Btos.
Tiago Retouret, João Baptista Duverneil, Miguel Luís Brulard e Tiago Gagnot, Presbíteros
e mártires de nossa Ordem
Santa
Helena, imperatriz Romana
1ª
Leitura (Prov 9,1-6): A Sabedoria edificou a sua casa e levantou sete
colunas. Abateu os seus animais, preparou o vinho e pôs a mesa. Enviou as suas
servas a proclamar nos pontos mais altos da cidade: «Quem é inexperiente venha
por aqui». E aos insensatos ela diz: «Vinde comer do meu pão e beber do vinho
que vos preparei. Deixai a insensatez e vivereis; segui o caminho da
prudência».
Salmo
Responsorial: 33
R. Saboreai e vede como o
Senhor é bom.
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca. A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.
Temei o Senhor, vós os seus
fiéis, porque nada falta aos que O temem. Os poderosos empobrecem e passam
fome, aos que procuram o Senhor não faltará riqueza alguma.
Vinde, filhos, escutai-me, vou
ensinar-vos o temor do Senhor. Qual é o homem que ama a vida, que deseja longos
dias de felicidade?
Guarda do mal a tua língua e da
mentira os teus lábios. Evita o mal e faz o bem, procura a paz e segue os seus
passos.
2ª
Leitura (Ef 5,15-20): Irmãos: Vede bem como procedeis. Não vivais como
insensatos, mas como pessoas inteligentes. Aproveitai bem o tempo, porque os
dias que correm são maus. Por isso não sejais irrefletidos, mas procurai
compreender qual é a vontade do Senhor. Não vos embriagueis com o vinho, que é
causa de luxúria, mas enchei-vos do Espírito Santo, recitando entre vós salmos,
hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando em vossos corações, dando
graças, por tudo e em todo o tempo, a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Aleluia. Quem come a minha
Carne e bebe o meu Sangue permanece em mim e Eu nele, diz o Senhor. Aleluia.
Evangelho
(Jo 6,51-58): Naquele tempo, disse Jesus aos judeu: «Eu sou o pão vivo
que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei
é a minha carne, entregue pela vida do mundo». Os judeus discutiam entre si:
«Como é que ele pode dar a sua carne a comer?». Jesus disse: «Em verdade, em
verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o
seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem consome a minha carne e bebe o meu
sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois minha carne
é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. Quem consome a minha
carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele. Como o Pai, que vive, me
enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que me consome viverá por meio
de mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais
comeram, e no entanto morreram. Quem consome este pão viverá para sempre».
«Eu sou o pão vivo que desceu
do céu. Quem come deste pão viverá eternamente»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant
Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Hoje continuamos com o Discurso
do pão da vida que nos ocupa nestes Domingos: «Eu sou o pão vivo que desceu do
céu» (Jo 6,51). Tem uma estrutura, inclusivamente literária, muito bem pensada
e cheia de ricos ensinamentos. Que agradável seria que os cristãos conhecessem
melhor a Sagrada Escritura! Nos encontraríamos com o próprio Mistério de Deus
que se nos oferece como verdadeiro alimento para as nossas almas, com
frequência amodorradas e famintas de eternidade. É fantástica esta Palavra
Viva, a única Escritura capaz de mudar os corações.
Jesus Cristo, que é Caminho,
Verdade e Vida fala de si próprio dizendo-nos que é Pão. E o pão, como bem
sabemos, faz-se para se comer. E para comer ?devemos lembrá-lo? temos que ter
fome. Como poderemos entender o que significa, no fundo, ser cristão, se
perdemos a fome de Deus? Fome de conhecê-lo, fome de tratá-lo com um bom Amigo,
fome de dá-lo a conhecer, fome de partilhá-lo, como se partilha o pão da mesa.
Que bela imagem essa de ver o cabeça de família cortando um bom pão, que
anteriormente ganhou com o esforço do seu trabalho, e o oferece de mãos cheias
aos seus filhos! Agora sim, é Jesus quem se oferece como Pão de Vida e, é Ele
próprio quem dá a medida e, quem se dá com uma generosidade de fazer tremer de
emoção.
Pão da Vida? de que Vida? É certo
que não nos prolongará nem mais um dia a nossa permanência nesta terra; em todo
o caso, mudará a qualidade e a profundidade de cada instante dos nossos dias.
Perguntemo-nos com honestidade: ?E eu, que vida quero para mim? E comparemo-la
com a orientação real com que a vivemos. É isto o que eu queria? Não acredita
você que o horizonte pode ser ainda muito mais amplo? Pois olhe: muito mais
ainda daquilo que podamos imaginar você e eu juntos? muito mais cheia? muito
mais formosa? muito mais? é a Vida de Cristo palpitando na Eucaristia. E ali
está, à nossa espera para ser comido, esperando na porta do seu coração,
paciente, ardente, como quem sabe amar. E depois disto, a Vida eterna: «Quem
come deste pão viverá eternamente» (Jo 6,58). ?Que mais quer?
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Devo recebê-lo-Lo sempre, para
que sempre me perdoe os pecados. Eu, que peco sempre, devo ter sempre um
remédio» (Santo Ambrósio)
« A Igreja e o mundo têm grande
necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos neste sacramento de amor.
Que nunca cesse a nossa adoração» (S. João Paulo II)
«(...) Celebrando o memorial do
seu sacrifício (...), oferecemos ao Pai o que Ele próprio nos deu: os dons da
sua criação, o pão e o vinho, transformados (...) no corpo e no sangue do mesmo
Cristo (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.357)
“Eu sou o pão vivo, o que
desceu do Céu”
Do site da Ordem do Carmo em
Portugal.
v. 51: Eu sou o pão vivo, o
que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que
Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo. O evangelho de João não
nos transmite o relato da instituição da Eucaristia, mas o significado que ela
assume na vida da comunidade cristã. A simbologia do lavar os pés e o
mandamento novo (Jo 13, 1-35) quer ser o memorial do pão que é partido e do
vinho que é derramado. Os conteúdos teológicos são os mesmos dos sinópticos. A
tradição cultual de João pode ser encontrada no “discurso eucarístico” que se
segue ao milagre da multiplicação dos pães (Jo 6, 26-65), um texto que põe em
evidência o significado profundo da existência de Cristo dada ao mundo, dom que
é fonte de vida e que conduz a uma comunhão profunda no novo mandamento da
pertença. A referência ao antigo milagre do maná é explicativa da simbologia
pascal em que o sentido da morte é assumido e superado pela vida: “Os vossos
pais comeram o maná no deserto e morreram; este é o pão que desce do céu para
que quem o coma não morra” (Jo 6, 49-50). Destinatário do pão do céu (cf Ex 16;
Jo 6, 31-32), em figura ou na realidade, não é tanto cada um mas sobretudo a
comunidade dos crentes, ainda que cada um seja chamado a participar
pessoalmente no alimento dado para todos. Quem come o pão vivo não morrerá: o
pão da revelação é o lugar de uma vida que não tem ocaso. Do pão, João passa a
usar outra expressão para indicar o corpo: sarx. Na Bíblia, este termo designa
a pessoa humana na sua frágil e débil realidade diante de Deus, e em João a
realidade humana do Verbo divino, feito homem (Jo 1, 14a): o pão identifica-se
com a própria carne de Jesus. Neste caso não se trata de um pão metafórico, ou
seja da revelação de Cristo ao mundo, mas do pão eucarístico. Enquanto a
revelação, ou seja o pão da vida, identificado com a pessoa de Jesus (Jo 6, 35)
é dado pelo Pai, o pão eucarístico, ou seja o corpo de Jesus, será oferecido
por Ele mesmo através da sua morte na cruz prefigurada na consagração do pão e
do vinho durante a ceia: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do
mundo”.
v. 52: Então, os judeus,
exaltados, puseram-se a discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a
sua carne a comer?!». Começa o drama com um pensamento que fica na entrada
do visível e material e não ousa ultrapassar o véu do mistério. O escândalo de
quem acredita sem acreditar... de quem pretende saber e não sabe. Carne para
comer: a celebração da Páscoa, rito perene que se perpetuará de geração em
geração, festa do Senhor e memorial (cf. Ex 12, 14), do qual Cristo é o
significado. O convite de Jesus para fazer o que Ele fez “in memoria” d'Ele,
tem o seu paralelismo nas palavras de Moisés, quando prescreve a recordação pascal:
“Este dia será para vós um memorial e vós o festejareis” (Ex 12, 14). Agora,
sabemos que para os hebreus a celebração da Páscoa não era somente a recordação
de um acontecimento passado, mas também a sua actualização de novo, no sentido
de que Deus está disposto a oferecer de novo ao seu povo a salvação a quem, nas
circunstâncias mutáveis da história, tem necessidade. Desta forma o passado
irrompe no presente com a sua força salvífica. Da mesma maneira o sacrifício
eucarístico “poderá” dar pelos séculos “carne para comer”.
v. 53: Disse-lhes Jesus: «Em
verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e
não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós». João, tal como os
sinópticos, utiliza expressões separadas para indicar a entrega de Cristo à
morte, não querendo significar com isto a separação em partes, mas a totalidade
da doação da sua pessoa: a corporeidade espiritualizada de Cristo ressuscitado,
totalmente compenetrado pelo Espírito Santo no acontecimento pascal,
converter-se-á em manancial de vida para todos os crentes, de modo especial
mediante a Eucaristia, que une estreitamente cada um deles a Cristo glorificado
à direita do Pai, fazendo-o participante da sua própria vida divina. Não são
nomeadas as espécies do pão e do vinho, mas diretamente o que neles é
significado: carne para comer, porque Cristo é presença que alimenta a vida e
sangue para viver – ação sacrílega para os judeus – porque Cristo é o Cordeiro
imolado. É evidente aqui o carácter litúrgico sacramental: Jesus insiste sobre
a realidade da carne e do sangue referindo-se à sua morte, porque na imolação
das vítimas para o sacrifício a carne era separada do sangue.
v. 54: Quem realmente come a
minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no
último dia. A Páscoa vivida pelo Jesus hebreu e pelo cristianismo primitivo
recebe uma nova alma: a da ressurreição de Cristo, definitivo êxodo da
liberdade perfeita e plena (Jo 19, 31-37), que encontra na Eucaristia o novo
memorial, símbolo de um Pão de vida que sustenta na caminhada no deserto,
sacrifício e presença que sustenta o novo povo de Deus, a Igreja, que,
atravessadas as águas da regeneração, não se cansará de fazer memória como Ele
disse (Lc 22, 19; 1Cor 11, 24) até à Páscoa eterna. Atraídos e penetrados pela
presença do Verbo feito carne, os cristãos vivem na peregrinação do tempo a sua
Pesach, a passagem da escravidão do pecado à liberdade dos filhos de Deus: em
conformidade com Cristo, tornar-se-ão capazes de proclamar as obras
maravilhosas da sua luz admirável, oferecendo a Eucaristia da sua corporeidade:
sacrifício vivo, santo e agradável num culto espiritual (cf. Rom 12, 1) que se
adequa ao povo da sua conquista, estirpe escolhida, sacerdócio real (cf. 1Pe 2,
9).
v. 55-56: Porque a minha carne
é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. Quem
realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele.
É forte a incidência que esta oferta da vida de Cristo tem na vida do crente:
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele” (Jo
6, 56). A comunhão de vida que Jesus tem com o Pai é oferecida a todo o que
come o corpo sacrificado de Cristo: isto entende-se sem cair numa concepção
mágica de um alimento sacramental que conferiria automaticamente a vida eterna
a quem o comesse. A oferta da carne e do sangue requer a pregação para a tornar
inteligível e para fornecer a necessária compreensão da ação de Deus, requer a
fé por parte de quem participa no banquete eucarístico e requer a ação
proveniente de Deus, do seu Espírito, sem a qual não pode haver nem escuta nem
fé.
v. 57: Assim como o Pai que me
enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por mim.
O acento não se coloca no culto como momento culminante e fundamento da
caridade, mas na unidade do corpo de Cristo vivo e operante na comunidade. Não
há liturgia sem vida. “Uma liturgia separada da caridade fraterna equivale à
própria condenação, porque se despreza o corpo de Cristo que é a Comunidade”.
Na liturgia eucarística, na verdade, o passado, o presente e o futuro da
história da salvação, encontram um símbolo eficaz para a comunidade cristã,
expressivo e nunca substitutivo da experiência de fé que deve estar sempre
presente na história. Com a Ceia e a Cruz, que são inseparáveis, o povo de Deus
tomou posse das antigas promessas, a verdadeira terra para além do mar, do
deserto, do rio, terra onde corre leite e mel de uma liberdade capaz de
obediência. Todas as grandes realidades da antiga economia da salvação
encontram nesta hora (cf. Jo 17, 1) a sua realização: da promessa feita a
Abraão (Gen 17, 1-8) à Páscoa do Êxodo (Ex 12, 1-51). É um momento decisivo em
que todo o passado do povo é recolhido (DV, 4) e é oferecida ao Pai a primeira
e mais nobre Eucaristia da nova aliança que jamais foi celebrada: o cumprimento
fecundo sobre o altar da cruz de tudo o que se esperava.
v. 58: Este é o pão que desceu
do Céu; não é como aquele que os antepassados comeram, pois eles morreram; quem
come mesmo deste pão viverá eternamente. Quando Jesus disser: “Isto é o meu
corpo” ou “Isto é o meu sangue”, estabelecerá uma relação verdadeira e objetiva
entre estes elementos materiais e o mistério da sua morte, que terá o seu
coroamento na ressurreição. Palavras criativas de uma nova situação com
elementos comuns da experiência humana, palavras pelas quais sempre e
verdadeiramente se realiza a misteriosa presença de Cristo vivo. Os elementos
escolhidos querem ser e são símbolo e instrumento ao mesmo tempo. O elemento
“pão” que pela relação que tem com a vida, tem em si uma significação
escatológica (cf. Lc 14, 15), é facilmente compreensível enquanto alimento
indispensável para a subsistência e motivo de partilha universal. O elemento
“vinho” pela sua simbologia natural conduz à plenitude da vida e à expressão da
alegria do homem (cf. Sl 103, 15).
* Jesus cumpre o verdadeiro
Pesach da história humana: “Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo que
chegara a hora de passar deste mundo para o Pai, depois de ter amado os seus
que estavam no mundo, amou-os até ao fim. Enquanto ceavam...” (Jo 13, 1).
Passar: a nova Páscoa é precisamente esta passagem de Cristo deste mundo para o
Pai através do sangue do seu sacrifício. A Eucaristia é o memorial, pão do
deserto e presença de salvação, pacto de fidelidade e de comunhão escrito na
pessoa do Verbo. A história da salvação que para Israel é narrada através de acontecimentos,
nomes, lugares, conduz à reflexão de fé dentro de uma experiência de vida que
faz de Javhé não um nome entre tantos outros mas o único nome. Tudo começa
sempre por um encontro entre Deus e o homem que se traduz num pacto de aliança,
antiga e nova. O mar dos juncos é a última fronteira da escravidão para além da
qual se estende o espaço territorial da liberdade. Neste sepulcro de água é
deposto o corpo do velho Israel e ressurge o novo e livre Israel. É aqui onde
nasce a pertença a Israel. E cada vez que se evoque esta passagem nas águas do
nascimento mais que um passado histórico para trazer à memória repropor-se-á o
acontecimento escatológico, capaz de uma plenitude divina que atua no presente,
sinal sacramental da iniciativa de um Deus fiel.
* Contemplação: Quando
pensamos em ti, Senhor, não recordamos factos acontecidos e realizados no
tempo, mas entramos em contacto com a tua realidade sempre presente e viva,
vemos a tua passagem contínua por nós. Tu intervéns na nossa vida para nos
restituir a semelhança da pertença, para que não se seque mais entre as pedras
da lei o nosso rosto, mas que encontre a sua máxima expressão no rosto do Pai,
revelado no rosto do homem Jesus, promessa de fidelidade e amor consumado. Tu,
Criador do céu e da terra, escondestes nas dobras da história e embora de modo
obscuro e implícito deixas-te encontrar naquela transcendência que não
desaparece com os acontecimentos. O prodígio da tua presença realiza-se sempre
na pura gratuitidade: nos membros da Igreja, ali onde dois ou três se reúnem em
nome de Jesus (Mt 18, 20), nas páginas da Escritura, na pregação evangélica,
nos pobres e enfermos (Mt 25, 40), nas ações sacramentais dos ministros
ordenados. Mas é sobretudo no sacrifício eucarístico que a presença é
totalmente real: no Corpo e Sangue está toda a humanidade e a divindade do
Senhor ressuscitado, presença substancial.
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