NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA
Salmo
Responsorial: 48
R. Bem-aventurados os pobres
em espírito, porque deles é o reino dos Céus.
Este é o destino dos que em si
confiam, o fim daqueles que se comprazem em suas palavras. Como rebanho
caminham para o abismo e a morte é o seu pastor.
Descerão diretamente ao sepulcro
e a sua imagem em breve se corromperá. Deus, porém, me salvará, porque me
livrará das garras do abismo.
Não te irrites se alguém
enriquece e aumenta a riqueza da sua casa. Quando morrer, nada levará consigo,
a sua fortuna não o acompanhará.
Ainda que em vida se felicitasse:
«Louvar-te-ão porque trataste bem de ti», não deixará de ir para a companhia de
seus pais, que jamais verão a luz.
Aleluia. Escutai o que diz o
Senhor, não como palavra dos homens, mas como palavra de Deus. Aleluia.
Evangelho
(Mc 9,41-50): «Quem vos der um copo de água para beber porque sois de
Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. E quem provocar a queda um só
destes pequenos que creem em mim, melhor seria que lhe amarrassem uma grande
pedra de moinho ao pescoço e o lançassem no mar. Se tua mão te leva à queda,
corta-a! É melhor entrares na vida tendo só uma das mãos do que, tendo as duas,
ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva à queda,
corta-o! É melhor entrar na vida tendo só um dos pés do que, tendo os dois, ser
lançado ao inferno. Se teu olho te leva à queda, arranca-o! É melhor entrar no
Reino de Deus tendo um olho só do que, tendo os dois, ir para o inferno, onde o
verme deles não morre e o fogo nunca se apaga. Todos serão salgados pelo fogo.
O sal é uma coisa boa; mas se o sal perder o sabor, como devolver-lhe o sabor?
Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros».
«Quem vos der um copo de água
para beber porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa»
Rev. D. Xavier PARÉS i Saltor {La Seu d'Urgell, Lleida, Espanha)
Por outro lado, esta exigência de
Jesus quer ser uma exigência de amor e crescimento. Não quedaremos sem a sua
recompensa. O que dará sentido às nossas coisas tem de ser sempre o amor: temos
de aprender a dar um copo de água a quem o necessita, e não por interesse
pessoal, senão por amor. Temos que descobrir Jesus Cristo nos mais necessitados
e pobres. Jesus só denuncia severamente e condena aos que fazem mal e
escandalizam e aos que afastam os pequenos do bem e da graça de Deus.
Finalmente, todos temos de passar
a prova do fogo. É o fogo da caridade e do amor que purifica os nossos pecados,
para poder ser o sal que dá bom gosto ao amor, ao serviço e à caridade. Na
oração e na Eucaristia é onde os cristãos encontramos a força da fé e o bom
gosto do sal de Cristo. Não ficaremos sem recompensa!
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Depois de que o Senhor nos
ensinara que não devemos escandalizar aos que acreditam em Ele, nos adverte com
quanto cuidado devemos evitar aos que nos escandalizam, isto é, que nos levam
com a sua palavra e o seu exemplo à ruína do pecado» (São Beda o Venerável)
«A fé abre a “janela” à presença
atuante do Espírito e nos mostra que, como a felicidade, a santidade está
sempre ligada aos pequenos gestos. São gestos da quotidianidade, mas que fazem
diferente cada dia» (Francisco)
«O escândalo é a atitude ou
comportamento que leva outrem a fazer o mal. O escandaloso transforma-se em
tentador do seu próximo; atenta contra a virtude e a retidão, podendo arrastar
o irmão para a morte espiritual. O escândalo constitui uma falta grave se, por
ação ou omissão, levar deliberadamente outra pessoa a cometer uma falta grave»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 2.284)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* Marcos 9,41: Um copo de água
tem recompensa. - Uma frase solta de Jesus foi inserida aqui: Eu garanto a
vocês: quem der para vocês um copo de água porque vocês são de Cristo, não
ficará sem receber sua recompensa. Dois pensamentos: 1) “Quem der para vocês um
copo de água”: Jesus está indo para Jerusalém para entregar sua vida. Gesto de
grande doação! Mas ele não esquece os gestos pequenos de doação no dia a dia da
vida: um copo de água, um acolhimento, uma esmola, tantos gestos. Quem despreza
o tijolo, nunca faz casa! 2) “Porque vocês são de Cristo”: Jesus se identifica
conosco que queremos pertencer a Ele. Isto significa que, para Ele, temos muito
valor.
* Marcos 9,42: Escândalo para
os pequenos. Escândalo, literalmente, é pedra no -, pedra no sapato; é
aquilo que desvia uma pessoa do bom caminho. Escandalizar os pequenos é ser
motivo pelo qual os pequenos se desviam do caminho e percam a fé em Deus. Quem
faz isto recebe a seguinte sentença: “Corda no pescoço com pedra de moinho para
ser jogado no fundo do mar!” Por que tanta severidade? É porque Jesus se
identifica com os pequenos (Mt 25,40.45). Quem toca neles, toca em Jesus! Hoje,
no mundo inteiro, os pequenos, os pobres, muitos deles estão saindo das igrejas
tradicionais. Cada ano, só na América Latina, são em torno de três milhões de
pessoas que migram para outras igrejas. Já não conseguem crer no que
professamos na nossa igreja! Por que será? Até onde nós temos culpa? Merecemos a
corda no pescoço?
* Marcos 9,43-48: Cortar mão e
pé, arrancar o olho. - Jesus manda a pessoa arrancar mão, pé e olho, caso
estes forem motivo de escândalo. Ele diz: “É melhor entrar na vida ou no Reino
com um pé (mão, olho), do que entrar no inferno ou na geena com dois pés (mãos,
olhos)”. Estas frases não podem ser tomadas ao pé da letra. Elas significam que
a pessoa deve ser radical na opção por Deus e pelo Evangelho. A expressão
”geena (inferno) onde tem verme que não morre e o fogo que não se apaga”, é uma
imagem para indicar a situação da pessoa que fica sem Deus. A geena era o nome
de um vale perto de Jerusalém, onde se jogava o lixo da cidade e onde sempre
havia um fogo de monturo queimando o lixo. Este lugar fedorento era usado pelo
povo para simbolizar a situação da pessoa que ficava sem participar do Reino de
Deus.
* Marcos 9,49-50: Sal e Paz - Estes
dois versículos ajudam a entender as palavras severas sobre o escândalo. Jesus
diz: “Tenham sal em vocês, e estejam em paz uns com os outros!” A comunidade,
na qual se convive em paz, uns com os outros, é como o pouco de sal que tempera
a comida toda. A convivência pacífica e fraterna na comunidade é o sal que
tempera a vida do povo no bairro. É um sinal do Reino, uma revelação da Boa
Notícia de Deus. Estamos sendo sal? Sal que não tempera não serve para mais
nada!
* Jesus acolhe e defende a
vida dos pequenos - Várias vezes, Jesus insiste no acolhimento a ser dado
aos pequenos. “Quem acolhe a um destes pequenos em meu nome é a mim que acolhe”
(Mc 9,37). Quem dá um copo de água a um destes pequenos não perderá a sua
recompensa (Mt 10,42). Ele pede para não desprezar os pequenos (Mt 18,10). E no
julgamento final os justos vão ser recebidos porque deram de comer a “um destes
mais pequeninos” (Mt 25,40). Se Jesus insiste tanto no acolhimento a ser dado
aos pequenos, é porque devia haver muita gente pequena sem acolhimento! De
fato, mulheres e crianças não contavam (Mt 14,21; 15,38), eram desprezadas (Mt
18,10) e silenciadas (Mt 21,15-16). Até os apóstolos impediam que elas
chegassem perto de Jesus (Mt 19,13; Mc 10,13-14). Em nome da lei de Deus, mal
interpretada pelas autoridades religiosas da época, muita gente boa era
excluída. Em vez de acolher os excluídos, a lei era usada para legitimar a
exclusão. Nos evangelhos, a expressão “pequenos” (em grego se diz elachistoi,
mikroi ou nepioi), às vezes, indica “criança”, outras vezes, indica os setores
excluídos da sociedade. Não é fácil discernir. Às vezes, o que é “pequeno” num
evangelho, é “criança” no outro. É porque criança pertencia à categoria dos
“pequenos”, dos excluídos. Além disso, nem sempre é fácil discernir entre o que
vem do tempo de Jesus e o que é do tempo das comunidades para as quais foram
escritos os evangelhos. Mesmo assim, o que resulta claro é o contexto de
exclusão que vigorava na época e a imagem que as primeiras comunidades
conservaram de Jesus: Jesus se coloca do lado dos pequenos, dos excluídos, e
assume a sua defesa.
Para um confronto pessoal
1) Na nossa sociedade e na
nossa comunidade, quem são hoje os pequenos e os excluídos? Como está sendo o
acolhimento que nós damos a eles?
2) “Corda no pescoço”.
Será que o meu comportamento merece a corda ou uma cordinha no pescoço? E o
comportamento da nossa comunidade: merece?
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