ORAÇÃO
INICIAL: Santíssima
Virgem, eu creio e confesso a vossa santa e Imaculada Conceição, pura e sem
mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa
prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso Filho a humildade, a
caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e
espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte, e a
graça ... que peço com toda a confiança. Amém.
MÃE AMÁVEL
I.
A VIRGEM CONVERTEU-SE
em Mãe de todos os homens no momento em que consentiu livremente em ser Mãe de
Jesus, o primogênito entre muitos irmãos. Esta maternidade de Maria é superior
à maternidade natural humana1, pois ao dar à luz corporalmente o seu
Filho, Jesus Cristo, Cabeça do Corpo Místico que é a Igreja, gerou
espiritualmente todos os seus membros: “Ela é verdadeiramente – afirma o
Concílio Vaticano II – Mãe dos membros de Cristo [...] porque cooperou pela
caridade para que nascessem na Igreja os fiéis que são os membros desta Cabeça”2.
Quando Jesus foi pregado
na Cruz, estavam junto dele Maria, sua Mãe, o discípulo amado, e
algumas santas mulheres. O Senhor dirigiu então à sua Mãe essas palavras que
tiveram e terão tanta transcendência na vida de todos os homens, de cada um de
nós: Mulher – disse à Virgem –, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo:
Eis aí a tua Mãe3.
Impressiona-nos ver
Cristo esquecido de si: dos seus sofrimentos, da sua solidão. Comove-nos o seu
imenso amor à sua Mãe: não quer que fique só; vê a dor de Maria e assume-a
dentro do seu Coração, para oferecê-la também ao Pai pela redenção dos homens.
Comove-nos o gesto de Jesus para com todos os homens – bons e maus, mesmo os
endurecidos pelo pecado – representados em João. Dá-nos a sua Mãe como Mãe
nossa; olha para cada um de nós e diz-nos: Eis aí a tua Mãe, cuida bem dela,
recorre a Ela, aproveita esse dom inefável.
Nesses momentos em
que Jesus consumava a sua obra redentora, Maria uniu-se intimamente ao seu
sacrifício por uma cooperação mais direta e mais profunda na obra da nossa
salvação. A maternidade espiritual da Santíssima Virgem foi confirmada pelo
próprio Cristo na Cruz4.
Eis aí o teu filho.
“Esse foi o segundo Natal. Maria tinha dado à luz o seu Filho primogênito sem
dor alguma na gruta de Belém; agora dá à luz o seu segundo filho, João, no meio
das dores da Cruz. Nesse momento, Maria sofre as dores do parto, não apenas por
João, seu segundo filho, mas pelos milhões de outros filhos seus que a
chamariam Mãe ao longo dos tempos. Agora compreendemos por que o Evangelista
chamou a Jesus filho primogênito de Maria, não porque Ela viesse a ter outros
filhos da sua carne, mas porque geraria muitos outros com o sangue do seu
coração”5, com uma dor redentora, cheia de frutos, pois estava unida
ao sacrifício do seu Filho. Compreendemos bem que a maternidade de Maria em
relação a nós, sendo de uma ordem diversa, seja superior à maternidade das mães
na terra, pois Ela nos gera para uma vida sobrenatural e eterna.
Eis aí o teu filho.
Estas palavras produziram na alma da Virgem um aumento de caridade, de amor
materno por nós; e no coração de João, um amor filial profundo e cheio de
respeito pela Mãe de Deus. Este é o fundamento da nossa devoção à Virgem.
Podemos perguntar-nos
neste dia da Novena qual é o lugar que a Virgem ocupa na nossa vida. Temos
sabido acolhê-la como João? Chamamo-la muitas vezes Mãe, minha Mãe...?
Tratamo-la bem?
II.
MATERNIDADE QUER DIZER
solicitude e desvelo pelo filho. É o que acontece com a Virgem em relação a
todos os homens. Intercede por cada um de nós e obtém as graças específicas e
oportunas de que necessitamos. Jesus diz de si mesmo que é o Bom Pastor que
chama cada uma das suas ovelhas pelo seu nome, nominalmente6; algo
de parecido se passa com a Virgem, Mãe espiritual de cada um dos homens. Assim
como os filhos são diferentes e únicos para a sua mãe, da mesma maneira cada um
de nós é único para Santa Maria. Ela nos conhece bem, sabe distinguir-nos de
qualquer outro, chama-nos pelo nosso nome com um acento inconfundível.
A sua maternidade
abarca a pessoa inteira, alma e corpo. Mas a sua ação maternal, mesmo a que se
exerce sobre o corpo, tem por fim “restaurar a vida sobrenatural nas almas”7,
a santidade, uma identificação mais perfeita com o seu Filho. Nesta tarefa, a
Virgem é a colaboradora por excelência do Espírito Santo, que é quem dá a vida
sobrenatural e a mantém.
A maternidade de
Maria não é a mesma para todos os homens. Maria é Mãe de um modo excelente dos
bem-aventurados do Céu, que já não podem perder a vida da graça. É Mãe de modo
perfeito dos cristãos em graça, porque têm a vida sobrenatural completa. É Mãe
daqueles que estão afastados de Deus pelo pecado mortal; com a sua
misericórdia, procura atraí-los continuamente para o seu Filho. E é Mãe mesmo
daqueles que não estão batizados, já que estão destinados à salvação, pois Deus
quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade8.
Mãe por excelência, a
Virgem tem sempre para nós um sorriso nos lábios, um gesto acolhedor, um olhar
que convida à confiança; sempre está disposta a entender o que se passa no
nosso coração; nela devemos descarregar as nossas penas, aquilo que mais nos
pesa: “Fez-se tudo para todos; fez-se devedora dos sábios e dos ignorantes, com
uma copiosíssima caridade. Abre a todos o seu seio de misericórdia, para que
todos recebam da sua plenitude: redenção o cativo, saúde o enfermo, consolação
o aflito, perdão o pecador”9.
Talvez em algumas
ocasiões nos sintamos doentes da alma, e então recorreremos a quem é saúde dos
enfermos, na certeza de não sermos rejeitados. Nenhuma experiência, por mais
dura e negativa que possa ser ou parecer, deve desanimar-nos. Sempre
encontraremos em Maria a Mãe amável, acolhedora, de olhar misericordioso, que
nos recebe com ternura e nos facilita – e até nos torna mais curto – o caminho
que perdemos. E se as dificuldades espirituais ou corporais se intensificam,
chamaremos por Ela com mais força, e Ela se apressará a proteger-nos. “Mãe! –
Chama-a bem alto, bem alto. – Ela, tua Mãe Santa Maria, te escuta, te vê em
perigo talvez, e te oferece, com a graça do seu Filho, o consolo do seu regaço,
a ternura das suas carícias. E te encontrarás reconfortado para a nova luta”10.
III.
E DESSA HORA em
diante, o discípulo recebeu-a em sua casa11. Que inveja temos de São
João! Como se encheu de luz aquele novo lar de Santa Maria! “Os autores
espirituais viram nessas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido a
todos os cristãos para que todos saibamos também introduzir Maria em nossas
vidas. Em certo sentido, é um esclarecimento quase supérfluo, porque Maria quer
sem dúvida que a invoquemos, que nos aproximemos dEla com confiança, que
recorramos à sua maternidade, pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe”12.
Talvez possa ser este
o nosso propósito para hoje: contemplar Nossa Senhora na casa de São João, ver
a extrema delicadeza com que o discípulo amado a trataria, as confidências
cheias de intimidade que lhe faria... E colocá-la na nossa vida: fitá-la como o
fazia o Apóstolo, recorrer a Ela em tudo com confiança filial, amá-la como a
amou São João.
Como é fácil amar
Santa Maria! Nunca, depois de Jesus, existiu nem existirá criatura alguma mais
amável. Já se disse de Santa Maria que Ela é como um sorriso do Altíssimo. Nada
de imperfeito, inacabado ou defeituoso encontramos no seu ser. Não é alguém
longínquo e inacessível: está muito perto da nossa vida diária, conhece as
nossas aflições, o que nos preocupa, aquilo de que precisamos... Não tenhamos
receio de exceder-nos no nosso amor a Maria, pois nunca chegaremos a amá-la
como a Santíssima Trindade a amou, a ponto de fazê-la Mãe de Cristo. Não
tenhamos receio de exceder-nos, pois sabemos que Ela é “um presente do Coração
de Jesus moribundo”13.
O Senhor deseja que
aprendamos a amá-la sempre mais; que tenhamos para com Ela os pormenores de
delicadeza e de amor que Ele teria no nosso lugar: jaculatórias, olhares
frequentes às suas imagens – pode-se dizer tanto num olhar! –, atos de
desagravo pela indiferença de alguns dos seus filhos, a recitação amorosa do
Ângelus, do terço... “Entre todas as homenagens que podemos tributar a Maria –
afirma Santo Afonso Maria de Ligório –, não há nenhuma tão grata ao Coração da
nossa Mãe como a de implorarmos com frequência a sua proteção maternal,
pedindo-lhe que nos assista em todas as nossas necessidades particulares, bem
como ao darmos ou recebermos um conselho, nos perigos, nas tribulações, nas
tentações... Esta boa Mãe livrar-nos-á certamente dos perigos logo que
recitemos a antífona “Sob a vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus”...,
ou a Ave-Maria, ou mal invoquemos o seu santo nome, que tem um poder especial
contra os demônios”14. Maria, como todas as mães, experimenta uma
especial alegria em atender os seus filhos necessitados.
Sabemos que, “depois
da peregrinação neste desterro, estarão à nossa espera os seus olhos
misericordiosos e os seus braços, entre os quais encontraremos, num laço
indissolúvel, o fruto do seu ventre, Jesus, que conquistou a glória para si,
para a sua Mãe e para todos os irmãos que se acolhem à sua misericórdia”15.
Santa Maria, ensina-me
a querer-te cada dia um pouco mais.
(1)
Cfr. R. Garrigou-Lagrange, La Madre del Salvador, pág. 219; (2) Conc. Vat. II,
Const. Lumen gentium, 53; (3) Jo 19, 27; (4) João Paulo II, Enc. Redemptoris
missio, 7-XII-1990, n. 23; (5) F. J. Sheen, Desde la Cruz, Subirana, Barcelona,
1965, pág. 18; (6) cfr. Jo 10, 3; (7) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium,
61; (8) cfr. J. Ibañez-F. Mendoza, La Madre del Redentor, págs. 237-238; (9)
São Bernardo, Homilia na oitava da Assunção, 2; (10) Josemaría Escrivá,
Caminho, n. 516; (11) Jo 19, 27; (12) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n.
140; (13) cfr. Pio XII, Enc. Haurietis aquas, 15-V-1956, 21; (14) Santo Afonso
Maria de Ligório, As glórias de Maria, III, 9; (15) L. M. Herrán, Nuestra Madre
del Cielo, 2ª ed., Palabra, Madrid, 1988, pág. 102.
Ave Maria
Ó Maria concebida sem
pecado,
Rogai por nós que
recorremos a vós
Oração
final - Ó Deus, que
pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes a Vosso Filho digna
habitação, nós Vos rogamos que, como a preservastes de toda a mancha pela
previsão da morte de seu mesmo Filho, nos concedais por sua intercessão que
também puros cheguemos até Vós. Pelo mesmo Cristo, Senhor Nosso. Amém.
LEIA, ABAIXO A LECTIO DIVINA PARA A QUARTA-FEIRA DA 1ª SEMANA DO ADVENTO
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