LECTIO DIVINA PARA A - III SEMANA DA PÁSCOA
Ir.
Alzira Sousa, fma
«VÓS SOIS AS TESTEMUNHAS DE TODAS
ESTAS COISAS»
Reencontrar-se.
Em Jesus Ressuscitado, os cristãos percebem o motivo fundamental da sua
unidade, do seu ser comunidade, da sua identidade. Cristo torna-se o centro
motor de todas as existências. Cristo torna-se o Deus vivo e verdadeiro; o meu
Redentor que sei vivo; a vida em abundância que a todos refresca. E de novo,
como sinal da sua presença, eis que surge a paz. E como aos caminhantes de
Emaús é no partir do pão que o reconhecem em plenitude. Este é o sentido do
nosso ser ecclesia: encontrar em Jesus Cristo a razão profunda da nossa fé que
nos reúne, cada semana, na celebração do mistério da Páscoa que se faz memória
do Seu amor por nós. E por isso, Suas testemunhas.
EVANGELHO – Lc 24,35-48
Naquele
tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como
tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus
apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e
cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais
perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as
minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem
carne nem ossos. Como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os
pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar,
perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?» Deram-Lhe uma posta de
peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes:
«Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de
se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos
Profetas e nos Salmos’». Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as
Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de
ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome
o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por
Jerusalém. Vós sois as testemunhas de todas estas coisas».
SEGUNDA-FEIRA
PALAVRA - «Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido
no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão.»
Esta
passagem do Evangelho segundo S. Lucas contém elementos que integram a
narrativa dos discípulos de Emaús: a aparição física de Jesus ressuscitado e o
não reconhecimento por parte dos discípulos. O que é que os discípulos de Emaús
teriam narrado àquele círculo de amigos? A sua experiência de caminho com o
Ressuscitado, o sentido das palavras reveladoras sobre a paixão e morte, que
por Ele foram explicadas como necessárias, e a fração do pão, sinal pelo qual
entenderam quem era realmente o companheiro de viagem.
MEDITAÇÃO
Aqueles
discípulos que tinham saído desanimados e desiludidos de Jerusalém depois da
morte de Jesus, regressam convertidos pela experiência de encontro com o
Ressuscitado, que se faz presente, explica-lhes as Escrituras e reparte o pão.
A vida dos dois foi transformada naquele encontro: sentem-se amados, perdoados,
renovados e regressam para dar testemunho. Do abismo da desilusão, das mortes
em que nos encontramos, só o encontro com Jesus pode estabelecer um novo
início, de vida, de confiança e de esperança.
ORAÇÃO
Mostra-me,
SENHOR, os teus caminhos
e
ensina-me as tuas veredas.
Dirige-me
na tua verdade e ensina-me,
porque
Tu és o Deus meu salvador.
Em
ti confio sempre.
Lembra-te,
SENHOR, da tua compaixão e do teu amor,
pois
eles existem desde sempre. (Sl 25)
AÇÃO
Quantos
passos dou, desiludido e acabrunhado, sem ter presente a admirável presença de
Jesus a meu lado?! Quando hoje me invadir essa tentação para a prostração vou
pôr-me na pele de um daqueles caminhantes, no momento em que reconhecem o Ressuscitado…
e vou atrever-me a inverter a marcha!
TERÇA-FEIRA
PALAVRA - «Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes:
«A paz esteja convosco». Espantados e cheios de medo, julgavam ver um
espírito.»
Além
do espanto, o ânimo dos discípulos encheu-se de medo, talvez porque pensavam
ver diante deles um espírito que pouco ou nada se diferenciava de um fantasma.
É uma reação que se aproxima da que tiveram quando viram Jesus a caminhar sobre
as águas (cf. Mt 14,26 e Mc 6,49). O medo paralisou-os, até ao momento em que
Jesus os acalmou com as suas palavras.
MEDITAÇÃO
Pensavam
estar diante de um fantasma. Como é difícil acreditar! Existem dúvidas mas, de
seguida, surge uma alegria que parece excessiva.
É
interessante o modo como Jesus rompe o medo dos discípulos, com as palavras: “A
paz esteja convosco”. Descobrimos, de fato, nos momentos de dificuldade, de
dor, de dúvida, de medo, que necessitamos da paz que nos é concedida do Alto.
Não nos chega uma paz qualquer, nem umas vitaminas de paz. Mas esta paz, como
diz S. Paulo, é Jesus – «Cristo é a nossa paz» – e tem raiz na nossa
interioridade, pelo que devemos pedi-la na oração.
ORAÇÃO
«O
SENHOR te abençoe e te guarde!
O
SENHOR faça brilhar sobre ti a sua face e te favoreça!
O
SENHOR volte para ti a sua face e te dê a paz!'
Invocarão
o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei!» (Num 6, 24-26)
AÇÃO
Esse
medo que me invade revela tantas vezes a minha falta de confiança e de
humildade diante de um mistério que não consigo abarcar. Se aceito que Cristo
seja a minha paz, aceito que é uma paz que inquieta, mas descubro, com
surpresa, que essa inquietude é sinal de vida, de possuir uma vida que é dom
para os outros. Agradeço ao Senhor cada oportunidade em que me dou conta deste
tesouro imenso que tenho para oferecer.
QUARTA-FEIRA
PALAVRA - «Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam
esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou
Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que
Eu tenho».
Dito
isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração,
não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para
comer?».
Primeiro,
Jesus interpela os discípulos com uma espécie de descompostura, muito parecida
à resposta dada aos caminhantes de Emaús: insensatos e lentos de coração para
acreditar em tudo o que os profetas anunciaram! Depois, parece ajudá-los a
solucionar os problemas suscitados pela dúvida e desilusão dos últimos
acontecimentos. Por fim, surpreende-os e conquista a sua confiança quando
repete um gesto familiar, comendo com eles e diante deles.
Esta
sequência manifesta que Jesus está vivo, que a morte não o venceu, e que a vida
nova pode ter momentos em que se parece com a vida anterior.
MEDITAÇÃO
Jesus
vai ao encontro dos discípulos no patamar em que estes se encontram e
convida-os a utilizar os seus sentidos para comprovarem que é Ele. Convida-os
mesmo a tocar o seu corpo. Mas a bondade de Jesus ganha expressão mais evidente
quando convida os discípulos a tomar parte na refeição. Comer com alguém é
sinal de uma relação, de uma comunhão que se renova. Podem assim reconhecer que
Ele é real. Esta é a humildade que Jesus assume: aproxima-se de nós, faz-se concreto
e pequeno, dá-se nessa relação. E dá-se como Paz!
ORAÇÃO
Santa Catarina de Sena viveu um amor
apaixonado e apaixonante por Deus e pelo próximo. Lutou com ardor pela
restauração da paz política na Europa e muito contribuiu para o regresso do
Papa a Roma. Agradeço a Deus o seu exemplo de amor a Deus e à sua Igreja, e o
de tantas outras pessoas que souberam edificar a paz num contexto de graves
problemas sociais e de crise religiosa.
AÇÃO
Procurarei
hoje, nos encontros que tiver, fazer minha esta atitude libertadora de Jesus:
cuidar a escuta, colocar-me no ponto de vista do outro, ser compassivo e
promover a Paz!
QUINTA-FEIRA
PALAVRA - Depois disse-lhes: «Foram
estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de se
cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e
nos Salmos’».
Jesus
cumpriu plenamente as Escrituras. Já antes da sua Paixão, o Mestre tinha
explicado aos discípulos o sentido das Escrituras. Com esta divisão apresentada
– a Lei, os Profetas e os Salmos – Jesus quer dizer que não há parte alguma da
Escritura que não dê testemunho dele, desde as profecias na lei de Moisés, aos
livros históricos, sapienciais e profetas propriamente ditos, aos livros
litúrgicos dos salmos, toda a Escritura preanuncia o Libertador, o Servo, o
Ungido, o Rei, o Bom Pastor.
MEDITAÇÃO
Se,
por um lado, Jesus dá-se a conhecer a partir da realidade familiar que
estabelecera com os discípulos, por outro lado, afirma que está com eles de um
modo distinto à sua vida terrena. Há um modo novo de ficar com os discípulos,
mas as suas palavras e a sua mensagem salvífica permanecem.
Ser
pessoa com a mente aberta à Palavra de Deus dá-me a capacidade para acreditar
que Jesus permanece conosco, para vencer as minhas paralisias interiores, para
dissipar os medos e as dúvidas, para me mover à conversão e ao anúncio. Até que
ponto a Palavra de Deus tem incidência na minha vida? Tenho sede de aprofundar
a minha fé, de conhecer um pouco melhor o grande projeto de salvação que, desde
sempre, Deus deu a conhecer ao Seu Povo?
ORAÇÃO
«A
tua palavra é farol para os meus passos
e
luz para os meus caminhos.
Jurei
e vou cumprir:
hei
de guardar os teus justos decretos.
SENHOR,
sinto-me angustiado;
dá-me
a vida, segundo a tua promessa.
SENHOR,
aceita os louvores da minha boca
e
dá-me a conhecer os teus decretos.
A
minha vida está continuamente em perigo,
mas
não me esqueço da tua lei.» (Sl 119, 105-109)
AÇÃO
Interesso-me
pela liturgia deste dia, pelas leituras que se proclamam na eucaristia. Que
novidade descubro sobre Jesus e as primeiras comunidades dos cristãos? Escolho
uma frase do Salmo de hoje para me acompanhar ao longo do dia.
SEXTA-FEIRA
PALAVRA - Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e
disse-lhes: «Assim está escrito que o
Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia»
A
presença de Jesus desvela os planos divinos, abre os olhos dos discípulos à
verdadeira realidade dos mistérios irreconhecíveis no momento da sua morte e
ressurreição. Jesus dá-lhes agora uma prova espiritual, fundada na inteligência
da Palavra nas Escrituras e muitos acontecimentos e sinais outrora enigmáticos
e obscuros, tornaram-se luminosos, ao serem lidos como profecia da paixão e da
ressurreição de Cristo.
MEDITAÇÃO
É
necessária uma grande fé para ler e aceitar a incapacidade, a lentidão, as
resistências de uma comunidade. Jesus não se impacienta mas não hesita em
proporcionar-lhes um novo modo de ver e de viver.
Seriamos
capazes de identificar alguém que viveu e cresceu na provação da fé, de se
deixarem crucificar e ressurgir com Jesus? Certamente que temos presente os
inúmeros exemplos de santidade, desde os Apóstolos, a outros Santos como Teresa
de Lisieux, João Bosco, João de Deus, Edith Stein, Teresa de Calcutá, Francisco
Xavier, e de tantos outros…
E
eu? Quando passo por um momento de cruz, qual é a pergunta que coloco ao
Senhor: «Porque me abandonaste?”. » ou «Como desejas, Senhor, que eu cresça
diante desta dificuldade?»
ORAÇÃO
Meu
Pai,
Eu
me abandono a Ti,
Faz
de mim o que quiseres.
O
que fizeres de mim,
Eu
Te agradeço.
Estou
pronto para tudo, aceito tudo.
Desde
que a Tua vontade se faça em mim.
E
é para mim uma necessidade de amor dar-me,
Entregar-me
nas Tuas mãos sem medida
Com
uma confiança infinita,
Porque
Tu és... Meu Pai! (Charles de Foucauld)
AÇÃO
Agradeço
as pequenas ou grandes cruzes que carrego. São-me dadas pelo Senhor como dom de
participar na sua missão salvífica. Não escolho outras cruzes ou sofrimentos,
mas opto por reconhecer a fidelidade e a esperança com que sou chamada(o) a
viver o mistério pascal, que é cruz mas também ressurreição. “Eu sei que o meu
Redentor vive.” (Jó 19,25)
SÁBADO
PALAVRA - «(…) havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos
pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de
todas estas coisas»
Por
fim, Jesus envia os discípulos a dar testemunho de que Ele ressuscitou e está
vivo. Em seu nome haveria de ser pregado o arrependimento e o perdão dos
pecados a todas as nações, com início em Jerusalém. É interessante ver a
relação estreita que Lucas estabelece entre a missão dos discípulos e o
mistério pascal. Este detalhe implica-nos a todos: a fé em Cristo não é um
tesouro para ser guardado no bauzinho das consolações. Impele-nos a proclamar
Jesus ao mundo inteiro, através do nosso modo de viver e das opções que
tomamos, do anúncio explícito que realizamos, do serviço ao próximo: é assim
que nos realizamos no martyrium, isto é, no testemunho.
MEDITAÇÃO
Compreendemos
a ressurreição a partir da missão que Jesus confia aos seus discípulos:
anunciar o amor de Deus por todos em Jesus Cristo morto e ressuscitado por cada
homem.
E
nós, sentimo-nos enviados por Jesus Cristo? O dom da Páscoa que celebramos
tornou-nos testemunhas de paz, dentro e fora de nós? Para que o Evangelho possa
ser anunciado a todos e o nome de Jesus seja portador de conversão e de perdão,
é fundamental, antes de mais, a nossa própria conversão, uma conversão que
brote do encontro pessoal com Jesus, da escuta da Sua Palavra, do seguimento
vital. É deste encontro renovador com Jesus que continuamente nasce o nosso
testemunho, a nossa missão.
ORAÇÃO
«Naquela
ocasião, Jesus tomou a palavra e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da
Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as
revelaste aos pequeninos.» (Mt 11, 25).
Eu
Te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque quando deixamos que Jesus
faça acontecer em nós a revelação do Teu Rosto, começamos a experimentar o amor
autêntico.
Eu
Te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque és Deus, e por isso és
simples, ao alcance dos simples e testemunhado pelos simples…
AÇÃO
A
conversão pessoal é um dom a acolher continuamente. Sei que só Deus me
converte, pela Sua Palavra, pela misericórdia que me alcança, pelo perdão dado
e recebido. Procuro fazer um balanço: Como anda o meu coração? O perdão que, e
em Deus, dou e o perdão que com humildade recebo? Grandioso sinal da presença
do Reino de Deus entre nós é o perdão: encantador!
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