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sexta-feira, 16 de setembro de 2022

XXV Domingo do Tempo Comum

São José de Copertino, presbítero

1ª Leitura (Am 8,4-7): Escutai bem, vós que espezinhais o pobre e quereis eliminar os humildes da terra. Vós dizeis: «Quando passará a lua nova, para podermos vender o nosso grão? Quando chegará ao fim de sábado, para podermos abrir os celeiros de trigo? Faremos a medida mais pequena, aumentaremos o preço, arranjaremos balanças falsas. Compraremos os necessitados por dinheiro e os indigentes por um par de sandálias. Venderemos até as cascas do nosso trigo». Mas o Senhor jurou pela glória de Jacob: «Nunca esquecerei nenhuma das suas obras».

Salmo Responsorial: 112
R. Louvai o Senhor, que levanta os fracos.

Louvai, servos do Senhor, louvai o nome do Senhor. Bendito seja o nome do Senhor, agora e para sempre.

O Senhor domina sobre todos os povos, a sua glória está acima dos céus. Quem se compara ao Senhor nosso Deus, que tem o seu trono nas alturas e Se inclina lá do alto a olhar o céu e a terra?

Levanta do pó o indigente e tira o pobre da miséria, para o fazer sentar com os grandes, com os grandes do seu povo.

2ª Leitura (1Tim 2,1-8): Caríssimo: Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todas as autoridades, para que possamos levar uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável aos olhos de Deus, nosso Salvador; Ele quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou à morte pela redenção de todos. Tal é o testemunho que foi dado a seu tempo e do qual fui constituído arauto e apóstolo – digo a verdade, não minto – mestre dos gentios na fé e na verdade. Quero, portanto, que os homens rezem em toda a parte, erguendo para o Céu as mãos santas, sem ira nem contenda.

Aleluia. Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza. Aleluia.

Evangelho (Lc 16,1-13): Depois, Jesus falou ainda aos discípulos: «Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. Ele o chamou e lhe disse: ‘Que ouço dizer a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens’. O administrador, então, começou a refletir: ‘Meu senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Cavar, não tenho forças; mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração’. Então chamou cada um dos que estavam devendo ao seu senhor. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves ao meu senhor?’ Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo!’ O administrador disse: ‘Pega a tua conta, senta-te, depressa e escreve: cinquenta!’ Depois perguntou a outro: ‘E tu, quando deves?’ Ele respondeu: ‘Cem sacas de trigo.’ O administrador disse: ‘Pega tua conta e escreve: oitenta’. E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu com esperteza. De fato, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz. «Eu vos digo: usai o ‘Dinheiro’, embora iníquo, para fazer amigos. Quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois fiéis no uso do ‘Dinheiro iníquo’, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar o outro, ou se apegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao ‘Dinheiro’».

«Não podeis servir a Deus e ao dinheiro»

+ Rev. D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí, Girona, Espanha)

Hoje o Evangelho nos apresenta a figura do administrador infiel: um homem que se aproveitava do ofício para roubar a seu amo. Era um simples administrador e, atuava como amo. É conveniente que tenhamos presente:

1) Os bens materiais são realidades boas, porque saíram das mãos de Deus. Portanto, os devemos amar.

2) Mas não os podemos “adorar” como se fossem Deus e a finalidade de nossa existência; devemos estar desprendidos deles. As riquezas são para servir a Deus e a nossos irmãos os homens; não devem servir para destronar a Deus do nosso coração e das nossas obras: «Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro» (Lc 16,13).

3) Não somos os amos dos bens materiais e, sim simples administradores; portanto, não somente devemos conservar, mas também fazê-los produzir ao máximo, dentro de nossas possibilidades. A parábola dos talentos o ensina claramente (cf. Mt 25,14-30).

4) Não podemos cair na avareza; devemos praticar a liberalidade, que é una virtude cristã que devemos viver todos, os ricos e os pobres, cada um segundo suas circunstâncias. Devemos dar aos outros!

E se já tenho suficientes bens para cobrir meus gastos? Sim; também você deve se esforçar por multiplicá-los e poder dar mais (paróquia, dioceses, Caritas, apostolado). Lembre as palavras de São Ambrósio: «Não é uma parte de teus bens o que tu dás ao pobre; o que lhe das já lhe pertence. Porque o que foi dado para o uso de todos, tu te aproprias. A terra foi dada para todo mundo, e não somente para os ricos».

Você é um egoísta que só pensa em acumular bens materiais para si, como o administrador do Evangelho, mentindo, roubando, praticando a avareza e a dureza de coração, que lhe impedem comover-se ante as necessidades dos outros? Não pensa frequentemente nas palavras de São Paulo: «Que cada um dê conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento, pois “Deus ama quem dá com alegria» (2Cor 9,7) Seja generoso!

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Não tenho outra forma de te demostrar meu amor que jogando flores, é dizer, não deixando fugir nenhum pequeno sacrifício, nem uma só mirada, nem uma soa palavra, aproveitando até as menores coisas e fazendolas por amor» (Santa Teresa de Lisieux)

«O dinheiro não é “injusto” em si mesmo, mas mais que qualquer outra coisa pode encerrar ao homem num egoísmo cego» (Bento XVI)

«” Eles punham tudo em comum” (At 4,32):” Tudo o que o verdadeiro cristão possui, deve olhá-lo como um bem que lhe é comum com os demais, e deve estar sempre pronto e ser diligente para ir em socorro do pobre e da miséria do próximo”. O cristão é um administrador dos bens do Senhor» (Catecismo da Igreja Católica, n° 952)

“E agora, o que é que eu faço?”

Escrito por P. Américo – no site DOMUS IESU

* A parábola do «administrador infiel» apresenta algumas dificuldades de interpretação. Pode-se cair no equívoco que não se trata de uma parábola e, nessa altura, então é-se incapaz de entender que o que se louva não é a desonestidade do administrador, mas sim a sua sagacidade. Mas será que, mesmo assim, se pode apresentar como modelo uma pessoa desonesta? É verdade que se trata de um administrador desonesto, mas o que, afinal, é reconhecido e louvado é o seu sentido de previsão do futuro. E, só nessa perspectiva, pode ser apresentado como modelo, na medida em que tenta dar prioridade àquilo que, na sua óptica, lhe pode resolver os problemas futuros. Passando ao fato cristão, pode acontecer que os que dizem acreditar em Jesus Cristo não deem relevância ao que realmente interessa e se vão entretendo com coisas vãs e fúteis - como as que estão associadas ao dinheiro. Pode acontecer que vão perdendo o seu tempo descurando a preocupação que deveria interessar, que é a garantia do Bem que conta, que é ganhar o Reino. É por isso que a recomendação de Jesus tem todo o sentido: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro». É, pois, necessário fazer uma opção radical por Jesus Cristo. Nessa altura, o «dinheiro» passa para segundo plano, mais, passa-se a «investi-lo» doutra forma, especialmente em prol dos mais desfavorecidos. A partir do momento em que não se faz do dinheiro um ídolo, mas um instrumento de humanização, está-se a fazer um investimento que rende para a vida eterna. 

* E é esta a lição que devemos retirar da Parábola de hoje. Perante certos temas de ponta, como é, por exemplo, o da pobreza e da riqueza, há sempre a tentação e o perigo de privilegiar uma leitura estritamente política do Evangelho. É um fato que, no mundo, sempre houve ricos e pobres; e sempre assim será. E é certo também que os ricos sempre exploraram os pobres; e é assim e assim sempre será. Não estou a querer dizer que as pessoas têm que se acomodar a essa situação de facto, mas não tenho instrumentos para ultrapassar este problema. Procurar que haja cada vez menos pobreza e evitar que as pessoas sejam exploradas umas pelas outras é uma tarefa que todos devem desempenhar. E isso pode ser uma conclusão decorrente da leitura atenta da Bíblia em geral e do Evangelho em particular.

É, pois, natural que se vá procurar também à Bíblia uma resposta em «termos políticos» para este problema. Mas, como tenho dado a entender em comentários anteriores, tenho que reconhecer também que é indiscutível que a intenção primária da Escritura nunca é de em primeiro lugar de cariz direta e especificamente político. Por isso, pretender fazer uma leitura política (como é geralmente entendido o termo) não me parece correto. Todavia, isso não significa que a Palavra de Deus não tenha implicações no «tecido político».

É certo que, de certas passagens escriturísticas escolhidas a esmo, não é admissível concluir que se justifique, por exemplo, a «luta de classes», como é geralmente entendida essa expressão. Antes pelo contrário, à luz do Evangelho, a divisão de pessoas em classes é certamente algo que brada aos céus. Por outro lado, a «estratégia» defendida pelo Evangelho não tem a ver com uma visão de confronto e «aniquilamento» do adversário. Ou seja, não se fala de travar uma «luta», mas sim de pôr em prática a lei do amor aos irmãos, sendo esse o sinal por que os cristãos hão de ser conhecidos: «Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» (Jo13,35).

* Dimensão cristã dos bens. É nessa perspectiva que tem que se entender também o problema dos bens. Não vou repetir aqui a parábola evangélica de hoje, que, no entanto, convido a ler na íntegra. Mas é útil realçar, mais uma vez, que o Reino de Deus não se traduz apenas em estatísticas externas e formais; e muito menos se reduz a um simples humanismo ou, pior ainda, a um materialismo, eventualmente de cariz religioso (pese embora alguma contradição terminológica).

Mas isso também não quer dizer que tudo se reduza a um puro espiritualismo de moldes místicos e sentimentalistas. Se assim fosse, o evangelista Lucas não teria dado tanta importância ao tema dos bens. O facto é que Deus nos confiou a administração dos bens da terra (a riqueza). Certamente não foi para os amaldiçoarmos nem para com eles nos armar uma ratoeira. Foi, isso sim, para deles nos servirmos, utilizando-os como instrumentos de amor e de serviço aos outros, nomeadamente aos mais carenciados. Daí se deduz que a realização escatológica (do Reino definitivo) não está separada da vida terrena. Dizendo-o com palavras ainda mais claras, o Reino também se realiza através do nosso encontro com os outros e segundo o uso que soubermos fazer do dinheiro e dos bens materiais.

Mas o dinheiro não é um ídolo. Todavia, na parábola, não podemos ignorar uma advertência formulada como sentença decisiva: «Nenhum servo pode servir a dois patrões». Isso quer dizer que quem absolutiza a riqueza deste mundo se torna «inimigo» de Deus e do seu Reino. Aquele que adora o verdadeiro Deus não pode fazer dos bens ou riquezas o seu ídolo ou a meta da sua existência. Por outras palavras, todos os bens deste mundo valem na medida em que estiverem subordinados à construção do amor e do serviço dos outros... caso contrário, acabam por ocupar o lugar de Deus.

Mais uma vez, deve-se realçar que não seria correto interpretar esta passagem (e outras do mesmo teor) em chave eminentemente política e social, excluindo a sua dimensão primordial, que é a religiosa, como se a intenção da parábola fosse, de algum modo, sugerir métodos ou técnicas administrativos de distribuição das riquezas. A lição de fundo não é esta. Por outro lado, que eu saiba, Jesus também não nos conferiu o direito de repartir com violência as riquezas que estão nas mãos dos outros. Não se podem tomar essas atitudes de tipo operativo baseando-se na parábola em exame. Não é esse o objetivo.

Todavia, seria igualmente incorreto dizer, a partir deste trecho, que é defensável um determinado tipo de economia que absolutiza a propriedade privada. É uma conclusão tão extemporânea como a de que algum trecho bíblico defenda a coletivização. Qualquer tipo de «absolutização» é ilação ilegítima neste contexto. Seja como for, está fora de dúvida que é preciso tirar as consequências práticas da exigência que nos é feita de pôr os bens ao serviço da fraternidade ou, como se costuma dizer, tendente a construir um mundo melhor e mais habitável.

* Religião não é capa de injustiças. Há uma falsa religião que os profetas nunca cessaram de causticar: a religião dos que creem que se pode ficar de consciência tranquila com pouco esforço; ou seja, com o cumprimento de alguns ritos e práticas exteriores de culto. Sinceramente, fico sempre incomodado quando ouço justificar certos enriquecimentos ou sucessos com a frase: «estou tranquilo de consciência». Se a Bíblia diz que «o justo peca sete vezes ao dia», não sei como é que se pode estar tranquilo de consciência. Sei que esta ideia não é original, mas quem quer que tenha sido o seu autor, está a pôr o dedo na ferida. Em todos os tempos se corre o perigo de pensar que, com a distribuição de duas ou três esmolas, estão cumpridas as exigências da justiça. Ora isso, obviamente, não é verdade...

Com frequência, o que essa atitude representa não é senão uma aparência de religiosidade que, bem-vistas as coisas, se serve da capa da bondade a fim de explorar os pobres. Um exemplo dessa crítica temo-lo precisamente na primeira leitura deste domingo, extraída do livro do profeta Amós. Nela comparecem ricos senhores que se pavoneiam pelas ruas da cidade aos sábados (dia em que era proibido quase tudo e naturalmente também o comércio) mas que não perdem tempo e arranjam estratagemas para enganar os pobres, vendendo-lhes produtos mais caros que os preços justos.

O profeta, nestas circunstâncias, não perdoa e nem sequer está interessado em tratar os seus ouvintes com «luvas de veludo». Dispenso-me de fazer outros comentários ao texto escolhido para hoje. Limito-me a repetir o que digo com frequência: não nos esqueçamos que o texto hoje já não se destina às pessoas do tempo de Amós (que essas já não precisam), mas é proposto, isso sim, às pessoas de hoje. Duma leitura calma e atenta pode tirar-se alimento de reflexão pessoal mais que suficiente para poder tirar conclusões e fazer aplicações pessoais.

* Ricos, como é que é? Seja como for, assim como a pobreza nem sempre é culpa dos que a sofrem na pele, assim também a riqueza nem sempre é defeito e «pecado» daqueles que a possuem. Ou seja, o problema não está necessariamente em que uns sejam pobres e outros ricos. Ou seja, não é por isso que são automaticamente bons ou maus. Como tenho insistido, o problema parece residir mais, isso sim, na maneira como se usam e se administram os bens.

Não me refiro a outros (não quer dizer que eles não tenham obrigações a esse respeito), mas não há dúvida de que o «rico cristão» tem que saber que, na comunidade cristã, os pobres têm «direitos» que devem ser satisfeitos. Mais, ele não deve sentir-se proprietário, mas sobretudo um atento administrador do que possui. Ouçamos a este respeito a voz autorizada de alguns Padres da Igreja: «Não serás porventura um ladrão - afirma S. Basílio - tu que das riquezas, das quais recebeste a gestão, fazes coisas da tua propriedade?... Ao esfomeado pertence o pão que tu guardas, ao nu a manta que tu tens na arca, a quem anda descalço os sapatos que apodrecem em tua casa, ao necessitado o dinheiro que tu tens escondido. Assim tu cometes tantas injustiças quanta for a gente que poderias ter ajudado».

Por sua vez, Sto. Ambrósio diz o seguinte: «... É, por isso, justo que, se reivindicas como privada qualquer coisa que recebeste em comum ao género humano e até aos animais (ou seja, a terra), distribuas ao menos alguma coisa aos pobres. Eles são participantes do teu direito. Não lhes negues, portanto, os alimentos».

* Os bens são um meio e não um fim. Como se disse, os bens absolutizados acabam por se tornar um ídolo. Nesse sentido e na prática, acabam por ser considerados como um fim a atingir. E a verdade é que é precisamente essa a maneira como, na prática de todos os dias, eles são tidos. Não vamos esconder a cabeça na areia, afirmando que uma tal posição é exagerada. Infelizmente, o facto é que a procura dos bens e da riqueza, em muitíssimos casos, está acima do próprio Deus. E, por isso mesmo, nessa situação, os bens acabam por ser contrários aos desígnios de Deus, que deve ser o único fim absoluto da existência.
Sem um coração realmente virado para os outros, nossos irmãos, o dinheiro toma conta da vida e dá cabo dela, quer no seu aspecto contingente quer no seu aspecto transcendente. Ora bem, segundo o espírito evangélico, qualquer atitude do homem que não seja finalizada para o amor de Deus e do próximo é uma atitude radicalmente incorreta.

A esse propósito, não será difícil admitir que o dinheiro, como símbolo das coisas ou bens, é instrumento de divisão e de luta; como na realidade acontece e infelizmente temos que constatar. Ao contrário, devia ser instrumento ao serviço da comunhão entre as pessoas, da amizade, da igualdade; e não veículo de guerra e de discriminação. Aqueles que possuem bens (que não devem esbanjar) demonstrarão o seu espírito de pobreza utilizando-os da melhor maneira, para criar laços de amor e amizade e para comunicar entre os homens.

“Não se pode servir ao mesmo tempo a Deus e ao dinheiro.”

Papa Bento XVI, Angelus, 23 de setembro de 2007

[…] Neste Domingo nos textos litúrgicos, […] podemos refletir sobre o uso correto dos bens terrenos, um tema que nestes domingos o evangelista Lucas, de vários modos, repropôs à nossa atenção.

Narrando a parábola de um administrador desonesto, mas bastante astuto, Cristo ensina aos seus discípulos qual é o modo melhor de utilizar o dinheiro e as riquezas materiais, isto é, dividi-las com os pobres, conquistando assim a sua amizade, em vista do Reino dos céus. «Arranjai amigos com o vil dinheiro para que, quando este faltar, eles vos recebam nos tabernáculos eternos» (Lc 19, 9). O dinheiro em si não é «desonesto», mas mais do que qualquer outra coisa pode fechar o homem num egoísmo cego. Trata-se, portanto, de realizar uma espécie de «conversão» dos bens económicos: em vez de os usar só para benefício próprio, é preciso pensar também nas necessidades dos pobres, imitando o próprio Cristo, escreve São Paulo o qual «sendo rico se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer pela pobreza» (2 Cor 8, 9). Parece um paradoxo: Cristo não nos enriqueceu com a sua riqueza, mas com a sua pobreza, isto é, com o seu amor que o levou a doar-se totalmente a nós.

Poderia abrir-se aqui um vasto e complexo campo de reflexão sobre o tema da riqueza e da pobreza, também a nível mundial, no qual se confrontam duas lógicas económicas: a lógica do lucro e da distribuição equitativa dos bens, que não estão em contradição uma com a outra, se a sua relação for bem-organizada. A doutrina social católica sempre defendeu que a distribuição equitativa dos bens é prioritária. Naturalmente o lucro é legítimo e, na medida justa, é necessário para o desenvolvimento económico.

João Paulo II escreveu assim na Encíclica Centesimus annus: «A moderna economia de empresa comporta aspectos positivos, cuja raiz é a liberdade da pessoa, que se exprime no campo económico e em muitos outros campos» (n. 32). Contudo, acrescentou ele, o capitalismo não deve ser considerado como o único modelo válido de organização da economia (cf. ibid., 35). A emergência da fome e da ecologia estão a denunciar, com crescente evidência, que a lógica do lucro, se é prevalecente, incrementa a desproporção entre ricos e pobres e uma exploração arruinadora do planeta. Quando ao contrário prevalece a lógica da partilha e da solidariedade, é possível corrigir a rota e orientá-la para um progresso equitativo e equilibrado. […]

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