S.
Pedro Crisólogo, Bispo e Doutor da Igreja
1ª
Leitura (Jer 26,11-16.24): Naqueles dias, os sacerdotes e os profetas
disseram aos chefes e a todo o povo: «Este homem merece a morte, por ter
profetizado contra esta cidade, como acabais de ouvir com os vossos ouvidos». Então
Jeremias disse aos chefes e a todo o povo: «Foi o Senhor que me enviou a
profetizar, contra este templo e contra esta cidade, tudo o que ouvistes.
Portanto, emendai os vossos caminhos e as vossas ações, ouvi a voz do Senhor,
vosso Deus, e o Senhor afastará de vós os males com que vos ameaçou. Quanto a
mim, estou nas vossas mãos: tratai-me como vos parecer melhor e mais justo. Mas
ficai sabendo que, se me condenardes à morte, sereis responsáveis pelo sangue
de um inocente, vós, esta cidade e os seus habitantes. Na verdade, foi o Senhor
que me enviou a vós, para anunciar aos vossos ouvidos todas estas palavras». Então
os chefes e todo o povo disseram aos sacerdotes e aos profetas: «Este homem não
merece a morte, porque nos falou em nome do Senhor, nosso Deus». Jeremias ficou
sob a proteção de Aican, filho de Safan, e assim não caiu nas mãos do povo para
ser morto.
Salmo Responsorial: 68
R. Pela vossa bondade, ouvi-me, Senhor.
Tirai-me do lamaçal, para que não me afunde, livrai-me dos que me odeiam e do abismo das águas. Não me cubram as ondas nem me arraste a voragem, não se feche sobre mim a boca do abismo.
Eu sou pobre e miserável: defendei-me com a vossa proteção. Louvarei com cânticos o nome de Deus e em ação de graças O glorificarei.
Vós, humildes, olhai e alegrai-vos, buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará. O Senhor ouve os pobres e não despreza os cativos.
Aleluia. Bem-aventurados os
que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus.
Aleluia.
Evangelho (Mt 14,1-12): Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes. Ele disse aos seus cortesãos: «É João Batista! ele ressuscitou dos mortos; por isso, as forças milagrosas atuam nele». De fato, Herodes tinha mandado prender João, acorrentá-lo e colocá-lo na prisão, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe. Pois João vivia dizendo a Herodes: «Não te é permitido viver com ela». Herodes queria matá-lo, mas ficava com medo do povo, que o tinha em conta de profeta. Por ocasião do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou tanto a Herodes que ele prometeu, com juramento, dar a ela tudo o que pedisse. Instigada pela mãe, ela pediu: «Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista». O rei ficou triste, mas, por causa do juramento e dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela. E mandou cortar a cabeça de João, na prisão. A cabeça foi trazida num prato, entregue à moça, e esta a levou para a sua mãe. Os discípulos de João foram buscar o corpo e o enterraram. Depois vieram contar tudo a Jesus.
«A fama de Jesus chegou aos
ouvidos do rei Herodes»
Rev. D. Joan Pere PULIDO i
Gutiérrez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)
Hoje, a liturgia convida-nos a
contemplar uma injustiça: A morte de João Batista; e, também, descobrir na
Palavra de Deus a necessidade de um testemunho claro e concreto de nossa fé
para encher o mundo de esperança.
Convido-os a focalizar nossa
reflexão na personagem do tetrarca Herodes. Realmente, para nós, não é um
verdadeiro testemunho, mas nos ajudará a destacar alguns aspectos importantes
para a nossa declaração de fé em meio do mundo. «Naquele tempo, a fama de Jesus
chegou aos ouvidos do rei Herodes» (Mt 14,1). Esta afirmação distingue uma
atitude aparentemente correta, mas pouco sincera. É a realidade que hoje
podemos achar em muitas pessoas e, talvez também em nós mesmos. Muitas pessoas
têm ouvido falar de Jesus, mas, quem é Ele realmente? que implicância pessoal
nos une a Ele?
Em primeiro lugar, é necessário dar uma resposta correta; a do tetrarca Herodes não passa de ser uma vaga informação: «É João Batista! Ele ressuscitou dos mortos» (Mt 14,2). Com certeza sentimos falta da afirmação de Pedro diante da pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’» (Mt 16,15-16). E esta afirmação não dá lugar para o medo ou para a indiferença, e sim abre a porta a um testemunho fundamentado no Evangelho da esperança. Assim o definia São João Paulo II na sua Exortação apostólica A Igreja na Europa: «Junto à Igreja toda, convido aos meus irmãos e irmãs na fé a se abrirem constante e confiadamente a Cristo e, a se deixar renovar por Ele, anunciando com o vigor da paz e o amor a todas as pessoas de boa vontade que, quem encontra ao Senhor conhece a Verdade, descobre a Vida e, reconhece o Caminho que conduz a ela».
Que, hoje sábado, a Virgem Maria, a Mãe da esperança, nos ajude de verdade a encontrar Jesus e, a dar um bom testemunho Dele aos nossos irmãos.
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«São João Baptista deu a sua vida por Cristo, embora não lhe fosse ordenado negar Jesus Cristo; só lhe foi ordenado que calasse a verdade» (São Beda, o Venerável)
«São João Baptista recorda-nos também, cristãos do nosso tempo, que o amor a Cristo, à sua Palavra, à Verdade, não admite arranjos. Verdade é verdade, não há discussão» (Bento XVI)
«O dever dos cristãos de participar na vida da Igreja os impele a ser testemunhas do Evangelho e das obrigações que dele derivam. Este testemunho é transmissão de fé em palavras e obras. O testemunho é um ato de justiça que estabelece ou dá a conhecer a verdade” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2.472)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje
descreve como João Batista foi vítima da corrupção e da prepotência do governo
de Herodes. Foi morto sem processo, durante um banquete do rei com os grandes
do reino. O texto traz muitas informações sobre o tempo em que Jesus vivia e
sobre a maneira como era exercido o poder pelos poderosos da época.
* Mateus 14,1-2. Quem é Jesus
para Herodes. O texto começa informando a opinião de Herodes a respeito de
Jesus: "Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que os
poderes agem nesse homem". Herodes procurava compreender Jesus a partir
dos medos que o assaltavam após o assassinato de João. Herodes era um grande
supersticioso que escondia o medo atrás da ostentação da sua riqueza e do seu
poder.
* Mateus 14,6-12: A trama do assassinato. Aniversário e banquete de festa, com danças e orgias! Marcos informa que a festa contava com a presença “dos grandes da corte, dos oficiais e das pessoas importantes da Galileia” (Mc 6,21). É nesse ambiente que se trama o assassinato de João Batista. João, o profeta, era uma denúncia viva desse sistema corrupto. Por isso foi eliminado sob pretexto de um problema de vingança pessoal. Tudo isto revela a fraqueza moral de Herodes. Tanto poder acumulado na mão de um homem sem controle de si! No entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento leviano a Salomé, a jovem dançarina, filha de Herodíades. Supersticioso como era, pensava que devia manter esse juramento, atendeu ao capricho da menina e mandou o soldado trazer a cabeça de João num prato e dar à dançarina, que o entregou à sua mãe. Para Herodes, a vida dos súditos não valia nada. Dispunha deles como dispunha da posição das cadeiras na sala.
As três marcas do governo de Herodes: a nova Capital, o latifúndio e a classe dos funcionários:
1. A Nova Capital. Tiberíades foi inaugurada quando Jesus tinha seus 20 anos. Era chamada assim para agradar a Tibério, o imperador de Roma. Lá moravam os donos das terras, os soldados, a polícia, os juízes muitas vezes insensíveis (Lc 18,1-4). Para lá eram levados os impostos e o produto do povo. Era lá que Herodes fazia suas orgias de morte (Mc 6,21-29). Tiberíades era a cidade dos palácios do Rei, onde vivia o pessoal de roupa fina (cf Mt 11,8). Não consta nos evangelhos que Jesus tenha entrado nessa cidade.
2. O Latifúndio. Os estudiosos informam que, durante o longo governo de Herodes, cresceu o latifúndio em prejuízo das propriedades comunitárias. O Livro de Henoque denuncia os donos das terras e expressa a esperança dos pequenos: “Então, os poderosos e os grandes já não serão mais os donos da terra!” (Hen 38,4). O ideal dos tempos antigos era este: “Cada um debaixo da sua vinha e da sua figueira, sem que haja quem lhes cause medo” (1 Mac 14,12; Miq 4,4; Zac 3,10). Mas a política do governo de Herodes tornava impossível a realização deste ideal.
3. A Classe dos funcionários. Herodes criou toda uma classe de funcionários fiéis ao projeto do rei: escribas, comerciantes, donos de terras, fiscais do mercado, coletores de impostos, militares, policiais, juízes, promotores, chefes locais. Em cada aldeia ou cidade havia um grupo de pessoas que apoiavam o governo. Nos evangelhos, alguns fariseus aparecem junto com os herodianos (Mc 3,6; 8,15; 12,13), o que reflete a aliança entre o poder religioso e poder civil. A vida do povo nas aldeias era muito controlada, tanto pelo governo como pela religião. Era necessária muita coragem para começar algo novo, como fizeram João e Jesus! Era o mesmo que atrair sobre si a raiva dos privilegiados, tanto do poder religioso como do poder civil.
Para um confronto pessoal
1. Conhece casos de pessoas que morreram vítimas da corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós, na nossa comunidade e na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo?
2. Herodes, o poderoso, que pensava ser o dono da vida e da morte do povo, era um covarde diante dos grandes e um bajulador corrupto diante da moça. Covardia e corrupção marcavam o exercício do poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje nos vários níveis da sociedade e da Igreja.
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