus, e reconhecessem a Jesus como o Messias esperado e prometido,
que viera para Salvar a Humanidade, poderiam dar uma linda resposta.
“Olha
mestre, ao Senhor tudo é permitido, pois hoje nós celebramos o repouso, o Dia
em que nosso Deus Eterno e Poderoso criou todas as coisas, como o Senhor é o
Filho Dele e Aquele que nós todos esperamos, tens o poder de restaurar e
refazer todas as coisas, inclusive devolver a saúde a este nosso irmão, para
nós será motivo de muita alegria e iremos dar Glórias a Deus. O Senhor nem
precisava perguntar, és o Senhor da Vida e da História...”
Esta
é a resposta que qualquer um de nós daria, se lá estivéssemos. Então mudemos a
pergunta, em lugar dos Fariseus está um grupo de zelosos agentes da pastoral do
Batismo, com uma larga caminhada e que sabem de cor cada regra ou norma da
Igreja “Deve-se batizar o filho de uma mãe solteira, ou não?”. “Pode um casal
em segunda união receber a Comunhão?” “Pode um evangélico visitar a Igreja
Católica e vir em uma celebração?” Pode um católico ter amizade com um Espírita
ou de outra religião, que não seja Cristã”? Tem outras perguntinhas iguais a
essa, que a gente se engasga quando vai responder.
Uma
coisa é darmos uma resposta linda, estando lá, em lugar do Fariseu, outra é
estarmos aqui, diante de situações onde, na maioria das vezes priorizamos a
Lei, a Linha Pastoral, a norma, e esquecemos do mais importante: de acolher as
pessoas, de ouvir suas histórias, de anunciarmos também a elas o Santo
Evangelho que Liberta e dá a verdadeira Vida!
Jesus
curou o homem enfermo e ainda fez uma pergunta muito provocante “Se o trabalho
a ser feito, como tirar um Jumento do poço, for de interesse próprio, será que
alguém vai pensar no Preceito Sabático?”. Ou seja, todo rigor e austeridade
quando se aplica a Lei ao outro, quando for para o meu interesse, a lei sempre
é mais branda.
A
classe dos Fariseus há muito já se foi, mas o Espírito Farisaico está mais vivo
do que nunca, principalmente nas comunidades que se dizem Cristãs.
2. Olhar com
misericórdia
Carlos Alberto Contieri, sj
É
a terceira vez que Jesus é convidado para uma refeição na casa de um fariseu
(7,36; 11,37). Esta repetição do encontro de Jesus com os fariseus em suas
respectivas casas mostra que entre Jesus e os fariseus há uma mescla de
simpatia e resistência. Essa proximidade relativa não impede Jesus de
alertá-los. Os fariseus, efetivamente, desejam viver fielmente sua religião e
creem servir a Deus através de suas práticas, sobretudo, uma determinada
prática da Lei. Mas a rigidez quase obsessiva os cega, liga-os de modo estreito
à letra do texto; a Lei de Deus é para eles um conjunto de regras e preceitos.
Esse modo de cumprir a Lei, que eles julgavam ser o correto, fazia com que se
esquecessem do essencial da Lei: o amor a Deus e o amor fraterno. Esse modo de
interpretar a Lei os impedia de olhar para os outros com misericórdia e
compreender: "É misericórdia que eu quero, não sacrifícios" (Os 6,6).
Nosso
texto de hoje mostra uma refeição na casa de um dos chefes dos fariseus,
durante o descanso sabático, dia dado pelo Senhor para celebrar o dom da vida,
através da obra da criação, e a libertação do país da escravidão.
Aproveitando-se da presença de um hidrópico, Jesus provoca a compreensão dos
fariseus sobre o sentido da Lei de Deus: "Em dia de sábado, é permitido
curar ou não? […] Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não
o tira logo daí, mesmo em dia de sábado?" (vv. 3.6). Eles não responderam
a nenhuma pergunta porque, efetivamente, não tinham nada a responder.
3. Sobre o Sábado
Pe. Jaldemir Vitório sj.
A
maneira como os fariseus praticavam a Lei mosaica levava-os, muitas vezes, a
tomarem atitudes insensatas. Jesus não comungava com o exagero deles; antes,
submetia a obediência à Lei às exigências do amor e da misericórdia. Diante de
uma situação em que a misericórdia se torna um imperativo, os preceitos da Lei
ficam em segundo lugar.
Partindo
deste princípio, Jesus não teve receio de curar o homem que padecia de
hidropisia, embora fosse sábado e tivesse diante de si o chefe dos rigorosos
fariseus. Entre agradar seu anfitrião e agradar a Deus, ele não hesitou.
Contudo, não desagradou os fariseus simplesmente com o intuito de chocá-los e
causar mal-estar naquele ambiente de fraternidade, pois se tratava de uma
refeição. A ação de Jesus tinha sido uma obra da misericórdia. Ele não entreviu
outro caminho possível, a não ser enviar, para casa, o homem já curado.
Jesus
ofereceu aos fariseus um argumento que justificava sua ação: é sempre permitido
defender a vida, seja ela qual for. Ninguém pergunta se é permitido tirar um
boi ou um jumento, caído num poço em dia de sábado. E por que não, em se
tratando de um ser humano, mergulhado na dor e no sofrimento de uma doença? A
atitude de Jesus primou pela sensatez inspirada pelo Pai. Ninguém pode ser
dispensado de praticar a misericórdia, que é característica do Pai. Tudo o mais
deve estar submetido a ela.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
O evangelho de hoje traz mais um episódio de discussão entre Jesus e os
fariseus, acontecido durante a longa viagem de Jesus desde a Galileia até
Jerusalém. É muito difícil de situar este fato no contexto da vida de Jesus.
Existem semelhanças com um fato narrado no evangelho de Marcos (Mc 3,1-6).
Provavelmente, trata-se de uma das muitas histórias transmitidas oralmente e
que, na transmissão oral, foram sendo adaptadas de acordo com a situação, as
necessidades e as esperanças do povo das comunidades.
* Lucas 14,1: O
convite em dia de sábado
“Num
dia de sábado aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos
fariseus, que o observavam”. Esta informação inicial sobre refeição na casa de
um fariseu é o gancho para Lucas contar vários episódios que falam da refeição:
cura do homem doente (Lc 14,2-6), escolha dos lugares à mesa (Lc 14,7-11),
escolha dos convidados (Lc 14,12-14), convidados que recusam o convite (Lc
14,15-24). Muitas vezes Jesus é convidado pelos fariseus para participar das
refeições. No convite deve ter havido também um motivo de curiosidade e um
pouco de malícia. Querem observar Jesus de perto para ver se ele observa em
tudo as prescrições da lei.
* Lucas 14,2: A
situação que vai provocar a ação de Jesus
“Havia
um homem hidrópico diante de Jesus”. Não se diz como um hidrópico pôde entrar
na casa do chefe dos fariseus. Mas se ele está diante de Jesus é porque quer
ser curado. Os fariseus que o observam Jesus. Era dia de sábado, e em dia de
sábado é proibido curar. O que fazer? Pode ou não pode?
* Lucas 14,3: A
pergunta de Jesus aos escribas e fariseus
“Tomando
a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: "A Lei
permite ou não permite curar em dia de sábado?" Com a sua pergunta Jesus explicita o problema
que estava no ar: pode ou não pode curar em dia de sábado? A lei permite, sim
ou não? No evangelho de Marcos, a pergunta é mais provocadora: “Em dia de
sábado pode fazer o bem ou o mal, salvar ou matar?” (Mc 3,4)
* Lucas 14,4-6: A cura
Os
fariseus não responderam e ficaram em silêncio. Diante do silêncio de quem não
aprova nem desaprova, Jesus tomou o homem pela mão, o curou, e o despediu. Em
seguida, para responder a uma possível crítica, explicitou o motivo que o levou
a curar: "Se alguém de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço, não
o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?"
Com esta pergunta Jesus mostra a incoerência dos doutores e dos
fariseus. Se qualquer um deles, em dia de sábado, não vê problema nenhum em
socorrer a um filho ou até a um animal, Jesus também tem o direito de ajudar e
curar o hidrópico. A pergunta de Jesus evoca o salmo, onde se diz que o próprio
Deus socorre a homens e animais (Sl 36,8). Os fariseus “não foram capazes de
responder a isso” . Pois diante da evidência não há argumento que a negue.
Para um confronto
pessoal
1) A liberdade de Jesus diante da
situação. Mesmo observado por quem não o aprova, ele não perde a liberdade.
Qual a liberdade que existe em mim?
2) Há momentos difíceis na vida, em que somos obrigados a escolher entre a necessidade imediata de um próximo e a letra da lei. Como agir?
2) Há momentos difíceis na vida, em que somos obrigados a escolher entre a necessidade imediata de um próximo e a letra da lei. Como agir?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO