Salmo
Responsorial: 11
R. Vós nos guardareis, Senhor.
Socorro, Senhor: não há quem seja
fiel, a lealdade desapareceu de entre os homens. Dizem mentiras uns aos outros,
falam com adulação na boca e duplicidade no coração.
Retalhe o Senhor todos os lábios
enganadores, a língua que fala com arrogância, aqueles que dizem: «Venceremos
com a língua, os nossos lábios nos defenderão: quem será senhor de nós?».
As palavras do Senhor são
sinceras, prata limpa no crisol, sete vezes purificada. Vós nos guardareis,
Senhor, e defendereis para sempre dessa geração.
Aleluia. Abriram-se os céus e
ouviu-se a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Aleluia.
Evangelho
(Mc 9,2-13): Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e
os fez subir a um lugar retirado, no alto de uma montanha, a sós. Lá, ele foi
transfigurado diante deles. Sua roupa ficou muito brilhante, tão branca como
nenhuma lavadeira na terra conseguiria torná-la assim. Apareceram-lhes Elias e
Moisés, conversando com Jesus. Pedro então tomou a palavra e disse a Jesus:
«Rabi, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para
Moisés e outra para Elias». Na realidade, não sabia o que devia falar, pois
eles estavam tomados de medo. Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra.
E da nuvem saiu uma voz: «Este é o meu Filho amado. Escutai-o!». E, de repente,
olhando em volta, não viram mais ninguém: só Jesus estava com eles. Ao descerem
da montanha, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto,
até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos. Eles ficaram pensando nesta
palavra e discutiam entre si o que significaria esse «ressuscitar dos mortos». Perguntaram
a Jesus: «Por que os escribas dizem que primeiro deve vir Elias?». Ele
respondeu: «Sim, Elias vem primeiro, para pôr tudo em ordem. Por outro lado,
como está escrito a respeito do Filho do Homem que ele deve sofrer muito e ser
desprezado? E eu vos digo mais: também Elias veio, e fizeram com ele tudo o que
quiseram, exatamente como está escrito a seu respeito».
«Ordenou-lhes que não
contassem a ninguém o que tinham visto»
Rev. D. Xavier ROMERO i Galdeano (Cervera,
Lleida, Espanha)
Em que consiste este segredo
messiânico? Trata-se de levantar um pouco o véu daquilo que se esconde debaixo,
mas que apenas será revelado totalmente no fim dos dias de Jesus, à luz do
Mistério Pascal. Hoje vemo-lo claro neste Evangelho: a transfiguração é um
momento, uma captação de glória para decifrar aos discípulos o sentido daquele
momento íntimo.
Jesus tinha anunciado aos seus
discípulos a iminência da sua paixão, mas ao vê-los tão perturbados por tão
trágico fim, explica-lhes com feitos e palavras como será o final dos seus
dias: umas jornadas de paixão, de morte, mas que concluirão com a ressurreição.
Eis aqui o enigma decifrado. Santo Tomás de Aquino diz: «Para que uma pessoa
caminhe retamente por um caminho é necessário que conheça com anterioridade, de
alguma forma, o lugar ao qual se dirige».
Também a nossa vida de cristãos
tem um fim revelado por Nosso Senhor Jesus Cristo: gozar eternamente de Deus.
Mas esta meta não está isenta de momentos de sacrifício e de cruz. Com tudo,
devemos recordar a mensagem viva do Evangelho de hoje: neste beco aparentemente
sem saída, que é frequentemente a vida, pela nossa fidelidade a Deus, vivendo
imersos no espírito das Bem-aventuranças, surgirá uma brecha no final trágico
que nos permitirá gozar eternamente de Deus.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Rezai antes de tudo para que se
abram as portas da luz, porque ninguém pode ver nem compreender, se Deus e o
seu Cristo não lhe permitem compreender» (São Justino mártir)
«A cruz é a exaltação de Jesus e
a sua exaltação só acontece na cruz» (Bento XVI)
« (…) A Transfiguração dá-nos uma
visão antecipada da vinda gloriosa de Cristo‘que transfigurará este nosso
miserável corpo num corpo glorioso como o seu ’(Fl 3,21). Mas ela também nos
lembra que 'é necessário que passemos por muitas tribulações para entrar no
Reino de Deus' (Atos 14:22)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 556).
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* A Transfiguração de
Jesus acontece depois do primeiro anúncio da Morte de Jesus (Mc 8,27-30). Este
anúncio tinha transtornado a cabeça dos discípulos, sobretudo de Pedro (Mc
8,31-33). Eles tinham os pés no meio dos pobres, mas a cabeça estava perdida na
ideologia do governo e da religião da época (Mc 8,15). A cruz era um
impedimento para crer em Jesus. A transfiguração de Jesus vai ajudar os
discípulos a superar o trauma da Cruz.
* Nos anos 70, quando
Marcos escreve, a Cruz continuava sendo um grande impedimento para os judeus
aceitarem Jesus como Messias. “A cruz é um escândalo!”, assim diziam (1Cor
1,23). Um dos maiores esforços dos primeiros cristãos consistia em ajudar as
pessoas a perceber que a cruz não era escândalo nem loucura, mas sim expressão
do poder e da sabedoria de Deus (1Cor 1,22-31). Marcos dá a sua contribuição
neste esforço. Ele usa textos e figuras do Antigo Testamento para descrever a
Transfiguração. Assim ele mostra que Jesus veio realizar as profecias e que a
Cruz era o caminho para a Glória.
* Marcos 9,2-4: Jesus muda de
aspecto. - Jesus sobe a uma montanha alta. Lucas acrescenta que ele subiu
para rezar (Lc 9,28). Lá em cima, Jesus aparece na glória diante de Pedro,
Tiago e João. Junto com ele aparecem Moisés e Elias. A Montanha alta evoca o
Monte Sinai, onde, no passado, Deus tinha manifestado sua vontade ao povo,
entregando a lei. As vestes brancas lembram Moisés que ficava fulgurante quando
conversava com Deus na Montanha e dele recebia a lei (cf. Ex 34,29-35). Elias e
Moisés, as duas maiores autoridades do Antigo Testamento, conversam com Jesus.
Moisés representa a Lei, Elias, a profecia. Lucas informa que a conversa foi
sobre “o êxodo de Jesus”, isto é, a Morte de Jesus em Jerusalém (Lc 9,31).
Assim fica claro que, o Antigo Testamento, tanto a Lei como a profecia, já ensinavam
que, para o Messias Servidor, o caminho da glória tinha de passar pela cruz.
* Marcos 9,5-6: Pedro gostou,
mas não entendeu. - Pedro gostou e quis segurar o momento agradável na
Montanha. Ele se oferece para construir três tendas. Marcos diz que Pedro estava
com medo, sem saber o que estava dizendo, e Lucas acrescenta que os discípulos
estavam com sono (Lc 9,32). Eles são como nós: têm dificuldade para entender a
Cruz!
* Marcos 9,7-9: A voz do céu
esclarece os fatos. - Enquanto Jesus é envolvido pela glória, uma voz do
céu diz: “Este é o meu Filho amado! Ouvi-o!”. A expressão “Filho amado” lembra
a figura do Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1). A
expressão “Ouvi-o!” lembra a profecia que prometia a chegada de um novo Moisés
(cf. Dt 18,15). Em Jesus, as profecias do Antigo Testamento estão se
realizando. Os discípulos já não podem duvidar. Jesus é realmente o Messias
glorioso que eles desejam, mas o caminho para a glória passa pela cruz,
conforme tinha sido anunciado na profecia do Servo (Is 53,3-9). A glória da
Transfiguração o comprova. Moisés e Elias o confirmam. O Pai o garante. Jesus o
aceita. No fim, Marcos diz que, depois da visão, os discípulos veem só Jesus e
ninguém mais. Daqui para a frente, Jesus é a única revelação de Deus para nós!
Jesus, e só ele, é a chave para a gente entender todo o Antigo Testamento.
* Marcos 9, 9-10: Saber
guardar o silêncio. - Jesus pedia aos discípulos para não dizerem nada a
ninguém até que ele tivesse ressuscitado dos mortos, mas os discípulos não o
entenderam. De fato, não entende o significado da Cruz quem não liga o
sofrimento com a ressurreição. A Cruz de Jesus é a prova de que a vida é mais
forte que a morte.
* Marcos 9,11-13: A volta do
profeta Elias. - O profeta Malaquias tinha anunciado que Elias devia voltar
para preparar o caminho do Messias (Ml 3,23-24). O mesmo anúncio está no livro
do Eclesiástico (Eclo 48,10). Então, como Jesus podia ser o Messias, se Elias
ainda não tinha voltado? Por isso, os discípulos perguntam: “Por que motivo os
escribas dizem que Elias deve vir primeiro?” (9,11). A resposta de Jesus é
clara: “Elias já veio e fizeram com ele tudo o que quiseram, conforme dele está
escrito” (9, 13). Jesus estava falando de João Batista que foi assassinado por
Herodes (Mt 17,13).
Para um confronto pessoal
1) A sua fé em Jesus já
proporcionou a você algum momento de transfiguração e de alegria intensa? Como
estes momentos de alegria dão força na hora das dificuldades?
2) Como transfigurar,
hoje, tanto a vida pessoal e familiar, como a vida comunitária?
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