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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Domingo V do Tempo Comum

 S. Felipe de Jesus e seus companheiros mártires de Nagasaki

1ª Leitura (Is 6,1-2a.3-8): No ano em que morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a fímbria do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!». Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo». Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa». Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós?». Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».

Salmo Responsorial: 137

R. Na presença dos Anjos, eu Vos louvarei, Senhor.

De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças, porque ouvistes as palavras da minha boca. Na presença dos Anjos Vos hei de cantar e Vos adorarei, voltado para o vosso templo santo.

Hei de louvar o vosso nome pela vossa bondade e fidelidade, porque exaltastes acima de tudo o vosso nome e a vossa promessa. Quando Vos invoquei, me respondestes, aumentastes a fortaleza da minha alma.

Todos os reis da terra Vos hão de louvar, Senhor, quando ouvirem as palavras da vossa boca. Celebrarão os caminhos do Senhor, porque é grande a glória do Senhor.

A vossa mão direita me salvará, o Senhor completará o que em meu auxílio começou. Senhor, a vossa bondade é eterna, não abandoneis a obra das vossas mãos.

2ª Leitura (1Cor 15,1-11): Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos anunciei e que recebestes, no qual permaneceis e pelo qual sereis salvos, se o conservais como eu vo-lo anunciei; aliás teríeis abraçado a fé em vão. Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maior parte ainda vive, enquanto alguns já faleceram. Posteriormente apareceu a Tiago e depois a todos os Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como o abortivo. Porque eu sou o menor dos Apóstolos e não sou digno de ser chamado Apóstolo, por ter perseguido a Igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou aquilo que sou e a graça que Ele me deu não foi inútil. Pelo contrário, tenho trabalhado mais que todos eles, não eu, mas a graça de Deus, que está comigo. Por conseguinte, tanto eu como eles, é assim que pregamos; e foi assim que vós acreditastes.

Aleluia. Vinde comigo, diz o Senhor, e farei de vós pescadores de homens. Aleluia.

Evangelho (Lc 5,1-11): Certo dia, Jesus estava à beira do lago de Genesaré, e a multidão se comprimia a seu redor para ouvir a Palavra de Deus. Ele viu dois barcos à beira do lago; os pescadores tinham descido e lavavam as redes. Subiu num dos barcos, o de Simão, e pediu que se afastasse um pouco da terra. Sentado, desde o barco, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Avança mais para o fundo, e ali lançai vossas redes para a pesca». Simão respondeu: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, pela tua palavra, lançarei as redes». Agindo assim, pegaram tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Fizeram sinal aos companheiros do outro barco, para que viessem ajudá-los. Eles vieram e encheram os dois barcos a ponto de quase afundarem. Vendo isso, Simão Pedro caiu de joelhos diante de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!». Ele e todos os que estavam com ele ficaram espantados com a quantidade de peixes que tinham pescado. O mesmo ocorreu a Tiago e João, filhos de Zebedeu e sócios de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de homens!». Eles levaram os barcos para a margem, deixaram tudo e seguiram Jesus.

«Mestre pela tua palavra, lançarei as redes»

Rev. D. Blas RUIZ i López (Ascó, Tarragona, Espanha)

Hoje, o Evangelho nos oferece o diálogo, simples e profundo ao mesmo tempo, entre Jesus e Simão Pedro, diálogo que poderíamos fazê-lo nosso: no meio das águas tempestuosas deste mundo, nos esforçamos por nadar contra a corrente, buscando a boa pesca de um anuncio do Evangelho que obtenha uma resposta frutuosa...

E é então quando nos cai em cima, indiscutivelmente, a dura realidade; nossas forças não são suficientes. Necessitamos alguma coisa mais: a confiança na Palavra daquele que nos prometeu que nunca nos deixará só. «Simão respondeu-lhe: Mestre! Trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos; mas por causa de tua palavra, lançarei a rede.» (Lc 5,5). Esta resposta de Pedro pode-se entender em relação com as palavras de Maria nas bodas de Canaã: «Fazei o que Ele vós diga» (Jo 2,5). E é no cumprimento confiado da vontade do Senhor quando nosso trabalho resulta proveitoso.

E tudo, a pesar de nossa limitação de pecadores: «Vendo isso, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador» (Lc 5,8). São Irineu de Lyon descobre um aspecto pedagógico no pecado: quem é consciente de sua natureza pecadora é capaz de reconhecer sua condição de criatura, e este reconhecimento nos põe ante a evidência de um Criador que nos supera.

Somente quem, como Pedro, soube aceitar sua limitação, está em condições de aceitar que os frutos de seu trabalho apostólico não são seus, e sim Daquele de quem se serviu como um instrumento. O Senhor chama aos Apóstolos a serem pescadores de homens, mas o verdadeiro pescador é Ele: o bom discípulo não é mais que a rede que recolhe a pesca, e esta rede somente é efetiva se atua como fizeram os Apóstolos: E atracando as barcas à terra, deixaram tudo e o seguiram (cf. Lc 5,11).

Pensamentos para o Evangelho de hoje

«[É tarefa dos filhos de Deus] procurar que todos os homens entrem satisfeitos nas redes divinas e se amem uns aos outros (...). Acompanhemos a Cristo nesta divina pesca» (São Josemaria)

«Quem dá testemunho de Jesus sabe que na vida não se pode acomodar no bem-estar mas tem que correr o risco de ir mar adentro» (Francisco)

«Perante a presença atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre a sua pequenez (...). Perante os sinais divinos realizados por Jesus. Pedro exclama: «Afasta-Te de mim, Senhor, porque eu sou um pecador» (Lc 5, 8)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 208)

«Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca».

Após esta pesca milagrosa, que antecipa simbolicamente a futura missão apostólica dos discípulos, Lucas apresenta, só agora e sinteticamente, o seu chamamento – centrado na pessoa de Simão Pedro –, os quais «deixaram tudo e seguiram Jesus» (v. 11), ao passo que os outros Sinópticos narram esse chamamento com mais pormenor e logo no início do ministério público do Senhor (Mc 1, 18-22; Mt 4, 16-20; cf. Jo 1, 35-51).

«Afasta-te de mim». Isto não quer dizer que Simão queira que Jesus fuja dele, apenas pretende expressar o sentimento de humildade de quem se sente indigno de estar na presença do Senhor; Pedro começa a dar conta da maneira singular como Deus está presente em Jesus, por isso sente tão ao vivo a sua condição de pecador. Esta reação tão natural e tão sobrenatural é semelhante à de Isaías, perante o divino – tremendum et fascinans – da 1ª leitura.

«Serás pescador de homens». O episódio tem um quê de paradigmático. Esta vai ser a missão da Igreja (cf. Mt 28, 18-20) – «fazer-se ao largo e lançar as redes para a pesca» (cf. v. 4) –, mas, como então, os discípulos, se trabalharem em nome próprio, afadigam-se «sem apanhar nada» (v. 5a); se, porém, lançam as redes em nome do Senhor – «já que o dizes» (v. 5b) –, então o resultado será deveras maravilhoso (vv. 6-7).

«Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca». - A ordem dada por Jesus do barco de Pedro: «Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca», é uma ordem que dá também, a cada um de nós. A esta ação pedida pelo Senhor, chamamos apostolado e dele dependerá, em grande parte, a salvação de muitos irmãos.

Pedro, confiante no Senhor, realiza uma pesca abundantíssima, maravilhosa. Para que sejamos instrumentos válidos nas mãos de Deus, uma condição se impõe, que escutemos e sigamos, com generosidade, a Palavra do Senhor. Poderá porventura essa Palavra não estar conforme os nossos planos. Para Pedro, conhecedor da atividade piscatória, também parecia um disparate pescar àquela hora do dia e depois de uma noite já o ter feito em vão. Mas obedece, e a pesca torna-se maravilhosa e abundante. Como andamos enganados quando resolvemos atuar baseados apenas nos nossos conhecimentos! Importa, antes de tudo, obedecer à Palavra de Deus. Com ela todas as nossas fragilidades serão superadas.

Isaías sente-se com lábios impuros e Paulo considera-se como um aborto. Mas, com a graça de Deus, tornam-se protagonistas de pescas abundantíssimas.

“Vamos lançar as redes para as águas mais profundas”

Padre Wagner Augusto Portugal.

Jesus hoje não está na sinagoga. Seu afastamento da sinagoga não significa rompimento, mas alargamento. A sinagoga era sectária, isto é, reservada aos observantes da lei de Moisés. Para o Evangelista São Lucas, Jesus viera trazer uma mentalidade e uma espiritualidade universalista. Assim Lucas coloca Jesus fora da sinagoga pregando em praças, em estradas, nas praias, etc.

Todos os elementos estão presentes no Evangelho de hoje (cf. Lc. 5,1-11): a terra, o mar, o céu aberto, a multidão, os indivíduos com seus nomes, a pregação, o trabalho, o fracasso, a confiança, a abundância, a presença do Senhor, a presença de um homem pecador, o medo, a admiração, o tempo presente, o tempo futuro, a partilha do trabalho apostólico e a derrota de Satanás. Jesus não só prega sobre as ondas, isto é, sentado com poder sobre os demônios, mas faz a pesca milagrosa, mostrando poder também nas profundezas, aonde apenas chegava a fantasia popular.

Lucas coloca Jesus escolhendo Pedro para a pregação. Neste episódio Lucas relembra o doce convite de Jesus: “Vamos lançar as redes para as águas mais profundas” (cf. Lc.5,5).  O que significa isso, lançar as redes para as águas mais profundas? Significa que todos nós somos convidados a evangelizar, a evangelizar com renovado ardor missionário em que todos os homens e mulheres devem deixar o seu comodismo e dar testemunho do Senhor Ressuscitado.

Jesus pregou a multidão a PALAVRA DE DEUS. A Palavra é o próprio Jesus. Jesus, por iniciativa própria, escolhe alguns para participarem de sua missão. Ninguém é presbítero por vontade própria, mas por chamado e mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim acontece com os religiosos, com as religiosas, com os consagrados e com todos aqueles que se dedicam ao seguimento de Jesus.

Jesus escolhe seus discípulos e os envia para serem “pescadores de homens”. Os escolhidos para a missão eram pescadores. Porão sua experiência humana a serviço de uma missão divina, como Jesus pusera sua divindade a serviço de uma missão humana, na peregrinação neste vale de lágrimas.

O que é ser pescadores de homens? Precisa de santidade? Precisa de ciência? Isso, evidentemente, ajuda e vem com o tempo. Mas as condições para ser pescadores de homens são duas:

1. Uma confiança inabalável em Jesus. Uma confiança como aquela de Pedro, que exausto da pesca, da falta de peixe, confiou em Jesus e a barca transbordou de pesca depois da confiança no Redentor. Confiança que todos nós devemos ter sempre e em todas as circunstâncias, é uma qualidade do apóstolo do Senhor.

2. A segunda condição vem do reconhecimento da divindade de Cristo. Quando Pedro se ajoelha e reconhece a sua pequenez, a sua nulidade, o seu estado de pecador você adere e se abre para a graça santificante de Deus. O discípulo de Jesus não pode ser orgulhoso, ao contrário, deve ser humilde, generoso e amigo. Irmão no meio dos irmãos a serviço da comunidade de fiéis. O apóstolo tem que ter consciência de que a seara não lhe pertence, mas que nela é um trabalhador vocacionado, um servidor. Essa humildade de reconhecer-se, apesar da inteligência, do jeito e da experiência, mero cooperador de Deus, é também condição fundamental para o verdadeiro apostolado. O apóstolo é um prolongamento de Jesus. A palavra pertence a Jesus, mesmo quando pronunciada pelo apóstolo. As mãos eram de Pedro, as redes eram de Pedro, a barca era de Pedro, o trabalho foi de Pedro, mas o milagre foi e é de Jesus. Junto a isso temos que ter na vida de comunidade e de trabalho apostólico a edificação da comunidade, do trabalho coletivo, do trabalho em benefício da comunidade.

Devemos tomar consciência de que nosso caminho é feito no barco de Jesus, ou, às vezes, embarcamos em outros projetos onde Jesus não está e fazemos deles o objetivo da nossa vida.

Por isso somos instados a deixar que Jesus viaje conosco. Por isso ao longo da viagem, devemos ser sensíveis às palavras e propostas de Jesus. Com segurança da fé as suas indicações são para nós sinais obrigatórios a seguir, quando reconhecemos que Jesus é “o Senhor” que preside à nossa história e a nossa vida, em que o centro do qual constituímos nossa existência está no Senhor. Chamados a ser “pescadores de homens”, temos por missão combater o mal, a injustiça, o egoísmo, a miséria, tudo o que impede os homens nossos irmãos de viver com dignidade e de ser felizes.

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