S.
Cláudio la Colombière, presbítero
Transladação
de Santo Antônio (Festa da Língua)
Salmo
Responsorial: 93
R. Feliz o homem a quem Vós
ensinais, Senhor.
Feliz o homem a quem Vós
ensinais, Senhor, e instruís na vossa lei, para lhe dar a paz nos dias de
angústia.
O Senhor não rejeita o seu povo
nem abandona a sua herança. Mas há de julgar com justiça e hão de segui-la
todos os corações retos.
Quando digo: «Os meus pés
vacilam», a vossa bondade, Senhor, me sustenta. Quando se multiplicam as
angústias do meu coração, as vossas consolações reconfortam a minha alma.
Aleluia. Se alguém Me ama,
guardará a minha palavra, diz o Senhor: meu Pai O amará e faremos nele a nossa
morada. Aleluia.
Evangelho
(Mc 8,14-21): Os discípulos se esqueceram de levar pães; tinham apenas
um pão consigo no barco. Jesus os advertia, dizendo: «Atenção! Cuidado com o
fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes». Os discípulos começaram
então a discutir entre si, porque não tinham pães. Percebendo, Jesus
perguntou-lhes: «Por que discutis sobre o fato de não terdes pães? Ainda não
entendeis, nem compreendeis? Vosso coração continua incapaz de entender? Tendo
olhos, não enxergais, e tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais? Quando
reparti cinco pães para cinco mil pessoas, quantos cestos recolhestes, cheios
de pedaços?» — «Doze», responderam eles. «E quando reparti sete pães com quatro
mil pessoas, quantos cestos recolhestes, cheios de pedaços?» —«Sete»,
responderam. Jesus então lhes disse: «E ainda não entendeis?».
«Cuidado com o fermento dos
fariseus»
Rev. Pe. Juan Carlos CLAVIJO
Cifuentes (Bogotá, Colômbia)
A fé não depende das obras, pois
«uma fé que nós mesmos podemos determinar, não é em absoluto uma fé» (Bento
XVI). Pelo contrário, são as obras as que dependem da fé. Ter uma autêntica e
verdadeira fé implica uma fé ativa e dinâmica; não uma fé condicionada e que só
fica-se no externo, nas aparências, na teoria e não na pratica. A nossa deve
ser uma fé real. Temos que ver com os olhos de Deus e não com os do homem
pecador: «Ainda não entendeis, nem compreendeis? Vosso coração continua incapaz
de entender?» (Mc 8,17).
O Reino de Deus se estende no
mundo como quando se coloca uma medida de fermento na massa, ela cresce sem que
se saiba como. Assim deve ser a autêntica fé, que cresce no amor de Deus.
Portanto que nada nem ninguém nos distraiam do verdadeiro encontro com o Senhor
e de sua mensagem Salvadora. O Senhor não perde ocasião para ensinar e isso
segue fazendo hoje em dia: «Temos que nos liberar da falsa ideia de que a fé já
não tem nada que dizer aos Homens de hoje» (Bento XVI).
«Tendo olhos, não enxergais, e
tendo ouvidos, não ouvis?»
+ Rev. D. Lluís ROQUÉ i Roqué (Manresa,
Barcelona, Espanha)
Gostaríamos de lhe dizer que o
entendemos e que não temos o entendimento ofuscado, mas não nos atrevemos. Se
ousarmos, como o cego, fazer-lhe esta súplica: «Senhor que eu veja» (Lc 18,41),
para ter fé, e para ser, e como o salmista diz: «Inclina o meu coração para as
tuas ordens, e não para a ganância injusta» (Sal 119,36) para ter boa
disposição, escutar e acolher a palavra de Deus e fazê-la frutificar.
Será bom também, hoje e sempre,
ter atenção a Jesus que nos alerta: «Atenção! Cuidado com o fermento dos fariseus»
(Mc 8,15), afastados da verdade, “maníacos cumpridores”, que não são adoradores
do Espírito em verdade (cf Jo 4,23), e «do fermento de Herodes», orgulhoso,
despótico, sensual, que só quer ver e ouvir Jesus para seu prazer.
E, como guardamos este “fermento”?
Pois fazendo uma leitura contínua, inteligente e devota da palavra de Deus e,
por isso mesmo, “sábia”, fruto de ser «piedosos como crianças: mas não
ignorantes, porque cada um há de esforçar-se, na medida das suas
possibilidades, no estudo sério, científico da fé (…). Piedade de crianças,
pois, e doutrina de segura de teólogos» (São Josemaria).
Assim, iluminados e fortalecidos
pelo Espírito Santo, alertados e conduzidos pelos bons Pastores, estimulados
pelos cristãos e cristãs fiéis, cremos no que temos de crer, faremos o que
temos que fazer. Agora, há que “querer” ver: «E o Verbo se fez carne» (Jo
1,14), visível, palpável; há que “querer” escutar: Maria foi o “isco” para que
Jesus tenha dito: «Ditosos os que escutam a palavra de Deus e a guardam» (Lc
11,28).
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* Marcos 8,14-16: Cuidado com
o fermento dos fariseus e de Herodes - Jesus
adverte os discípulos: “Cuidado com o fermento dos fariseus e de Herodes”. Mas
eles não entendem as palavras de Jesus. Acham que ele falou assim por eles
terem esquecido de comprar pão. Jesus fala uma coisa e eles entendem outra.
Este desencontro era resultado da influência insidiosa do “fermento dos
fariseus” na cabeça e na vida dos discípulos.
* Marcos 8,17-18ª: As
perguntas de Jesus - Diante desta
falta quase total de percepção nos discípulos, Jesus faz uma série de perguntas
rápidas, sem esperar uma resposta. Perguntas duras que evocam coisas muito
sérias e revelam uma total incompreensão por parte dos discípulos. Por incrível
que pareça, os discípulos chegaram num ponto em que já não se diferenciavam dos
inimigos de Jesus. Anteriormente, Jesus tinha ficado triste com a “dureza de
coração” dos fariseus e dos herodianos (Mc 3,5). Agora, os próprios discípulos
têm o “coração endurecido” (Mc 8,17). Anteriormente, “os de fora” (Mc 4,11) não
entendiam as parábolas, porque “tinham olhos e não enxergavam, ouvidos e não
escutavam” (Mc 4,12). Agora, os próprios discípulos já não entendem mais nada,
porque “tem olhos e não enxergam, ouvidos e não escutam” (Mc 8,18). Além disso,
a imagem do “coração endurecido” evocava a dureza de coração do povo do AT que
sempre se desviava do caminho. Evocava ainda o coração endurecido do faraó que
oprimia e perseguia o povo (Ex 4,21; 7,13; 8,11.15.28; 9,7...). A expressão
“tem olhos e não veem, ouvidos e não ouvem” evocava não só o povo sem fé,
criticado por Isaías (Is 6,9-10), mas também os adoradores dos falsos deuses,
dos quais o salmo dizia: “eles têm olhos e não veem, têm ouvidos e não ouvem”
(Sl 115,5-6).
* Marcos 18b-21: As duas
perguntas sobre o pão - As duas
perguntas finais tratam da multiplicação dos pães: Quantos cestos recolheram na
primeira vez? Doze! E na segunda vez? Sete! Como os fariseus, os discípulos,
apesar de terem colaborado ativamente na multiplicação dos pães, não chegaram a
compreender o seus significado. Jesus termina: "E vocês ainda não
compreendem?" A maneira de Jesus lançar todas estas perguntas, uma depois
da outra, quase sem esperar pela resposta, parece uma ruptura. Revela um desencontro
muito grande. Qual a causa deste desencontro?
* A causa do desencontro entre
Jesus e os discípulos - A causa do
desencontro entre Jesus e os discípulos não foi a má vontade deles. Os
discípulos não eram como os fariseus. Estes também não entendiam, mas neles
havia malícia. Eles usavam a religião para criticar e condenar Jesus (Mc
2,7.16.18.24; 3,5.22-30). Os discípulos, porém, eram gente boa. Não tinham má
vontade. Pois, mesmo sendo vítimas do “fermento dos fariseus e dos herodianos”,
eles não estavam interessados em defender o sistema dos fariseus e dos
herodianos contra Jesus. Então, qual era a causa? A causa do desencontro entre
Jesus e os discípulos tinha a ver com a esperança messiânica. Havia entre os
judeus uma grande variedade de expectativas messiânicas. De acordo com as
diferentes interpretações das profecias, havia gente que esperava um Messias
Rei(cf. Mc 15,9.32). Outros, um Messias Santo ou Sacerdote (cf. Mc 1,24).
Outros, um Messias Guerrilheiro subversivo (cf. Lc 23,5; Mc 15,6; 13,6-8).
Outros, um Messias Doutor (cf. Jo 4,25; Mc 1,22.27). Outros, um Messias Juiz
(cf. Lc 3,5-9; Mc 1,8). Outros, um Messias Profeta (6,4; 14,65). Ao que parece,
ninguém esperava pelo Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (Is 42,1;
49,3; 52,13). Eles não se lembravam de valorizar a esperança messiânica como
serviço do povo de Deus à humanidade. Cada um, conforme os seus próprios
interesses e conforme a sua classe social, aguardava o Messias, querendo
encaixá-lo na sua própria esperança. Por isso, o título Messias, dependendo da
pessoa ou da posição social, podia significar coisas bem diferentes. Havia
muita confusão de ideias! E é nesta atitude de Servidor que está a chave que
vai acender uma luz na escuridão dos discípulos e que vai ajudá-los a se converter.
Só mesmo aceitando o Messias como sendo o Servo Sofredor de Isaías, eles seriam
capazes de abrir os olhos e de entender o Mistério de Deus em Jesus.
Para um confronto pessoal
1) Qual é hoje o fermento
dos fariseus e de Herodes para nós? O que significa hoje, para mim, ter o
“coração endurecido”?
2) O fermento de Herodes e
dos fariseus impedia os discípulos de entender a Boa Nova. Será que hoje a
propaganda da televisão nos impede de entender a Boa Nova de Jesus?
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