São
João Eudes, presbítero
1ª
Leitura (Ez 24,15-24): O Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo: «Filho do
homem, vou tirar-te repentinamente aquela que é a alegria dos teus olhos. Não
deverás lamentar-te, nem chorar, nem derramar lágrimas; suspira em silêncio,
mas não pratiques o luto habitual pelos mortos. Mantém a cabeça coberta, calça
as sandálias, não cubras a barba, nem comas o pão trazido pelos outros». De
manhã falei ao povo, à tarde minha mulher morreu. Na manhã seguinte, fiz o que
me tinha sido ordenado. Então o povo perguntou-me: «Não nos explicas o que
significa para nós o que estás a fazer?». Eu respondi-lhes: «O Senhor
dirigiu-me a palavra, dizendo: ‘Diz à casa de Israel: Assim fala o Senhor Deus:
Vou profanar o meu santuário, orgulho do vosso poder, alegria dos vossos olhos
e paixão das vossas almas. Os filhos e filhas que deixastes em Jerusalém cairão
ao fio da espada’. Então fareis como eu fiz. Não cobrireis a barba, não
comereis o pão trazido pelos outros, ficareis com a cabeça coberta, com sandálias
nos pés, e não vos lamentareis, nem chorareis. ‘Ireis morrendo por causa das
vossas iniquidades e gemereis uns com os outros. Ezequiel será para vós um
símbolo: fareis como ele fez. Quando isto acontecer, reconhecereis que Eu sou o
Senhor Deus’».
Salmo
Responsorial: Dt 32
R. Abandonaste a Deus que te
criou.
Desprezaste o Rochedo que te
gerou, esqueceste a Deus que te deu a vida. O Senhor viu e ficou indignado e
rejeitou teus filhos e tuas filhas.
O Senhor disse: «Vou ocultar-lhes
o meu rosto e ver qual será o seu futuro, porque são uma geração perversa de
filhos que não conhecem a fidelidade.
Provocaram-Me com um deus falso,
irritaram-Me com inúteis ídolos; e Eu vou provocá-los com um povo falso, vou
irritá-los com uma nação insensata».
Aleluia. Bem-aventurados os
pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.
Evangelho
(Mt 19,16-22): Naquele tempo, alguém se aproximou de Jesus e disse:
«Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?». Ele respondeu: «Por
que me perguntas sobre o que é bom? Um só é bom. Se queres entrar na vida,
observa os mandamentos». ?«Quais?», perguntou ele. Jesus respondeu: «Não
matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso
testemunho, honra pai e mãe, ama teu próximo como a ti mesmo». O jovem
disse-lhe: «Já observo tudo isso. Que me falta ainda?». Jesus respondeu: «Se
queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás
um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me». Quando ouviu esta palavra, o jovem
foi embora cheio de tristeza, pois possuía muitos bens.
«Que tenho que fazer de bom
para ter a vida eterna?»
Rev. D. Óscar MAIXÉ i Altés (Roma,
Itália)
Hoje a Liturgia da Palavra coloca
para nossa consideração a famosa passagem do jovem rico, aquele jovem que não
soube responder diante do olhar de amor com o qual Cristo olhou para ele (cf.
Mc 10,21). São João Paulo II lembra-nos que naquele jovem podemos reconhecer a
todo homem que se aproxima de Cristo e lhe pergunta sobre o sentido de sua
própria vida: «Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?» (Mt
19,16). O Papa comenta que «o interlocutor de Jesus intui que há uma conexão
entre o bem moral e o pleno cumprimento do próprio destino».
Hoje, há muitas pessoas que
também fazem, no seu íntimo, esta pergunta! Se olharmos à nossa volta, talvez
pensemos que são poucas as pessoas que veem algo a mais, ou que o homem do
século XXI não precisa se fazer este tipo de pergunta, pois não encontrará
respostas que lhe sirvam.
Jesus respondeu ao jovem: «Por
que me perguntas sobre o que é bom? Um só é bom. Se queres entrar na vida,
observa os mandamentos» (Mt 19,17). É legítimo perguntar-se sobre o sentido da
vida, pois, hoje é necessário fazê-lo! O jovem lhe perguntou o que tem que
fazer de bom para chegar à vida eterna, e Cristo respondeu-lhe que tem que ser
bom.
Nos dias de hoje, para alguns ou
para muitos? Tanto faz! Parece ser impossível? Ser bom?... Ou melhor, pode
parecer até algo sem sentido: uma bobagem! Hoje, como há vinte séculos, Jesus
Cristo segue nos lembrando que para entrar na vida eterna é necessário cumprir
os mandamentos da Lei de Deus: não se trata do “ótimo”, mas de seguir o caminho
necessário para que o homem se assemelhe a Deus e assim possa entrar na vida
eterna de mãos dadas com seu Pai-Deus. Efetivamente, «Jesus mostra que os
mandamentos não devem ser entendidos como um limite mínimo que não se deve
ultrapassar, mas como uma vereda aberta para um caminho moral e espiritual de
perfeição, cujo impulso interior é o amor» (São João Paulo II).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Se você não é senhor de si
mesmo, mesmo que seja poderoso, sua senhoria me causa dor e riso» (São
Josemaría)
« Jesus apresenta que os
mandamentos não devem ser entendidos como um limite mínimo que não há que
sobrepassar, si não como uma senda aberta para um caminho moral e espiritual de
perfeição, cujo impulso interior é o amor» (São João Paulo II)
«” Mestre, que devo fazer de bom
para ter a vida eterna?” Ao jovem que Lhe faz esta pergunta, Jesus responde,
primeiro, invocando a necessidade de reconhecer a Deus como (...) o Bem por
excelência (...). Depois, declara-lhe: “Se queres entrar na vida, observa os
mandamentos” (...). Finalmente, Jesus resume estes mandamentos de modo
positivo: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”» (Catecismo da Igreja
Católica, n° 2052)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz a
história do jovem que perguntou pelo caminho da vida eterna. Jesus indicou
para ele o caminho da pobreza. O jovem não aceitou a proposta de Jesus, pois
era muito rico. Uma pessoa rica é protegida pela segurança que a riqueza lhe
dá. Ela tem dificuldade em abrir mão da sua segurança. Agarrada às vantagens
dos seus bens, vive preocupada em defender seus próprios interesses. Uma pessoa
pobre não tem esta preocupação. Mas há pobres com cabeça de rico. Muitas vezes,
o desejo de riqueza cria neles uma grande dependência e faz o pobre ser escravo
do consumismo, pois ele fica devendo prestações em todo canto. Já não tem mais
tempo para dedicar-se ao serviço do próximo.
* Mateus 19,16-19: Os mandamentos e a vida
eterna. Alguém chega perto de Jesus e pergunta: "Mestre, que devo
fazer de bom para possuir a vida eterna?" Alguns manuscritos informam que
se tratava de um jovem. Jesus responde bruscamente: "Por que você me
pergunta sobre o que é bom? Um só é o bom!” Em seguida, ele responde à pergunta
e diz: “Se você quer entrar para a vida, guarde os mandamentos". O jovem
reage e pergunta: “Quais mandamentos?”
Jesus tem a bondade de enumerar os mandamentos que o rapaz já devia
conhecer: "Não mate; não cometa adultério; não roube; não levante falso
testemunho; honre seu pai e sua mãe; e ame seu próximo como a si
mesmo". É muito significativa a
resposta de Jesus. O jovem tinha perguntado pela vida eterna. Queria a vida
junto de Deus! Mas Jesus só lembrou os mandamentos que dizem respeito à vida
junto do próximo! Não mencionou os três primeiros mandamentos que definem nosso
relacionamento com Deus! Para Jesus, só conseguiremos estar bem com Deus, se
soubermos estar bem com o próximo. Não adianta se enganar. A porta para chegar
até Deus é o próximo.
Em Marcos a pergunta do jovem é
diferente: "Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?" Jesus respondeu: "Por que você me chama
de bom? Só Deus é bom, e ninguém mais!” (Mc 10,17-18). Jesus desvia a atenção
de si mesmo para Deus, pois o que importa é fazer a vontade do Deus, revelar o
Projeto do Pai.
* Mateus 19,20: Observar os mandamentos, para
que serve? O jovem respondeu: "Tenho observado todas essas coisas. O
que é que ainda me falta fazer?" O curioso é o seguinte. O jovem queria
conhecer o caminho que o levasse à vida eterna. Ora, o caminho da vida eterna
era e continua sendo: fazer a vontade de Deus, expressa nos mandamentos. Com
outras palavras, o jovem observava os mandamentos sem saber para que serviam!
Se o soubesse, não teria feito a pergunta. É como muitos católicos que não
sabem por que motivo são católicos. ”Nasci católico, por isso sou católico!”
Coisa de costume!
* Mateus 19,21-22: A proposta
de Jesus e a resposta do jovem. Jesus respondeu: "Se você quer ser
perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um
tesouro no céu. Depois venha, e siga-me". Quando ouviu isso, o jovem foi
embora cheio de tristeza, porque era muito rico. A observância dos mandamentos
é apenas o primeiro degrau de uma escada que vai mais longe e mais alto. Jesus
pede mais! A observância dos mandamentos prepara a pessoa para ela poder chegar
à doação total de si em favor do próximo. Marcos diz que Jesus olhou para o
jovem com amor (Mc 10,21). Jesus pede muito, mas ele o pede com muito amor. O
moço não aceitou a proposta de Jesus e foi embora, “pois era muito rico”.
* Jesus e a opção pelos pobres. Um duplo
cativeiro marcava a situação do povo na época de Jesus: o cativeiro da política
de Herodes, apoiada pelo Império Romano e mantida por todo um sistema bem-organizado
de exploração e de repressão, e o cativeiro da religião oficial, mantida pelas
autoridades religiosas da época. Por causa disso, o clã, a família, a
comunidade, estava sendo desintegrada e uma grande parte do povo vivia
excluída, marginalizada, sem lugar, nem na religião, nem na sociedade. Por
isso, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam refazer a vida em
comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade
de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a
atitude frente aos pobres e excluídos. As comunidades dos fariseus viviam
separadas. A palavra “fariseu” quer dizer “separado”. Viviam separadas do povo
impuro. Alguns fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49),
cheio de pecado (Jo 9,34). Não aprendiam nada do povo (Jo 9,34). Jesus e a sua
comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas,
consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16;
1,41; Lc 7,37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt
11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres
(Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como “anunciar a Boa Nova aos
pobres” (Lc 4, 18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui nada para si, nem
mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem quer segui-lo para
conviver com ele, manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24). Manda
fazer opção pelos pobres como propôs ao jovem rico! (Mc 10,21) Esta maneira
diferente de acolher os pobres e de conviver com eles era uma amostra do Reino
de Deus.
Para um confronto pessoal
1. Uma pessoa que vive
preocupada com a sua riqueza ou com a aquisição dos bens que a propaganda do
consumismo lhe oferece, será que ela pode libertar-se de tudo isto para seguir
Jesus e viver em paz numa comunidade cristã? É possível? O que você acha?
2. O que significa para
nós hoje: “Vai vende tudo, dá aos pobres”?
É possível tomar isto ao pé da letra? Conhece alguém que conseguiu
largar tudo por causa do Reino?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO